Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

O esplendor de Stefany nas Missões

19/07/2019

Notícias

 

Rio de Janeiro (RJ) – No primeiro dia das Missões Franciscanas da Juventude, dificilmente alguém dormiu antes da meia-noite. Foi uma jornada intensa. Às 7 horas, no dia seguinte, meio sonolentos, os jovens já estavam no Salão de Eventos e foram acordados pelos animadores de palco. Entre eles estava uma bela morena como seu próprio nome define. Sorridente, magra e alta, pulava e dançava sem parar. Ela já havia chamado a atenção no dia anterior, quando entrou no salão lacrando com o esplendor azul.

Stefany de Oliveira Belo, natural de Nilópolis, na Baixada Fluminense, não mede esforços para fazer o que gosta e ainda mais por uma boa causa. “Quando a gente faz um trabalho com propósito muito bonito, quando a gente acredita que isso pode mudar as pessoas e que a gente, de certa forma, está sendo um exemplo para os mais jovens, vale a pena. A gente faz o que tem que fazer. Se tiver que botar um esplendor e fingir que é passista, a gente faz. Se é para pular, a gente pula; se tiver que rezar, a gente reza; se tiver que varrer, a gente varre. Tudo pela honra e glória de Deus e da melhor forma para que os jovens sintam isso”, acredita esta jovem, que fora do palco parece ter mais que sua idade de 19 anos, pela maturidade que demonstra. E ela apenas está começando este processo de formação, já que se concentra nos estudos para passar no Enem e fazer o curso que mais gosta: História.

Stefany cresceu na Comunidade Nossa Senhora de Fátima, da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, assistida pelos frades da Província da Imaculada Conceição. “Eu literalmente cresci ali. Desde pequena, participei de tudo, a começar pela catequese, onde tinha como catequista a Aline, que está na Bahia e participa destas Missões. Ela também era coordenadora da catequese nesta comunidade. Foi ela que nos mostrou um pouco de como ser franciscano, de como ser cristão, de não estar somente dentro da igreja, mas estar dentro de uma “Igreja em saída”, como quer hoje o nosso Papa. A gente sempre teve esse exemplo”, recorda Stefany, que depois começou a fazer parte da Pastoral da Juventude, onde está até hoje. “O meu grupo jovem faz 19 anos neste ano. Então, tem a minha idade. Eu cresci com eles. Via a atuação deles na comunidade e queria ser igual”, observa.

Não é só na Igreja que Stefany encontra apoio e referência. A família está na base de tudo. “Meus pais são católicos. Por parte de pai, todos são católicos. Pelo lado da minha mãe, é misturado. Minha mãe, minha tia e meu pai são muito presentes na Igreja. É o exemplo que tenho dentro de casa”, diz Stefany, que tem uma irmã, Iasmin, participando pela primeira vez destas Missões. “Mas somos em três. Na festa de São José, uma mulher disse que ia largar o emprego porque não tinha ninguém para ficar com o filho dela. Aí minha mãe propôs cuidar dele. De manhã até a tarde, ele ficava lá em casa. E o vínculo foi ficando tão forte que hoje digo que tenho dois irmãos”, revela.

Sua história com as atividades das juventudes franciscanas começou com uma foto. “A primeira vez que tive vontade de participar de um evento franciscano foi porque vi no Facebook quatro amigos que foram para uma caminhada franciscana e estavam radiantes na foto. Deu vontade de ter um sorriso igual. Aí eu falei assim: ‘Tia Aline, eu não sei para onde vocês foram, só sei que na próxima quero estar junto’. Desde então, comecei a fazer o itinerário franciscano”, explica Stefany, que já participou das Missões de Curitiba, Bauru e Agudos, da Caminhada de Campos do Jordão, e representou a Província num Curso de Verão em São Paulo. “Tenho gratidão pelos frades que nos dão formação e aos jovens que pude acompanhar”.

Para ela, o depoimento de Bruna, a mãe do garoto Marcus Vinicius, assassinado a caminho da escola, marcou estas Missões. “Eu chorei muito. Já perdi alguns amigos para o tráfico. Uma vez, um tio que era motorista de kombi, foi morto (Stefany se emociona). Quando a gente ouve um testemunho desses é muito fácil entender e reviver tudo o que acontece ao nosso redor. Quando ouvia a história dessa mãe (Bruna), eu me emocionava muito vendo a firmeza com que ela sempre estava diante das câmeras. Ela tirava forças não sei de onde para denunciar os abusos e evitar que outros  passem pelo mesmo drama”, observou.

No seu depoimento, Bruna lembrou do garoto Kauan Peixoto, de 12 anos, da Comunidade de Chatuba, atingido no abdômen, na perna e no pescoço por policiais. “Nós, do grupo de Jovens, fazemos muitas missões numa ONG que tem à beira do rio de Mesquita e esse menino era assistido por essa ONG. Eu já acompanhava ele há uns dois ou três anos. Ele era um menino levado; queria sempre mais uma bala, mas tinha um bom coração, pois cuidava para que o outro colega também ganhasse o saquinho de bala. Quando a gente soube da morte dele, ficamos muito tristes. E mais ainda porque tentaram passar que ele era envolvido com o tráfico. Foi descoberto depois que os policiais realmente colocaram coisas no corpo dele para que ele parecesse infiltrado no tráfico. Muitos jovens são usados para transportar drogas e são chamados de “aviãozinhos”. Mas ele não era. A gente o conhecia”, revolta-se.

Na animação dos jovens com o seu colega Luís Felipe

Para ela, o quadro representando Jesus negro e crucificado retratou toda a realidade do Rio de Janeiro e de outros estados do Brasil. “Muitos Jesus são mortos todos os dias, pessoas que teriam um futuro brilhante e que, infelizmente, têm suas vidas interrompidas por uma bala perdida, que, na verdade, é uma ‘bala achada'”, lamenta.

Para ela, uma apaixonada por História, o Brasil regride no tempo: “Já vimos isso mais de uma vez”. Mesmo assim, ela não perde a esperança: “É preciso dar as mãos – ninguém solta a mão de ninguém – e com certeza vamos mudar essa situação. Talvez não agora, mas acredito que as fichas vão cair e as pessoas vão entender a real importância de estarem ligadas em políticas públicas, em causas sociais, entender o real papel da política e dos políticos na nossa sociedade”, diz com sabedoria.

Não preciso nem perguntar qual escola de samba é sua preferida, não é mesmo?

Moacir Beggo (foto principal de Frei Augusto Luiz Gabriel)