Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil: 350 anos de história
20/12/2024
A origem da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil está entrelaçada com a história da Igreja Católica no país. Mesmo antes de sua elevação à Província, em 15 de julho de 1675, pelas mãos do Papa Clemente X, mediante a Bula Pastoralis Officii, após poucos anos como Custódia desmembrada da Província de Santo Antônio do Brasil (1657), os frades que chegaram com as primeiras caravelas peregrinaram por uma terra até então desconhecida, com a missão de propagar o Evangelho e catequizar.
Os costumes, as tradições e os hábitos dos frades que vieram para o Brasil e depois se instalaram no território da nova Província eram fortemente influenciados pela cultura europeia, mas já se adaptavam à dinâmica do povo de Deus que aqui estava, fruto da miscigenação de raças e credos. Afinal, até a criação da Província da Imaculada Conceição, já haviam se passado 175 anos desde a chegada dos desbravadores.
Percorrendo um caminho de descobertas, desafios, alegrias, muita fé e resiliência, em 2025, a Província completará 350 anos. Em comemoração a este jubileu, serão realizadas celebrações e atividades ao longo do próximo ano, como forma de marcar esse momento histórico, mas, principalmente, agradecer ao povo pela confiança, sabedoria e amor pela presença franciscana. Um dos destaques será o lançamento do selo comemorativo. A identidade visual criada por Frei Leandro Costa Santos teve como referência o carimbo oficial da Província, que destaca a figura da Imaculada Conceição.
Passos de fé no seguimento de Jesus Cristo
A Província da Imaculada Conceição está presente no Brasil, com 41 fraternidades localizadas nos Estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e em Angola, com 5 fraternidades. Ao longo do tempo, os frades contribuíram com o fortalecimento da religiosidade popular, por meio de práticas religiosas como novenas, festas em louvor a santos franciscanos e outros da Igreja Católica, como Nossa Senhora Imaculada da Conceição, Santo Antônio, Santa Clara e São Francisco de Assis, fundador da Ordem dos Frades Menores.
Como forma de responder às necessidades da Igreja, a Província assumiu o serviço pastoral em muitas paróquias, e o trabalho missionário motivou a criação de outros espaços paroquiais e até dioceses. Inclusive, algumas das igrejas que estavam sob os cuidados dos frades tornaram-se catedrais. Na atualidade, os franciscanos estão em paróquias de diferentes contextos e em igrejas de diversas localidades no Brasil e em Angola, onde a presença da Província chegou há 34 anos.
Na área de educação os frades implantaram escolas que atenderam a população. Essa tradição persistiu e resistiu ao tempo. Atualmente, são mais de quatro instituições de ensino, incluindo aquelas comprometidas com a formação dos frades, como o Colégio Bom Jesus, a Universidade São Francisco, o Centro Universitário FAE e o Instituto Teológico Franciscano.
Uma das características da presença franciscana é a prática da solidariedade, e na Província uma das principais referências é o Sefras – Ação Social Franciscana, com projetos desenvolvidos em diferentes fraternidades. Seguindo o viés social em benefício dos mais pobres e flagelados, destacam-se também a Missão SOS Vida Nova, no Paraná, além de outros trabalhos no território provincial, onde o povo de Deus é acolhido e cuidado pelos franciscanos.
História e recomeço
A soma continuada do tempo de existência da Província não percorreu uma trajetória linear, sem percalços, até porque a missão franciscana na história da Igreja foi repleta de desafios, a começar pelos caminhos percorridos por São Francisco de Assis.
O período do florescimento da Província durou cerca de 100 anos, quando uma forte crise abalou os Frades Menores, movida pelo Decreto de Marquês de Pombal (1764) proibindo a recepção de novos membros na Ordem dos Frades Menores. Apesar da determinação ter sido revogada em 1777, o auge da crise começou com o decreto de 18 de maio de 1855, que proibiu a recepção de noviços para todas as ordens religiosas no Brasil.
A campanha antirreligiosa desencadeada pelo Império Brasileiro fez com que a Província de Santo Antônio se reduzisse a apenas nove frades e a nossa Província da Imaculada Conceição a um único frade, Frei João do Amor Divino Costa, que residia no Convento Santo Antônio, no Rio de Janeiro (RJ).
Se a escravidão foi abolida em 1888, os franciscanos e as demais ordens religiosas continuaram a clamar junto ao governo brasileiro pela liberdade espiritual que continuava sendo escravizada. Somente em 7 de janeiro de 1890, extinguindo o padroado, a circular que proibia a entrada de noviços e ordens religiosas aqui no Brasil perdeu sua validade.
Depois de várias tratativas entre a Cúria Geral e a Santa Sé, a Província da Santa Cruz da Saxônia, na Alemanha, aceitou o desafio de enviar novos missionários franciscanos ao Brasil. No dia 10 de julho de 1891 chegaram ao Brasil, ou mais precisamente no vilarejo de Teresópolis (SC) os quatro pioneiros da restauração da Província da Imaculada, a saber: Frei Armando Bahlmann, Frei Xisto Maiwes, Frei Humberto Themans e Frei Maurício Schmalor.
A restauração não começou pelo Convento Santo Antônio (RJ), onde ainda residia o último frade da antiga Província. O berço da retomada da presença franciscana na Província da Imaculada foi na pequena vila de colonização alemã, Teresópolis (SC), cuja paróquia foi oficialmente entregue aos frades no dia 12 de novembro de 1891.
A partir daquele momento, a Província teve um crescimento numérico extraordinário quando, por dois anos (em 1959 e em 1966) chegou a 713 frades. Isto significa que praticamente a cada década houve um aumento aproximado de 100 frades. Depois, a partir da década de 1970, houve um declínio numérico e hoje são 351 frades, sendo 266 no Brasil e 85 em Angola.
Certamente a Província terá muitas histórias para relatar em 2025, durante as celebrações dos seus 350 anos. Espiando o passado, podemos ser gratos pela vida dos irmãos que testemunharam a caminhada dessa importante célula da Ordem dos Frades Menores, comprometida com a propagação da espiritualidade e do carisma franciscano, adaptado às necessidades de cada época.
Presença franciscana no Brasil
A chegada dos Frades Menores ao Brasil acompanha a história do país com o desembarque das tripulações das primeiras caravelas, em 1500.
De acordo com o livro “Páginas de História Franciscana no Brasil”, de Frei Basílio Röwer, publicado pela Editora Vozes, 1941, naquela época, Frei Henrique, superior da caravana de missionários, celebrou no dia 26 de abril, domingo de Páscoa, a primeira missa no ilhéu da Coroa Vermelha, localizado no município de Santa Cruz Cabrália, na Bahia, próximo a Porto Seguro. Em 1° de maio, o frade e Pedro Alvarez Cabral ergueram uma grande Cruz, sinal da tomada de posse em nome de Cristo e do Rei. Em seguida, Cabral continuou a viagem às Índias e, com ele, os franciscanos.
Outros missionários da Ordem Seráfica também vieram para o Brasil com a missão de evangelizar os povos originários. Enfrentaram dificuldades e muitos morreram em missão. A trajetória religiosa desses irmãos foi persistente, também a pedido da coroa portuguesa e do Vaticano, a quem deviam obediência.
Por mais de 50 anos, os franciscanos percorreram especialmente o litoral nordestino levando o Evangelho e catequizando os povos presentes nessa terra.
De acordo com relatos do Padre Manuel da Nóbrega, jesuíta português, Frei Pedro Palácios e Frei Álvaro da Purificação, foram fundamentais para a Ordem dos Frades Menores no Brasil.
Frei Pedro Palácios era irmão leigo que missionou na Capitania do Espírito Santo de 1558 a 1570. Podemos dizer que, com ele, também brotava o que no futuro seria a Fraternidade mais antiga da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil: o Convento de São Francisco de Vitória (ES), hoje não mais pertencente à província e aberto à visitação de turistas e pesquisadores.
Frei Álvaro, trabalhou em Olinda, mas em 1577 seguiu para ilha da Madeira, em Portugal.
Ainda percorrendo a história e a presença dos Frades Menores no Brasil, os conflitos com os indígenas, as mortes e a enculturação, podemos observar os motivos que levaram a Coroa e o Vaticano acreditarem que aqueles homens seriam capazes de suportar a missão de fé a qual foram designados. Eles tinham em sua essência religiosa a humildade, o viver para os pobres e pelos pobres, desprendidos de riquezas e da ganância, por isso, estavam prontos para olhar, o que na época podia parecer o caos e desconhecido, e ver nesses ambientes a presença de Deus em todas as criaturas. E, além disso, eram fortes e sua fé e firmes na obediência.
Saiba mais sobre a história da presença franciscana no Brasil e a história da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil
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Adriana Rabelo