Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Pastoral da Ecologia Integral dá início às atividades em Bauru

25/05/2022

Notícias

No dia em que se celebrou os 7 anos da Carta Encíclica Laudato Sí, dia 24 de maio, a diocese de Bauru promoveu o primeiro evento da, recém criada, Pastoral da Ecologia Integral (PEI) e reuniu pessoas das várias paróquias pelo bem da Casa Comum. Às 19:30h desta terça-feira, a paróquia São Sebastião da cidade de Bauru, SP, sediou a noite de palestras que contou com as exposições de Frei André Gurzysnki, OFM, assessor diocesano da PEI, e da professora Silvana Suaiden, mestra em Ciências da Religião e Presidente da Associação dos Professores da PUC-Campinas.

Padre Rodrigo Sena abriu o evento com uma oração inicial e com muita alegria acolheu os presentes afirmando e reiterando a consciência de que esse é um pedido, uma semente lançada pelo Papa Francisco e que, depois de 7 anos, germinou na cidade de Bauru. “Nós caminhamos com o Papa e com a Igreja” afirmou.

Frei André tomou, então, a palavra e em sua fala ele esclareceu as principais dúvidas sobre o que é uma encíclica, e em especial a Laudato Sí: “Encíclica é uma carta circular, essa em específico foi publicada pelo Papa Francisco e é destinada não apenas aos católicos, ou simplesmente às pessoas de boa vontade como foi a encíclica Pacem in terris do Papa João XXIII, mas aquela se destina ‘a cada pessoa que habita neste planeta’ (LS 3), porque nossa Casa Comum é de interesse de todos”.

Também falou acerca da estruturação da encíclica e de sua ligação com os papas anteriores. “O papa Francisco preocupou-se em trazer à luz o que fora dito anteriormente pelos seus predecessores”, dizia ele, “mas não só, a encíclica traz colaborações do Patriarca Bartolomeu”, da Igreja Católica Ortodoxa, e se abre para as mais diferentes contribuições sobre o meio ambiente que brotam de outras espiritualidades, inclusive de outras religiões. Por esse motivo, em seu corpo, a Laudato Sí traz duas orações, uma destinada a todos os que creem em um Deus criador e outra destinada aos cristãos.

Naturalmente, nosso Pai Francisco, quem inspirou o nosso santo padre e contribuiu para o título dessa encíclica, não poderia estar de fora quando se fala em espiritualidade interligada com a criação. O sumo pontífice afirma sobre o santo de Assis: “acho que Francisco é o exemplo por excelência do cuidado pelo que é frágil e por uma ecologia integral” (LS 10). Frei André reiterou por diversas vezes: “Ecologia Integral é perceber o ser humano como criatura na criação, perceber que tudo está interligado, a fragilidade do pobre e da natureza, é reconhecer o valor de cada criatura humana”.

Após a fala de Frei André, a professora Silvana Suaiden contribuiu para que fossem aclarados os sete objetivos desta carta encíclica. “Essa encíclica, não foi redigida em linguagem eclesial, mas de maneira simples para que pudesse cumprir o seu objetivo de atingir a todos, por se tratar de nossa Casa Comum, a Laudato Sí é um texto aberto!”.

Apontou ainda para uma realidade ainda maior que permeia a nossa relação com a natureza, o paradigma da conquista. “Nossa relação com a terra, com os meios de produção, é de conquista, nós usamos aquilo e basta”; e alertou para que esse paradigma seja substituído pelo do cuidado, nossa relação com a terra deve ser mais sadia e mais respeitosa, mais sustentável. “A conquista, no seu paradigma, leva essa mesma conquista à escassez”.

Aproveitou o ensejo para questionar a má distribuição de renda que se nos apresenta hoje no Brasil e no mundo em que poucos são donos de muito e muitos são donos de muito pouco. Para uma ecologia integral é necessário chegarmos a uma mentalidade de menos acúmulo de bens, menos ações violentas de tomadas de posse, uma mentalidade mais sustentável.

E compreender que tudo está interligado pode ser o primeiro passo para isso, termos uma visão mais holística, integral de fato e aprender de outras espiritualidades que somam nessa busca. “É tempo de Kairós”, interpelou, “um chamado para uma revolução espiritual e cultural”, uma transformação, uma conversão radical de dentro para fora. “As ações, todas elas, impactam a compreensão e uma estrutura de modo de produção que se apresenta como único paradigma possível”.

Listou e apresentou, então, os sete objetivos da carta encíclica: Responder ao grito da terra, proteger nossa casa comum para o bem comum; Responder ao clamor dos pobres, defender toda a vida humana desde o princípio até sua morte natural; Economia ecológica, entender a economia como subsistema da sociedade humana, inserida na biosfera; Adoção de estilos de vida sustentáveis, promoção da sobriedade no uso de descartáveis e energias; Educação ecológica, conscientização ecológica e ação transformadora integrados na reforma curricular; Espiritualidade ecológica, metanóia, conversão radical e redescobrir o livro da vida na natureza; Resiliência e empoderamento das comunidades, fazer da igreja, da sociedade uma caminhada sinodal.

A professora trouxe para a reflexão um trecho do livro de Oséias (2, 20-22), para uma reflexão pautada na Palavra e no desejo de mudança, inspirados pelo profeta na denúncia e no anúncio da Boa-Nova.

Os seminários terminaram e os presentes puderam fazer perguntas, apontamentos e trazer sugestões para a pastoral que ainda está sendo estruturada na diocese. O professor Wagner Santos, coagricultor e representante local da CSA Brasil em Bauru, apresentou a iniciativa de pequenos produtores que se unem para levar as pessoas produtos orgânicos de verdade para as pessoas, como num plano de assinatura mensal, cada família recebe em sua casa semanalmente aquilo que a terra produziu, “dividimos a abundância e, às vezes, a escassez, mas não usamos qualquer produto, vivemos daquilo que a terra nos dá, no seu tempo de colheita”.

Frei André encerrou a reunião agradecendo a paróquia que sediou o evento, aos presentes, ao professor José Aparecido dos Santos, coordenador diocesano da PEI, e parafraseou nosso Pai Francisco, dizendo: “Comecemos fazendo o necessário e em breve estaremos fazendo o impossível”. Seu pedido foi de que talvez o melhor caminho seja somar forças, “às vezes estamos procurando criar a roda e ela já está ali tão perto, podemos somar forças àquilo que já existe!”.


Frei Gilberto Silveira da Costa Junior, OFM.