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Professora Cássia Bighetti fala do desafio da educação inclusiva

19/03/2022

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“Educação e inclusão” é o tema deste sétimo episódio da Série da Campanha da Fraternidade, promovida pela Província da Imaculada Conceição, no formato podcast. A professora e coordenadora do Curso de Psicologia da Universidade São Francisco (USF), Cássia Bighetti, conversou com Frei Gustavo Medella sobre este assunto, tendo em vista o tema “Fraternidade e Educação” e o lema “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31, 26) da CF 2022.

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Segundo a professora Cássia, a educação de maneira inclusiva na formação integral dos alunos é um tema importante porque quando se fala em inclusão, necessariamente fala-se em diferenças. “Então, dar ao aluno a oportunidade de conviver com diferentes pessoas, com diferentes características ou condições, amplia a formação deste aluno, deixa-o mais empático, coloca o estudante em condições sociais em que possa lidar com a diversidade, com a deficiência, em condições que, muitas vezes, não está inserido. Então, vejo que ter um processo inclusivo educacional é extremamente importante para a formação das pessoas. E o estudante, a gente sabe, é a porta de entrada para uma sociedade melhor”, ressaltou a professora.

Para se construir um modelo de educação inclusiva, a coordenadora do Curso de Psicologia da USF lembra que é preciso pensar em ações efetivas porque “no papel quando a gente fala de educação inclusiva, muitas vezes os projetos são muito bonitos”, mas nem sempre é isso que acontece. “Ter uma educação inclusiva significa ter professores preparados para lidar com as diferenças, ter ações para que esse estudante que está em processo de inclusão seja de fato integrado, incluído, na sala de aula”, observa a professora, tomando o exemplo de um estudante com deficiência física ou mobilidade reduzida: “Ele precisa ter acesso à sala de aula. A porta, por exemplo, precisa ser adaptada para passar cadeira de roda; ele tem por direito estar naquela sala num espaço remarcado para que nenhum outro coleguinha tome o espaço daquela cadeira que ele usa para se locomover; ele tem o direito a um assistente muitas vezes para ajudá-lo a copiar os textos, e poder ter aí acesso à informação com mais agilidade. Então, é muito importante a gente pensar que a sala que tem um estudante em processo de inclusão precisa ter um espaço, recursos, e ações para que este estudante realmente possa ter as mesmas condições do estudante que não precisa. Então, vejo muito como ações mesmo”, avalia, também citando a dificuldade que os alunos com deficiência auditiva tiveram na pandemia, porque a máscara dificultava a leitura labial. Por isso foi criado na USF o Projeto de Legendas. “As aulas presenciais são legendadas. Enquanto o professor fala com o microfone de lapela, o que ele está falando aparece no telão para que o estudante que tem deficiência auditiva possa acompanhar a aula com a mesma qualidade do estudante que não tem”, explicou.

Para Cássia, há muitos desafios que dificultam a efetivação, a promoção e até mesmo difusão desse modelo de educação inclusiva. “Mas eu posso, com certeza, nesse momento, falar que o desafio comportamental é o maior. Porque quando a gente pensa em equidade, em inclusão, muitas vezes diante dos recursos solicitados para esse estudante na sala de aula, os próprios professores e a sociedade têm uma sensação de privilégio. Ah, por que ele pode sentar na frente e eu não? Ah, por que ele tem um assistente e eu não? Então, instaurar na sociedade que isso não é um privilégio, e que para que aquele estudante seja incluído, ele precisa de recursos, sem dúvida é maior desafio da educação inclusiva. Então, é comportamental porque a gente precisa de empatia por parte da sociedade, empatia por parte dos estudantes, para que se possa conviver com a diferença de forma igualitária, humanizada. Então, essa questão comportamental, para mim, é o maior desafio”, acredita a professora.

Nesse contexto, um trabalho de formação teria duas vias: primeiro conscientizar os colegas, todo o entorno daquele aluno, a respeito das necessidades, das condições criadas para que aquele aluno de inclusão possa estar em igualdade de condições, e por outro lado um trabalho com o próprio aluno para que não se sinta constrangido, deslocado por conta de ter essas adaptações. “Então, a gente precisa entender que o estudante incluído também precisa ter as noções exatas dos direitos dele, que a sociedade precisa absorver isso com maior naturalidade possível, também consciente dos direitos”, lembra a professora, enfatizando a questão do emocional, da empatia com outro, independentemente de ser um estudante deficiente.

Promover a inclusão numa sociedade marcada pelo individualismo, pela forte carga competitiva, como a que estamos inseridos, é um grande desafio, diz a entrevistada. “Lutar pela coletividade é um trabalho duro dos educadores e também um papel importante da psicologia nesse sentido”, ensina a mestra. Com a escola aberta, acolhendo as diferenças, dando atenção ao coletivo, a um trabalho conjunto, “a inclusão fica tão natural na vida desses estudantes”. “É um trabalho de mudança de conduta. Como disse antes, a escola é uma porta de entrada para a mudança na sociedade. Então, temos um papel muito importante de levar essas informações sobre o coletivo”, concluiu a professora.


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