Na Fundação de Angola, Capítulo das Esteiras celebra o Jubileu dos Estigmas e momento de transição para Custódia
31/01/2024
A Fundação Franciscana da Imaculada Mãe de Deus de Angola (FIMDA) iniciou seu Capítulo das Esteiras no dia 30 de janeiro, celebrado na Fraternidade São Francisco de Assis, de Kilamba Kiaxi, Província de Luanda. Esta Fraternidade tem como missão ser casa formativa para os frades em tempo de Profissão Temporária que estejam cursando a Filosofia e de atender pastoralmente o Kimbo São Francisco e a Paróquia São Lucas. Estão reunidos cerca de 50 frades que residem, atualmente, nas Fraternidades da Fundação e alguns que vieram do Brasil para a ocasião, inclusive o Ministro provincial, Frei Paulo Roberto Pereira.
Após a oração inicial que deu abertura ao Capítulo das Esteiras, Frei Paulo acolheu a todos os irmãos, agradecendo por sua disposição à participação e celebração deste momento significativo da Ordem – os Centenários Franciscanos, especialmente, da impressão dos Estigmas de São Francisco, celebrado neste ano –, e para a própria FIMDA, após ter sido obtida a aprovação para o início da transição institucional para se tornar uma Custódia Dependente da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil. Como orientado pela Família Franciscana, o Ministro incentivou aos irmãos para que estendessem esta celebração jubilar com iniciativas que integrassem as demais congregações franciscanas e os franciscanos seculares no decorrer do ano.
UMA REVIGORADA PRESENÇA EM ANGOLA, ILUMINADA PELOS ESTIGMAS DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS
Tomando a palavra, Frei Gilberto da Silva, doutor em Espiritualidade Franciscana, professor no Instituto Teológico Franciscano e vice-mestre para os frades de profissão temporária em Petrópolis (RJ), conduziu os irmãos por uma reflexão a partir dos Estigmas de São Francisco de Assis e como estes podem ser uma lição para o revigoramento da missão franciscana em Angola.
Frei Gilberto iniciou sua reflexão provocando os irmãos sobre o significado dos estigmas. Segundo ele, para compreendê-los, é preciso recordar as chagas de Cristo, feridas provocadas em um homem inocente. Elas estão relacionadas com a cruz, sinais da resposta odiosa à mensagem de amor trazida por Cristo, ferido por um sistema social, político e religioso que rejeitou sua Palavra e buscou eliminá-la. Além disso, após a ressurreição, as chagas assumem o sentido de marcas que comprovavam aos discípulos a profunda experiência da redenção oferecida. Tornam-se sinais de comprovação de sua humanidade e divindade. “As chagas em São Francisco de Assis devem ser lidas a partir de sua origem em Cristo”, concluiu o frade.
Após esta introdução, Frei Miguel Tchiteculo Tchindjombo Filipe leu o texto dos números 94 e 95 da Primeira Vida de São Francisco de Assis, de Frei Tomás de Celano, que narra o momento da impressão das chagas e as descreve. A partir do que foi lido, Frei Gilberto apresentou uma segunda dimensão dos sagrados sinais que é seu sentido de crise. Chamou a atenção que a Bula de Canonização do Santo, escrita pelo Papa Gregório IX, apenas dois anos após a morte de São Francisco não mencione os estigmas. O frade explanou que uma das possíveis razões era que estes sinais poderiam ser provocação à própria Igreja daquele tempo e suas opções, evidenciando certa distância da identificação com o Cristo Pobre e Crucificado, de um compromisso com os pobres e chagados de seu tempo. Os estigmas de São Francisco apontavam nesta direção.
O sinal de crise também se volta sobre a história da Ordem, visto que esta pode sofrer a tentação de abandonar sua específica constituição para se aproximar das demais congregações religiosas em sua estrutura e organização. Recorde-se que, até o Concílio Vaticano II, haviam três classes de frades: os terciários, os irmãos e os clérigos, com noviciados distintos e com trabalhos e relações marcadas por uma hierarquia estática.
Por fim, Frei Gilberto apresentou uma terceira dimensão dos Estigmas: estes são um sinal intenso do amor de Deus, e não somente porque foram marcados como feridas pelo Serafim alado. O frade explicou que, logo depois de receber os Estigmas no Monte Alverne, São Francisco canta os Louvores ao Deus Altíssimo. Nesta oração, ele emprega múltiplos atributos para se referir a Deus – Senhor, o Único que opera maravilhas, Rei, Sumo Bem, etc – até concluir a oração com a expressão “onipotente, misericordioso redentor”. Para Frei Gilberto, só quem é marcado profundamente por uma experiência sagrada pode cantar a Deus deste modo livre. Questionou: como seremos esta imagem cristalina de Deus no mundo?
A partir desta pergunta, os frades foram provocados a refletir sobre como os estigmas, lidos a partir destas três lições (sinais de dor livremente assumida, sinais de crise enfrentada, sinais do profundo amor de Deus revelado), podem iluminar o futuro da presença em Angola. Provocados a pensar sobre como estes podem provocar em cada frade a libertação de experiências de crise, de desvios ou situações difíceis passadas no passado, em vista de uma perspectiva renovada e cheia de esperança do amanhã? E, ainda, sobre como revigorar a presença dos franciscanos em terras angolanas de modo que esta seja verdadeiro sinal do amor de Deus ao povo.
Após as discussões e falas de diversos irmãos, Frei Gilberto concluiu sua reflexão com aquilo que ele entende ser cinco ensinamentos, traduzidos como cinco chagas, que podem impulsionar o revigoramento da vivência vocacional e a presença da Ordem em qualquer lugar:
• A chaga da formação integral e continuada do Frade Menor, que inclua a formação da saúde afetiva, a formação profissional e ministerial qualificada, a formação para uma vida consagrada compreendida e assumida, etc.
• A chaga do entusiasmo, do vigor, da responsabilidade pela própria vocação, do entusiasmo diante dos desafios e obstáculos que se apresentam à missão, diante das carências e potencialidades institucionais, diante do povo que espera dos frades testemunho e serviço.
• A chaga de abraçar sempre mais um projeto fraterno e pessoal de vida e missão.
• A chaga de reconhecer a graça de Deus e de se abrir para o futuro.
• A chaga de continuar a missão em meio do povo angolano.
PASSOS EM DIREÇÃO AO AMADURECIMENTO INSTITUCIONAL
Na sequência, Frei Ivair Bueno de Carvalho, Presidente da FIMDA, tomou a palavra para apresentar os encaminhamentos que a Fundação tem dado em vista da promoção do amadurecimento institucional da entidade de modo que a continuar a firmar bases sólidas para o crescimento da Ordem em Angola.
Segundo Frei Ivair, este tem sido um trabalho assumido por muitos frades, que receberam no Capítulo de 2023 da FIMDA, a incumbência de trabalhar neste processo de amadurecimento em questões administrativas, econômicas, evangelizadoras e formativas.
A partir de então, passos importantes foram dados em questões patrimoniais, seguridade social e trabalhistas, assim como do reconhecimento jurídico da entidade perante o governo. Almejava-se uma caminhada institucional mais sinodal e transparente e uma maior presença do Conselho da Fundação nas Fraternidades. Sentiu-se o avanço com o contato com as instituições eclesiásticas de Angola, como a CEAST (Conferência Episcopal de Angola e São Tomé) e a CSMIRA (Conferência dos Superiores Maiores Religiosos de Angola), com a alegria de perceber que o reconhecimento da credibilidade dos serviços prestados atualmente pela Fundação. Agora os esforços se voltam à firma de convênios com as dioceses onde temos presença evangelizadora.
Quanto à evangelização, os frades buscam refletir sobre o modo como atuam em cada presença, hoje predominantemente paroquial. Perguntam-se sobre outras possibilidades de evangelização que possam ser fortalecidas em Angola, como a educação, solidariedade, saúde… Isso se deve ao crescimento rápido que FIMDA tem vivido nos últimos anos, com novos irmãos retornando a Angola após a conclusão de sua formação inicial. Deseja-se que os frades estejam próximos dos núcleos tanto urbanos quanto das aldeias. Nesta etapa da caminhada da entidade, urge elaborar um Plano de Evangelização que seja específico para a realidade angolana.
Sobre a formação, deve-se promover uma sólida formação a todos os irmãos que atuam neste serviço, de modo que possam bem acolher e acompanhar as vocações que chegam para que sejam verdadeiros Frades Menores. Sente-se que esta formação deve, inclusive, ser oferecida a outros irmãos, em diversas atividades da evangelização e profissionalização, de modo que sejam melhor capacitados para assumir funções de animação e organização da entidade. Os frades reforçaram a necessidade de amadurecer o diálogo fraterno entre os frades e de estabelecer critérios mais claros quanto à acolhida de novas vocações que estejam de acordo com as reais capacidades de acompanhamento dos novos irmãos.
Frei Rodrigo da Silva Santos