Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

O compromisso na defesa dos “ninguéns”

24/10/2018

Notícias

Frei Gustavo Medella

Cidade da Guatemala – Os temas da imigração e do cuidado com a casa comum deram a tônica das conferências desta quarta-feira, dia 24 de outubro, no III Congresso Missionário Franciscano. Frei Tomás Gonzalez, frade mexicano que dirige um trabalho com imigrantes na fronteira entre o México e os Estados Unidos, fez uma provocação aos participantes do Congresso. “ O tema que vou trabalhar é a mobilidade humana e seu impacto na cultura de nossos povos. No entanto, o mais importante é saber o seu impacto em nosso ‘ser franciscano’”, frisou. Frei Tomás também lembrou que o Povo de Deus, conforme narra a Sagrada Escritura, fundou-se numa situação de mobilidade humana. Ele recordou a passagem do Livro do Êxodo que diz: “Não explore o imigrante nem o oprima, porque vocês foram imigrantes no Egito” (Ex 22,20). Assinalou também que o nascimento de Jesus, o Natal, ocorreu num contexto de perseguição, de exílio e de genocídio. “Precisamos reconhecer os sinais dos tempos. Temos de perceber que, nas situações de mobilidade, especialmente de mobilidade forçada, Deus está presente de forma imanente”, advertiu.

O frade mexicano também aproveitou para apresentar alguns requisitos necessários para se colocar a serviço dos migrantes. O primeiro passo é conhecer a realidade e buscar um contato próximo com as pessoas que vivem esta situação. Em segundo lugar, todo aquele que se voluntaria a trabalhar diante desta realidade precisa agir de maneira afetiva e comprometida com o drama que estes irmãos vivem. Frei Tomás também ressaltou que é fundamental que a Ordem, a partir do Governo Geral e em suas entidades, se empenhe ao máximo na defesa dos irmãos que vivem esta situação.

OS NINGUÉNS

Na abertura de sua conferência, Frei Tomás atraiu a atenção de todos ao recitar, em tom emocionado, um trecho da poesia Os ninguéns, de Eduardo Galeano. Segue uma tradução livre:

Os ninguéns: os filhos de ninguém, os dono de nada.
Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos:
Que não são embora sejam.
Que não falam idiomas, falam dialetos.
Que não praticam religiões, praticam superstições.
Que não fazem arte, fazem artesanato.
Que não são seres humanos, são recursos humanos.
Que não têm cultura, têm folclore.
Que não têm cara, têm braços.
Que não têm nome, têm número.
Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.
Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata.

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POR UMA LEITURA LATINO-AMERICANA DA ENCÍCLICA LAUDATO SI’

Frei Rodrigo Peret, frade brasileiro envolvido em questões sociais e ambientais no Brasil e no mundo, trouxe para os congressistas uma reflexão sobre a questão do extrativismo e da exploração que sofrem diversos países de América Latina. Frei Rodrigo explicou que este tema não diz respeito apenas à extração de minerais e de petróleo, mas toca muitos tipos de exploração de bens naturais com finalidade de lucro. “Aquilo que o capitalismo chama de ‘recursos naturais’ deve ser denominado de ‘bens naturais’. Chegamos à situação absurda de colocar preço até nos fluxos da vida, como ocorre no caso da compra dos créditos de carbono”, protestou.

Frei Rodrigo também chamou a atenção para o fato de, com frequência, o Estado se colocar a serviço do mercado nas situações de extrativismo, colocando em segundo plano a soberania nacional. Além de elencar estes e outros desafios, o frade também apresentou algumas “luzes no caminho”, iniciativas que podem fazer frente aos efeitos nocivos da exploração dos bens naturais. Dentre estas luzes, destacou:

– Maior oposição organizada, apesar dos riscos.
– Defesa do direito à consulta, à participação cidadã e ao consentimento.
– Reconhecimento do direito de defender os direitos.
– Articulação em diferentes níveis.
– Caminhar ao lado dos pobres.

Para concluir, o frade recordou a importância do comprometimento da Ordem e da Igreja na reação contra uma economia que mata.

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PARTILHA DE INICIATIVAS E OFICINAS TEMÁTICAS

Além das conferências e celebrações, também fazem parte do Congresso a partilha de iniciativas missionárias e de evangelização. Na tarde de terça-feira, os congressistas puderam conhecer o projeto das Famílias Missionárias Franciscanas, coordenado pelo casal Marco Laguatasi e Maribel León, do Equador, e a experiência de Missão Compartilhada entre frades e leigos na Conferência do Cone Sul (Chile, Argentina e Paraguai), apresentada por Frei Manuel Pezo, do Chile. Também tiveram início na terça-feira as oficinas temáticas, onde os congressistas, divididos em grupos menores, refletem sobre diferentes áreas da evangelização à luz de provocações suscitadas durante o Congresso.

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