Postulantes fazem a experiência do “beijo do leproso” na Fazenda da Esperança
09/08/2012
O estágio na Fazenda da Esperança foi como que o nosso encontro com aquilo que São Francisco fez durante o seu peregrinar para Deus. Duas coisas mudaram sua vida: o encontro com o leproso e o encontro com o Crucificado. Antes da conversação se repugnava quando encontrasse um leproso. Depois descobriu Cristo no leproso, por isso a expressão: “O amargo se torna doce”.
Nesta perspectiva, o que São Francisco experimentou há 800 anos em Assis, experimentamo-lo neste ano em Huambo, onde está situada a Fazenda da Esperança.
Ela funciona provisoriamente na Missão da Vavayela (águas limpas), que dista a 84 km da capital da província, Huambo. A mesma é coordenada por dois ex-recuperandos provenientes do Brasil, Eduardo e Nilson, e conta atualmente com 25 recuperandos provenientes, principalmente das províncias de Luanda, Benguela e Huambo, com idades compreendidas entre os 14 aos 43 anos. A Fazenda também conta com a presença do padre Justo (sacerdote do clero local), que tem colaborado com a Fazenda, sobretudo na animação Espiritual.
A nossa experiência teve o seu inicio no dia 2 de julho de 2012 e foi encerrada no dia 27 do mesmo mês. Estavam presentes os postulantes: Ananias, Canga, Ermelindo, Faustino, João, Mario, Mateus e Siro, os freis Lucas Zaqueu e Fábio Gomes, estagiários do Brasil, além de Frei Valdir Nunes, o mestre, que incansavelmente dirigia a Toyota Land Cruiser. Para chegarmos à Fazenda percorremos 315 km, isto é de Kwanza-Sul (Kibala) ao Huambo (Katchiungo). Já na Fazenda fomos calorosamente acolhidos por todos: responsáveis e recuperandos. Como norma essencial, a vivência da palavra de Deus, tirada do evangelho do dia, vivia-se naquele dia a palavra: ‘seguir Jesus.’
A Fazenda é sustentantada por um tripé: trabalho, convivência e espiritualidade. A vivência da palavra de Deus é uma das obrigações para os recuperandos. Como formas de avaliação pessoal fazem-se: as trocas de experiências e comunhão de almas.
A nossa relação com os recuperandos foi de profunda amizade, que certamente marcamos as suas vidas, assim como eles marcaram as nossas. Nos nossos diálogos, eles sentiam-se à vontade e falavam, sem cerimônia, das suas experiências do passado: como caíram no mundo da drogas, o comportamento com os pais, o sofrimento nas mãos da polícia, perda do emprego, as freqüentes detenções (prisões) etc.
Na Fazenda não administram quaisquer medicamentos ou orientação (acompanhamento) psicológica. Mas a sua ‘terapia’ é a palavra de Deus e amar o irmão em “concreto”. Os jovens aprendem que é possível ter uma vida sem dependência química, sem droga, sem fumo, sem álcool.
Tivemos também a oportunidade de viver o momento de visitas dos familiares, isto foi no dia 15 de julho-domingo. Foi um dia de bastante alegria para os recuperandos, os responsáveis e, certamente, nós. Alguns familiares deram o seu testemunho acerca do antes e do depois de seus familiares em fase de recuperação. Uma mulher dizia: “…cada vez que venho aqui e vejo o meu irmão, noto algo de diferente nele…” Outro dizia: “… Do meu filho eu esperava somente a morte, porque eu já não tinha qualquer esperança, via-o como um animal, mas agora o vejo como pessoa”. No fim do dia, todos nos inebriamos na atmosfera de alegria que se vivia.
Todos os postulantes procuravam ajudar no que pudessem, tanto é que ninguém saiu da Fazenda sem ter aprendido nenhuma técnica como: pastelaria, culinária, jardinagem, pintura, eletricidade… O que antes era visto num prisma de experiência, tornou-se para nós uma vivência, porque estávamos um tanto quanto identificados com os recuperandos. Todos os visitantes da Fazenda, à primeira vista, não conseguiam descobrir quem era Postulante e quem era recuperando.
Contudo, como se diz na gíria, o que é bom, dura pouco. O nosso estágio chegou ao final no dia 27 de julho e a palavra que se vivia era: “Melhorar a vossa conduta”. Certamente, com esta mega-experiência, a nossa conduta melhorará. Enquanto nos despedíamos houve fortes abraços e profundas palavras de incentivo tanto da nossa como da parte deles.
Tudo somado, digamos que esta experiência passou das nossas expectativas, ou seja, o que vivemos foi além do esperado. Resta-nos agradecer a Deus pelo dom da vida e da Vocação; aos frades da Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola (FIMDA), pela oportunidade; aos irmãos da Fazenda de Esperança pelo seu acolhimento e atenção; e a todos que, direta ou indiretamente, promoveram esta magnífica experiência. Por fim, resta-nos dizer o nosso Twa Sakidila… Twa Pandula…, muito obrigado.
Postulantes Canga e Ermelindo