Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Ministro Provincial: um dia inteiro com as Irmãs Clarissas

11/08/2019

Notícias

Rio de Janeiro (RJ) – Neste dia 11 de agosto nem foi preciso oferecer ovos para santa Clara, como remonta a tradição, para garantir um dia de céu azul e tempo firme. Nos Mosteiros das Irmãs Clarissas de Nova Iguaçu (RJ) e Irmãs Clarissas da Gávea, no Rio de Janeiro, as festividades aconteceram durante todo o dia. O Ministro Provincial da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, Frei César Külkamp, presidiu a primeira Celebração Eucarística, às 11 horas, na Gávea e concluiu as festividades em Nova Iguaçu.

Segundo o Ministro Provincial, seremos cristãos, franciscanos ou clarissas, autênticos se nos consagrarmos à alegria de quem vive com o Senhor. “Desta forma, estaremos abrindo nossa Fraternidade, nossa Comunidade e nossas famílias à ação de Deus e permitindo que esta grande santa, ainda que um vaso de barro, como todos nós, traga um pouco mais de claridade, de brilho à Igreja e ao mundo de hoje”.

A Santa Missa em Nova Iguaçu contou com a Celebração do Trânsito de Santa Clara e com a presença dos frades estudantes de Teologia de Petrópolis (RJ), além de religiosas franciscanas dos mais diferentes institutos e devotas da santa Padroeira da televisão. As Irmãs Clarissas de Nova Iguaçu têm motivos de sobra para celebrar, pois neste ano estão celebrando o Jubileu dos 30 anos de inauguração do Mosteiro dedicado a Santa Clara, que marcou uma época e trouxe para a Igreja uma inspiradora história de amor, devoção e fé.

Veja a homilia na íntegra de Frei César Külkamp:

– Queridas irmãs de ideal e de vida, nossas irmãs Clarissas;

– Caros confrades aqui presentes, filhos também no espírito e no ideal de nossa

Mãe, Clara de Assis;

– Queridas irmãs religiosas franciscanas dos mais diferentes institutos;

– Demais irmãs e irmãos presentes, a todos vocês Paz e Bem!

Celebramos hoje, em espírito de Fraternidade, esta solenidade que nos transporta para o trânsito de Santa Clara. Lá, no dia 11 de agosto de 1253, quando ela deixou este mundo como um dom precioso a todo o Povo de Deus.

Não celebramos apenas como um dia festivo, mas como uma oportunidade de nos deixarmos tocar pela provocação da vida e do ideal desta seguidora mais perfeita de nosso Pai São Francisco. Aquela que ele cultivou como sua “plantinha”. Por isso, ela é para nós “mestra” neste seguimento de Cristo ao modo de Francisco. E, na sua criatividade, soube colher aquilo que é o coração e o drama de todo o movimento franciscano. Por isso, hoje celebramos o nosso carisma franciscano. Em seu ideal apaixonado e apaixonante, Clara nos provoca a tomarmos, também nós, um lugar nesta grande história de seguimento radical dos passos do Cristo.

Seu testemunho marcou a vida de uma multidão de fiéis, não só entre suas irmãs ou dentro da Ordem Franciscana, mas desde papas e reis até os mais simples e pequeninos que conseguiram ver nela, como num espelho, o reflexo de Jesus Cristo, pobre e crucificado.

A Clara de Assis nobre, rica e bela não pôs nestes atributos os valores maiores de sua vida. Desde os primeiros anos, esforçava-se em amar profundamente o Cristo. Assim, foi percebendo em si o chamado para uma missão maior. Aspirava por uma vida com mais sentido.

Ouvimos em sua carta a Santa Inês de Praga como ela insiste no olhar cotidiano ao espelho que é o Cristo para nele examinar-se e a partir dele tornar-se inteiramente revestida e adornada com as sublimes virtudes: a feliz pobreza, a santa humildade e a inefável caridade.

O referencial de Clara é o Cristo e não Francisco. Mas foi o olhar afinado por essa contínua contemplação que a fez observar de longe e, cada vez, com mais atenção, a transformação ocorrida em Francisco, sua renúncia aos bens e à família, os seus primeiros seguidores e o estilo de vida que levavam. Foi percebendo neles o encontro com o verdadeiro significado da vida, a plena felicidade.

Em 1210, assiste às pregações de Francisco e sente que o ideal a ser buscado é este. Depois de muitas conversas com ele, aos 18 anos, numa noite de Domingo de Ramos, em 1212, Clara foge de casa e vai ao encontro dele e de seus frades que fazem a sua consagração na igrejinha da Porciúncula. Desde o início, com a sua firmeza de mulher decidida, resistiu a todas as tentativas de afastá-la deste ideal. Logo vieram as primeiras companheiras e foram morar juntas no Conventinho de São Damião. Nasce assim a II Ordem Franciscana, a Ordem das Clarissas, das seguidoras de Francisco.

O início foi duro: extrema pobreza, instabilidade de moradia e sustentação. Ela mesma escreve em sua Regra sobre as tantas afrontas, humilhações e desprezos que fizeram amadurecer a opção tomada. Muitas destas seguidoras de Clara e Francisco se tornaram grandes exemplos de santidade para toda a Igreja.

A vida de Clara é pouco conhecida porque não foi vivida com grandes realizações como tanto se valoriza no mundo de hoje. O impressionante nela é a qualidade do amor vivido diariamente numa relação direta com Deus: tempo, espaço, trabalho, repouso, silêncio, Palavra.

E a escuta atenta da Palavra, novamente este espelho que reflete muito claramente o próprio Cristo, leva-a a uma vivência muito concreta de seus valores. A forma de vida, por ela escrita, tal como a de Francisco, consiste em viver o santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo (RCl I, 1-2).

De todos estes valores, destaco, hoje, apenas três, mas que são valores centrais extraídos do Evangelho na vida de Clara:

– A Vida Contemplativa para Clara não significa simplesmente viver no isolamento, fechada pelas paredes de um claustro. É, acima de tudo viver como consagrada, na escuta constante de Deus, ou seja, uma vida habitada por Deus. É a virgem atraída ao deserto de que nos fala o Profeta Oséias, na primeira leitura. O deserto é o silêncio, a escuta da contemplativa, que aí pode ser desposada com benevolência e ternura. Ou é a conexão do ramo à videira, da contemplativa ao seu Senhor, de onde pode sorver o amor gera vida e frutos.

– A vida em fraternidade é o lugar teológico da vivência do Evangelho, onde, no cuidado de cada irmã, aprende-se da relação com Deus a “conservar a unidade da recíproca caridade” (RCl X, 7). Assim como Deus nos ama e acolhe sempre de novo com o mesmo amor misericordioso, apesar de todas as nossas imperfeições e infidelidades, não cabe à irmã outra postura senão a comunhão amorosa que vê em quem está do lado o “presente” do Senhor. Este é um belo fruto de Seu amor.

– A vida sem nada de próprio ou a guarda da santíssima pobreza é o elemento que não é negociável. É a opção de fundo que inspira a decisão de viver “a perfeição do santo Evangelho” (Fv1). Como Francisco, Clara é apaixonada pela pobreza e faz dela o itinerário de sua vida. Luta para alcançar o “Privilégio da Pobreza”, ou seja, o direito de não ter propriedades. Não queria que seus mosteiros tivessem formas seguras de manutenção. Viver na precariedade, sentir falta até das coisas necessárias, faz parte desta aventura evangélica e da aposta na confiança total ao Deus amor e providência. O pequeno ramo que vive da videira.

Com estes valores podemos perceber como Clara tornou-se mestra da nossa rica espiritualidade franciscana e esta luz que brilha e afasta as trevas do mundo. Ela tem muito a nos dizer. Não só em palavras, mas principalmente com o seu testemunho vigoroso. Testemunho este que também sustentou os frades da origem, órfãos de Francisco. Uma fortaleza que emanava da condição frágil e enferma daquela mulher em seu leito.

Nós temos hoje a tentação de falar demais, de interpretar a vida. Nós estudamos, refletimos sobre a pobreza; Clara casou-se com ela. É mais fácil falar e questionar do que viver. Clara é uma expressão da vivência radical do Evangelho: vivê-lo e nada mais. Mas, não faz isso com dureza. Coloca os valores essenciais do cristianismo no modo cotidiano, simples, fraterno e feminino de viver.

E aquele desejo de menina, de buscar um sentido maior para sua vida se concretiza na clareza de sua vocação.

Seu testemunho clarividente é, para nós, uma garantia de que viver assim é possível. Seremos cristãos, franciscanos ou clarissas, autênticos se nos consagrarmos à alegria de quem vive com o Senhor. Desta forma, estaremos abrindo nossa Fraternidade, nossa Comunidade e nossas famílias à ação de Deus e permitindo que esta grande santa, ainda que um vaso de barro, como todos nós, traga um pouco mais de claridade, de brilho à Igreja e ao mundo de hoje.

“Quem permanecer em mim e eu nele, dará muito fruto. Meu Pai será glorificado, se derdes muito fruto, e assim sereis meus discípulos” (Jo 15, 5.8).


IMAGENS DA CELEBRAÇÃO DAS 11 HORAS NO MOSTEIRO DA GÁVEA



IMAGENS DA CELEBRAÇÃO DAS 16 HORAS NO MOSTEIRO DE NOVA IGUAÇU