Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Recado de Fr. Hipólito na abertura da Trezena do Valongo

01/06/2015

Notícias

Moacir Beggo

Santos (SP) – Os fiéis devotos que não se importaram com a chuva que caiu durante todo o dia em Santos, no Litoral paulista, tiveram uma aula de espiritualidade franciscana na abertura da Trezena de Santo Antônio do Convento do Valongo, que neste ano celebra 375 anos de fundação.

Depois do momento devocional ao santo franciscano, às 18h30, com cantos, súplicas e orações, Frei Hipólito Martendal presidiu a Santa Missa às 19 horas. Neste primeiro dia, o tema da Trezena escolhido foi “Santo Antônio e as virtudes franciscanas”. Depois de mostrar o quanto São Francisco se agigantou na Igreja – ironicamente, porque ele buscou sempre ser o menor de todos -, o quanto Santo Antônio se encantou com ele, o tanto que Assis se tornou um destino de peregrinação para as últimas gerações de Papas, especialmente o último, o Papa Francisco, Frei Hipólito propôs uma devoção mais madura: “Por favor, gente! Não vale a pena gastar o nosso latim, o tempo de vocês se for apenas para explorar o santo na medida em que ele serve somente para ajudar em algumas coisinhas, nos nossos problemas, na nossa saúde, no nosso emprego, no casamento. Os santos devem ser admirados. São modelos de vida que deram, de fato, certo. Todos que estão no céu são santos, mas alguns são especiais. Esses, nós queremos imitar. Todo mundo quer imitar um pouco São Francisco, Santo Antônio, aí sim! Avalie o grau de devoção de vocês a partir da importância que Santo Antônio tem para a sua vida cristã. Isso vale a pena. O resto é coisa pequena. Os santos são nossos intercessores junto de Deus, não tenho nenhuma dúvida, mas o mais importante é conhecê-los para imitá-los”, propôs.

meioPara Frei Hipólito, São Francisco vem há mais de 800 anos criando uma legião de admiradores. “São Francisco foi um homem de tremenda coerência e de uma capacidade fora-de-série de pôr em prática o que encontra em Deus, em Jesus e no Espírito Santo”, disse. “Se o Filho de Deus se fez pobre, então ele não tinha outra opção, outra escolha: tinha de ser pobre”, enfatizou, lembrando que na Idade Média os religiosos tinham uma vida em comum, mas a Igreja era dona de muita riqueza. “São Francisco muda essa situação: faz o voto de pobreza, mas a fraternidade também tem de ser pobre. Uma vez ele encontrou um grupo de frades fazendo um convento um pouquinho melhor  do que estavam acostumados a frequentar… Uma casinha mais sólida. Ele não gostou e mandou desmanchar. Para ele, amanhã ou depois precisariam ter mais para defender as suas propriedades”, contou.

Segundo o frade, Francisco não tinha projeto de fundar uma Ordem. “Sabiam disso?”, perguntou. “Semelhante a Jesus, ele começou a ter discípulos. De repente, um quis viver como ele, depois veio outro e logo havia um grupo. Foi quando ele percebeu que precisava organizar a vida em comum. Então, o Papa redigiu uma Regra como todas as Ordens têm. E tudo começou de um modo singelo: a vida dos frades menores é esta: observar o Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo”, explicou.

meio2“Quem que deve fazer isso? Todo batizado. Não existe uma virtude franciscana, todos nós temos obrigação de fazer isso. Não só os frades, mas vocês também. Todos precisam seguir o Evangelho. Francisco, contudo, conseguiu perceber isso de uma forma radical. Aí ele propôs a primeira de todas as virtudes franciscanas: a minoridade. Ser menor. Nós ainda carregamos esse título. Não sei se somos menores na realidade. Mas somos a Ordem dos Frades Menores, que aqui no Valongo está presente há 375 anos”, acrescentou.

Frei Hipólito explicou como era a sociedade medieval e por que Francisco escolheu ir viver com os mais pobres, com os leprosos, as prostitutas, os bandidos etc. Para Francisco, só servia bem o pobre quem fosse ainda mais pobre. As virtudes evangélicas indicam o caminho a Francisco, segundo Frei Hipólito.  “No Sermão da Montanha, nos capítulos 5, 6 e 7 de Mateus, Jesus faz uma descrição magnífica do que é um coração cristão. Pobreza, mansidão, simplicidade, humildade, todas essas coisas São Francisco prezava. São atitudes essenciais para a gente se abrir para Deus”, explicou.

Ao falar do legado que Francisco deixou para a humanidade, principalmente em Assis, Frei Hipólito ilustrou com uma história. Segundo ele contou, na época de Gorbachev, quando ele já pensava em pôr fim à União Soviética, mandou a Roma um embaixador para entrevistar o Papa. O embaixador era ateu e, um dia, conheceu um jornalista brasileiro, com quem conversou um pouco. Um dia, esse jornalista foi a Assis e, para sua surpresa, deu de cara com o embaixador. ‘O que faz aqui um ateu?’, perguntou.  O embaixador disse: ‘Aqui é outra história’. Então, Assis conseguiu conservar isso graças a São Francisco”, acredita Frei Hipólito, confessando que exultou de alegria quando o Cardeal Jorge Bergoglio escolheu o nome de Francisco.  “Em 500 anos, nenhum Papa foi universal como o Papa Francisco está sendo  por causa  do seu nome e de suas atitudes. Seu entusiasmo é igual ao de Francisco de Assis”, disse, encerrando com o que considera um dos mais belos escritos de São Francisco: A Perfeita Alegria. “É lindo quando ele diz que um religioso, um cristão, tem que manter a alegria mesmo quando perder tudo”, completou.

Além da quermesse, os fiéis podem ver uma exposição com imagens de Santo Antônio no Convento. Nesta terça-feira, segundo dia da Trezena, o tema é “O Santo da Reconciliação”, e terá como pregador  Padre Marco Antonio Rossi, da Paróquia São João Batista/Peruíbe.