O Milagre da partilha: igreja Santo Antônio do Pari está restaurada
24/11/2011
Moacir Beggo
Localizada num bairro que ainda conserva edifícios pequenos, a Igreja Santo Antônio do Pari tornou-se ponto de referência para os paulistanos com suas torres majestosas, especialmente para aqueles que moram nos bairros do Pari, Brás, Santana e Vila Guilherme. Desde 2006, contudo, o que se via de um dos mais belos cartões postais de São Paulo era uma imagem triste e feia, com as marcas do incêndio que destruiu toda a lateral direita, inclusive uma das torres, um dia depois da festa do padroeiro, no dia 13 de junho. Mas essa história é passado. A igreja da Paróquia Santo Antônio do Pari, administrada pelos frades franciscanos da Província da Imaculada Conceição, está finalmente restaurada e pronta para celebrar o seu centenário em 2014.
Depois de cinco anos de restauros, o guardião e pároco Frei Gilmar José da Silva entrega à comunidade a igreja totalmente reformada. “O pouquinho doado por muitos paroquianos e devotos ajudou na realização deste milagre. Tudo o que posso fazer é agradecer e parabenizar a todos!”, comemora Frei Gilmar, mais aliviado depois de tantas preocupações para finalizar o projeto do restauro. Segundo Frei Gilmar, não houve patrocínio privado e muito menos público. “Foi a própria comunidade que se mobilizou e, através de campanhas – almoços, bingos, bazares, jantares e bailes -, conseguiu concluir mais esta etapa”, acrescenta o pároco.
De 2006 a 2009, foram realizados os trabalhos internos: todo o telhado na parte direita foi refeito, os bancos foram reformados, novos pisos foram colocados. Imagens e altares laterais foram restaurados, as vias-sacras foram reconstituídas, idênticas as originais. Foi construído também um novo velário, no lado externo da igreja, e o órgão, um dos maiores da cidade de São Paulo, também passou por um processo de restauro. Nesta fase, o pároco Frei Gilberto Piscitelli coordenou as obras.
Dinâmico e empreendedor, Frei Gilmar também reformou o salão paroquial, para que pudesse oferecer uma estrutura mais moderna e confortável para os eventos que promovia visando arrecadar fundos para o restauro. Nesta última etapa, além da grande reforma das torres, todo o telhado da igreja foi trocado e a parte externa ganhou uma nova pintura. “Como você pode ver, o telhado é diferente. As belas telhas são feitas de um material sintético e foram importadas do Canadá”, conta o pároco, explicando que esse telhado é composto pelas telhas shingles (também chamadas asfálticas), produzidas com manta de fibra de vidro, embebida em asfalto a 90 graus celsius, que ganham jatos de gravilha (pigmentos cerâmicos coloridos) e, posteriormente, recebem a forma compactada. “São resistentes a ventos de aproximadamente 100km/h e são mais leves”, explica Frei Gilmar.
O grande desafio, agora, é a reforma do Convento da Fraternidade, principalmente a parte antiga, que está em acelerado estado de decomposição devido aos cupins e ao tempo. “Temos alguns altares para serem restaurados na parte interna da igreja, mas esse trabalho poderá ser feito com mais calma e organização”, completa Frei Gilmar.
Quase cem anos de fundação
Fundada aos 2 de fevereiro de 1914 por Dom Duarte Leopoldo e Silva, a Paróquia Santo Antônio do Pari teve como seu primeiro pároco Frei José Rolim que, vindo de Portugal por causa da guerra. Ele ficou à frente da paróquia até 27 de agosto de 1916, quando foi sucedido por Frei Felipe Niggemeier. Conta a história que “na carência de igreja ou capela apropriada, Frei José Rolim alugou uma sala de um sobrado, que hoje faz esquina da rua Müller com a rua Maria Marcolina.”
Arthur Vautier, proprietário de vastos terrenos no bairro, vendo o dinamismo do frade português, doou um terreno para a construção de uma igreja. Em agosto de 1922, o vigário e superior do Pari Frei Olivério Kraemer deu início à construção da “bela e vasta” matriz, que foi entregue ao culto divino em 13 de junho de 1924. A igreja mede 60 metros de comprimento, 28 metros de largura e 15 metros de altura.
Em 24 de agosto de 1923, sucedeu a Frei Olivério, Frei Paulo Luig, que se tornou a coluna do Pari. Governou a paróquia durante 15 anos, com entusiasmo extraordinário. Continuou a construção da Igreja, já adiantada e coberta, adornando a com 15 altares, 6 confessionários, forro, batistério, bancos e duas imponentes torres de 52 metros de altura e de 8 metros de largura.
Os altares, todos em legitimo mármore, foram construídos e solenemente inaugurados entre os anos de 1925 e 1929. O Púlpito, todo em legítimo mármore de cores e incrustações de alto relevo de madeira, imitando bronze, foi inaugurado em 30 de novembro de 1930. A sagração dos sinos realizou se a 22 de janeiro de 1928 por Dom José Carlos Aguirre e a inauguração da Via Sacra aconteceu em 6 de março de 1927.
A presença franciscana no Pari não se limita à igreja, mas os frades são responsáveis pelo Colégio Santo Antônio do Pari, que é administrado pela Associação Bom Jesus, e também pelas obras sociais da Província, através do Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras), que só em São Paulo tem cinco grandes projetos sociais, como Centro Infantil Clara de Assis, o Centro de Referência do Idoso Casa de Clara, o Centro de Reinserção Social São Francisco, o Centro Franciscano de Luta contra a Aids e o Serviço Franciscano de Apoio à Reciclagem, além do Projeto Franciscanos pela Eliminação da Hanseníase.