34 anos da Fundação Franciscana Imaculada Mãe de Deus de Angola
26/09/2024
“Escutai! O semeador saiu a semear. Ao semear, uma parte caiu à beira do caminho e os passarinhos vieram e comeram. Outra parte caiu em terreno cheio de pedras, onde não havia muita terra; brotou logo, porque a terra não era profunda, mas quando o sol saiu, a semente se queimou e secou, porque não tinha raízes. Outra parte caiu no meio dos espinhos; estes cresceram e a sufocaram, e por isso não deu fruto. E outras sementes caíram em terra boa; brotaram, cresceram e deram frutos: trinta sessenta e até cem por um”. E acrescentou: “Quem tem ouvidos para ouvir que ouça” (cf. Mc 4,1-9).
“Estão dispostos a renunciar seus modos culturais de viver, fazendo todo o esforço para levar a ‘Paz e o bem’ na convivência plena com uma nova cultura?”. Com esta provocação feita pelo Ministro provincial, Frei Estêvão Ottenbreit, na Missa do Envio, no dia 16 de setembro de 1990, no Seminário de Agudos (SP), os missionários: Frei Plínio Gande da Silva, Frei José Zanchet e Frei Pedro Caron, seguiram como semeadores para Angola e lá se instalaram no dia 25 de setembro de 1990, há exatos 34 anos.
Os três missionários também “renunciaram” ao medo de enfrentar uma guerra civil na viagem ao país africano. Embebidos do mesmo espírito missionário, heroico e destemido dos primeiros discípulos da Ordem, os frades brasileiros iniciaram em terreno fértil uma das mais desafiadoras missões da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil.
Na época, a motivação chegou por meio de uma carta do, então, Ministro geral, Frei John Vaughn, escrita em 1982, com o título: ‘A África nos chama’. Este documento foi escrito a partir da constatação de que a Ordem estava espalhada pelo mundo inteiro, mas muito reduzida no continente africano.
A carta dizia: “Uma presença mais intensa na África nos faz estarmos presentes, de um modo positivo e de fato, entre os povos que passam fome, que não têm casa, entre os enfermos, os analfabetos, as vítimas da guerra e da tirania. São Francisco e seus seguidores podem dar uma ajuda, mas sobretudo muita esperança, alegria e principalmente paz. Queira Deus conceder-nos a graça de sermos hoje grandes pacificadores”.
O posicionamento do Ministro geral chegou a Província da Imaculada como um chamado que, ao longo de 34 décadas, tem contribuído para plantar sementes do carisma e da espiritualidade franciscana. Em solo fértil, mas adormecido pelos confrontos, dores e fome, os frades foram pacientemente irrigando com o Evangelho, fazendo com que as sementes começassem a germinar na forma da FIMDA (Fundação Franciscana da Imaculada Mãe de Deus de Angola).
Momentos de desafios
Nesta missão pacificadora, a irmã morte visitou e assustou os confrades quando, em 4 de janeiro de 1993, faleceu Frei Lotário Neumann, em Luanda, vítima de um quadro com várias complicações, agravado pelo paludismo. Outro susto veio quando Frei Valdir Nunes Ribeiro sofreu um atentado em Quibala. Os frades tiveram de deixar Quibala, mas não deixaram Angola. Em meio às “intempéries” da história, a semente franciscana já estava lançada no solo angolano. Os frutos logo começaram a surgir e, em 1996, era instalado o Aspirantado, em Malange e, no ano seguinte, o Postulantado, em Quibala. Frei Afonso Katchekele Quissongo foi o primeiro angolano a fazer a Profissão Solene.
Em 3 de julho de 2008, a Ordem dos Frades Menores assinou decreto reconhecendo a FIMDA. Dez anos depois, essa Fundação vivia mais dois momentos históricos: a eleição de Frei António Boaventura Zovo Baza, o primeiro frade angolano a presidir a entidade, e a criação do Noviciado em Quibala.
Vida e esperança
Cada Ministro provincial que assumiu essa missão com os demais frades continuou firme no propósito de manter sempre viva e atuante a presença franciscana. Nesse tempo, muitos projetos nasceram com a missão de transformar a vida do povo de Deus e as novas vocações trouxeram a presença franciscana banhada pela cultura e sabedorias locais, o que aproxima e amplia ainda mais a linguagem universal do amor semeada por São Francisco de Assis no seguimento de Jesus Cristo. Atualmente são 16 professos solenes, 55 professos temporários, 7 noviços, 9 postulantes e 39 seminaristas, todos filhos de Angola.
Em mensagem divulgada nesta quarta-feira (25/09), dia do aniversário da Fundação Franciscana Imaculada Mãe de Deus de Angola, Frei Ivair Bueno de Carvalho, atual presidente da FIMDA, disse: “Neste dia em que somos convidados a relembrar as nossas origens. Que estejamos presentes onde estão os nossos pés, onde está o nosso coração, onde está a nossa cabeça. Que nós, Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola, que se projeta para se tornar uma futura Custódia, seja cada dia mais aquela que, em cada irmão Frade Menor busque o espírito do Senhor e o seu santo modo de operar”.
No Capítulo da FIMDA deste ano, a caminhada para o processo de Custódia deu importantes passos. O Ministro provincial, Frei Paulo Roberto Pereira, anunciou mais duas novas fraternidades, que ainda estão em processo de oficialização. Atualmente a Fundação conta com 5 Fraternidades: São Francisco, no Bairro Palanca; São Damião e Monte Alverne, em Malange; Santo António, em Quibala; e Porciúncula, em Viana.
Em terras férteis estão as melhores sementes capazes de gerar frutos fertilizados pela Palavra de Deus levada pelas obras e a presença dos frades franciscanos. Assim é a FIMDA, um importante gerador de semeadores de amor, esperança e caridade.
Adriana Rabelo