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Suicídio: quando a vida perde sentido para os idosos

18/09/2019

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                                                                                                                                                                           Imagem ilustrativa (fonte: Canva)

São Paulo (SP) – A “cultura do descarte”, como denuncia o Papa Francisco nas encíclicas Laudato Si’ e Amoris Laetitia, é um dos motivos que levam os idosos brasileiros ao entristecimento, depressão e suicídio. Este é o tema abordado na terceira parte da série de entrevistas sobre Setembro Amarelo e a prevenção ao suicídio, produzida pela Província Franciscana da Imaculada Conceição, através da Frente de Evangelização da Comunicação.

O índice de suicídios na terceira idade é preocupante. Na média nacional, a cada 100 mil habitantes, 5,5 pessoas cometem suicídio.  Acima dos setenta anos, a média quase duplica. A cada 100 mil habitantes, há 8,9 idosos se suicidando. Isso sem contar as tentativas de suicídio e as subnotificações – quando a morte é declarada, mas não é notificado o motivo, não entrando nas estatísticas. Na América Latina, a média é de 16,8 por 100 mil habitantes. Percebe-se, então, que as pessoas que estão nas extremidades da vida – infância, adolescência e velhice – são as que estão mais propensas a cometer suicídio.

São muitas razões que podem levar um idoso a pôr fim na própria vida. Segundo Talita Baldin, professora da Universidade Salgado de Oliveira, em Niterói (RJ), e doutoranda em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense, o transtorno psíquico, o isolamento social, a perda de familiares próximos e a perda de sentido de utilidade na sociedade podem ser apontadas como causas para o aumento destes casos.

“Na maior parte das vezes, a aposentadoria representa um rompimento brusco, porque no Brasil não existe a cultura de planejar a aposentadoria de forma consistente. Aposentar-se significa romper abruptamente com a rotina de trabalho e com o ciclo de pessoas formado durante a vida”, aponta Talita. Outro problema pontual desta fase é a mudança na renda familiar, com um decréscimo monetário e aumento nos gastos com medicamentos. Com o isolamento social e baixa renda, os idosos tendem a se entristecer, o que pode levar a um quadro depressivo, que quando não tratado, pode culminar no suicídio.

Outra característica da vida na terceira idade é a morte de cônjuges e familiares, aumentando ainda mais o sentimento de solidão e deslocamento. “Do ponto de vista psicológico, são pessoas que começam a perder seus cônjuges, irmãos, amigos. Isso vai dando à pessoa um sentimento de abandono, um vazio, a ideia de não fazer falta ou não servir para nada. E esse nada é muito cheio de significados, pois a pessoa era muito ativa em todos os seus contextos e, de repente, sente-se substituível”, aponta Baldin.

Uma forma de ajudar os idosos a passarem por este processo é inclui-los na vida familiar, ouvindo com atenção e paciência suas partilhas e incentivá-los permanecerem ativos, através de atividades promovidas especificamente para a pessoa idosa. Baldin cita, por exemplo, as universidades para a Terceira Idade. “Estes são espaços em que eles podem aprender algo novo, ensinar aquilo que eles sabem e socializar, mantendo relações, trocando afeto. Isso é extremamente importante em qualquer fase da vida e, na velhice, é muito mais necessário, porque é a forma de garantir vínculos”, explica Talita.

Ouça abaixo a terceira parte da série de entrevistas. Ao todo, serão sete episódios abordando diferentes aspectos do suicídio, disponibilizados em áudio no SoundcloudSpotify, Deezer e outros agregadores de podcast.