A Segurança Pública precisa da integração das instituições e da comunidade
18/03/2019
São Paulo (SP) – A Campanha da Fraternidade deste ano aborda o tema “Fraternidade e Políticas Públicas”. O texto-base da CF afirma: “A política é essencialmente o cuidado para com o que é comum e realizar ações que ajudem na integração de todos na sociedade”. É neste sentido que somos chamados a pensar em Políticas Públicas na área da Segurança.
Para o jornalista Ricardo Bedendo, que integra o núcleo de Estudos de Violência e Direitos Humanos da Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), é preciso pensar num modelo preventivo de Segurança Pública, que vise a integração das instituições e da comunidade.
Ele também afirma que a liberação da arma de fogo não resolve os problemas relativos à segurança, pois coloca a responsabilidade do combate a criminalidade nas mãos do cidadão.
Acompanhe a entrevista concedida a Frei Gustavo Medella:
Site Franciscanos – Qual é a importância das Políticas Públicas na área da segurança?
Ricardo Bedendo – As Políticas Públicas são essenciais em todas as áreas e, na segurança, não é diferente. A segurança está praticamente em primeiro plano na agenda pública e sem dúvida alguma é ela que direciona todas as ações que precisam ser implementadas – tanto do ponto de vista político como do ponto de vista social. No caso do Brasil, é mais urgente possível. Temos várias demandas que necessitam da intervenção de Políticas Públicas. São elas que transformam a sociedade para melhor, por isso, necessitamos de maior intervenção neste sentido.
Site Franciscanos – Muitas vezes, as pessoas pensam em Política Pública de segurança apenas na parte do investimento – equipar a polícia, adquirir novas armas, viaturas – visando à repressão da violência. Tudo isso é importante, mas certamente as Políticas Públicas que visam promover uma maior segurança da comunidade não devem se concentrar apenas nessa área. Não é isso?
Ricardo Bedendo – Com certeza, pois estaríamos falando apenas de um modelo reativo de Segurança Pública, quando hoje, no mundo inteiro, as políticas nessa área privilegiam o modelo preventivo da Segurança Pública de uma forma geral. Deste modo, sim, envolvemos uma série de outras iniciativas para além do aparelhamento de instituições e agentes. Uma série de programas e projetos podem ser direcionados, por exemplo, para a juventude. Desde o ponto de vista educacional até a integração das comunidades, para estarem mais atuantes, presentes e conscientes sobre as suas necessidades nessa área. Esse aspecto preventivo é hoje, ao mesmo tempo, o grande desafio. Integrar as instituições e a comunidade, visando o bem comum, a maior segurança de todos.
Site Franciscanos – Recentemente acompanhamos o decreto da presidência facilitando o acesso às armas de fogo aos cidadãos brasileiros. Qual é a sua opinião em relação a esse posicionamento, que não deixa de ser uma política pública na área de segurança. Você acha, de fato, que a solução da violência passa por aí?
Ricardo Bedendo – O posicionamento do Núcleo de Estudos de Violência e Direitos Humanos da Universidade Federal de Juiz de Fora é contrário a esta medida que foi implementada pelo governo Bolsonaro no início deste ano. Entendemos que a arma é um símbolo da violência em todos os aspectos. Antes mesmo de propor alguma política de segurança para o país, o Governo implementa uma medida que vai na contramão de uma série de pesquisas mostrando que a arma impacta o maior índice de violência, e não a redução, como argumenta essa medida. É preocupante. O 12º Anuário de Segurança Pública, divulgado em 2018 pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, aponta a apreensão de 119.484 armas no Brasil, sendo que 94,9% das armas apreendidas em 2017 não foram cadastradas na Polícia Federal. Ou seja, temos problemas de fiscalização destas armas. Há também uma preocupação muito grande com o aumento da violência doméstica, pois as pessoas vão ter mais armas em casa. A arma não é um instrumento de fácil manuseio, pois envolve o aspecto psicológico, técnico, que precisa ser muito bem trabalhado para que a pessoa possa ter condições de utilizá-la. Temos uma preocupação muito grande com esse tipo de medida, porque, de certa forma, o Governo acaba atribuindo ao cidadão uma maior responsabilidade pela sua segurança. É como se ele falasse para você: “Agora você resolve aí”. Em parte, a responsabilidade fica com o cidadão. É uma questão que vai na contramão de uma política de Segurança Pública que nós, do Fórum, entendemos como o melhor caminho para que as pessoas possam resolver os seus problemas.
CONFIRA TAMBÉM O ESPECIAL SOBRE A CAMPANHA DA FRATERNIDADE
Ouça a entrevista:
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