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Paróquia Bom Jesus dos Aflitos de Sorocaba celebra 95 anos de fundação e 85 anos da presença franciscana

06/08/2021

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   Imagens: captura de tela da transmissão digital

O Arcebispo de Sorocaba, Dom Júlio Endi Akamine, SAC, presidiu a Missa de Ação de Graças nesta sexta-feira, 6 de agosto, festa de Bom Jesus e festa da Transfiguração do Senhor. Nesta celebração, às 19 horas, também se recordou os 95 anos de fundação da Paróquia Bom Jesus dos Aflitos e os 85 anos de presença dos Frades Menores nesta cidade, conhecida como a Manchester paulista em virtude das semelhanças com a inglesa Manchester, uma das pioneiras na implantação de extenso parque industrial.

Presentes toda a Fraternidade Franciscana – Frei Benedito Gonçalves, pároco da Paróquia Bom Jesus, Frei Gilberto Piscitelli, guardião e pároco da Paróquia Santo Antônio, Frei Rozântimo Antunes Costa e Frei José Raimundo de Souza – e os fiéis paroquianos, que participaram observando as normas sanitárias. Quem não esteve presente, pôde acompanhar pela página do Youtube da Paróquia.

Segundo o Arcebispo, hoje, em vários lugares se celebra a Festa do Bom Jesus. “É o caso desta Paróquia, no dia da Transfiguração do Senhor. E hoje também rendemos graças a Deus pelos 85 anos de presença dos frades franciscanos aqui na nossa Arquidiocese de Sorocaba. Queremos render graças a Deus por essa presença tão frutuosa, tão boa para esta Igreja particular. Rezemos ao bom Deus para que abençoe muito a Ordem dos Frades Menores, e tenha muitas e santas vocações, para que continue presente nesta Igreja particular de Sorocaba, de modos especial nestas duas paróquias aqui de Bom Jesus dos Aflitos e de Santo Antônio. Então, aos freis franciscanos, nossa saudação e a nossa sentida e profunda gratidão em nome não só meu, mas de toda a Arquidiocese de Sorocaba ao longo desses 95 anos”, saudou Dom Júlio.

Para o celebrante, a Transfiguração do Senhor nos convida, principalmente, a repensar a nossa relação com Deus. Como é a nossa relação com Deus? Nos convida a rever os conceitos que a gente tem de Deus e também rever os modos como nós damos testemunhos de Deus aos outros. “Quem é Deus? Qual é a nossa relação com ele? Como nós damos testemunho de Deus? Muito frequentemente nós pensamos Deus segundo a nossa medida. O conceito que temos de Deus reflete o conceito que nós temos de nós mesmos e também dos nossos semelhantes. Ou seja, nós projetamos em Deus aquilo que nós somos ou aquilo que nós pensamos ser. O evangelho de hoje inverte  as coisas: Deus se revela quem é para que se revele quem nós somos”, explicou.

Ao contemplar o mistério de Jesus, segundo Dom Júlio, também o nosso mistério pessoal se ilumina, torna-se mais luminoso. Segundo ele, o Evangelho de hoje quer mostrar aos discípulos e também a nós quem é Jesus, a fim que nós possamos segui-Lo mais conscientemente, a fim que nós possamos dar testemunho dele. “Mais do que responder perguntas, o Evangelho nos dá os instrumentos, as ferramentas para a gente mesmo fazer a descoberta, para nós mesmos, pessoalmente, descobrir quem é Jesus. É exatamente para isso que Jesus proibiu aqueles três apóstolos, os três espectadores da transfiguração, de contar o que tinham visto na montanha até que tivesse ressuscitado dos mortos. Mas a gente sempre se pergunta por que Jesus proibiu de contar o que eles viram até o momento da ressurreição? Jesus não queria que eles levassem aos outros um Cristo já definido pela experiência que eles tiveram no monte”, ressaltou o celebrante.

“A experiência deles na montanha é importante, é decisiva, mas ainda não é completa. É preciso passar pelo mistério pascal: a morte, a cruz e a ressurreição de Jesus. Para que eles mesmos compreendam melhor o que aconteceu sobre a montanha, para entenderem melhor o que é a transfiguração do Senhor”, acrescentou.

Dom Júlio levou a assembleia a questionar por que Jesus levou ao Monte somente Pedro, Tiago e João? Uma resposta, segundo o Arcebispo, pode ser dada quando recordamos a história desses três apóstolos. “Pedro teve dificuldades de entender quem era Jesus. E isso ele demonstrou muitas vezes porque ele não entendia bem quem era Jesus. Ele não queria permitir que Jesus lavasse os seus pés. Pedro quis também demover Jesus do seu caminho de sofrimento. Quando Jesus começou a falar da sua morte, da sua paixão, Pedro queria convencer Jesus a não seguir este caminho e Jesus lhe deu uma resposta muito dura: chamou-o de Satanás, porque não pensava nas coisas de Deus, mas nas coisas dos homens. Pedro negou o mestre três vezes. Pedro, de fato, teve muitas dificuldades. Custou muito a entender os caminhos de Jesus. Talvez tenha sido essa dificuldade de Pedro que motivou Jesus a levá-lo consigo ao Monte da Transfiguração”, explicou Dom Júlio.

Para ele, as mesmas dificuldades tiveram Tiago e João, os filhos de Zebedeu. “Recordemos aquele episódio que a mãe deles se aproxima de Jesus para pedir que cada filho se sentasse ao lado de Jesus. Jesus estava falando de dar a vida em serviço da humanidade e eles estavam ambicionando um lugar de honra. Eles desejavam sentar à direita e à esquerda. Também tinham dificuldades. Talvez tenham sido esses motivos pelo quais Jesus escolheu esses três. Eram os mais cabeças-duras. Na verdade, Jesus está convidando todos nós, que somos tão cabeças-duras para entender as coisas de Deus”, salientou.

“Jesus nos convida também a subirmos o Monte da Transfiguração. Também nós somos convidados a subir a Montanha junto com aqueles três. Nós, como eles, também necessitamos de conversão. Nós, como eles, também temos dificuldades de entender os caminhos de Deus. Também somos cabeças-duras. Graças a Deus, Ele nos convida”, enfatizou.

Dom Júlio lembrou que é sobre o monte que o Pai revela quem é Jesus. “Do céu vem uma voz: ‘este é o meu Filho amado, escutai-o’. Jesus é o filho muito amado. Nós não podemos subestimar esta revelação. É algo totalmente inesperado, inédito, surpreendente. Jesus é o Filho. Nós estamos acostumados a confessar que Jesus é o Filho de Deus, mas nem nos tocamos da importância desta confissão. É a fé trinitária. Ele é o Verbo Encarnado. Ele é Deus como o Pai. Não são dois como Deus. Um é o Pai, outro é o Filho. É o Pai que revela Jesus como o Filho. Sem confessar a filiação nós não vamos atingir o mistério de Jesus. É o que muitas vezes acontece. Muitos pensam Jesus como um fundador de religião, como um grande sábio, como o médico das almas, como um profeta, uma divindade qualquer. Mas não, Jesus não é isso. Se a gente não se atinar para o mistério filial de Jesus, nós erramos feio. Sem confessar que Deus é o Pai e que Jesus é o Filho, não compreendemos nada de Deus vivo e verdadeiro”, ensinou.

Para Dom Júlio, em relação a Jesus devemos ter duas importantes atitudes. ”É o Pai que diz: ‘meu Filho muito amado, escutai-O’. São duas atitudes importantes: amar e ouvir. Jesus se revela como Filho porque ele, ao se revelar como Filho, nos insere nessa relação com o Pai. Nossa relação com Deus é filial. Não somos servos, escravos, somos filhos no Filho Jesus”, recordou.

“Por isso a nossa atitude é esta de amar como o Pai e de ouvir porque o Pai nos manda ouvi-Lo. Sem amar e ouvir nunca teremos encontro pessoal com Jesus”, completou, convidando a todos a subir à montanha com os apóstolos.

BOM JESUS DOS AFLITOS

A Paróquia institui o “Mês do Padroeiro” para festejar Bom Jesus dos Aflitos. Ela foi fundada por Dom José Carlos de Aguirre no dia 6 de agosto de 1926, na festa do Padroeiro. Já os primeiros franciscanos na cidade foram Frei Conrado Schiwiora e Frei Zeno Kohr, que chegaram por volta do Natal de 1936.

Segundo o historiador Aluísio de Almeida, em artigo no “Diário de Sorocaba”, por ocasião do cinquentenário do Bom Jesus, Dom Aguirre deu-lhes todo o curato de Votorantim e a pequena capela de Santa Rita para exercerem o seu ministério. A sede da residência ficava em Santa Rita, numa chácara generosamente doada a eles pelo major Abílio Antunes Soares. Oficialmente, o pároco de Votorantim era o próprio superior, Frei Conrado, mas quem residiu em Votorantim foi Frei Zeno, que viveu entre os operários das fábricas. A ida de Frei Conrado para o Bom Jesus é de 24 de dezembro de 1937.

Em janeiro de 1941 chegou o vigário Frei Eugênio Becker. Ele resolveu, com a aprovação de Dom Aguire, construir a igreja definitiva num local melhor, mais central, na rua cel. Nogueira Padilha. A primeira pedra da nova igreja do Bom Jesus foi lançada a 9 de abril de 1942. Frei Eugênio Becker, que já tinha sido pároco antes, voltou para ficar de 1952 a 1959 e terminou as obras da Igreja, inclusive a torre inaugurada em 1956/57. Frei Eugênio, neste período, iniciou a construção das igrejas de São Francisco de Assis e de Santo Antônio, acompanhando o desenvolvimento respectivamente, da Vila Assis e da Vila Barcelona.

A imagem do Bom Jesus é do século XVIII e também servia na Catedral para a tradicional procissão do fogaréu ou do Senhor preso, em que as pessoas, quase só homens, andavam correndo com a imagem no andor depois do lava-pés da Quinta-feira Santa, para imitar aquele gesto da Paixão.

A Paróquia Santo Antônio começou a ser criada por iniciativa de Frei Eugênio Becker na década de 50, na antiga capelinha de Santo Antônio. Depois de muitas lutas, conseguiu-se a doação do terreno. No dia 11 de outubro de 1964 foi lançada a pedra fundamental e iniciada a construção da atual igreja matriz.


Moacir Beggo