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Moreira: “Precisamos conhecer melhor a infância e a juventude”

01/12/2015

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Moacir Beggo

Curitiba (PR) – O professor Alberto da Silva Moreira, doutorado em Teologia Fundamental e pós-doutorado em Ciências da Religião, profundo conhecedor de franciscanismo, foi o primeiro palestrante no Congresso Franciscano Internacional, nesta terça-feira, 1º de dezembro, em Curitiba. Para desenvolver o tema “Desafios da Pós-Modernidade à Educação Franciscana”, ele seguiu dois passos: um diagnóstico da espessura e intensidade do que se denomina experiência pós-moderna, analisando como tais transformações incidem sobre a infância e a juventude, e os desafios que essas mudanças trazem para a tarefa de educar sob uma perspectiva franciscana.

Partindo da reflexão de uma sociedade totalmente globalizada, segundo o professor, hoje é inegável que existe uma tentativa de cooptação da infância e da juventude. “Nós devemos estar muito atentos às transformações recentes da infância e da juventude, que tem na sua origem dinamismos econômicos e culturais e que estão impactando fortemente a educação em geral e a educação franciscana”, alertou.

Para o professor, é preciso conhecer melhor a infância e a juventude que estão surgindo, como elas sofrem e reagem ao impacto das transformações. “Que mecanismos criam de defesa”, perguntou. Para ele, a criança e o jovem são alvos fáceis do mercado, da cultura mediática e da cultura do consumo. “Isso não tem nada de novo, mas acho importante perceber que se dá através da contribuição estética, de uma compulsão pelo prazer”, disse, uma vez que  as crianças e os jovens são educados, atraídos pela beleza, pelo fascínio, que sempre surgem, por exemplo, em um designer supermoderno, colorido e na rapidez com que vem a recompensa visual. “A pressão sobre os jovens, às vezes, é quase irresistível para que eles adotem ideias, valores, formas de vida que vêm dos países de culturas ricas. Nem preciso citar a indústria da Disney etc…É essa indústria cultural que hoje está contando as histórias para os nossos filhos. E além de contar histórias, essa indústria formata desejos, educa emoções, relativiza a própria escola, impõe novas maneiras com que a escola lida com seus alunos, até mesmo na universidade”, explicou Moreira, informando que essa estetização mereceu dele um estudo seu mais profundo.

“Isso tudo é um desafio um tanto quanto urgente. Alguns autores afirmam que está sendo criado um novo tipo de ser humano”, informou.

“Trata-se de um jovem mais gregário, que vive em tribos e patotas, é dedicado no trabalho, obcecado por resultados, mas narcisista, pouco solidário, indiferente aos sofrimentos alheios, voltado às diferentes formas de prazer e satisfação, mas afetivamente infantilizado, com baixa capacidade de trabalhar conflitos e capaz de violências se seus desejos ou suas expectativas forem contrariadas”, adiantou.

Segundo Moreira, o caminho é educar para um novo modo de ser, para uma alinça entre a humanidade e o ambiente. “Por isso, o Papa Francisco, o mais franciscano de todos os papas, disse na ‘Laudato Sí’ que os desafios que nos atingem, na cultura, na ética, no meio ambiente, são todos ligados entre si, remetem a uma crise profunda do ser humano e de suas formas de vida sobre o planeta. Então, voltamos a perceber que esses desafios exigem uma mudança de mentalidade, uma mudança de cultura, o que equivale a uma reforma do ser humano. Enfim, um novo modo de ser e de estar na casa comum, a Mãe Terra”, acrescentou.

Segundo ele, mudança de mentalidade é apenas um eufemismo para dizer conversão. “Justamente o que pede de novo o Papa Francisco na ‘Laudato Sí’”, emendou.

Espiritualidade integradora não deveria ser nenhuma novidade nas escolas franciscanas, segundo Moreira, que elencou alguns encaminhamentos:

  1. Favorecer experiências pedagógicas nas quais alunos e educadores façam experiências marcantes de outras formas de ser e outras formas de viver que são possíveis e trazem felicidade e realização humana.
  2. Fortalecer a consciência e o conhecimento teórico científico sobre a interdependência de todas as pessoas. Facilitar aos educandos e educadores a experiência da interligação e da interdependência mútua dos níveis da realidade.
  3. Formas redes nas quais essa experiência e conhecimentos possam ser compartilhados e debatidos, socializados, estejam mais tempo ocupando a atenção das pessoas.
  4. Oferecer exercícios, tirocínios, oportunidades e meios para desenvolver uma espiritualidade integradora.

“As escolas, no afã de afirmar que estão em busca de novos métodos pedagógicos e diversas estratégicas,  frequentemente negligenciam a tarefa de ajudar os estudantes a construir um sentido profundo para o seu esforço de aprendizagem, deixando que o sentido oferecido pelo restante da sociedade – diga-se mercado – seja o único disponível. Boas escolas geram vazios existenciais na vida dos alunos e verdadeiras catástrofes. Eu sempre me pergunto por que esses serial-killers estão nas escolas”, alertou Moreira.

Uma escola franciscana precisa conectar o imenso potencial de sentido e motivação vivido pelo movimento franciscano com a necessidade do aluno de construir um sentido para a sua vida, e a necessidade dos professores sentirem-se apoiados na nobre tarefa da educação a qual se dedicaram.

Sugestões de encaminhamentos.

  1. A escola precisa encontrar formas de garantir a motivação e sentido dos professores. Nós também estamos em crise de identidade e de valorização. Muitas vezes somos destratados nas salas de aula. Muitas vezes também destratamos. Na escola franciscana, isso não pode acontecer.
  2. Cultivar a espiritualidade que alimente a paixão pelo cuidado do mundo, através de atitudes práticas. Tendo consciência de que os frutos na educação são a longo prazo. A nossa sociedade, a nossa cultura da eficiência e da produtividade, exige resultados concretos e imediatos. Mas na educação, leva muito tempo para amadurecer o espírito na vida das pessoas.
  3. Depois, fortalecer nos educadores a convicção e a experiência desse sentido profundo e da dignidade da tarefa que realizam.
  4. Conectar-se mais e melhor com ao enorme patrimônio intelectual e humanístico da tradição franciscana. Aproveitar melhor esse legado.

Moreira concluiu dizendo: “Francisco construiu um caminho onde não havia caminhos e a educação franciscana hoje precisa fazer a mesma coisa”.

Íntegra da palestra

O Congresso Internacional Franciscano, realizado pela Província da Imaculada Conceição, está sendo realizado em dois eventos simultâneos: o 5º Encontro de Centros de Estudos Franciscanos Superiores Ibero-Americanos e o 1º Congresso Nacional de Educadores Franciscanos da Conferência dos Frades Menores do Brasil (CFMB). Eles têm o apoio da FAE Centro Universitário, do Colégio Bom Jesus, e da Universidade São Francisco.

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Filósofo, teólogo e pedagogo, Dom Leonardo Steiner abordou o tema “O perfil do educador franciscano” na segunda palestra desta terça-feira, 1º de dezembro, no Congresso Franciscano, em Curitiba.

O atual Secretário Geral da Conferência dos Bispos do Brasil, D. Leonardo fez uma reflexão filosófica do papel do educador e a centrou a educação como despertar. “Pra cima e para baixo, sempre de novo mostrar que educação é essencialmente despertar. Naturalmente, educação entendida aqui no nosso tipo de serviço que fazemos não destinado à formação interna das nossas congregações e da nossa Ordem”.

“Educação é a busca do essencial”, insistiu. “O bom educador vai sempre no essencial. Não se perde nos pormenores”, disse.

“O educador franciscano não vive a partir de si mesmo mas está na benevolência do mistério. Despertou para
o mistério”, ensinou.

“O essencial do Evangelho é a misericórdia. O educador é sempre guiado, tomado, pela misericórdia. É a misericórdia que cria uma nova sociedade”, continuou.

Segundo D. Leonardo, o educador sabe ler a caminhada como um todo. Não a partir de si mesmo. “O mistério pervade e renova”.

“O educador franciscano sabe que sempre será aprendiz”.

Na sequência, com a mediação de Frei Nilo Agostini, Alberto Moreira e D. Leonardo responderam as perguntas dos participantes do Congresso.

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