Países aprovam acordo histórico para limitar aquecimento
12/12/2015
Os 195 países que participam da 21ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP21) aprovaram neste sábado (12) um histórico acordo para enfrentar o aquecimento global.
O resultado foi amplamente celebrado pelo ministro das Relações Exteriores da França e presidente da COP21, Laurent Fabius, e pelos representantes da ONU com calorosos abraços no palco. O documento confirma o compromisso de “manter o aumento médio da temperatura global bem abaixo dos 2ºC em relação aos níveis pré-industriais e realizar esforços para limitar o crescimento a 1,5ºC, reconhecendo que isso reduziria significativamente os riscos e os impactos das mudanças climáticas”.
A barreira de 1,5ºC era defendida principalmente por Estados insulares do Pacífico e do Caribe – alguns dos mais afetados pelo aquecimento do planeta. Por outro lado, países como Estados Unidos, China e Brasil propunham um limite menos ambicioso de 2ºC.
Além disso, o projeto de acordo estabelece que as partes tenham como objetivo alcançar o pico das emissões de gases causadores do efeito estufa “o mais rápido possível”, prosseguindo com uma “rápida redução” após esse momento para se chegar a um “equilíbrio” na segunda metade deste século. No entanto, o texto não fala explicitamente em “neutralidade carbônica” e nem contém datas ou cifras definidas.
De acordo com o documento, os países ricos deverão fornecer recursos para financiar o combate às mudanças climáticas nas nações em desenvolvimento. Estão previstos pelo menos US$ 100 bilhões por ano até 2020, número que será revisado em 2025.
“O acordo climático em Paris é um passo adiante decisivo. A Itália é protagonista, hoje e amanhã”, escreveu no Twitter o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi. Já o presidente da COP21 afirmou que o pacto é “ambicioso e equilibrado, refletindo as posições das partes”.
Fabius ainda destacou que o documento é “juridicamente vinculante”, ou seja, terá força de lei nos países signatários.
O acordo valerá a partir de 2020. Com esta aprovação, encerram-se seis anos de trabalhos que começaram na cimeira do clima de Durban (2011), na África do Sul, quando as negociações para um pacto global de luta contra as alterações climáticas começaram.
ESPERANÇA E EXPECTATIVAS
Participando da conferência de Paris como assessor nacional do Fórum de Mudanças Climáticas (ligado à CNBB) e membro da Repam, o cientista social e educador popular Ivo Poletto defende que convivendo com a natureza, devemos “priorizar a cultura espiritual e mística de integração e respeito, vendo a presença divina de cada ser, amando-o e respeitando-o”.
“Creio que o ponto principal é que nós devemos recuperar nossa cultura originária. Cultura originária que é diferente da cultura do consumismo, da cultura do descarte, de que nos fala o Papa Francisco. Nossa cultura originária nos diz que somos parte da natureza, somos parte da Terra.
A Amazônia é, então, uma oportunidade para nós em nossos países para perceber que ainda é possível fazer um tipo diferente de economia, fazer um tipo diferente de convivência com a natureza. Porque nós já destruímos vários biomas da natureza (No Brasil, por exemplo, quase destruímos a mata atlântica; estamos destruindo nossa montanha). Temos de assumir que a Amazônia é importante para o equilíbrio hídrico e reduzir o efeito de estufa na atmosfera.
Mas, por outro lado, podemos trabalhar também na dimensão à qual nos chama o Papa Francisco: Buscar nas raízes da nossa fé e nas raízes de nossas culturas motivações originais, motivações, mística, força, interior de mudar nossos modos e estilos de vida. Trabalhar para viver de forma mais simples, utilizando menos recursos que a natureza nos oferece.
Por outro lado, aprender a viver com a natureza, para ter um relacionamento com todos os seres vivos e com os seres que não estão vivos. Temos de gerar uma mística de integração. Ver a presença de Deus em todos os seres, respeitar e amar toda a criação. Fazer o contrário deve ser visto como pecado. “Temos de começar com a consciência da necessidade da Amazônia para toda a humanidade. Seria uma tragédia para o mundo inteiro se bioma da Amazônia desaparecesse. E nós sabemos que existem grandes atividades econômicas estão afetando a vida das florestas amazônicas. Projetos usam dezenas de milhares de hectares da Amazônia para plantar, por exemplo, óleo de palma, cana de açúcar, grãos para exportação, a soja ou criação de gado. Estes projetos empresariais estão fazendo desaparecer florestas e todo tipo de vida que temos lá”.
PAPA FRANCISCO
Um acordo global e transformador, segundo Francisco, deve se ancorar em três pilares:
O primeiro é uma orientação ética clara. São as pessoas mais vulneráveis a sofrer as consequências das alterações do clima, sem ser as responsáveis por elas. Por isso, vale lembrar que somos uma só família humana e assim sendo, o Acordo deverá ser marcado pela solidariedade global e pela responsabilidade comum e diferenciada de cada um, segundo suas capacidades e condições.
O segundo pilar aponta que governos, autoridades, o mundo empresarial, a comunidade científica e a sociedade civil precisam começar a praticar uma economia com baixo conteúdo de carvão, apostando no desenvolvimento humano integral. Nesta perspectiva, os países mais ricos devem dar o bom exemplo, ajudando os mais pobres a desenvolver energias renováveis, a cuidar das florestas, bem administrar o transporte e os resíduos, atuar programas sustentáveis e diversificados de segurança alimentar, combate ao desperdício de alimentos, e outros.
O terceiro alicerce se refere à visão de futuro. A COP-21 é apenas uma etapa. O Acordo final precisa prever mecanismos de controle dos compromissos assumidos, transparentes, eficazes e dinâmicos, pede o Papa. E enfim, é necessário aplicar, nos campos da educação e da formação, modelos de produção e consumo sustentáveis, assimilando um novo estilo de vida e “longos processos de regeneração” (Laudato si’, n. 202).