Podcast: “Eu creio muito nessa presença apostólica da Igreja no mundo da educação”, diz Dom Edgar Xavier Ertl
13/04/2022
“Educação e Igreja” é o tema deste 13º episódio da Série da Campanha da Fraternidade, promovida pela Província da Imaculada Conceição, no formato podcast. O Bispo de Palmas-Francisco Beltrão e Referencial para a Educação do Regional Sul 02 da CNBB, Dom Edgar Xavier Ertl, conversou com Frei Gustavo Medella sobre este assunto, tendo em vista o tema “Fraternidade e Educação” e o lema “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31, 26) da CF 2022.
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Antes de responder à pergunta de Frei Medella – Que relação podemos enxergar entre a missão que Jesus confiou a seus discípulos e o ofício de ensinar? -, Dom Edgar recomendou que se “mergulhe de cabeça” no texto-base, o que está fazendo pela segunda vez. “O nosso texto-base está muito rico, extraordinário. Não é longo, são 231 números, uma introdução bem feita, três partes e depois uma conclusão e algumas questões práticas. Vamos ler o texto, vamos partilhá-lo, vamos convidar as pessoas de nossas relações, nossas comunidades, nossas escolas, para que tenham acesso ao texto-base. É muito científico, didático, pedagógico, oferece dados importantes, não só números em todas as áreas sobre a educação”, indicou.
Dom Edgar lembra que na segunda parte do texto-base, existe uma palavra colhida do Papa Francisco, cujo significado é discernimento, discernir, escolher antes de agir. “Então, a ação é importante, mas também temos o verbo escutar na primeira parte, o discernir na segunda e o agir na terceira. A partir do número 143 encontramos um subtítulo chamado: “Jesus Cristo, mestre e educador”, sobre a pedagogia da sua missão. E nos Evangelhos há evidências que os discípulos de Jesus se dirigem a ele como Mestre. Isso é importante. O discípulo se aproxima para aprender, com alguém que fala com sabedoria e ensina com amor. É o nosso lema que vem lá do Antigo Testamente, do livro dos Provérbios. Em pedagogia nós sentimos essa sabedoria e o ensinar em Jesus Cristo, tanto a seus discípulos como também à multidão. Esse olhar é de grande importância para essa missão confiada aos discípulos no ofício de ensinar. Olhar, contemplar quem são os nossos protagonistas. Eu estou falando para quem?”, observou.
Segundo o bispo, o modo de ensinar de Jesus modificou a vida das pessoas. “Repito: o modo de ensinar modificou as pessoas. Ele ensina com misericórdia, com bondade e amor. As atividades de Jesus podem ser basicamente reunidas ou resumidas em três atitudes: Jesus anuncia, ensina e cura. O verbo ensinar também é aquilo que falamos de catequisar”, explicou.
“São os verbos que resumem as atividades de Jesus. A comunidade dos discípulos gera novas relações humanas que convidam a todos para aderirem ao Reino de Deus. Então, seguir Jesus pelo caminho do discipulado, consiste em aprender dele como se deve construir novas relações. E a educação é isso: nós aprendemos a estabelecer relações. Que relações são essas? São relações fraternas, fundamentadas em atitudes de amor ao próximo e do perdão que ele mesmo deve percorrer no caminho do seu ministério. Foi isso que Jesus realizou. Então, nós somos do Mestre discípulos missionários e educadores, podemos dizer assim. Aquilo que diz ‘Ide e ensinai’ no Evangelho de Mateus, 28. Portanto, pela pedagogia do amor, do diálogo, da compaixão e do cuidado pela vida. Se eu disse antes que o terceiro verbo é o curar, aí está o cuidado pela vida”, acrescentou.
Segundo Dom Edgar, evangelização e educação são irmãs gêmeas. “Costumo dizer: elas focam os mesmos protagonistas do Reino, ou seja, crianças, adolescentes, jovens e adultos. À luz da fé queremos refletir sobre a educação em nosso país, convictos de que ela é indispensável para a construção de um mundo mais justo e fraterno. A realidade da educação nos interpela, exige profunda conversão de todos. Também para o mundo da educação, como para o mundo da evangelização, para o mundo missão, em todos quantos nos foi confiado essa missão, exige da parte nossa uma verdadeira mudança de mentalidade, essa metanoia. Por isso que os temas sociais vêm no tempo da Quaresma, porque é um tempo de conversão, um tempo favorável. No mundo da educação é a terceira Campanha da Fraternidade que temos sobre a educação. O que é que queremos há 40 anos, já que a primeira foi em 82? Nesses 40 anos, houve conversão da nossa parte em relação ao mundo da educação? Essa missão confiada por Jesus aos discípulos e a nós é termos consciência de que somos todos evangelizadores e educadores”, ressaltou.
Além de manter as escolas, as universidades, Dom Egar falou de outras maneiras de a Igreja dialogar com o mundo da educação. “Isso é histórico. A Igreja sempre valorizou a ciência e o conhecimento. Inclusive o conhecimento técnico e científico, muitas vezes atacado e até menosprezado por meio do qual participamos da obra da criação. No entanto, não se pode reduzir a educação apenas em transmissão de conhecimentos. Também vale a pena dizer, a evangelização e educação andam sempre juntas”, disse, lembrando o início da educação, onde as universidades nasceram e o contexto que nasceram. “Isso é muito importante para quando nós queremos entender o ensino superior, as universidades”, emendou.
“Portanto, a luz da Palavra de Deus quer nos ajudar a compreender duas lições sobre o ato de educar. A primeira diz respeito ao valor da pessoa como princípio de educação. A segunda se refere ao ato de educar e conduzir ao reto caminho, não a repressão, mas orientar a pessoa no caminho de uma vida transformada. Verdadeiramente convertida à luz da Palavra de Deus”, orientou.
O bispo lembra que o texto-base indica, a partir do número 255, doze inspirações para iniciar um diálogo com o mundo da educação: “São doze oportunidades que temos como caminhos, como portas abertas, para iniciar esse processo. E, por coincidência, são 72 possibilidades de atividades que o texto-base indica para as nossas dioceses, paróquias e comunidades. Por exemplo, a formação de professores: Como nós podemos atuar na formação de professores? Atuação no mundo da política em favor da educação; dialogar sobre o ensino religioso. O ensino religioso é uma questão que não está resolvida no Brasil. Como ensinar, quem ensinar, métodos, pessoas preparadas? Infelizmente, também, às vezes, nas nossas escolas católicas até servirmos como professores para completar carga horária, aquela coisa toda. Então, às vezes, é um modo, uma possibilidade de contribuir com a educação sobre o ensino religioso, também preparando professores para esta disciplina. O diálogo sobre a cultura e os bens culturais; diálogo com as universidades; ação pastoral no interior das comunidades eclesiais missionárias; serviços pastorais em favor da educação; assumir a escola e a universidade como territórios de missão, intensificando a presença e apoio às iniciativas das escolas, centros comunitários presentes nas paróquias e dioceses. A Igreja pode e deve dialogar como educar para uma nova economia. Quais são as tarefas mais urgentes da Igreja e da sociedade? Ações que envolvam as famílias dos educadores e dos educandos”, enumerou.
“Em geral estamos distantes do mundo da educação, exceto a porção da Igreja, ou seja as congregações religiosas, masculinas e femininas, que vivem os seus carismas fundacionais como a educação. Estas estão mais próximas e envolvidas com o mundo da educação. Ainda estamos carentes dessa presença, sem dizer católica, mas eu gostei de um texto que diz presença apostólica, que é muito mais do que uma placa eclesial católica ou outra denominação, ou uma placa com o nome de uma determinada congregação religiosa. Eu creio muito nessa presença apostólica da Igreja no mundo da educação”, afirmou.