Clara tem muito a dizer à nossa sociedade
09/08/2019
Moacir Beggo
São Paulo (SP) – No segundo dia do Tríduo em preparação para a Festa de Santa Clara (9 de agosto), no Convento São Francisco, na região central de São Paulo, Frei Fidêncio Vanboemmel destacou o profetismo e o protagonismo feminino assumido por Santa Clara de Assis, numa época medieval em que as mulheres não tinham muita escolha: ou se tornavam monjas ou aceitavam o matrimônio imposto pela família. “Ela é ousada num contexto medieval, onde as mulheres pouco falavam ou pouco podiam se pronunciar, ao assumir o protagonismo das mulheres que também sonhavam com outra modalidade de vida, diferente da vida monacal ou da vida matrimonial, que era imposta a elas”, explicou o Moderador da Formação Permanente da Província da Imaculada Conceição.
Frei Fidêncio deu continuidade ao tema geral “Clara de nome, palavra e virtude”, tirado dos seus Escritos: “Mulher admirável por seu nome, Clara de palavra e virtude, natural de Assis, de família muito preclara, foi concidadã do bem-aventurado Francisco na terra e, depois, foi reinar com ele na glória” (LSC 1). Ontem, no primeiro dia do Tríduo, Frei Fidêncio abordou o tema do dia: “Mulher admirável por seu nome” (Clara de nome). Nome que nasceu no coração da mãe, D. Hortolana, quando rezava diante do Crucificado pedindo para ter um bom parto. Do Crucificado, ela recebeu este conforto espiritual: “Iria dar ao mundo uma luz que vai deixar a própria luz mais clara”.
Antes, porém, situando com a Liturgia da Palavra do dia, lembrou que Clara, mais do que ninguém, foi a fiel observadora dos mandamentos de Deus (cf. a primeira leitura, Dt 4,32-40) e, mais do que ninguém, renunciou a tudo para se colocar por inteira no seguimento de Nosso Senhor Jesus Cristo (Mt 16,24-28).
Neste segundo dia, o pregador falou sobre a segunda parte do tema geral: “Hoje queremos prestar atenção à segunda afirmação que aparece no início da Legenda (Vida) de Santa Clara: ‘Clara de Palavra’. Clara de Favarone ou Clara de Assis não é apenas o nome próprio de uma mulher, membro da família dos Favarone de Assis. Clara de Assis, além do nome, foi Clara da Palavra”, ressaltou, enumerando a fortaleza e ousadia dessa mulher, que rompe com a palavra dada/prometida dos parentes para dá-la em matrimônio em troca da sua liberdade enquanto mulher; que troca os palácios por um lugar despojado e pobre à beira da estrada; e que renuncia às regalias e ao brilho da nobreza para abraçar o encanto da Altíssima Pobreza.
Segundo Frei Fidêncio, Clara passa a ser Palavra e Eloquência de uma nova modalidade de vida, ousada e inusitada naquele contexto medieval. “Clara torna-se porta-voz de suas decisões. Não são os homens que vão determinar a sua vida. Ela mesmo determina a vida que quer a partir do que vem de Deus. Clara, através de sua fé, quer expressar uma adesão nova à Igreja, a Deus. Clara não quer ser monja beneditina, Clara quer ser simplesmente uma mulher que, a exemplo de Francisco, coloca-se no seguimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, fiel à Palavra do Evangelho. Portanto, diria que Clara é Palavra de ousadia”, definiu o ex-Ministro Provincial.
Ainda tomando como base os testemunhos de sua canonização, Frei Fidêncio mostrou a importância de Clara na vida contemplativa. “Ela é a Regra de Vida. Clara foi a primeira entre os pobres, a comandante dos humildes, mestra dos continentes, abadessa dos penitentes. Governou com solicitude e prudência no temor do senhor; Vigilante no cuidado, esforçada no serviço, atenta na exortação; diligente para admoestar; prestimosa para se compadecer; discreta para se calar, madura no silêncio. Sua vida era instrução e doutrina para as outras”, detalhou o presidente da Celebração Eucarística.
Clara não foi apenas um nome próprio. Clara era, acima de tudo, Palavra, segundo o Pregador. “Clara é a mulher que tem muito a dizer à nossa sociedade, à nossa realidade, às nossas mulheres de hoje, mas também tem muito a falar aos homens de hoje, sobretudo pelo respeito, pela liberdade, pela dignidade, pela grandeza que existe no coração de cada uma das mulheres. Que Santa Clara reze por nós e interceda por nós!”, pediu.
Frei Fidêncio informou que neste sábado, o encerramento do Tríduo será celebrado às 15 horas tendo o tema “Clara de virtudes”. No domingo, às 10h30, será celebrada a Missa Solene da data festiva franciscana. O guardião do Convento e Santuário São Francisco, Frei Mário Tagliari, deu a bênção de Santa Clara no final da celebração.