Carisma - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Santos franciscanos

julho/2024

  • São Teodorico Endem

    Sacerdote da Primeira Ordem (1499-1572). Canonizado por Pio IX no dia 29 de junho de 1867

    Mártir em Gorcum. Nascido em 1499, na cidade de Amersfoot, Holanda, quando jovem era um estudante aplicado e dedicado às obras de caridade e de misericórdia. Possuía um caráter manso e sereno. Em um determinado dia revelou a seus pais: “Já escolhi o meu caminho. Serei religioso franciscano e sacerdote”.

    Sua família não aceitou passivamente a decisão dele dedicar-se à vida religiosa, de tudo fazendo para dissuadi-lo, mas sua veemência estava sustentada pela graça divina. Aos familiares respondia sempre que “quando o Senhor chama não se pode dizer não. Deve-se responder a Seu chamado, Ele é nosso Pai e nosso Deus”.

    Conseguiu vencer a oposição familiar, que aceitou a sua decisão de ingressar na vida religiosa, mas com uma condição: deveria entrar em uma ordem beneditina. Esta condição deveu-se ao fato dos franciscanos serem muito pobres e conviverem com regras muito rígidas. Quanto aos beneditinos, seriam estes possuidores de dotes intelectuais e nobres de coração, podendo chegar, inclusive, à condição de Abade e levar uma vida de regalias.

    Mas Teodorico estava decidido a seguir os passos de São Francisco e, novamente, sua vontade prevaleceu sobre a oposição paterna. A vida de pobreza, orações e penitências era o que o atraia. Ingressou na Ordem dos Irmãos Menores e após cumprir o noviciado e os estudos exigidos foi ordenado sacerdote, em solenidade que contou com a presença dos seus pais.

    Durante um período de vários anos de isolamento foi um severo e fiel observador das Regras criadas por São Francisco, sendo muito respeitados pelos fiéis e pelos irmãos de ordem, sendo considerado um modelo de santidade e erudição.

    Foi designado para o Convento de Gorcum, onde assumiu a missão de confessor, passando a maior parte do dia ouvindo as confissões dos fiéis. Também, no mesmo período, foi confessor e orientador espiritual no Mosteiro das Irmãs Terciárias Franciscanas.

    Na época da rebelião de Lutero e Calvino diversos católicos do norte da Europa se afastaram da Igreja, ocorrendo muitas rebeliões e conflitos. Após assumirem o poder na Holanda os calvinistas passaram a perseguir duramente os católicos. Durante a ocupação da cidade de Gorcum, no ano de 1572, todos os irmãos franciscanos foram presos, juntamente com outros sacerdotes, humilhados e ridicularizados. Foram conduzidos através de cidades e povoados sendo expostos publicamente a todo tipo de ridicularização por parte das pessoas inimigas do catolicismo.

    Conduzidos para a cidade de Brielle (Holanda) foram ali torturados, para que, pressionados, renunciassem à Igreja Católica, negando os dogmas da presença real de Cristo na Eucaristia e o primado do Sumo Pontífice. Porém todos permaneceram inabaláveis e confirmaram sua fé e não atenderam às exigências dos torturadores. Faleceu, martirizado na forca, juntamente com seus irmãos, no dia 09 de julho de 1572, aos 73 anos de idade. Desta forma Teodorico confirmou a sua fé, cheio da graça e do Espírito Santos. Foi canonizado por Pio IX em 29 de junho de 1867. Sua festa é comemorada em 1º de julho.

    Fonte: “Santos franciscanos para cada dia”, edizioni Porziuncola

  • Bem-aventurado Carmelo Volta

    Sacerdote e mártir da Primeira Ordem (1803-1860). Beatificado por Pio XI no dia 10 de outubro de 1926.

    Carmelo Volta é modelo e protetor dos párocos e de todos os que fazem a cura d’almas. Foi pároco zeloso primeiro em Ein-karem (São João da Montanha) e depois em Damasco, onde ele e seus irmãos sofreram martírio por Cristo. Ele nasceu em Real de Candia, perto de Valência, Espanha, em 1803. Seu pai, José e sua mãe, Josefina Bamez, depois de educá-lo santamente em família, o confiaram aos Irmãos das Escolas Pias, onde foi educado e instruído.

    Ele tinha 22 anos quando finalmente pôde realizar seu desejo de dedicar sua vida a Deus na Ordem dos Frades Menores. Depois da formação e estudos, foi ordenado sacerdote. Em 1831 veio para a Terra Santa, onde se encontrou com o beato Manuel Ruiz. Seus espíritos estarão sempre unidos no mesmo ideal para compartilhar no mesmo campo as lutas do apostolado e o triunfo do martírio.

    Animado pelo espírito de Deus, trabalhou com grande zelo para o bem das almas a ele confiadas. Aos 57 anos de idade, o incansável ministério pastoral havia limitado suas forças, razão pela qual pediu um coadjutor, e o teve na pessoa do jovem Engelberto Kolland.

    A popularidade de Carmelo era singular: em Ein Karem e, especialmente, em Damasco, ele foi amado e respeitado até mesmo pelos muçulmanos.

    Na noite de 10 de julho de 1860 os drusos invadiram o convento e Carmelo buscou refúgio em um canto na escola paroquial, mas foi descoberto por um turco, que o atingiu com um bastão. Um jovem viu isso, correu para ajudar o seu pastor, mas ele aconselhou-o a fugir. Logo depois veio outros muçulmanos que prometeram salvá-lo com a condição de que ele renunciasse à sua fé em Cristo e aderisse a Maomé. A esta proposta, justamente indignado, gritou: “Sou sacerdote e cristão. Quero morrer no seguimento de Cristo”. Os muçulmanos não permitiram que ele continuasse falando e o cercaram, especando-o até a morte, enquanto ele invocava a Deus. Carmelo tinha 57 anos.

    Fonte: “Santos franciscanos para cada dia”, Edizioni Porziuncola.

  • Maria Ana Mogas Fontcuberta

    Bem-aventurada Maria Ana Mogas Fontcuberta

    Fundadora das Franciscanas Missionárias do Mãe do Divino Pastor (1827-1886). Beatificada por João Paulo II no dia 6 de outubro de 1996.

    Maria Ana nasceu em Corro do Vale (Barcelona) em 13 de janeiro de 1827, batizada no dia seguinte. Ela começou sua vida religiosa em Ripoll em junho de 1850. Ela se distinguiu sobretudo por sua caridade, pobreza, humildade, simplicidade, austeridade, alegria e espírito de oração, virtudes que infundia entre suas filhas e em suas obras apostólicas.

    Em 12 de junho de 1859 abriu uma casa de Capellades para cuidar dos enfermos da região e começou a ensinar as meninas, especialmente as pobres. Em 1860, criou uma comunidade em São Quirico de Besora para dar assistência às pessoas através de um estabelecimento municipal. As irmãs ajudavam aos doentes e necessitados. Mas os interesses econômicos dos diretores impediram que as irmãs pudessem realizar um plano de serviço.

    Mas a mãe Maria Ana encontrou uma maneira de fazer este trabalho de forma independente. Em 1862, ela fundou uma pequena escola para o ensino fundamental. Este trabalho progrediu e a qualidade da formação e dos estudos fez de imediato sobressair o colégio das irmãs.

    Em 1883, obteve em Barcelona o título de professora do ensino fundamental. De imediato, a pedidos e dada a grande necessidade, fundou o segundo colégio nos subúrbios, em Fuencarral. Os marqueses de Fuente Chica, primeiro cederam o terreno, em seguida, os campos ao redor e, por último, a fizeram sua herdeira, condição que pôde coroar a sua obra. Apesar de sofrer um acidente vascular cerebral durante a epidemia de cólera, fez o seu melhor para servir aos enfermos. Morreu em Fuencarral no dia 3 de julho de 1886.

    Fonte: “Santos franciscanos para cada dia”, Edizioni Porziuncola

  • Santa Isabel de Portugal

    4Viúva da Terceira Ordem (1271-1336). Canonizada por Urbano VIII no dia 25 de maio de 1625.

    Isabel nasceu na Espanha, em 1271. Entre seus antepassados estão muitos santos, reis e imperadores. Era filha de Pedro II, rei de Aragão, que, no entanto, era um jovem príncipe quando ela nasceu. Sem querer ocupar-se com a educação da filha, o monarca determinou que fosse cuidada pelo avô, Tiago I, que se convertera ao cristianismo e levava uma vida voltada para a fé. Sorte da pequena futura rainha, que recebeu, então, uma formação perfeita e digna no seguimento de Cristo.

    Tinha apenas doze anos quando foi pedida em casamento por três príncipes, como nos contos de fadas. Seu pai escolheu o herdeiro do trono de Portugal, dom Dinis. Esse casamento significou para Isabel uma coroa de rainha e uma cruz de martírio, que carregou com humildade e galhardia nos anos seguintes de sua vida.

    Isabel é tida como uma das rainhas mais belas das cortes espanhola e portuguesa; além disso, possuía uma forte e doce personalidade, era também muito inteligente, culta e diplomata. Ela deu dois filhos ao rei: Constância, que seria no futuro rainha de Castela, e Afonso, herdeiro do trono de Portugal. Mas eram incontáveis as aventuras extraconjugais do rei, tão conhecidas e comentadas que humilhavam profundamente a bondosa rainha perante o mundo inteiro.

    Ela nunca se manifestava sobre a situação, de nada reclamava e a tudo perdoava, mantendo-se fiel ao casamento em Deus, que fizera. Criou os filhos, inclusive os do rei fora do casamento, dentro dos sinceros preceitos cristãos.

    Perdeu cedo a filha e o genro, criando ela mesma o neto, também um futuro monarca. Não bastassem essas amarguras familiares, foi vítima das desavenças políticas do marido com parentes e, sobretudo, do comportamento de seu filho Afonso, que tinha uma personalidade combativa. Depois, ainda foi caluniada por um cortesão que dela não conseguiu se aproximar. A rainha muito sofreu e muito lutou até provar inocência de forma incontestável.

    Sua atuação nas disputas internas das cortes de Portugal e Espanha, nos idos dos séculos XIII e XIV, está contida na história dessas cortes como a única voz a pregar a concórdia e conseguir a pacificação entre tantos egos desejosos de poder. Ao mesmo tempo em que ocupava o seu tempo ajudando a amenizar as desgraças do povo pobre e as dores dos enfermos abandonados, com a caridade da sua esmola e sua piedade cristã.

    Ergueu o Mosteiro de Santa Clara de Coimbra para as jovens piedosas da corte, O mosteiro cisterciense de Almoste e o santuário do Espírito Santo em Alenquer. Também fundou, em Santarém, o Hospital dos Inocentes, para crianças cujas mães, por algum motivo, desejavam abandonar. Com suas posses sustentava asilos e creches, hospitais para velhos e doentes, tratando pessoalmente dos leprosos. Sem dúvida foi um perfeito símbolo de paz, do seu tempo.

    Quando o marido morreu, em 1335, Isabel recolheu-se no mosteiro das clarissas de Coimbra, onde ingressou na Ordem Terceira Franciscana. Antes, porém, abdicou de seu título de nobreza, indo depositar a coroa real no altar de São Tiago de Compostela. Doou toda a sua imensa fortuna pessoal para as suas obras de caridade. Viveu o resto da vida em pobreza voluntária, na oração, piedade e mortificação, atendendo os pobres e doentes, marginalizados.

    A rainha Isabel de Portugal morreu, em Estremoz, no dia 4 de julho de 1336. Venerada como santa, foi sepultada no Mosteiro de Coimbra e canonizada pelo papa Urbano VIII em 1665. Santa Isabel de Portugal foi declarada padroeira deste país, sendo invocada pelos portugueses como “a rainha santa da concórdia e da paz”.

    Fonte: “Santos franciscanos para cada dia”, edizioni Porziuncola.

  • Mártires da China

    Santos Antonino Fantosati, bispo (1842-1900), José Maria Gambaro (+ julho 7), e Cesidio Giacomantonio de Fossa (+ julho 4), sacerdotes da Primeira Ordem, Mártires em Hunán meridional, China (+1900). Beatificados por Pio XII no dia 24 de novembro de 1946. Foram canonizados pelo Papa São João Paulo II em 1º de outubro de 2000.

    Antonio Fantosati nasceu em Santa Maria, em Perusa, Itália, no dia 16 de outubro de 1842. Ingressou na Ordem dos Frades Menores de São Francisco. Foi ordenado sacerdote em 1865, aos 23 anos de idade. Pouco tempo depois partiu para a Hupe, na China, chegando no dia 15 de dezembro de 1867. Sua primeira preocupação foi aprender a língua local.

    Partiu então para Lao-ho-kow, local onde pregou e converteu durante 18 anos. Em 1878 fundou um orfanato para meninos abandonados ou órfãos.

    Em 1888 faz uma breve visita à Itália e quando retorna à China é nomeado bispo de Adana. Nesta época passou por muitas perseguições, quando mais de 20.000 Cristãos foram mortos.

    Faleceu, martirizado por um longo período, depois transpassado por uma barra de ferro pontiaguda e por fim, jogado ao lado de um irmão de Fé num rio. Foram então recolhidos do rio, queimados e suas cinza lançadas ao vento, era o ano de 1900. Esta ação tinha por objetivo impedir que fossem feitas orações em seu túmulo e proporcionar o seu esquecimento. Foi Canonizado em 01 de outubro de 2000, pelo Papa João Paulo II.

    Cesídio Giacomantonio de Fossa (1873-1900)- Angel nasceu em Fossa, Abruzzo, província de Aquila, em 30 de Agosto de 1873. Já desde adolescente ia ao solitário convento de Ocre, onde repousam os restos do Beato Bernardino de Fossa e do Beato Timóteo de Monticchio.

    Rezando diante daquelas urnas sentiu germinar em seu coração a vocação religiosa e a ideia da vida franciscana. Em 21 de Novembro de 1891 foi recebido na Ordem dos Frades Menores, vestindo o hábito franciscano com o nome de Cesídio, em memória de um jovem mártir. Depois da profissão religiosa, em vários conventos completou seus estudos e foi ordenado sacerdote. Por algum tempo exerceu o ministério da pregação. Logo foi enviado a Roma como candidato às missões. Depois de que completou sua formação missionária, junto com dois confrades partiu para a China.

    Ao chegar foi acolhido com imensa alegria pelo Vigário Apostólico, o bispo Antonino Fantosati. Apesar do ambiente de perseguição, nele persistia sempre o grande desejo de pregar, de converter e de batizar em nome do Senhor o maior número possível. Para isto aprendeu bem a língua chinesa e seu apostolado se viu carregado de satisfações.

    Numa carta a seus pais pouco antes do martírio, descreve sua alegria de se encontrar na China e pede orações pela conversão de muitos infiéis. Logo acrescenta: “Procuremos fazer-nos santos, se alcançamos esta graça poderemos cantar no céu o eterno aleluia”. Em 4 de Julho de 1900, a missão onde ele se encontrava foi invadida pelos boxers.

    O Padre Cesídio correu à capela a consumir o Santíssimo Sacramento e logo enfrentou a raiva de seus perseguidores. Foi assassinado a golpes de lança e a bastonadas. Tinha somente 27 anos e foi assim o primeiro mártir na perseguição dos boxers de 1900. Foi canonizado por João Paulo II em 1º de Outubro de 2000 junto aos 120 mártires na China.

    São José Maria Gambaro (1869-1900). Bernardo Gambaro nasceu em Galliate, província de Novara, a 7 de agosto de 1869. Aos 13 anos entrou em um colégio franciscano e no dia 20 de setembro de 1886 recebeu o hábito religioso dos Frades Menores com o nome de José Maria. Ativo e circunspecto, entusiasta e prudente, foi estimado e querido pelos superiores, que o escolheram desde teólogo como assistente dos jovens de Ornavasso. Foi ordenado sacerdote no dia 13 de março de 1892 e se tornou reitor do Colégio de Ornavasso. Um ano depois realizou seu desejo de ser missionário. Abandonou a Itália em 1896 e ao chegar a China foi destinado a Hunan meridional. Em 7 de julho de 1900 sofreu o martírio. Tinha 31 anos de idade, catorze como religioso, oito como sacerdote e quatro de vida missionária.

    Fonte: “Santos franciscanos para cada dia”, edizioni Porziuncola.

  • Mártires da China

    Santos Tomás Sen-Ki-Kuo, Simão Tchen, Pedro U-ngan-pan, Matias Fante, Pedro Tchiang, Francisco Tchiang, Pedro Wang, Tiago Yen-Ku-Tun, catequistas e funcionários da Missão, mártires em Tayuenfu (+9 de julho de 1900). Foram canonizados no dia 1º de outubro de 2000 pelo Papa São João Paulo II.

    A Igreja universal ratifica a santidade destes 120 mártires, que em diversas épocas e lugares deram a vida por fidelidade a Cristo: 32 deles foram martirizados entre 1814 e 1862; 86 morreram durante a revolta dos Boxers em 1900 e dois foram mortos em 1930. Entre eles sobressaem seis bispos europeus, 23 sacerdotes, um irmão religioso, sete religiosas, sete seminaristas e 72 leigos, dos quais dois catecúmenos. Os mártires tinham entre 7 e 79 anos. Todos eles foram beatificados, uns em 1900 e outros em 1946. Muitos deles eram chineses das províncias de Guizhou, Hebei, Shanxi e Sichuão e 33 eram missionários europeus.

    A perseguição religiosa na China ocorreu em diversos períodos da sua história. A primeira perseguição deu-se na dinastia Yuan (1281-1367). Prosseguiu mais tarde na dinastia Ming (1606-1907), recrudescendo de forma especial em 1900 com a revolta dos Boxers. E continuou durante as cinco décadas de governo sem interrupção. Grande parte destes canonizados deram a vida durante a revolta dos Boxers em 1900, que foi como que uma premonição do que iria acontecer nas cinco décadas de governo comunista na China.

    Os missionários foram objeto de um édito imperial de 10 de julho de 1900, que fomentou e provocou o massacre de milhares de cristãos. Outros morreram durante as perseguições religiosas das dinastias Ming (1368-1644) e Qing (1644-1911). De fora ficarão as centenas de mártires que durante o regime comunista foram perseguidos e deram a vida por fidelidade ao Evangelho e a Cristo. Para a Igreja da China é um acontecimento importante pela magnitude e pelo contexto em que ocorre. É-o igualmente para a Igreja universal, bastante desconhecedora do que acontece com a Igreja da China. Eis algumas considerações sobre o significado do evento.

    O martírio tem assinalado a Igreja da China ao longo dos séculos, desde a chegada da mensagem cristã no século VII com a vinda do monge sírio Alopen e dos nestorianos até Xian, capital da dinastia Tang, no ano de 635. Os estudiosos da Igreja na China, que falam de cinco tentativas de evangelização do país, concordam em afirmar que cada tentativa em estabelecer a presença do Evangelho no Império do Centro acarretou perseguições e martírio. Umas vezes pelas discrepâncias de credos, porque o imperador era considerado o Filho do Céu; outras pelos contrastes de culturas ou por motivos políticos; outras vezes por divisões entre as congregações religiosas presentes no território.

    O controle e a perseguição variam conforme os lugares e as situações, mas os cristãos continuam a ser abertamente perseguidos e, por vezes, encarcerados e torturados. Como João Paulo II dizia na sua mensagem aos católicos da China por ocasião da celebração do ano jubilar: «O Jubileu será uma oportunidade para lembrar os trabalhos apostólicos, os sofrimentos, as dores e o derramamento de sangue que têm feito parte da peregrinação desta Igreja ao longo dos tempos. Também no meio de vós o sangue dos mártires se converteu em semente de uma multidão de autênticos discípulos de Jesus… E parece que este tempo de prova ainda prossegue nalgumas localidades.»

    Os santos chineses espelham uma capacidade de doação e uma confiança ilimitada em Deus num contexto hostil à mensagem cristã. Se o autêntico tesouro do discípulo de Cristo é a cruz e se não há outra forma de seguimento de Cristo senão através da cruz, podemos dizer que a Igreja universal reconhece de forma pública o testemunho destes mártires como riqueza para toda a Igreja.

    Dos mártires pertencendo à família franciscana, estes onze foram seculares e todos chineses, são eles:  São João Zhang Huan, seminarista;  São Patricio Dong Bodi, seminarista;  São João Wang Rui, seminarista;  São Filipe Zhang Zhihe, seminarista;  São João Zhang Jingguang, seminarista;  São Tomás Shen Jihe, leigo;  São Simão Qin Cunfu, leigo catequista;  São Pedro Wu Anbang, leigo;  São Francisco Zhang Rong, leigo;  São Mateus Feng De, leigo e neófito; e São Pedro Zhang Banniu, leigo.

    Fonte: “Santos franciscanos para cada dia”, edizioni Porziuncola

  • Bem-aventurado Manuel Ruiz

    Bem-aventurado Manuel Ruiz

    Sacerdote e mártir da Primeira Ordem (1804-1860). Beatificado por Pio XI no dia 29 de junho de 1926.

    Manuel nasceu em San Martins das Ollas, província de Santander, no dia 6 de maio de 1804. Desde pequeno dedicava às orações e ao lado de seus pais ajudava os pobres e necessitados. Ingressou no seminário da Ordem dos Frades Menores de São Francisco, onde foi ordenado padre.

    Resolveu partir para a Terra Santa, fato que se consumou no ano de 1831. Lá dedicou-se para aprender a língua árabe e quando já havia dominado a língua partiu para a pregação, a conversão e a conduzir as crianças pelos caminhos da Palavra de Deus Pai (Antigo Testamento) e Deus Filho (Novo Testamento).

    Partiu, então, para Damasco, local onde pôde aplicar todos os seus dotes de evangelizador. Mas no dia 10 de julho de 1860 foi assaltado pelos drusos, momento em que decide consumir todas as hóstias consagradas para que não caíssem em mãos pagãs e fossem objeto de brincadeira e descaso. Foi brutalmente agredido. Não satisfeitos, os muçulmanos decidiram por sua morte.

    Na noite de 9 a 10 de julho de 1860, oito frades franciscanos e três católicos maronitas seculares foram martirizados em Damasco pelos drusos muçulmanos. A todos eles, onze no total, o Papa Pio XI beatificou em 10 de outubro de 1926.

    Manuel Ruiz tinha 56 anos de idade quando foi morto. Ele era o superior da missão e, antes de falecer, havia feito a seguinte profissão de fé: “Nós não temos senão uma alma. Perdida esta, tudo está perdido. Somos cristãos e queremos morrer cristãos”.

    Fonte: “Santos franciscanos para cada dia”, edizioni Porziuncola.

  • Mártires da China

    Santos Gregório Grassi, Francisco Fogolla, bispos, Elias Facchini, Teodorico Balat, sacerdotes, Andrés Bauer, irmão leigo, mártires em Shansi (+ 9 de julho de 1900). Beatificados por Pio XII no dia 24 de novembro de 1946. Canonizados por São João Paulo II em 1º de outubro de 2000.

    No fim do século XIX, a China entrou numa crise grave. Não tendo querido receber a civilização moderna, não podia manter o seu lugar no mundo. O jovem imperador Kouang-Sin experimentou reformas; a velha imperatriz retomou, porém, à autoridade, e recomeçou a política reacionária. Vendo-se incapaz de abrir guerra contra as grandes potências, excitou no povo chinês a xenofobia, ou ódio aos estrangeiros, servindo-se duma sociedade secreta já antiga, cujos membros vieram a ser chamados “boxers” ou pugilistas, porque se exercitavam fisicamente dando socos entre si.

    Em 1900, ela julgou ter chegado o momento de lançar os amotinadores contra os europeus, dando àqueles o apoio dos soldados. Os cristãos foram naturalmente considerados como traidores à velha China e os “boxers” perseguiram-nos com o seu ódio. Felizmente, muitos vice-reis recusaram seguir as ordens de Pequim e a perseguição não se estendeu para além das províncias da capital. Graças à intervenção das potências, durou menos de dois meses, mas foi muito sangrenta: avaliou-se o número das vítimas em 20.000, das quais 2418 nos vicariatos apostólicos confiados aos franciscanos. Foram beatificados, em 1946, vinte e nove, como vanguarda de tal legião de mártires. Três dentre eles sofreram o martírio em Heng-Chou-Fou e os restantes vinte e seis em Tai- Yuan-Fou, no Chan-Si.

    O bispo Gregório Grassi muito desenvolvera a missão do Chan-Si setentrional. Tinha ao seu lado outro prelado, Dom Francisco Fogolla. Trabalhavam também no vicariato apostólico os Padres Elias Facchini e Teodorico Balat, e o irmão André, alsaciano de grandes qualidades, em particular duma força hercúlea. Em Heng-Chou-Fou residia o vigário apostólico Dom António Fantosati, com os Padres Cesídio Giacomantoni e José Maria Gambaro.

    Sete Missionárias de Maria tinham vindo também da Europa para fundar a missão de Tai-Yuan-Fou. Era superiora a Madre Maria Hermínia de Jesus.

    A este número juntaram-se ainda, todos de nacionalidade chinesa: 6 seminaristas e 8 empregados das casas dos missionários.

    No dia 9 de Julho de 1900, estão todos os futuros mártires reunidos e presos em Tai-Yuan-Fou. Ouve-se um ruído de gente que chega. D. Gregório Grassi diz simplesmente: «A hora da morte chegou. Vou lhes dar a absolvição». Os “boxers” estão presentes. Batem na cabeça das vítimas para deixa-las atordoadas e assim lhes prender as mãos atrás das costas. O Irmão André dirige-se a um deles: “Nunca me prostrei diante de nenhum chinês, vou-o fazer agora porque me vais abrir as portas do céu”. E indo para a morte canta: ‘Louvai ao Senhor todos os povos.’

    D. Francisco Fogolla, ferido gravemente na testa e num ombro, reclama um pouco de deferência: «Deixai que nos levantemos, depois seguiremos sem resistência». Mas os algozes instam as vítimas dando-lhes punhadas e pauladas; algemam-nas duas a duas e levam-nas para o palácio do vice-rei, enquanto o povo grita: «À morte os diabos europeus». As religiosas cantam o Te Deum.

    Mais de 3.000 “boxers” os esperavam. Este singular processo decorreu sem testemunhas nem advogados. Yu-Hsien, o vice-rei, aparece e dirige-se a D. Francisco:

    ― Há quanto tempo está na China?

    ― Há mais de 30 anos.

    ― Porque prejudicastes o meu povo e com que fim propagais a vossa fé?

    ― Não prejudicamos ninguém, mas beneficiamos a muitos. Vivemos aqui para salvar almas.

    ― Não é verdade, fizestes muito mal e vou matar-vos a todos ― grita o vice-rei, lançando-se contra o bispo, ao qual fere duas vezes no meio do peito, berrando aos “boxers”: «Matai, matai».

    Dá-se então o ataque e matança. Os mártires são decapitados e mutilados e, enquanto as Franciscanas Missionárias de Maria levantam os véus para estender os pescoços, são trucidados o seminarista de dezesseis anos João Wang e o velho Padre Elias, recebendo o primeiro uma espadeirada na testa e o outro no peito. Arrancam-lhes o coração e acabam por lhes cortar a cabeça.

    Yu-Hsien mandou lançar os corpos na fossa comum. Mas no fim do ano de 1900, o vice-rei que lhe sucedeu, temendo uma expedição militar europeia, mandou desenterrar ― na presença de dois chineses, um católico e outro protestante ― os restos dos mártires e meteu-os em caixas, das quais uma parte foi dada a um padre que a depositou no cemitério dos Franciscanos.

    A 9 de Julho de 1902 foi celebrada Missa no pátio do tribunal e a 24 de Março de 1903 houve uma cerimônia de reparação, mandando as autoridades chinesas colocar duas lápides no sobredito pátio. E a 9 de Julho de 1903, realizou-se o funeral solene à custa do governo.

    A causa de beatificação de 1418 cristãos da China mortos pela fé foi introduzida em 1926. Para fazer chegar o processo o mais depressa possível a termo, foram escolhidos 29 nomes. Estes campeões da fé foram beatificados no dia 24 de novembro de 1946 por Pio XII.

    As sete Franciscanas Missionárias de Maria são as primeiras beatas da Congregação, fundada em 1877, pela Madre Maria da Paixão.

    Fonte: “Santos franciscanos para cada dia”, edizioni Porziuncola.

  • São Nicolau Pick

    Sacerdote e mártir en Gorcum, da Primeira Ordem (1543-1572). Canonizado por Pio IX no dia 29 de junho de 1867.

    As guerras religiosas do século XVI provocaram muitos mártires. Entre os 19 santos mártires que foram enforcados, a 9 de Julho de 1572, em Brielle, junto ao rio Mosa, na ilha de Voorne (Holanda do Sul), estava Nicolau Pick. Na maior parte, vinham da cidade vizinha de Gorcum.

    Nicolau Pick nasceu em Gorcum no dia 29 de agosto de 1543 de família nobre, filho de João e Érica Calvia. Seu pai era apegadíssimo à fé católica e em várias circunstâncias se distinguiu por seu zelo contra os erros do calvinismo que invadia a Holanda. O futuro mártir foi enviado a estudar em um colégio em Bois-le-Duc. Apenas havia terminado os estudos pediu e foi aceito na Ordem dos Frades Menores, recebeu o hábito, fez o noviciado, professou e logo foi enviado à célebre universidade de Lovaina, para completar os estudos de Filosofia e Teologia, merecendo os mais altos elogios de seus professores, em especial do reitor, Padre Adan Sasbouth.

    Em 1558, foi ordenado presbítero. De imediato se dedicou à pregação da mensagem evangélica, recorrendo às principais cidades da Holanda e Bélgica, combatendo em todas as partes as heresias, fortalecendo os fiéis na fé católica, reconduzindo a Deus uma verdadeira multidão de pecadores e à Igreja Católica muitos calvinistas. Por todos, era estimado e venerado como autêntico apóstolo de Cristo. Foi eleito guardião do Convento de Gorcum.

    Em Junho de 1572, os calvinistas, adversários dos espanhóis, tomaram Gorcum, invadindo o convento dos franciscanos.

    A 5 de julho, veio uma ordem do almirante supremo, Barão de Marck, de transferir os presos para Brielle. Lá desembarcaram às 7 horas, seminus, e foram objeto chacotas da população. Depois, jogaram  e prenderam eles num calabouço subterrâneo, pouco iluminado, pouco ventilado e cheio de imundícies. Ouviam-se ministros protestantes falar de libertação possível, para quem renunciasse ao dogma da presença real na Sagrada Eucaristia.

    Os religiosos persistiram com coragem na verdadeira fé, foram sujeitos a cruéis sofrimentos. Finalmente morreram enforcados, tendo seus corpos totalmente esquartejados. Foram 19 as vítimas: onze franciscanos, em particular o guardião do convento de Gorcum, Nicolau Pick, que não tinha ainda 38 anos. Foram beatificados em 1675 e canonizados em 1867.

    Fonte: “Santos franciscanos para cada dia”, edizioni Porziuncola

  • Santa Verônica Giuliani

    Mística e religiosa da Segunda Ordem (1660-1727). Canonizada por Gregório XVI no dia 26 de maio de 1839.

    Verônica nasce, pois, em 27 de dezembro de 1660, em Mercatello, no vale de Metauro, filha de Francisco Giuliani e Benedita Mancini; é a última de sete irmãs, das quais outras três abraçaram a vida monástica; deram-na o nome de Úrsula. Aos sete anos de idade, perde a sua mãe, e o pai muda-se para Piacenza como superintendente da alfândega do Ducado de Parma. Nesta cidade, Úrsula sente crescer em si o desejo de dedicar a vida a Cristo. O chamado se faz sempre mais presente, tanto que, aos 17 anos, entra na restrita clausura do mosteiro das Clarissas Capuchinhas da cidade de Castello, onde permanecerá por toda a sua vida. Lá recebe o nome de Verônica, que significa “verdadeira imagem”, e, de fato, ela se torna uma verdadeira imagem de Cristo Crucificado. Um ano depois, emite a solene profissão religiosa: inicia um caminho de configuração a Cristo, por meio de muitas penitências, grandes sofrimentos e algumas experiências místicas ligadas à Paixão de Jesus: a coroação de espinhos, o casamento místico, a ferida no coração e os estigmas. Em 1716, aos 56 anos, torna-se abadessa do mosteiro e será confirmada no cargo até a sua morte, em 1727, depois de uma dolorosíssima agonia de 33 dias que culminou numa profunda alegria, tanto que suas últimas palavras foram: “Encontrei o Amor, o Amor deixou-Se contemplar!” (Summarium Beatificationis, 115-120). No dia 9 de julho, deixa a morada terrena para encontrar-se com Deus. Tem 67 anos, 50 deles vividos no mosteiro da cidade de Castello. É proclamada Santa em 26 de maio de 1839 pelo Papa Gregório XVI.

    Verônica Giuliani escreveu muito: cartas, relações autobiográficas, poesias. A fonte principal para reconstruir o seu pensamento é, no entanto, o seu Diário, iniciado em 1693: são 22 mil páginas manuscritas, que abrangem 34 anos de vida em clausura. A escritura flui espontânea e contínua, não existem riscos ou correções, nenhum sinal de interrupção ou distribuição do material em capítulos ou partes de acordo com um padrão predeterminado. Verônica não desejava compor uma obra literária; na verdade, foi obrigada a colocar por escrito suas experiências pelo Padre Jerônimo Bastos, religioso das Filipinas, de acordo com o Bispo diocesano Antonio Eustachi.

    Santa Verônica possui uma espiritualidade marcadamente cristológico-esponsal: é a experiência de ser amada por Cristo, Esposo fiel e sincero, e de desejar corresponder com um amor sempre mais envolvido e apaixonado. Nela, tudo é interpretado através da chave do amor, e essa lhe dá uma profunda serenidade. Cada coisa é vivida em união com Cristo, por amor seu, e com a alegria de poder demonstrar a Ele todo o amor do qual é capaz uma criatura.

    O Cristo ao qual Verônica está profundamente unida é aquele sofredor, da paixão, morte e ressurreição; é Jesus no ato da oferta ao Pai para salvar-nos. Dessa experiência, deriva também o amor intenso e sofredor pela Igreja, na dupla forma da oração e da oferta. A Santa vive nesta óptica: ora, sofre, busca a “pobreza santa”, como expropriação, perda de si (cfr. ibid., III, 523), propriamente para ser como Cristo, que doou tudo de si mesmo.

    Em cada página dos seus escritos, Verônica recomenda algumas pessoas ao Senhor, oferecendo suas orações de intercessão com a oferta de si mesma em cada sofrimento. O seu coração se dilata a todas “as necessidades da Santa Igreja”, vivendo com ansiedade o desejo da salvação de “todo o universo” (ibid., III-IV, passim). Verônica grita: “Ó pecadores, ó pecadoras… todos e todas, vinde ao coração de Jesus; vinde lavar-vos no seu preciosíssimo sangue… Ele vos espera com os braços abertos para abraçar-vos” (ibid., II, 16-17). Animada por uma ardente caridade, dá às irmãs do mosteiro atenção, compreensão, perdão; oferece as suas orações e seus sacrifícios pelo Papa, o seu bispo, os sacerdotes e por todas as pessoas necessitadas, incluindo as almas do purgatório. Resume sua missão contemplativa nestas palavras: “Nós não podemos andar pregando pelo mundo para converter almas, mas somos obrigados a orar continuamente por todas as almas que estão a ofender a Deus… particularmente com os nossos sofrimentos, ou seja, com um princípio de vida crucificada” (ibid., IV, 877). A nossa Santa cumpre essa missão como um “estar em meio” aos homens e Deus, entre os pecadores e Cristo Crucificado.

    Verônica vive de modo profundo a participação no amor sofredor de Jesus, certa de que o “sofrer com alegria” seja a “chave do amor” (cfr ibid., I, 299.417; III, 330.303.871; IV, 192). Ela evidencia que Jesus padece pelos pecados dos homens, mas também pelos sofrimentos que os seus servos fiéis haveriam de suportar ao longo dos séculos, no tempo da Igreja, propriamente através de fé solida e coerente. Escreve: “O Eterno Pai Lhe fez ver e sentir naquele ponto todos os sofrimentos que haveriam de padecer os seus eleitos, as almas Suas mais queridas, isto é, aquelas que saberiam aproveitar do Seu Sangue e de todos os Seus sofrimentos” (ibid., II, 170). Como disse o Apóstolo Paulo de si mesmo: “Agora me regozijo no meio dos meus sofrimentos por vós, e cumpro na minha carne o que faltou às aflições de Cristo, por amor do seu corpo, que é a Igreja” (Col 1,24). Verônica chega a pedir a Jesus para ser crucificada com Ele. “Em um instante – escreve –,vi sair de Suas santíssimas chagas cinco raios resplandecentes; e todos vieram em minha direção. E eu via esses raios transformarem-se em pequenas chamas. Em quatro haviam pregos; e em um havia uma lança, como de ouro, toda inflamada: e me passou o coração, de lado a lado… e os pregos passaram as mãos e os pés. Eu senti grande dor; mas, na mesma dor, me via, me sentia toda transformada em Deus” (Diário, I, 897).

    A Santa está convencida de participar já no Reino de Deus, mas, ao mesmo tempo, evoca todos os Santos da pátria celeste para que venham ajudá-la no caminho terreno da sua doação, em expectativa da bem-aventurança eterna; é essa a constante aspiração de sua vida (cfr ibid., II, 909; V, 246). Em comparação às pregações da época, centrada não raramente na “salvação das almas” em termos individuais, Verônica mostra forte sentido “solidário”, de comunhão com todos os irmãos e irmãs em caminho rumo ao Céu, e vive, reza, sofre por todos. As coisas penúltimas, terrenas, no entanto, ainda que apreciadas no sentido franciscano como dom do Criador, resultam sempre relativas, em tudo subordinadas ao “gosto” de Deus e sob o sinal de uma pobreza radical. Na communio sanctorum, ela esclarece sua doação eclesial, bem como o relacionamento entre a Igreja peregrina e a Igreja celeste. “Os Santos todos – estão lá em cima através dos méritos e da paixão de Jesus; mas a tudo aquilo que fez Nosso Senhor, esses cooperaram, de modo que suas vidas foram ordenadas, reguladas pelas mesmas obras (suas)” (ibid., III, 203).

    Nos escritos de Verônica, encontramos muitas citações bíblicas, algumas vezes de modo indireto, mas sempre pontual: ela revela familiaridade com o Texto sacro, do qual se nutre a sua experiência espiritual. Nota-se, também, que os momentos fortes da experiência mística de Verônica não são nunca separados dos eventos salvíficos celebrados na Liturgia, onde há um lugar particular para a proclamação e a escuta da Palavra de Deus. A Sagrada Escritura, assim, ilumina, purifica, confirma a experiência de Verônica, tornando-a eclesial. Por outro lado, no entanto, exatamente a sua experiência, ancorada na Sagrada Escritura com intensidade incomum, guia a uma leitura mais profunda e “espiritual” do mesmo Texto, entra na profundidade escondida do texto. De fato, ela não somente se exprime com as palavras da Sagrada Escritura, mas realmente também vive por essas palavras, tornam vida n’Ela.

    Santa Verônica Giuliani convida-nos a fazer crescer, na nossa vida cristã, a união com o Senhor no ser pelos outros, abandonando-nos à Sua vontade com confiança completa e total, e a união com a Igreja, Esposa de Cristo; convida-nos a participar do amor sofredor de Jesus Crucificado pela salvação de todos os pecadores; convida-nos a ter o olhar fixo no Paraíso, meta do nosso caminho terreno, onde viveremos junto a tantos irmãos e irmãs a alegria da comunhão plena com Deus; convida-nos a nutrir-nos cotidianamente da Palavra de Deus para aquecer o nosso coração e orientar nossa vida. As últimas palavras da Santa podem ser consideradas a síntese da sua apaixonada experiência mística: “Encontrei o Amor, o Amor deixou-Se contemplar!”.

    Papa Bento XVI

  • São João Wall

    Frei Joaquim de Sant’Ana foi sacerdote e mártir da Primeira Ordem (1620-1679). Canonizado por Paulo VI no dia 25 de outubro de 1970.

    João Wall nasceu de uma família boa, estável e bastante cristã. Em 1641 ingressou no colégio de Donai (Portugal), onde recebeu a ordenação sacerdotal em 1645. Após cumprir um curto período de missão pelas regiões da Inglaterra, retornou a Donai a fim de receber o hábito dos Irmãos Menores no convento de São Boaventura, onde obteve o nome religioso de Frei Joaquim de Santa Ana. Dedicou-se com muito amor à missão de difundir o catolicismo pela Inglaterra, estabelecendo-se em Harvington Hall, no condado de Worcester; ali exerceu por mais de 22 anos suas funções sacerdotais.

    Em dezembro de 1678, foi capturado como conspirador papista sob a liderança de Titus Oates. João Wall se recusou decididamente a prestar juramento de supremacia, sendo por isso recolhido na prisão de Worcester. Ficou preso por 5 meses, sob grandes sofrimentos e humilhações. Foi condenado à morte em 25 de abril de 1678 pelo juiz Atkins sob acusação de alta traição ao Reino. Por fim, foi martirizado em no dia 22 de agosto de 1679. Antes de subir ao patíbulo, escreveu um longo discurso, no qual tratou de seu processo e de sua condenação e o entregou a um amigo para que o fizesse imprimir; efetivamente foi publicado em Londres em 1679, gerando grande repercussão.

    Foi a única vítima que sofreu o martírio pela fé em Worcester. Seu corpo foi sepultado em um cemitério anexo à igreja de São Osvaldo de Worcester. Sua cabeça, em sinal de veneração, foi transladada para o convento dos franciscanos de Donai.

    Foi canonizado por Paulo VI a 25 de outubro de 1970.

    Fonte: “Santos franciscanos para cada dia”, edizioni Porziuncola

  • São João Jones

    Sacerdote e mártir da Primeira Ordem (1559-1598). Canonizado por Paulo VI no dia 25 de outubro de 1970.

    Após a separação da Igreja da Inglaterra da Igreja de Roma, o rei Henrique VIII perseguiu os católicos, que não o reconheciam no direito de proclamar-se chefe de uma religião do Estado. Sob ele caiu, entre outros, o bispo John Fisher, o chanceler Sir Thomas Moro, o Beato João Forest, João Jones e João Wall. Aos católicos era proibida qualquer atividade religiosa.

    Sob essas leis veio a cair em 1596 João, da família galesa Jones que, tendo crescido num ambiente católico e educado religiosamente, ingressou na Ordem dos Frades Menores. Ao se destacar entre os seus confrades pela sua simplicidade e espiritualidade, foi enviado a Roma, no convento franciscano de Araceli, no Campidoglio, Itália. Poderia ter permanecido na Itália vivendo tranquila e santamente. Mas ele pediu para voltar à Inglaterra, e não quis o País de Gales, onde havia maior tolerância religiosa, mas Londres, o centro irradiador da Reforma Anglicana.

    Em Londres conseguiu fazer sua atividade missionária por um bom tempo sob o nome falso de John Buckley, até ser pego pelos chamados “caçadores de padres.” Ele foi cruelmente torturado e mantido na prisão de dois anos aguardando julgamento.

    Finalmente, em julho 1598 houve o processo do frade franciscano acusado de ser ordenado no exterior e voltar ilegalmente para a Inglaterra para sublevar o povo. O frade se defendeu: “Eu sou um frade franciscano e sacerdote de Cristo, vim à Inglaterra para conquistar o maior número possível de almas para Jesus. Se este é um crime, eu sou o primeiro a acusar-me e estou pronto para dar a vida pela fé católica e pelo primado do Romano Pontífice”.

    Foi a confissão de que eles esperavam. A sentença foi dada imediatamente. Ele tinha 39 anos.

    Fonte: “Santos franciscanos para cada dia”, edizioni Porziuncola.

  • Angelina de Marsciano

    Bem-aventurada Angelina de Marsciano

    Viúva, religiosa da Terceira Ordem (1377-1435). Fundadora das Irmãs Terceiras Franciscanas Regulares. Aprovou seu culto Leão XII no dia 8 de março de 1825.

    Angelina de Marsciano ou de Corbara fundou na Itália a Congregação das Irmãs Terceiras Franciscanas Regulares. Nasceu em Montegiove, na Úmbria, perto de Orvieto, em 1377. O pai, Tiago, era senhor de Marsciano. A mãe, Ana, da família dos condes de Corbara, morreu em 1447. A adolescente foi levada pelo pai a casar-se com o conde de Civitella, senhor dos Abruzos. Angelina preferia manter-se unicamente unida a Cristo, mas teve de ceder à vontade paterna. Todavia, depressa ficou viúva, aos 17 anos.

    Desde então, voltou aos seus queridos projetos de vida inteiramente para Deus. Entrou na Ordem Terceira Franciscana e levou, como quem a rodeava, vida austera e caridosa, ao mesmo tempo retirada do mundo e com o empenho de aliviar os pobres. A ela se juntaram jovens da nobreza. Foi acusada de sedução, de encantamento: a feiticeira tinha tal magia para arrastar a juventude! Foi pedido ao rei de Nápoles, Ladislau, para castigar a herege: degradava o matrimônio! Ladislau expulsou-a do reino.

    Foi para Assis. Aí, em santa Maria dos Anjos, à luz de Deus, Angelina compreendeu a sua missão: fundar um mosteiro de terceiras claustradas. Em 1397, foi ele erguido em Foligno, dedicado a Santa Ana. O exemplo foi imitado em outras cidades. Angelina foi superiora geral de tais mosteiros.

    Morreu com 58 anos, em 1435. Em 1492, seu corpo foi encontrado incorrupto. Colocada em uma preciosa urna foi colocada em frente ao túmulo da famosa mística franciscana Beata Ângela de Foligno.

    Fonte: “Santos franciscanos para cada dia”, edizioni Porziuncola.

  • São Francisco Solano

    Sacerdote da Primeira Ordem (1549-1610). Canonizado por Bento XIII no dia 27 de dezembro de 1726.

    Apóstolo do Novo Mundo, Francisco nasceu em Montilla (Córdoba, Espanha)  a 10 de março de  1549, terceiro filho de  Mateus Sánchez Solano e de Ana Jiménez, família abastada e de nobre ascendência. Fez seus estudos em  Córdoba, junto dos jesuítas onde mostrou ser pessoa dotada de viva inteligência, dada à contemplação e à caridade.  Antes de concluir os estudos de medicina, que havia iniciado com brilhantismo, pediu para ingressar na Ordem dos Frades Menores da Província de Granada.  Em 1569, vestiu o hábito dos frades e, no ano seguinte, emitiu a profissão religiosa.

    Sempre muito austero, paciente, humilde  e perfeito na observância da Regra, continuou os estudos de filosofia e teologia no Convento de Santa Maria de Loreto, em Sevilha, morando em minúsculo canto do coro. Celebrou sua primeira missa a 4 de  outubro de 1576. Em 1581 foi nomeado mestre de noviços do convento de Arruzafa (Córdoba), ofício que continuou a desempenhar no Convento de São Francisco do  Monte da Serra Morena para onde foi transferido em 1583 e onde exerceu depois as funções de guardião e de pregador. Em todas as partes, acompanhava-o a fama de santidade e de taumaturgo devido aos milagres que realizava. Quando ocorreu o alastramento da peste bubônica na vizinha cidade de Montoro, voluntariamente se ofereceu para cuidados dos empestados. Transferido em 1587 para o convento de São Luís da Zubia, perto de Granada, foi  eloquente e estimadíssimo pregador popular e apóstolo entre os  doentes e presidiários em todo o território circunvizinho.

    Uma vez abandonada a ideia de  se dirigir aos países muçulmanos para morrer mártir querendo assim fugir da veneração do povo, pediu para fazer parte da expedição missionária destinada à América. No dia 28 de  fevereiro de 1589, partiu no navio Sanlucar de Barrameda com outros onze confrades  conduzidos pelo padre  Baltazar Navarro, custódio de Tucuman,  e chegou a Cartagena, na Colômbia,  em maio do mesmo ano. Daí continuou até Nome de Deus, no Panamá, que atravessou a pé até atingir as margens do Pacífico.

    Quando se dirigia ao Peru, o galeão em que viajava com o grupo, afundou perto da ilha de Górgona em frente à Colômbia. Francisco se considerou pastor desta comunidade de desesperados, entre as quais, muitos escravos. Depois de dois meses de sofrimento foram recolhidos em outra embarcação e  levados até um porto ao norte do Peru. O santo frade continuou a viagem a pé até a cidade de Lima. Foi, então, designado imediatamente missionário na longínqua Tucuman, ao norte da Argentina. Para lá chegar deveria fazer a cansativa viagem de  três mil quilômetros através dos Andes a pé ou sobre o lombo de um pobre animal.

    Tendo chegado a Tucuman em novembro de 1590  foi lhe dada a incumbência da  Custódia Franciscana de  São Jorge, fundada em 1565, com a finalidade de ocupar-se das missões.  Vencendo não poucas dificuldades de língua, fundou a missão ou redução de Socotonio e Madalena, das quais foi pároco missionário,  exercendo  ministério junto a indígenas Diaguitas, dos quais se tornou evangelizador, civilizador, pacificador e defensor,  tendo sido muitas vezes agraciado com  dom das línguas. Entre todas as suas grandezas conta-se a da pacificação desta população rebelde na quinta-feira santa de 1591. São atribuídos a Francisco duzentas mil conversões e batizados de infiéis. Em 1592 estendeu seu apostolado aos brancos e “crioulos” .

    Em 1595 foi chamado pela obediência a dirigir-se ao Peru onde foi nomeado  guardião do convento de recoleção  de Santa Maia dos Anjos em Lima, cargo  que renunciou considerando-se  sem capacidade e sem méritos para o exercício. Em 1602 foi transferido para Trujillo, onde exerceu a função de guardião. Pregador enérgico e inspirado  ficou célebre com o fato de ter profetizado em 12 de novembro de 1603  a destruição da cidade, que aconteceu em 14 de fevereiro  de 1619. Tendo voltado a Lima e nomeado ainda uma vez guardião, no dia 20 de dezembro de 1604 percorreu ruas e praças da cidade com um crucifixo nas mãos  provocando um tal estado de comoção que obrigou o vice-rei a intervir.  Mesmo sendo muito austero, mostrava-se alegre e costumava tocar violino para alegrar-se a si mesmo e aos confrades e também como instrumento de pastoral para aproximar-se dos índios.

    Devido às suas penitências, nos últimos tempos de sua vida, viveu no convento-enfermaria  conhecido como Máximo de Jesus  ( hoje São Francisco),  em Lima.  Durante o terremoto de 1609, padre Francisco levantando-se com dificuldade queria confortar a população com sua palavra de fé.   Não conseguiu mais recuperar a saúde.  Morreu santamente em Lima a  14 de julho de 1610, enquanto, a seu pedido, os frades cantavam  o Credo. Suas últimas palavras foram:  “Glorificetur Deus”. Foi sepultado na igreja do convento.  Seu corpo foi carregado pelo arcebispo de Lima, pelo vice-rei e por outros personagens ilustres.

    Foi canonizado por Bento XIII a 27 de dezembro de 1726.

    (Tradução livre da obra  Frati Minori Santi e Beati, publicação da Postulação Geral da Ordem dos Frades Menores, 2009, p. 275-277).

  • São Boaventura de Bagnoregio

    Bispo, cardeal e Doutor Seráfico da Primeira Ordem (1221-1274). Canonizado por Sixto IV no dia 14 de abril de 1482.

    João de Fidanza, filho de João de Fidanza e Maria Ristelli, nasceu em Bagnoregio, do distrito de Viterbo, dos Estados Pontifícios, em 1221. Curou-se na infância de grave doença, depois de uma invocação a São Francisco de Assis feita por sua mãe, a que faz referência o próprio São Boaventura (Sermo de B. Francisco, serm.3).

    Pelo ano 1234 seguiu para a Faculdade das Artes, de Paris, onde se graduava pelo ano 1240. Ingressou aos 17 anos na Ordem dos Franciscanos, onde assumiu o nome de Boaventura. Talvez estivesse motivado pela devoção a São Francisco que lhe vinha da infância, e ainda pela admiração a Alexandre de Hales, por quem se deixara orientar doutrinariamente, enfim pelo apreço em que levava o espírito da Ordem, como se infere de suas mesmas palavras.

    A teologia a estudou provavelmente sob Alexandre de Hales (+ 1245), porque o chama de pai e mestre. Boaventura principia o magistério em 1248 como bacharel bíblico, com o Comentário ao Evangelho de S. Lucas; conforme os estatutos da Universidade, dois anos depois, como bacharel sentenciário, explicaria a Sentenças, o que teria feito, então, em 1250 e 1251; na mesma sequência deveria chegar ao doutorado em teologia em 1253. Frente às dificuldades criadas então aos religiosos, parece que Boaventura só conseguiu o reconhecimento do título em 1257.

    Mas, abandonou exatamente, então, o magistério, passando então ao posto de Geral da Ordem franciscana; tinha 36 anos. Dedicou-se à causa da Ordem, à sua espiritualidade e à pregação em geral. Em 1273 foi feito cardeal e bispo de Albano.

    Exerceu especiais incumbências no Concílio de Lyon, quando foi conseguida a união com a Igreja Grega (6-7-1274), a qual todavia foi precária. Oito dias após o Concílio faleceu o cardeal (14-7-1274). Foi canonizado em 1482 e declarado doutor da Igreja em 1587.

    Boaventura chegara mais cedo a Paris que São Tomás; enquanto o primeiro se graduava em artes em Paris em 1240, Tomás chegará a Paris em 1245, para seguir em 1248 para Colônia. Boaventura completa o tirocínio para a conquista do grau de mestre em 1253, Tomás, que retornara a Paris, lecionou ali de 1252 a 1259, depois seguindo para a Itália (1259-1268).

    Cessou, porém o magistério de Boaventura em 1257. Entretanto Boaventura não paralisou as suas preocupações intelectuais. Foi a um tempo, um homem de estudo, de ação e além de místico. Não participou das controvérsias tomistas de 1270, mas apoiou tacitamente a oposição, que era agostiniana.

    A obra literária de S. Boaventura é relativamente grande, principalmente tendo em consideração que lecionou apenas 10 anos (1248-1257), de quando datam os livros do tipo escolar. São de interesse filosófico:

    Comentários sobres as Sentenças (c. 1248-1255);
    Quaestiones disputates, sendo 7 De scientia christi, 8 de Mysterio Trinitatis, 4 de perfectione    evangelica;
    Itinerarium mentis ad Deum (1259);
    Breviloquium (antes de 1257);
    De reductione artium ad theologiam;
    e os tratados sobre os Tópicos, Meteoros, e De generatione de Aristóteles.

    Deixou também numerosos sermões e escritos de natureza mística. São Boaventura morreu no dia 15 de julho do ano de 1274.

    ORAÇÃO – Concedei-nos, Pai todo-poderoso, que, celebrando a festa de São Boaventura, aproveitemos seus preclaros ensinamentos e imitemos sua ardente caridade. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

    A Igreja também celebra hoje a memória dos santos: Justa, Rosália e Charbel.

  • Canonização de São Francisco

    No dia 16 de julho de 1228, dois anos depois de sua morte, São Francisco de Assis foi canonizado pelo Papa Gregório IX. Na ocasião, ele publicou a Bula de Canonização “Mira circa nos”  “aos veneráveis irmãos arcebispos, bispos etc…”

    1). É maravilhoso como Deus se digna ter piedade de nós e inestimável é o amor de sua caridade, pela qual entregou-nos o filho à morte para remir o escravo!
    Sem renunciar aos dons de sua misericórdia e conservando com proteção contínua a vinha que foi plantada por sua destra, continua a mandar operários para ela mesmo na décima primeira hora para que a cultivem bem arrancando com a enxada e o arado com o qual Samgar abateu seiscentos Filisteus (Jz 6,31) os espinhos e as ervas más, para que, podados os ramos supérfluos e os brotos espúrios que não levam às raízes, e extirpados os espinheiros, ela possa amadurecer frutos suaves e saborosos.

    Aqueles frutos que, purificados na prensa da paciência, poderão ser levados para a adega da eternidade, depois de ter queimado de uma vez, como com o fogo, a impiedade junto com a caridade esfriada de muitos, destinada a ser destruída na mesma ruina, como foram precipitados os filisteus caindo por causa do veneno da volubilidade terrena.

    2). Eis o Senhor que, enquanto destruía a terra com a água do dilúvio, guiou o justo em uma desprezível arca de madeira (Sb 10,4), não permitindo que a vara dos pecadores prevalecesse sobre a sorte dos justos (Sl 124,3), na hora undécima suscitou seu servo o bem-aventurado Francisco, homem verdadeiramente segundo o seu coração (Cfr. 1Sm 13,14), lâmpada desprezada no pensamento dos ricos mas preparada para o tempo estabelecido, mandando-o para a sua vinha para que arrancasse os seus espinhos e espinheiros, depois de ter aniquilado os filisteus que a estavam assaltando, iluminando a pátria, e para que a reconciliasse com Deus admoestando com assídua exortação Cfr. Jz 15.15).

    3). O qual, quando ouviu interiormente a voz do amigo que o convidava, levantou-se sem demora, despedaçou os laços do mundo cheio de bajulações, como um outro Sansão prevenido pela graça divina e, cheio de Espírito de fervor, pegou uma queixada de asno (Jz 11,15), com uma pregação feita de simplicidade, não enfeitada com as cores de uma persuasiva sabedoria humana (1Cor 1,17), mas com a força poderosa de Deus, que escolhe as coisas fracas do mundo para confundir os fortes, prostrou não só mil mas muitos milhares de filisteus, com o favor daquele que toca os montes e os faz fumegar (Sl 103,32), e reduziu à servidão do espírito os que antes serviam às impurezas da carne.

    Quando eles ficaram mortos para os vícios e vivos para Deus e não mais para si mesmos, pois a parte pior tinha perecido, saiu da mesma queixada água abundante (cfr. Jz 15,10), que restaurava, lavava e fecundava todos os que tinham caído, sórdidos e ressecados, aquela água que, brotando para a vida eterna, pode ser comprada sem dinheiro e sem nenhuma outra despesa (Is 55,1) . Expandindo-se por toda parte, seus regatos irrigam a vinha, estendendo até o mar seus ramos, até o rio os seus rebentos (Sl 79,12).

    4). Afinal, imitou os exemplos de nosso pai Abraão, saindo espiritualmente de sua terra, de sua parentela e da casa de seu pai, para ir para a terra que o Senhor lhe havia mostrado com sua divina inspiração (Gn 12,1). Para correr mais expeditamente, para o prêmio da vocação celeste (Fl 3,34), e poder entrar mais facilmente pela porta estreita (Mt 7,15), deixou a bagagem das riquezas terrenas, conformando-se com Aquele que, de rico que era fez-se pobre por nós, distribuiu-as, deu-as aos pobres (2Cor, 8,9), para que assim, sua justiça perdurasse para sempre (Sl 111,9).

    E quando chegou perto da terra da visão, na montanha que lhe tinha sido mostrada (Gn 22,3), isto é, sobre a excelência da fé, ofereceu ao Senhor em holocausto sua carne, que antes o havia enganado, como filha unigênita, à semelhança da Jefté (Cfr. Jz 11), colocando-se no fogo da caridade, macerando sua carne pela fome, sede, frio, nudez, vigílias sem conta e jejuns. Quando a tinha, assim, crucificado com os vícios e as concupiscências (Gl 5,24), podia dizer com o Apóstolo: Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim (Rm 4,25). E, de fato,  já não vivia para si mesmo mas para Cristo, que morreu por nossos pecados e ressuscitou para a nossa justificação, para que já não servíssemos o pecado de maneira alguma.

    Suplantando também os vícios, travou uma viril batalha contra o mundo, a carne e os poderes celestes. E, renunciando à mulher, à casa de campo e aos bois, que afastaram os convidados da grande ceia (Lc 14,15-22), levantou-se com Jacó (Cfr. Gn 35,1-11) ao comando do Senhor e, recebendo a graça septiforme do Espírito Santo, assistido pelas oito bem-aventuranças evangélicas, subiu através dos quinze degraus das virtudes, indicadas misticamente nos Salmos, para Betel, a casa do Senhor, que a tinha preparado para ele.

    E lá, construindo o altar de seu coração para o Senhor, ofereceu sobre ele os aromas de suas devotas orações, que os anjos haveriam de levar à presença do Senhor com suas mãos, agora que já estava prestes a tornar-se um concidadão dos anjos.

    5). Mas, para não ajudar somente a si mesmo lá na montanha, unido apenas no abraço de Raquel, bela mas estéril, isto é, na contemplação, desceu para o quarto proibido de Lia (Cfr. Gn 29), para conduzir o rebanho fecundo de filhos gêmeos através do deserto, procurando para eles as pastagens de vida, a fim de que, lá, onde o alimento é o maná celeste para os que se apartaram do estrépito do mundo, enterrando suas sementes com abundância de lágrimas (Sl 125, 5-6), pudesse colher exultando, os feixes para o celeiro da eternidade, ele destinado a ser colocado entre os príncipes de seu povo, coroado com a coroa de justiça.

    É certo que ele não buscou seus próprios interesses mas antes o de Cristo (Fl 3,21), e o serviu como abelha industriosa; e, como estrela da manhã que aparece no meio das nuvens e como lua nos dias de seu pleno esplendor (Sl 50,6), e como sol resplandecente na Igreja de Deus, tomou em suas mãos a lâmpada e a trombeta para chamar para a graça os humildes com as provas de suas obras luminosas, e retirar os calejados no mal de suas graves culpas aterrando-os com uma dura reprovação.

    Assim, inspirado pela virtude da caridade, irrompeu intrepidamente no acampamento dos madianitas, isto é, daqueles que evitam o juízo da Igreja por desprezo, com a ajuda daquele que, enquanto estava fechado dentro do seio da Virgem, atingia o mundo inteiro com o seu domínio; e arrebatou as armas em que punha sua confiança o forte armado que guardava sua casa (Lc 11,21-22), e distribuiu os despojos que ele mantinha, levando como escrava a escravidão (Ef 4,8) dele em homenagem a Jesus Cristo.

    6). Por isso, tendo superado enquanto estava na terra o tríplice inimigo, fez violência ao Reino dos Céus e com a violência arrebatou-o (Mt 11,12). E depois das numerosas e gloriosas batalhas desta vida, triunfando sobre o mundo, voltou ao Senhor, precedendo muitos dotados de ciência, ele que deliberadamente era sem ciência e sabiamente ignorante.

    7). Na verdade, ainda que sua vida, tão santa, operosa e luminosa, tenha sido suficiente para que conquistasse a companhia da Igreja triunfante, a Igreja militante, que só vê a face exterior, não tem a presunção de julgar por sua própria autoridade aqueles que não são de sua alçada, para apresentá-los à veneração baseando-se só sobre a sua vida, principalmente porque algumas vezes o anjo de satanás transforma-se em anjo de luz (2Cor 11,14); o Onipotente e misericordioso Deus, por cuja graça o referido servo de Cristo serviu-o dignamente e com louvor, não permitindo que uma lâmpada tão maravilhosa ficasse escondida embaixo do alqueire, mas querendo colocá-la sobre o candelabro para oferecer a restauração de sua luz a todos aqueles que estão na casa (Lc 11,33), declarou com múltiplos e grandiosos milagres que a vida dele era agradável para ela e que sua memória devia ser venerada na Igreja militante.

    8). Portanto, como já nos eram plenamente conhecidos os traços mais singulares de sua vida gloriosa, pela familiaridade que teve conosco quando estávamos constituídos em um cargo menor, e fosse feita fé plena a respeito do esplendor de seus múltiplos milagres, através de testemunhas idôneas de que nós e o rebanho a nós confiado seríamos ajudados por sua intercessão e teríamos como patrono no céu aquele que foi nosso amigo na terra, reunindo o consistório de nossos irmãos [os cardeais], e tendo obtido o consentimento deles, decretamos que o inscrevíamos no catálogo dos santos para a devida veneração.

    9). Estabelecemos que a Igreja universal celebre devotamente e com solenidade o seu nascimento para o céu no dia 4 de outubro, o dia em que, livre do cárcere da carne, subiu ao Reino celeste.

    10). Por isso pedimos, admoestamos e exortamos no Senhor a todos vós, e comunicando-o através deste escrito apostólico que, nesse dia, vos apliqueis intensa e alegremente aos divinos louvores na sua comemoração e imploreis humildemente que por sua intercessão e méritos possamos chegar à sua companhia. Que isso vos conceda Aquele que é bendito nos séculos dos séculos. Amém.

    Dado em Perusa, no dia 19 de julho de 1228, no segundo ano de nosso pontificado.

  • Santa Maria Madalena Postel

    Virgem da Terceira Ordem (1756-1846). Fundadora das Irmãs das Escolas Cristãs da Misericórdia. Canonizada por Pio XI no dia 24 de maio de 1926.

    No dia 28 de novembro de 1758, nasceu a filha primogênita do casal Postel, camponeses de uma rica fazenda em Barfleur, na Normandia, França. A criança foi batizada com o nome de Júlia Francisca Catarina, tendo como padrinho aquele rico proprietário. Júlia Postel teve os estudos patrocinados pelo padrinho, que, como seus pais, queria que seguisse a vida religiosa. Ela foi aluna interna do colégio da Abadia Real das Irmãs Beneditinas, em Volognes, onde se formou professora. No início, não pensou na vida religiosa, sua preocupação era com a grande quantidade de jovens que, devido à pobreza, estavam condenadas à ignorância e à inferioridade social.

    De volta à sua aldeia natal, Júlia Postel, com determinação e dificuldade, criou uma escola onde lecionava e catequizava crianças, jovens e adultos abandonados à ignorância, até do próprio clero da época, que desconhecia a palavra “pastoral”. Era solicitada sempre pelos mais infelizes: pobres, órfãos, enfermos, idosos, viúvas, que a viam como uma mãe zelosa, protetora, que não os abandonava, sempre cheia de fé em Cristo. Aos ricos pedia ajuda financeira e, quando não tinha o suficiente, ia pedir esmolas, pois a escola e as obras não podiam parar.

    A Revolução Francesa chegou arrasadora, em 1789, declarando guerra e ódio ao trono e à Igreja, dispersando o clero e reduzindo tudo a ruínas. Júlia Postel fechou a escola, mas, a pedido do bispo, escondeu em sua casa os livros sagrados e o Santíssimo Sacramento e foi autorizada a ministrar a comunhão nos casos urgentes. Organizou missas clandestinas e instruiu grupos de catequistas para depois da Revolução. Sua vocação religiosa estava clara.

    No dia 13 de fevereiro de 1798 se faz terceira franciscana. Não muda muito sua vida ascética; de São Francisco de Assis aprende a generosidade e o amor a Deus e aos irmãos, o fervor na oração e no apostolado.

    A paz com a Igreja foi restabelecida em 1802. Juntamente com duas colegas e a ajuda do padre Cabart, Júlia Postel fundou a Congregação das Filhas da Misericórdia, em Cherbourg. Ao proferir seus votos, escolheu o nome de Maria Madalena. A princípio, a formação das religiosas ficou voltada para o ensino escolar e foi baseada nos mesmos princípios dos irmãos das escolas cristãs, já que na época era grande essa necessidade. Essas religiosas, aos poucos, foram se espalhando por todo o território francês. Depois, a pedido de Roma, a formação foi mudada, passando a servir como enfermeiras.

    Em 1832, madre Maria Madalena, junto com suas irmãs, estabeleceu-se nas ruínas da antiga Abadia Beneditina de Saint-Sauveur-le-Vicomte. Foi reconstruída com dificuldade e tornou-se a Casa-mãe da congregação. Madre Maria Madalena Postel morreu com noventa anos de idade, em 16 de julho de 1846. A fama de sua santidade logo se espalhou pelo mundo cristão.

    Foi beatificada em 1908, e depois canonizada pelo papa Pio XI, em 1926. Está sepultada em Saint-Sauveur-le-Vicomte. A sua festa acontece no dia 17 de julho e a sua obra, hoje, chama-se Congregação das Irmãs de Santa Maria Madalena Postel.

    Fonte: “Santos franciscanos para cada dia”, Edições Porziuncola.

  • São Simão de Lipnica

    Sacerdote da Primeira Ordem (1435-1482). Aprovou seu culto Inocêncio XI no dia 24 de fevereiro de 1685. Foi canonizado no dia 3 de junho 2007, no átrio da Basílica do Vaticano, pelo Papa Bento XVI.

    Simão nasceu em Lipnica, Murowana, na Polônia meridional, entre os anos de 1435-1440. Seus pais, Gregório e Ana, souberam dar a ele uma boa educação, inspirada nos valores da fé cristã e, apesar de sua modesta condição, preocuparam-se em assegurar uma adequada formação cultural. Simão cresceu com um caráter piedoso e responsável, uma natural predisposição à oração e um terno amor à Mãe de Deus.

    Em 1454, viajou a Cracóvia para assistir à famosa Academia Jagellonica. Nesse tempo São João de Capistrano entusiasmava a cidade com a santidade de sua vida e o fervor de sua pregação, atraindo à vocação franciscana um numeroso grupo de jovens. Em 8 de setembro de 1453, o santo italiano havia também fundado, na Cracóvia, o primeiro convento da Observância, com o nome de São Bernardino de Sena. Por esse motivo, os frades menores daquele convento foram chamados pelo povo de “bernardinos”.

    Em 1457, também o jovem Simão, fascinado pelo ideal franciscano, preferiu seguir o Evangelho, interrompendo uma carreira de sucessos. Para tanto, pediu para ser aceito, com outros dez companheiros de estudos, no convento de Stradom.

    Sob a orientação do Mestre de noviços, P. Cristóforo de Varese, religioso eminente por sua doutrina e santidade de vida, Simão recorreu com generosidade à vida humilde e pobre dos frades menores, alcançando o sacerdócio em 1460. Exerceu seu primeiro ministério no convento de Tarnów, onde foi guardião da fraternidade. Em seguida, estabeleceu-se em Stradom (Cracóvia), dedicando-se incansavelmente à pregação evangélica, com palavra limpa, plena de ardor, de fé e sabedoria, que deixava entrever sua profunda união com Deus e o prolongado estudo da Sagrada Escritura.

    Como São Bernardino de Sena e São João de Capistrano, Frei Simão estende a devoção ao Nome de Jesus, obtendo a conversão de inúmeros pecadores. Em 1463, primeiro entre os Frades Menores, ocupou o ofício de pregador na catedral de Wawel. Por sua entrega à pregação evangélica das fontes antigas, ganhou o título de “Pregador Fervorosíssimo”.

    Desejoso em render homenagem a São Bernardino de Sena, inspirador de sua pregação, em 17 de maio de 1472, junto a outros frades poloneses, chegou a Aquitania para participar da solene transladação do santo para o novo templo erguido em sua honra. Novamente foi à Itália, em 1478, por ocasião do Capítulo Geral em Pávia. Nessa ocasião pode satisfazer um desejo profundo de visitar as tumbas dos Apóstolos, em Roma, e prosseguir depois sua peregrinação à Terra Santa. Viveu a feliz experiência em espírito de penitência, de verdadeiro amante da Paixão de Cristo, com a oculta aspiração de derramar o próprio sangue pela salvação das almas, agradando assim a Deus.

    Imitador de São Francisco em seu amor pelos lugares santos, na eventualidade de ser capturado pelos infiéis, antes de viajar memorizou todo o texto da Regra da Ordem “para tê-la sempre diante dos olhos e da mente”.

    O amor de Simão pelos irmãos se manifestou de maneira extraordinária no último ano de sua vida, quando uma epidemia da peste devastou Cracóvia. De julho de 1482 a 6 de junho de 1483, a cidade esteve sob o flagelo da enfermidade. Na desolação geral, os franciscanos do convento de São Bernardino se doaram incansavelmente no cuidado aos enfermos, como verdadeiros anjos de consolo.

    Frei Simão tomou aquele como um “tempo propício” para exercitar a caridade e para levar a cabo a oferenda da própria vida. Por todas as partes passou confortando, prestando ajuda, administrando os sacramentos e anunciando a consoladora Palavra de Deus aos moribundos. E acabou também contagiado. Suportou com extraordinária paciência os sofrimentos da enfermidade e, próximo da morte, expressou o desejo de ser sepultado no umbral da igreja, para que todos pudessem pisoteá-lo. No sexto dia da enfermidade, a 18 de julho de 1482, sem temer a morte e com os olhos fixos sobre a Cruz, entregou sua alma a Deus.

    A causa de sua canonização, retomada pelo Papa Pio 12, em 25 de junho de 1948, chegou a bom termo com o reconhecimento de um milagre na cidade de Cracóvia em 1943 e decretada pelo Papa Bento 16, em dezembro de 2006.

    São Simão de Lipnica soube harmonizar admiravelmente o compromisso da evangelização e o testemunho da caridade, que brota de seu grande amor à Palavra de Deus e aos irmãos mais pobres e que mais sofrem.

    Fonte: “Santos franciscanos para cada dia”, Edições Porziuncola.

  • Nicanor Ascanio

    Bem-aventurado Nicanor Ascanio

    Sacerdote e mártir da Primeira Ordem (1814-1860). Beatificado por Pio XI no dia 10 de outubro de 1926.

    Nicanor Ascanio  nasceu no Vilarejo de Salvanés, província de Madrid, em 1814. Aos 16 anos tomou o hábito dos Frades Menores, continuou seus estudos e foi ordenado sacerdote. Ele foi diretor das Irmãs Concepcionistas e pároco em sua terra natal. Muito devoto, penitente, zeloso, desejava se consagrar por inteiro às missões. Essa vontade fez dele um sacerdote modelo.

    Na sua juventude, ele tinha sonhado com a vida apostólica, o sacrifício e o martírio, mas em 26 anos, esses desejos não passaram de meros sonhos. A venerável Irmã Maria das Dores, morta com a fama de santidade em 27 de janeiro de 1891, tinha assegurado a ele que Deus queria que ele fosse à Terra Santa, como missionário e mártir na pátria de Jesus. O Bem-aventurado Nicanor, obediente à voz celestial, muitas vezes ouviu, em suas longas horas de oração, o chamado para partir à Terra Santa, uma terra que seria o palco de seu apostolado dinâmico, de lutas, sacrifícios e martírio.

    Chegando a Jerusalém, orou intensamente no Santo Sepulcro, no Calvário e no Getsêmani, na gruta de Belém e em todos os outros santuários. Ele foi enviado a Damasco para aprender a língua árabe sob a direção do bem-aventurado Carmelo Volta, quando a perseguição religiosa estava por vir.

    Em 10 de julho de 1860, os muçulmanos ordenaram a ele renunciar ao cristianismo e abraçar a religião de Maomé para salvar sua vida. Nicanor, ainda não muito familiarizado com a língua árabe, não compreendeu imediatamente o que lhe foi perguntado, mas como ele conseguia entender, respondeu enfaticamente: “Eu sou um cristão, matem-me. Eu acredito em Cristo e não no profeta Maomé”. Foi imediatamente morto por decapitação. Assim se cumpriu a profecia de Irmã Maria das Dores.

    Foi um episódio triste, principalmente devido ao fanatismo e à crueldade dos drusos, que na noite entre 9 e 10 de julho, em Damasco, invadiram o convento dos franciscanos no bairro cristão, centro reconhecido e florescente. Também se refugiaram dentro do convento três cristãos maronitas, martirizados juntamente com os oito franciscanos. Nicanor tinha 46 anos.

    Fonte: “Santos franciscanos para cada dia”, Edições Porziuncola.

  • Nicolau Maria Alberca e Torres

    Bem-aventurado Nicolau Maria Alberca e Torres

    Sacerdote e mártir da Primeira Ordem. Beatificado por Pio XI no dia 10 de outubro de 1926.

    Nicolau Alberca é o mais novo dos Mártires de Damasco. Nasceu em 1830, em Aguilar de la Frontera, Córdoba, Espanha. Entrou para a Ordem aos 25 anos, após o noviciado e os respectivos estudos foi ordenado sacerdote. Em 27 de janeiro de 1859 partiu como missionário à Terra Santa, e no dia 10 de julho de 1860 partiu para o céu com a coroa do martírio.

    Foi religioso apenas 5 anos, mas franciscano a vida toda, como seu lema foi o de São Francisco: “Meu Deus e meu tudo”. Quando expressou sua vontade de ir como missionário, preparou-se para isso no colégio de Priego, juntamente com outros mártires religiosos como ele em Damasco: Pedro Soler e Nicanor Ascânio. A santa educação recebida na família (dos 10 irmãos, 6 se consagraram a Deus) o levava a afirmar: “Prefiro sofrer a morte mil vezes, mas não trair o meu Senhor”, preparando-se quase conscientemente para o martírio.

    Em 1859, Nicolau partiu para a missão em Damasco. Na Síria e na Palestina a vida dos cristãos estava constantemente em perigo: na verdade, os turcos estavam preparando uma perseguição contra os cristãos para vingar o Tratado de Paris de 1856 (o acordo pôs fim à guerra da Crimeia, onde a Turquia, representada por Aali-pachà, também conhecido como Meliemet Emin, era admitida na comunidade das potências europeias, tendo o sultão assumido o compromisso de tratar seus súditos cristãos de acordo com as leis europeias).

    A intenção de realizar um massacre era tão clara que o grande patriota argelino ‘Abd-el-Kadir, retirando-se para Damasco, após uma resistência desesperada à invasão francesa de sua terra natal, desgostoso, decidiu usar os seus seguidores para proteger os cristãos. No entanto, em 9 de julho de 1860 começou a caça aos cristãos. Abd-el-Kadir não conseguiu resgatar os missionários que estavam presos no convento, confiando em suas paredes fortes. Na noite de 9 de julho um judeu introduziu os turcos no convento por uma porta lateral, que ninguém se lembrava mais. Nicolau foi brutalmente morto por um tiro de espingarda, juntamente com sete outros companheiros, na manhã de 10 de julho de 1860.

    Poucos meses antes do martírio, Nicolau havia escrito uma carta para sua mãe, na qual ele expressou o desejo de vê-la ainda aqui na terra, desde que este estivesse de acordo com a vontade de Deus. Pelo que sabemos, o jovem missionário precedeu a sua mãe no céu.

    O martírio de Nicolau foi o mais breve registrado na história de nossos mártires. Quando perseguido pelos muçulmanos em um corredor, enquanto a igreja e convento foram envolvidos em chamas, o intimaram a renunciar a Cristo para se juntar a Maomé, respondeu: “Posso sofrer mil vezes a morte, mas não vou trair meu Senhor”. Um tiro de rifle matou o religioso. Ele tinha apenas 30 anos.

    Fonte: “Santos franciscanos para cada dia”, Edições Porziuncola.

  • São Lourenço de Bríndisi

    Sacerdote, Doutor da Igreja, da Primeira Ordem (1559-1619). Canonizado por Leão XIII em 1881.

    Geralmente, as chamadas “crianças superdotadas”, aquelas que demonstram um dom excepcional para alguma especialidade, quando crescem, parecem “perder os poderes” e nivelam-se com as demais pessoas. São poucas as exceções que merecem ser recordadas. Mas, com certeza, uma delas foi Júlio César Russo, que nasceu no dia 22 de julho de 1559, em Brindisi, na Itália.

    Seu nome de batismo mostrava, claramente, a ambição dos pais, que esperavam para ele um futuro brilhante, como o do grande general romano. Realmente, anos depois, lá estava ele à frente das forças cristãs lutando contra a invasão dos turcos muçulmanos, que ameaçava chegar ao coração da Europa depois de ter dominado a Hungria. Só que não empunhava uma espada, mas sim uma cruz de madeira. Nessa ocasião, já vestia o hábito franciscano, respondia pelo nome de Lourenço e era o capelão da tropa, além de conselheiro do chefe do exército romano, Filipe Emanuel de Lorena.

    Vejamos como tudo aconteceu. Aos seis anos de idade, o então menino Júlio César encantava a todos com o extraordinário dom de memorizar as páginas de livros, em poucos minutos, para depois declamá-las em público. E cresceu assim, brilhante nos estudos. Quando ficou órfão, aos quatorze anos de idade, foi acolhido por um tio, que residia em Veneza. Nessa megalópole, pôde desenvolver muito mais os seus talentos para os estudos.

    Mas a religião o atraia de forma irresistível. Dois anos após chegar a Veneza, ele atendeu ao chamado e ingressou na Ordem dos Frades Menores de São Francisco de Assis. Em seguida, juntou-se aos capuchinhos de Verona, onde recebeu a ordenação e assumiu o novo nome, em 1582. Depois, completou sua formação na Universidade de Pádua. Voltou para Veneza em 1586, como professor dos noviços da Ordem, sempre evidenciando os mesmos dotes da infância.

    Tornou-se especialista em línguas e sua erudição levou-o a ocupar altos postos em sua Ordem e também a serviço do sumo pontífice. Foi provincial em Toscana, Veneza, Gênova e Suíça e comissário no Tirol e na Baviera, pregando firmemente a ortodoxia católica contra a Reforma Protestante, além de animar as autoridades e o povo na luta contra a dominação dos turcos muçulmanos. Lourenço foi, mesmo, o superior-geral da sua própria Ordem e embaixador do papa Paulo V, com a missão de intermediar príncipes e reis em conflito.

    Lourenço de Brindisi morreu no dia do seu aniversário, em 1619, durante sua segunda viagem à Península Ibérica, na cidade de Lisboa, em Portugal. Foi canonizado em 1881 e recebeu o título de doutor da Igreja em 1959, outorgado pelo papa João XXIII. A sua festa é celebrada um dia antes do aniversário de sua morte, dia 21 de julho.

  • Santa Kinga da Polônia

    Santa Kinga, Rainha da Polônia

    Virgem e religiosa da Segunda Ordem (1224-1292). Aprovou seu culto Alexandre VIII no dia 11 de junho de 1690. Canonizada por São João Paulo II em 1999.

    Santa Kinga, ou Santa Cunegunda, nasceu a 5 de março de 1224. Foi uma alta expoente da nobreza húngara. Era sobrinha de Santa Edwiges e de Santa Inês de Praga; irmã das Bem-aventuradas Iolanda e Margarida; prima de Santa Isabel de Portugal; prima e cunhada da Bem-aventurada Salomé de Cracóvia; tia de São Luís de Tolosa.

    Muito trabalhou para a canonização de Santo Estanislau e Santa Edwiges. Nasceu em 1224. Casou-se com Boleslau V, o Casto, príncipe de Cracóvia, em 1239, vivendo com ele durante 40 anos em virgindade: durante a vida do casal, o casamento nunca foi consumado por decisão do casal, para servir melhor a Jesus Cristo.

    Cunegunda dedicou muita atenção aos pobres e desafortunados. Uma lenda associa-a à descoberta das minas de sal de Wieliczka, na Polônia e é representada nas mesmas minas de sal de Wieliczka como em visita com a família real. Após a morte do marido, em 1279, tornou-se Clarissa, no Mosteiro de Stary Sacz, fundado por ela e o marido em Sandeck, decidindo não querer ter qualquer papel na governação do reino e desfazendo-se de todas as suas posses materiais.

    Ali, porém mais tarde, precisou aceitar o cargo de abadessa. Passou o resto da sua vida em oração contemplativa, não deixando ninguém referir-se ao seu papel anterior como rainha da Polônia.

    Morreu em 24 de julho de 1292, aos 68 anos. Foi declarada padroeira da Polônia e Lituânia pelo Papa Clemente XI em 1695. Foi beatificada em 1690 pelo Papa Alexandre VIII; e canonizada pelo Papa São João Paulo II em Stary Sacz no dia 16 de junho de 1999.

    A Catedral de Sal, dedicada a Santa Kinga, foi talhado a 330 pés de profundidade e tem uma área de cinco mil pés quadrados e 36 pés de altura. Todas as esculturas e altares foram talhados na rocha de sal e inclusive os candelabros que a iluminam foram elaborados em cristais de sal. O templo exibe talhas do Natal, da Última Ceia, da Crucifixão e de outras cenas de vida de Cristo, além de ter uma imagem em sal de Santa Kinga da Polônia após o altar maior.

    Em sua canonização, o Papa proferiu as seguintes palavras:

    “Enquanto fixamos o olhar na figura de Kinga, surge um interrogativo essencial: o que a transformou numa figura que, num certo sentido, não passa? O que lhe permitiu sobreviver na memória dos polacos e, de modo particular, na memória da Igreja? Qual é o nome daquela força que resiste à lei inexorável do «tudo passa»? O nome desta força é o amor. O Evangelho hodierno, concernente às dez virgens sábias, fala precisamente do amor. Kinga foi decerto uma delas. Como elas, encaminhou-se ao encontro do Esposo divino, vigiou com a lâmpada do amor acesa, para não perder o momento da vinda do Esposo. Como elas, encontrou-O quando Ele estava a chegar e foi convidada a participar no banquete de núpcias. O amor do Esposo divino na vida da Princesa Kinga expressou-se com muitos actos de amor ao próximo. Foi precisamente aquele amor que fez com que o passar, a que está sujeito todo o homem sobre a terra, não cancelasse a sua memória. Após tantos séculos, hoje é a Igreja em terra polaca que o exprime.

    «Os Santos vivem dos Santos e têm sede de santidade». Repito mais uma vez estas palavras aqui, na terra de Sacz. Kinga recebeu-a como dom em troca do dote que destinou ao socorro do país, e esta terra nunca cessou de ser sua propriedade particular. Ela cuida sempre do povo fiel que vive aqui. Como não lhe agradecer a proteção sobre as famílias, de maneira especial sobre as inúmeras famílias daqui que contam uma prole numerosa, para as quais olhamos com admiração e respeito? Como não lhe estar grato por ela impetrar para esta comunidade eclesial a graça de vocações sacerdotais e religiosas tão numerosas? Como não lhe estar reconhecido por nos reunir hoje aqui, unindo na comum oração irmãos e irmãs da Hungria, da República Tcheca, da Eslováquia e da Ucrânia, reavivando a tradição da unidade espiritual, que ela mesma formou com tanta dedicação?

    Repletos de gratidão, louvamos a Deus pelo dom da santidade da Senhora desta terra e pedimos-lhe que o esplendor desta santidade continue em todos nós. No novo milênio, esta magnífica luz irradie sobre todos os confins da terra, a fim de que venham de longe visitar o santo nome de Deus (cf. Tb 13, 13) e vejam a sua glória.” (Papa São João Paulo II, Stary Sacz, 16 de junho de 1999).

    Fonte: “Santos franciscanos para cada dia”, Edições Porziuncola.

  • Santa Brígida da Suécia

    Viúva, religiosa da Terceira Ordem (1302-1373). Fundadora da Ordem das Irmãs de São Salvador. Canonizada por Bonifácio IX em 7 de outubro de 1392.

    Conhecemos bem os acontecimentos da vida de Santa Brígida, porque os seus pais espirituais redigiram a sua biografia para promover o processo de canonização logo após sua morte, ocorrida em 1373. Brígida nasceu em 1303, em Finster, na Suécia, uma nação do Norte europeu que, já fazia três séculos, havia acolhido a fé cristã com o mesmo entusiasmo com que a santa a tinha recebido de seus pais, pessoas muito piedosas, pertencentes a nobres famílias próximas à Casa real.

    Podemos distinguir dois períodos na vida desta santa. O primeiro é caracterizado pela sua condição de mulher alegremente casada. O marido chamava-se Ulf e era governador de um importante distrito do reino da Suécia. O matrimônio durou 28 anos, até a morte de Ulf. Nasceram oito filhos, dos quais a segunda, Karin (Catarina), é venerada como santa. Isso é um sinal eloquente do compromisso educativo de Brígida em relação a seus próprios filhos. Além disso, a sua sabedoria pedagógica foi apreciada a tal ponto que o rei da Suécia, Magnus, chamou-a à corte durante um certo período, com a missão de introduzir a sua jovem esposa, Bianca de Namur, na cultura sueca.

    Brígida, espiritualmente conduzida por um douto religioso que a iniciou no estudo das escrituras, exerceu uma influência muito positiva sobre a sua família que, graças à sua presença, tornou-se uma verdadeira “igreja doméstica”. Juntamente com o marido, adotou a Regra dos Terciários franciscanos. Praticava com generosidade obras de caridade em favor dos indigentes; fundou também um hospital. Próximo à sua esposa, Ulf aprendeu a melhorar o seu caráter e a progredir na vida cristã. Ao retornar de uma longa peregrinação a Santiago de Compostela, feita em 1341 juntamente com outros membros da família, os esposos amadureceram o projeto de viver em continência; mas, pouco tempo depois, na paz de um mosteiro ao qual havia se retirado, Ulf concluiu a sua vida terrena.

    Esse primeiro período da vida de Brígida ajuda-nos a apreciar aquela que hoje podemos definir como uma autêntica “espiritualidade conjugal”: unidos, os esposos cristãos podem percorrer um caminho de santidade, sustentados pela graça do Sacramento do Matrimônio. Não poucas vezes, exatamente como aconteceu na vida de Santa Brígida e Ulf, é a mulher que, com a sua sensibilidade religiosa, com a delicadeza e a doçura pode fazer o marido percorrer um caminho de fé. Penso com reconhecimento em tantas mulheres que, dia após dia, ainda hoje iluminam as próprias famílias com o seu testemunho de vida cristã. Possa o Espírito do Senhor suscitar também hoje a santidade dos esposos cristãos, para mostrar ao mundo a beleza do matrimônio vivido segundo os valores do Evangelho: o amor, a ternura, o auxílio recíproco, a fecundidade na geração e na educação dos filhos, a abertura e a solidariedade com relação ao mundo, a participação na vida da Igreja.

    Quando Brígida torna-se viúva, inicia-se o segundo período da sua vida. Renunciou a outras núpcias para aprofundar a união com o Senhor através da oração, penitência e obras de caridade. Também as viúvas cristãs, portanto, podem encontrar nessa santa um modelo a seguir. Com efeito, Brígida, com a morte do marido, após ter distribuído os seus bens aos pobres, mesmo sem ter feito a consagração religiosa, estabeleceu-se junto ao mosteiro cisterciense de Alvastra. Ali começaram as revelações divinas, que a acompanharam durante todo o resto de sua vida. Essas foram ditadas por Brígida a seus secretários-confessores, que as traduziram do sueco para o italiano em uma edição de oito livros, intitulados Revelationes (Revelações). A esses livros, une-se também um suplemento, que é intitulado precisamente Revelationes extravagantes (Revelações suplementares).

    As Revelações de Santa Brígida apresentam um conteúdo e um estilo muito variado. Às vezes, a revelação apresenta-se sob a forma de diálogos entre as Pessoas divinas, a Virgem, os santos e também os demônios; diálogos nos quais também Brígida intervém. Outra vezes, ao contrário, trata-se do relato de uma visão particular; e, em outras, é narrado ainda aquilo que a Virgem Maria lhe revela acerca da vida e dos mistérios do Filho. O valor das Revelações de Santa Brígida, por vezes objeto de algumas dúvidas, foi precisado pelo Venerável João Paulo II na Carta Spes Aedificandi: “Não há dúvida que a Igreja, ao reconhecer a santidade de Brígida, mesmo sem se pronunciar sobre cada uma das revelações, acolheu a autenticidade do conjunto da sua experiência interior” (n. 5).

    De fato, lendo as Revelações, somos interpelados sobre muitos temas importantes. Por exemplo, retornam frequentemente as descrições, com detalhes bastante realistas, da paixão de Cristo, pela qual Brígida teve sempre uma devoção privilegiada, contemplando nessa o amor infinito de Deus pelos homens. Na boca do Senhor que fala, ela coloca com audácia estas comoventes palavras: “Ó meus amigos, amo tão ternamente as minhas ovelhas que, se fosse possível, desejaria morrer tantas outras vez, por cada uma dessas, por aquela mesma morte que sofri para a redenção de todas” (Revelationes, Livro I, c. 59). Também a dolorosa maternidade de Maria, que a tornou Mediadora e Mãe de misericórdia, é um argumento que aparece frequentemente nas Revelações.

    Recebendo esses carismas, Brígida era consciente de ser destinatária de um grande dom de predileção da parte do Senhor: “Filha minha – lemos no primeiro livro das Revelações –, escolhi a ti para mim, ama-me com todo o teu coração […] mais do que tudo o que existe no mundo” (c. 1). De resto, Brígida bem sabia, e estava firmemente convencida, de que todo o carisma é destinado a edificar a Igreja. Exatamente por esse motivo, não poucas das suas revelações eram destinadas, sob a forma de admoestações também severas, aos fiéis de seu tempo, incluídas as Autoridades religiosas e políticas, para que vivessem coerentemente a sua vida cristã; mas fazia isso sempre com uma abordagem respeitosa e de fidelidade plena ao Magistério da Igreja, em particular ao Sucessor do Apóstolo Pedro.

    Em 1349, Brígida deixou para sempre a Suécia e foi em peregrinação a Roma. Não somente buscava participar do Jubileu de 1350, mas desejava também obter do Papa a aprovação da Regra de uma Ordem Religiosa que pretendia fundar, em honra ao Santo Salvador, e composta por monges e monjas sob a autoridade da abadessa. Esse é um elemento que não deve surpreender-nos: na Idade Média, existiam fundações monásticas com um ramo masculino e um ramo feminino, mas com a prática da mesma regra monástica, que previa a direção da Abadessa. De fato, na grande tradição cristã, à mulher é reconhecida uma dignidade própria, e – sempre sob o exemplo de Maria, Rainha dos Apóstolos – um lugar próprio na Igreja, que, sem coincidir com o sacerdócio ordenado, é igualmente importante para o crescimento espiritual da Comunidade. Além disso, a colaboração dos consagrados e consagradas, sempre no respeito da sua específica vocação, reveste-se de grande importância no mundo de hoje.

    Em Roma, na companhia da filha Karin (Catarina), Brígida dedicou-se a uma vida de intenso apostolado e de oração. E, de Roma, partiu em peregrinação a diversos santuários italianos, em particular a Assis, pátria de São Francisco, pelo qual Brígida nutriu sempre grande devoção. Finalmente, em 1371, coroou o seu maior desejo: a viagem à Terra Santa, para onde foi em companhia dos seus filhos espirituais, um grupo que Brígida chamava de “os amigos de Deus”.

    Durante aqueles anos, os Pontífices encontravam-se em Avignon, distante de Roma: Brígida dirigiu-se severamente a eles, a fim de que voltassem à sé de Pedro, na Cidade Eterna.

    Morreu em 1373, antes que o Papa Gregório XI retornasse definitivamente para Roma. Foi sepultada provisoriamente na igreja romana de San Lorenzo in Panisperna, mas, em 1374, os seus filhos Birger e Karin a levaram de volta para a pátria, ao mosteiro de Vadstena, sede da Ordem religiosa fundada por Santa Brígida, que teve subitamente uma notável expansão. Em 1391, o Papa Bonifácio IX canonizou-a solenemente.

    Papa Bento XVI

  • Luísa de Savoia

    Bem-aventurada Luísa de Savoia

    Viúva, religiosa da Segunda Ordem (1462-1503). Aprovou seu culto Gregório XVI no dia 12 de agosto de 1839.

    “Em 24 de julho, em Orbe, na Savoia, a beata Luísa, viúva, da ordem segunda de S. Francisco (clarissa). Se ilustre era pela nobreza de linhagem, mais ilustre se tornou pela santidade de vida. Seu culto foi confirmado pelo sumo pontífice Gregório XVI (do martirológio franciscano). Efetivamente Ludovica (ou Luísa, em português) nasceu em 28-12-1462, filha do duque Amadeu IX de Sabóia e Iolanda de França. Em 1479 casou-se com Hugo de Châlon-Arlay, senhor de Château-Guyon.

    Toda a sua vida, desde a juventude, na corte e depois como esposa, foi sempre marcada por uma grande austeridade e uma profunda piedade. Mas em 1490, com 11anos de casada, ficou viúva. Passados dois anos, retirou-se para o mosteiro das clarissas de Orbe (Vaud) doando à Igreja do mosteiro todos os seus bens. No claustro atingiu rapidamente o vértice das virtudes cristãs, decorrendo a sua vida na prática do exercício da oração, do silêncio e da pobreza mais austera, conforme a regra de Santa Clara. A irmã morte a alcançou no dia 24 de julho de 1503 nesse mosteiro.

    Recordamos esta beata porque a sua família veio a reinar no Piemonte e Sardenha e foi exatamente com a sua família que se deu a unificação da Itália em 1870. Aliás a família da casa de Savoia sempre foi muito dedicada à Igreja, e entre as mulheres sempre houve grandes santas, algumas a caminho dos altares.

    O famoso sudário de Turim também pertenceu à casa de Savoia que governou a Itália até o final da segunda guerra mundial, quando foi proclamada a república. O último rei da Itália, ao morrer, deixou o sudário de Turim para a Santa Sé.


    Bem-aventurado Modestino de Jesus e Maria

    Sacerdote da Primeira Ordem (1802-1854). Beatificado por São João Paulo II em janeiro de 1995.

    A Ordem Franciscana também celebra neste dia a memória do bem-aventurado Modestino de Jesus, sacerdote professo da Ordem dos Frades Menores Alcantarinos.  Ele sempre foi um homem de vida humilde e piedosa.Grande devoto da Virgem no ministério sacerdotal destacou-se pelo seu zelo na pregação e pela celebração do sacramento da reconciliação, bem como na prestação de serviços aos pobres e doentes.Morreu vítima da cólera, que contraiu  ao atender às vítimas da epidemia.

    Modestino nasceu em Frattamaggiore, Província de Nápoles, diocese de Aversa, no dia 5 de setembro de 1802. Vestiu o hábito franciscano no dia 3 de novembro de 1822, quando ingressou no noviciado do Convento de Santa Lucia do Monte, em Nápoles.

    Foi ordenado sacerdote no dia 22 de dezembro de 1827. Faleceu no dia 24 de julho de 1854.

    Fonte: “Santos franciscanos para cada dia”, Edições Porziuncola

  • Pedro de Mogliano

    Bem-aventurado Pedro de Mogliano

    Sacerdote da Primeira Ordem (1442-1490). Aprovou seu culto Clemente XIII no dia 10 de agosto de 1760.

    Pedro nasceu em Mogliano, província de Macerata em 1442. De Mogliano foi para Perugia para estudar na universidade. Aos 25 anos foi persuadido por um pregador franciscano, padre Domingo de Leonissa. Não o seguiu imediatamente, mas depois de madura reflexão, ele também decidiu abraçar a vida de pobreza e o apostolado propostos pelos franciscanos.

    Suspendeu sua carreira inicial de advogado, cuja láurea tinha obtido na Universidade de Perugia. Tomou o hábito de São Francisco em 1467 no eremitério de Carceri, dos Frades Menores.

    Depois do noviciado e ordenado sacerdote se dedicou com especial atenção à pregação, inicialmente como um companheiro de São Tiago das Marcas por não menos de 20 anos, nos quais sua palavra culta, clara e fervorosa ecoou nas principais cidades da região central da Itália.

    O objetivo principal dos franciscanos da época era a pregação popular, em que muitos se destacaram com sucessos estrondosos. Basta pensar em São Bernardino de Sena, São João Capistrano, São Tiago das Marcas, e os beatos Alberto de Sarteano, Mateus Agrigento, Marcos Fantuzzi de Bolonha e muitos outros.

    Precisamente com São Tiago, meio século mais velho e chefe de uma verdadeira equipe de pregadores volantes, Pedro de Mogliano foi colaborador e discípulo antes de chegar a pregador e afetuoso diretor de almas.

    Nesta ocasião, ele fez amizade com o Senhor de Camerino, Júlio César Varano e sua filha Camilla Varano Batista, clarissa pobre do mosteiro Santa Clara na cidade, a quem Frei Pedro orientou com santos conselhos.

    Suas palavras eruditas e persuasivas penetraram nas mentes e tocou os corações mais duros, para induzi-los à conversão. Pregador na ilha de Creta, três vezes ministro provincial dos franciscanos das Marcas, ministro provincial uma vez em Roma, teve uma vida rica de satisfações humanas, bem como a alegria espiritual. Um dia esteve a ponto de morrer sufocado em meio a uma multidão festiva que queria expressar sua simpatia.

    Doente em 2 de julho de 1490, morreu na noite entre 24 e 25 do mesmo mês, murmurando os nomes de Jesus e Maria, sereno e feliz, com o sorriso que acompanha na terra e no céu os passos dos justos. A primeira biografia e mais célebre dele foi escrita pela Beata Camilla Batista Varano, a mais preciosa glória espiritual de Camerino. Ela enfatiza a serenidade do Beato ao estar próximo da morte, que o levou após uma doença muito dolorosa, que ele suportou com paciência e alegria, enquanto um colega seu exclamou: “Pai Pedro, tu morres rindo!”.

    Fonte: “Santos franciscanos para cada dia”, Edições Porziuncola.

  • Arcanjo de Calatafimi

    Bem-aventurado Arcanjo de Calatafimi

    Sacerdote, ermitão da Primeira Ordem (1390-1470). Aprovou seu culto Gregório XVI no dia 9 de setembro de 1836.

    Arcanjo nasceu em Calatafimi, na província de Trapani, na Sicília, no extremo oeste da ilha, em torno de 1390. Nesta pitoresca cidade de origem árabe, nasceu na nobre família Piacentini, ou Piacenza e ainda era muito jovem quando, deixando a casa da família foi criado em uma caverna nas montanhas. Permaneceu escondido durante algum tempo em solidão, mas depois a fama das suas virtudes e sua austeridade cada vez mais atraíram muitas pessoas do bairro ao seu abrigo, ansiosas para conhecê-lo e consultá-lo.

    Para recuperar a solidão, Arcanjo deixou aquele lugar e foi para Alcamo, onde novamente se refugiou em um só eremitério. Mas não pôde fugir por muito tempo dos habitantes da região. Estes foram mais hábeis para cercar seu ermitão devoto e atraí-lo para sua cidade: pediram a ele para que dirigisse um hospital em Alcamo, que estava abandonado e que cidade sentia muito a sua necessidade.

    Assim, Arcanjo foi pressionado entre sua vocação de eremita e o dever da caridade. E é claro que ele não podia recusar. Colocou-se no trabalho organizando o hospital para que tudo corresse bem, com total respeito ao dever da caridade para os necessitados. Quando o hospital começou a ir bem, Arcanjo retornou à sua solidão predileta, entrou em uma nova caverna. Desta vez, o fez sair fora da caverna um decreto do Papa Martinho V, no qual eram suprimidos os eremitérios da Sicília.

    Arcanjo, obediente, deixou sua caverna novamente, mas não retornou para o mundo. Ele foi para Palermo, onde moravam os Frades Menores e aí recebeu o hábito da pobreza nas mãos do Beato Mateus de Agrigento. Depois do noviciado, foi enviado para Alcamo, onde fundou um convento franciscano, ao lado do hospital que já havia dirigido.

    Para a austeridade com que ele viveu na mais estrita regra franciscana por sua sabedoria e prudência, ele foi ordenado sacerdote. Mais tarde, ele foi eleito Ministro Provincial da Ordem, e se destacou como um administrador e organizador. Mas ele preferiu a pregação nas várias cidades e vilas da Sicília para o governo dos religiosos; por meio da evangelização converteu muitos pecadores.

    Ele morreu em Alcamo no dia 10 de abril de 1460 no convento de Santa Maria de Jesus, que ele fundou. Ele tinha 70 anos. Sua memória e o eco de muitos milagres perduraram entre Alcamo e Calatafimi.

    Fonte: “Santos franciscanos para cada dia”, Edições Porziuncola

  • Mattia de Nazarei

    Bem-aventurada Mattia de Nazarei

    Virgem religiosa da Segunda Ordem (1236-1320). Aprovou seu culto Clemente XII no dia 27 de julho de 1765.

    Mattia, nascida no ano de 1235 em Matelica,  nas Marcas – Itália, pertencia à família nobre De Nazarei.  Cresceu rodeada dos amorosos cuidados familiares, que fizeram tudo para prepará-la para um brilhante porvir.  Seu pai sonhava para ela um matrimônio digno de sua categoria.  Porém,  um fato inesperado transtornou todos os seus planos. O exemplo das  duas santas irmãs Clara e Inês de Assis também se repetiu em Matelica. Um dia Mattia sem avisar a ninguém, fugiu de casa e foi bater às portas do mosteiro de Santa Maria Madalena das  Irmãs Clarissas, pedindo à abadessa que a recebesse entre suas co-irmãs.  Esta a  fez notar que isto era impossível sem o consentimento de seus pais. Pouco depois, o pai e alguns parentes, irritadíssimos, irromperam no mosteiro decididos a levá-la de novo para casa à força. Porém,  tudo foi inútil. O pai foi vencido pela insistência da sua filha, que assim pôde realizar seu sonho de  seguir a Cristo pelo caminho da perfeição. Tinha dezoito anos quando começou o noviciado e  antes da profissão, distribuiu parte de seus bens aos pobres e  parte reservou para urgentes trabalhos de restauração do mosteiro.

    Atrás de seu exemplo, outras moças a  seguiram pelo caminho da vida evangélica que haviam traçado São Francisco e Santa Clara. Depois de oito anos de  vida religiosa foi eleita abadessa unanimemente.  Durante quarenta anos Mattia foi a zelosa superiora das Clarissas,  iluminada guia espiritual e  ao mesmo tempo sagaz administradora. Possuía as qualidades aparentemente contraditórias de  uma grande mística e de uma sábia organizadora.  Confiando na divina Providência, com ofertas da população e de sua família, reconstruiu desde os fundamentos da igreja até o mosteiro.

    A vida interior da Beata Mattia se modelou sobre a Paixão do Senhor. Por muitos anos todas as  sextas-feiras sofreu dores e  numerosos arroubamentos. Foi uma mulher de governo que as virtudes contemplativas unia às virtudes práticas. Manteve-se também em contato com o mundo, sabendo dizer uma palavra de consolo, ajuda e exortação aos muitos que ajudava na medida das possibilidades e ainda a indigentes e pobres.  Um menino estava a  ponto de morrer como consequência de uma queda. A mãe, desesperada, o levou à Beata Mattia que, depois de rezar o tocou com a mão e o restituiu são e salvo à sua mãe. E se contam dela muitos outros prodígios.

    Em 28 de dezembro de 1320, depois de ter exortado e abençoado pela última vez a suas queridas coirmãs, morreu serenamente aos 85 anos, deixando atrás de si uma doce recordação, que logo se transformaria em culto, o qual confirmaria Clemente XIII,  ao beatificá-la em 27 de julho de 1765.

    Milagre recente – cura de câncer

    Em 1987 constatou-se a cura milagrosa de um farmacêutico e doutor napolitano, Alfonso de D’Anna. O diagnóstico do Instituto Pascal de Nápoles, confirmado pelo Instituto Nacional de Tumores de Milão, era carcinoma, um tumor maligno.  Em 6 de março de 1987 tinha que iniciar o tratamento de quimioterapia, porém a Beata Mattia apareceu em sonhos à senhora Rita Santoro, da ordem Franciscana Secular e Ministra da Fraternidade de Santa Maria Francisca de Nápoles. A senhora Rita então não conhecia o Dr. D’Anna, porém, a Beata Mattia lhe proporcionou informações detalhadas, para que pudesse identificá-lo. A senhora Rita tinha que dar-lhe uma de suas relíquias e o azeite bento de sua lâmpada, que arde sempre em seu convento, e que as clarissas oferecem aos fiéis em pequenos frascos.

    Em 7 de março de 1987, o Dr. Alfonso D’Anna dirigiu-se à sua farmácia, para retomar o trabalho. As revisões periódicas estiveram precedidas, muitas vezes, por um forte odor de jasmim, como havia predito o sonho, e confirmaram a incrível e completa cura do Dr. D’Anna.

    A última revisão, um TAC realizado no hospital Cardarelli de Nápoles, confirmou a perfeita ventilação de seus pulmões e a ausência de lesões tumorais.

    Toda a documentação foi posta à disposição das autoridades eclesiásticas, a fim de proceder a canonização da Beata Mattia.

    Fonte: “Santos franciscanos para cada dia”, Edições Porziuncola

  • Santa Afonsa

    Santa Afonsa da Imaculada Conceição

    Virgem da Terceira Ordem Regular (1910-1946). Clarissa Terceira de São Francisco de Malabar. Beatificada em Kottayam, Índia, por João Paulo II no dia 8 de fevereiro de 1986.

    Annakutty (diminutivo de Ana) Muttathupadathu nasceu em uma aldeia de Kudamalur, na Índia, a 19 de agosto de 1910. Seu batismo foi feito no rito católico siro-malabar.

    Foi ela a última de cinco filhos, em uma família cristã de origem nobre. Tendo ficado órfã de mãe aos três meses de idade, foi criada por uma tia materna, recebendo a educação de um tio sacerdote. A avó materna a iniciou na fé, incutindo-lhe o amor pela oração já na primeira infância, pois com a idade de 5 anos já conduzia aos orações noturnas em sua casa, costume do rito oriental ao qual a família pertencia. Aos sete anos recebeu a Primeira Eucaristia, e gostava de comentar com as amigas: “sabem por que estou tão feliz hoje? É porque tenho Jesus no coração”.

    A irmã de sua falecida mãe, que a criava, insistia com ela para que se casasse aos 13 anos com um notário (na Índia eram — e continuam sendo — muito comuns os casamentos programados por familiares sem que os nubentes participem da decisão). Porém seu coração já estava entregue a Deus: queria tornar-se religiosa. Chegou a pôr o pé sobre brasas incandescentes (queimando-se gravemente) ao concluir que tornando-se parcialmente desfigurada o nenhum homem se interessaria por ela. O incidente teve o resultado esperado: sua tia desistiu da intenção de casá-la.

    Ajudada pelo Pe. James Muricken, que a introduziu na espiritualidade franciscana, ingressou Annakutty no noviciado das religiosas clarissas em 1927, e em 1936 fez a profissão perpétua, tendo por nome religioso Afonsa da Imaculada Conceição (alusão a Santo Afonso Maria de Ligório cuja festividade se comemorava no dia).

    Sua constituição orgânica frágil levou-a a passar por muitos sofrimentos físicos, os quais enfrentava com resignação. Um dos calvários pelos quais passou foi o desejo de suas superioras para que ela voltasse para casa, já que sua delicada saúde era considerada um obstáculo para a vida religiosa, mas com a ajuda celeste esse problema foi superado.

    A despeito de suas limitações físicas, a penitência era-lhe motivo de admiração: “para cada pequena falta pedirei perdão ao Senhor e a expiarei com uma penitência; sejam quais forem os meus sofrimentos, não me lamentarei jamais, e quando tiver de enfrentar qualquer humilhação procurarei refúgio no Sagrado Coração de Jesus”, registrou Afonsa em seus escritos. A pequena via de Santa Teresinha do Menino Jesus foi o caminho que seguiu, porém em meio a grandes sofrimentos orgânicos que se abateram sobre sua frágil saúde.

    Faleceu em 28 de julho de 1946 em Bharananganam (Kerala), no convento das clarissas, pronunciando os nomes de Jesus, Maria e José. Foi ela beatificada por João Paulo II em 8 de fevereiro de 1986 e canonizada por Bento XVI em 12 de outubro de 2008. No momento da canonização, ocorrida no Vaticano, numerosos cristãos, hindus e muçulmanos reuniram-se junto a seu túmulo em Bharananganam.

    A sepultura da beata Alfonsa, em Bharananganam, perto de Kottayam, recebe a visita de numerosíssimos fiéis durante o ano.

    O primeiro santo da Índia – recorda a CBCI – é o jesuíta Gonzalo García, nascido em Vasai, perto de Bombaim. Foi canonizado em 1862. Morreu mártir em Nagasaki (Japão) em 1597, com São Paulo Miki e outros companheiros.

    Fonte: “Santos franciscanos para cada dia”, Edições Porziuncola

  • Nevolone de Faenza

    Bem-aventurado Nevolone de Faenza

    Penitente da Terceira Ordem (1200-1280). Aprovou seu culto Pio VII no dia 4 de junho de 1817.

    A Ordem Terceira foi fundada por São Francisco para os leigos que não podiam ou não queriam renunciar à sua condição no mundo, e queriam seguir a Regra franciscana e “o segredo da santidade”, e semear em todos os estratos da população os ideais de pobreza, castidade e obediência.

    Para dar uma ideia da vitalidade do movimento franciscano é o suficiente para mencionar os nomes dos terceiros, como Bem-aventurados Luquésio, São Luís, rei da França, Santa Isabel, da Turíngia, o rei de Castela São Fernando, Santa Rosa de Viterbo, São Ivo da Bretanha, Santa Margarida de Cortona, a Beata Humiliana de Cerchi, o Beato Contardo Ferrini e também figuras pitorescas como Pedro Pettinaio e Bartolo Bompedoni. A Estes nomes são adicionados o curioso e simpático Novelón ou Nevolone, terceiro franciscano de Faenza.

    Filho de artesãos, o também artesão Nevolone de Faenza exercia o ofício de sapateiro em sua juventude e viveu uma vida que os biógrafos definem como “desordenada”, mas talvez fosse apenas negligente, uma vida gasta a trabalhar para ganhar tanto quanto possível para continuar a usufruir dos prazeres do mundo: um bom vinho, boa comida, mulheres bonitas e muita diversão.

    Uma doença grave levou este sapateiro despreocupado a se unir à Terceira Ordem Franciscana e não foi um gesto meramente simbólico. De fato, sem sair de seu escritório, mudou o seu modo de vida e tornou-se caridoso, incansável  penitente e rigorosamente pobre.

    Muitas vezes peregrinou a pé descalço, apesar de sua profissão de sapateiro, e converteu sua esposa, antes companheira de suas aventuras. Acima de tudo trabalhava fazendo sapatos e mais sapatos, agora não mais para ganhar dinheiro, mas para dar tudo aos pobres, até ficar na pobreza extrema. Ao ficar sozinho, viveu como eremita pobre e devoto.

    Onze vezes foi em peregrinação a Santiago de Compostela. Caridade, oração e penitência foram a síntese de sua vida. Ele morreu por volta de meia-noite de 27 de julho de 1280 com 80 anos. Seu corpo foi levado com grande pompa à catedral de São Pedro de Faenza e foi enterrado em um túmulo de mármore. Numerosos milagres o fizeram conhecido em todo o mundo. Tal era a afluência de peregrinos ao seu túmulo, que, para manter a ordem era necessário colocar guardas em 1282. Os faentinos o veneram com o culto público, que foi aprovado pelo Papa Pio VII em 4 de junho de 1817.

    Fonte: “Santos franciscanos para cada dia”, Edições Porziuncola

  • Antônio Lucci

    Bem-aventurado Antônio Lucci

    Bispo de Bovino, da Primeira Ordem (1682-1752). Beatificado por São João Paulo II no dia 18 de junho de 1989.

    Angelo Nicolau Lucci nasceu em Agnone, Molise, Itália, a 2 de Agosto de 1682. Entrou na Ordem dos Frades Menores Conventuais em 1698, distinguindo-se pelo estudo e pelo ensino da Teologia que inspirou sempre a generosa busca da sua perfeição, o exercício cheio de zelo do seu ministério apostólico e a colaboração humildemente oferecida à Sé Apostólica.

    Eleito bispo de Bovino, nas Apúlias, demonstrou ser, no decurso de 24 anos, autêntico pai e pastor dos fiéis da diocese, não medindo esforços para confirmar seu povo na fé e na vida cristã e para socorrer os numerosos pobres do seu povo que amava com evangélica opção preferencial. Morreu em Bovino, a 25 de Julho de 1752. Tinha 70 anos. Foi inscrito no Álbum dos Bem-aventurados pelo Papa João Paulo II, a 18 de Junho de 1989.

    ORAÇÃO – Ó Deus que cumulastes o bispo Bem-aventurado Antônio Mucci com o espírito de sabedoria e caridade, a fim de confirmar o vosso povo na fé e socorre-lo com imenso amor nas necessidades, concedei-nos, por sua intercessão, perseveramos na fé e na caridade, para que sejamos dignos de participar da glória celeste. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

    Fonte: “Santos franciscanos para cada dia”, Edições Porziuncola.

  • São Tomás Moro

    Mártir da Terceira Ordem Franciscana (1477-1535). Canonizado por Pio XI em 1935.

    Tomás Moro nasceu em Chelsea, Londres, na Inglaterra, no ano de 1478. Seus pais eram cristãos e educaram os filhos no seguimento de Cristo. Aos treze anos de idade, ele foi trabalhar como mensageiro do arcebispo de Canterbury, que, percebendo a sua brilhante inteligência, o enviou para a Universidade de Oxford. Seu pai, que era um juiz, mandava apenas o dinheiro indispensável para seus gastos.

    Aos vinte e dois anos, já era doutor em direto e um brilhante professor. Como não tinha dinheiro, sua diversão era escrever e ler bons livros. Além de intelectual brilhante, tinha uma personalidade muito simpática, um excelente bom humor e uma devoção cristã arrebatadora. Chegou a pensar em ser um religioso, vivendo por quatro anos num mosteiro, mas desistiu. Tentou tornar-se um franciscano, mas sentiu que não era o seu caminho. Então, decidiu pela vocação do matrimônio. Casou-se, teve quatro filhos, foi um excelente esposo e pai, carinhoso e presente. Mas sua vocação ia além, estava na política e literatura.

    Contudo Tomás nunca se afastou dos pobres e necessitados, os quais visitava para melhor atender suas reais necessidades. Sua casa sempre estava repleta de intelectuais e pessoas humildes, preferindo a estes mais que aos ricos, evitando a vida sofisticada e mundana da corte. Sua esposa e seus filhos o amavam e admiravam, pelo caráter e pelo bom humor, que era constante em qualquer situação. A sua contribuição para a literatura universal foi importante e relevante. Escreveu obras famosas, como: “O diálogo do conforto contra as tribulações”, um dos mais tradicionais e respeitados livros da literatura britânica. Outros livros famosos são “Utopia” e “Oração para o bom humor”.

    Em 1529, Tomás Moro era o chanceler do Parlamento da Inglaterra e o rei, Henrique VIII.

    No ano seguinte, o rei tentou desfazer seu legítimo matrimônio com a rainha Catarina de Aragão, para unir-se em novo enlace com a cortesã Ana Bolena. Houve uma longa controvérsia a respeito, envolvendo a Igreja, a Inglaterra e boa parte do mundo, que acabou numa grande tragédia. Henrique VIII casou com Ana, contrariando todas as leis da Igreja que se baseiam no Evangelho, que reconhece a indissolubilidade do matrimônio. Para isso usou o Parlamento inglês, que se curvou e publicou o Ato de Supremacia, que proclamava o rei e seus sucessores como chefes temporais da Igreja da Inglaterra.

    A seguir, o rei mandou prender e matar seus opositores. Entre eles estavam o chanceler Tomás Moro e o bispo católico João Fisher, as figuras mais influentes da corte. Os dois foram decapitados: o primeiro foi João, em 22 de junho de 1535, e duas semanas depois foi a vez de Tomás, que não aceitou o pedido de sua família para renegar a religião católica, sua fé e, ainda, fugir da Inglaterra.

    Ambos foram mártires na Inglaterra, os quais, com o testemunho cristão, combateram a favor da unidade da Igreja Católica Apostólica Romana, num tempo de violência e paixão. Suas lembranças continuam vivas em verso e prosa, nos teatros e nos cinemas. Seus exemplos são reverenciados pela Igreja, pois eles foram canonizados na mesma cerimônia pelo papa Pio XI, em 1935, que indicou o dia 22 de junho para a festa de ambos.

    São Tomás Moro deixou registrada a sua irreverência àquela farsa real por meio da declaração pública que pronunciou antes de morrer: “Sedes minhas testemunhas de que eu morro na fé e pela fé da Igreja de Roma e morro fiel servidor de Deus e do rei, mas primeiro de Deus. Rogai a Deus a fim de que ilumine o rei e o aconselhe”. O papa João Paulo II, no ano 2000, declarou são Tomás More Padroeiro dos Políticos.

    Fonte: “Santos franciscanos para cada dia”, Edições Porziuncola.