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Muticom: “Precisamos de integração”, pede Mosé

26/07/2021

Notícias

A 12ª Edição do Mutirão de Comunicação teve início na tarde desta sexta-feira, 23 de julho, e terminou no sábado, 24. A assessora de Comunicação da CNBB, Manuela Castro, e o presidente da Signis Brasil, Alessandro Gomes, foram os mestres de cerimônia que conduziram a programação. O presidente da Signis Brasil reforçou o objetivo do Mutirão: “Ser um espaço de estudo, troca de experiências e apontamentos de novos rumos para a comunicação católica brasileira”.

A mesa de abertura, às 17h30, foi composta pelo presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e arcebispo de Belo Horizonte (MG), Dom Walmor Oliveira de Azevedo, pelo bispo auxiliar de Belo Horizonte e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da CNBB, Dom Joaquim Giovani Mol.

Dom Walmor leu uma mensagem enviada especialmente ao encontro pelo Papa Francisco: “Os cristãos são chamados a ser um sinal de esperança e solidariedade na sociedade brasileira tão atingida pela atual pandemia (…). Ser sinal de esperança significa em primeiro lugar ser instrumento de reconciliação e unidade, missão da Igreja no Brasil”, diz um trecho da mensagem.

Na mensagem, o Papa afirma que os comunicadores cristãos devem estar na linha de frente na promoção de uma comunicação que constrói pontes, que busca o diálogo e supera as aporias ideológicas, certo de que todos somos responsáveis pela comunicação que fazemos, pelas informações que damos e pelo controle que podemos, conjuntamente, exercer sobre as notícias falsas, desmacarando-as. O Santo Padre enviou a todos os participantes uma bênção apostólica e pediu que rezem por ele.

Massimo di Felice: “70% da comunicação que circula pelas redes não é por algoritmos”.

A palestra magna cujo tema foi “Por uma comunicação integral: o humano nos novos ecossistemas”, foi proferida pelo doutor Massimo di Felice, da Escola de Comunicação e Artes (ECA) – USP. Ele abordou quatro aspectos em sua análise: o progatonismo dos não humanos e o fim de um tipo de mundo, a evolução da conectividade e a crise da ideia ocidental de sociedade, data ecology: os ecossistemas digitais e a comunicação biosférica e o comunitarismo datificado.

O professor chamou a atenção para o fato de que hoje, com a internet 2.0, 70% da comunicação que circula pelas redes não é produzida pelos seres humanos mas por algoritmos, organizados pelas big datas, empresas como Google, entre outras.

Às 19h seguiu uma apresentação cultural e às 19h15 teve início a Conferência 1 com o tema “Comunicação para a paz em tempos de fake news e ultraconservadorismo”, apresentada pela professora e doutora Magali Cunha. Em sua 12ª edição, de forma totalmente online, o evento conta com mais de 5 mil inscritos, em 6 conferências, apresentações culturais, reflexões e diálogos. A temática principal será “Por uma comunicação integral: o humano nos novos ecossistemas”.

“Comunicação para o bem viver em tempo de máxima desigualdade”

A parte do início da tarde do sábado, no Mutirão de Comunicação, foi dedicada às conferências. A primeira delas com o título “Comunicação para o bem viver em tempo de máxima desigualdade” foi proferida pela professora e doutora Viviane Mosé.

Na ocasião, ela comentou sobre os desafios enfrentados pela sociedade hoje, principalmente para se comunicar. “Para falarmos sobre comunicação não podemos fugir da visão dura e difícil. Temos que ter consciência sobre o processo que estamos enfrentando, que é a possibilidade da extinção da vida humana no planeta Terra”.

Viviane afirmou que vivemos em uma sociedade exaurida. “Temos uma exaustão ambiental. Somos uma sociedade pandêmica, estamos vivendo uma e viveremos outras. Nossa relação com a Terra e o ambiente fez com que nos tornássemos hospedeiros de vírus”.

A professora falou sobre o primeiro conceito que todos devem trabalhar em comunicação: enxergar que o ser humano não faz parte da natureza, ele é a natureza.

Viviane considera que o maior desafio da comunicação hoje não é usar técnicas para se comunicar, mas fazer o resgate da existência, do valor da vida -, que não está vinculado “a compras, produtos, serviços”.

A professora considera que vivemos em uma guerra de forças. “É no domínio da informação que a guerra se instala. Estamos falando com pessoas que trabalham com comunicação e que têm que lutar para dar alguma informação”, disse.

Viviane afirmou que há uma guerra horizontalizada por poder e que ela está presente também na comunicação. Salientou ainda que se quisermos comunicar algo devemos partir de alguns pontos fundamentais de nossa existência.

“Nossa ação política é comunicar, mas precisamos comunicar eixos. A dica que eu dou é que cada setor, cada órgão, cada ano, seja ordenado por uma criação de um universo de valores. É preciso refazer esse universo. Precisamos criar valores para estabelecer caminhos”, indicou.

Viviane disse, ainda, que é necessário ordenar pontos para se comunicar. “Precisamos estabelecer limites e direções. Comunicar deve ser comunicar o processo e não a ponta”, disse.

A professora salientou algumas ações que podem ser feitas para fortalecer a comunicação. “Precisamos entender que estamos em uma guerra de informação. Entender quem somos, quais são os valores trabalhados; precisamos nos organizar em um grande corpo para estabelecer eixos; comunicar em rede”, disse.

Para Viviane é fundamental a participação da Igreja no atual momento e que seja feito o resgate dos valores mínimos em comum, porque “a tendência do mundo é a desintegração. Precisamos de integração. É preciso ordenar a comunicação em princípios”, finalizou.

Utopias do mundo integral

A segunda conferência da tarde foi sobre “Utopias do mundo integral”, com o professor e doutor Carlos Ferraro, também Presidente de Signis ALC – Argentina.

O professor apresentou uma reflexão sobre o conceito de utopia. “Felizmente há uma comunhão de ideias sobre o que é utopia”, disse.

Para construir uma utopia, segundo o professor, é necessário criar uma lógica, uma nova maneira de pensar. “Sem perspectivas de ação e reflexão não há utopia”, disse.

Carlos Ferraro citou também partes da Encíclica Fratelli Tutti, do Papa Francisco, onde argumenta que o pontífice é utópico e traz um bom diagnóstico do funcionamento do mundo atual, crítico e pró-ativo.

Segundo Carlos, o Papa Francisco traz um grande projeto de paradigmas também na Laudato Si.

“A Laudato Si’ traz um novo paradigma: o da Ecologia Integral, onde articula as relações fundamentais da pessoa humana consigo mesma”, disse.

O professor também explicou sobre a utopia do bem viver. De acordo com ele, o termo se define como um paradigma legitimado que busca dialogar encontrando e ampliando a noção de sociedade e de Estado para a presença viva de visões de mundo da vida comunitária em harmonia.

Outro tipo de utopia citado por Carlos é a Educomunicação, conjunto de ações que um grupo de pessoas desenvolve intencionalmente para promover ecossistemas abertos, francos, democráticos e participativos.

Carlos disse que uma grande preocupação que todos devem ter é como manter os princípios utópicos da edocomunicação na nova cultura digital. Na ocasião, tratou sobre os conceitos de Big Data, inteligência artificial e inteligência biológica. “Essa nova cultura digital incorpora valores que até antes não tínhamos. Há uma variedade de formatos, de tecnologias, de simbologias”, disse.

Por fim, o professor concluiu que é importante instalar o conceito de Utopia. “Sem utopia não há vida”, disse.

Influenciadores ou influenciados

A terceira conferência da tarde foi com a professora e doutora Elizabeth Saad, com a temática “Comunicação integral: influenciadores ou influenciados?”.

Elizabeth começou sua apresentação falando sobre o cenário de influência. “É um cenário de disputa de protagonismos e poderes sustentados pelas facilidades dos ambientes digitais e é nele que encontram-se os influenciadores”, disse.

Na sequência, a professora utilizou pesquisas que comprovam quais são as plataformas de mídias sociais mais utilizadas no mundo. “É de se considerar que todo esse conjunto de plataformas sociais estimula processos que geram algum tipo de impacto nos sujeitos que frequentam esses ambientes”, salientou.

Visibilidade x Influência – Conforme Elizabeth, tanto visibilidade como influência são conceitos históricos. “O que mudou foram as ferramentas de visibilização, imagens, conteúdos”.

A professora explicou que visibilidade não é o que é visto, mas aquilo que se torna possível ver. “Para ser visto hoje as pessoas utilizam certas plataformas”.

Essa visibilidade, de acordo com ela, pode estar organizada em dois tipos de se estar visível: seja uma visibilidade midiática (Tvs, cinema) ou por meio de mídias digitais multidirecionais.

Elizabeth disse que ser visível não significa ser influente. “O primeiro ponto da visibilidade é falar sobre selfie. As selfieis são frutos dessa visibilidade atual. A selfie sozinha não configura um influenciador”.

O segundo ponto abordado pela professora foram as celebridades. “As celebridades passaram a ser pontos de referência, o que os tornam influenciadores. São pessoas que mudam a opinião de seus grupos a partir de suas visões”, abordou.

Os influenciadores, segundo a professora, são fruto da cultura popular, figuras aspiracionais e que desempenham papel importante na discussão de determinados assuntos. Por fim, a professora também explicou sobre os tipos de influenciadores.

SEGUNDO DIA

O segundo dia de atividades na 12ª Edição do Mutirão de Comunicação começou com uma mensagem do arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Walmor Oliveira de Azevedo, sobre o Pacto Pela Vida e pelo Brasil assinado e apresentado no dia 7 de abril de 2020, no Dia Mundial da Saúde, que busca uma ação propositiva para a “grave crise” enfrentada pelo Brasil – sanitária, econômica, social e política.

“As instituições signatárias do Pacto pela Vida e pelo Brasil trabalham para consolidar uma cidadania que se alicerça na solidariedade. Clamam por políticas públicas capazes de amparar os mais pobres com adequado tratamento da vergonhosa desigualdade social. Para alcançar um tempo novo de mais justiça e paz, a sociedade brasileira precisa assumir o seu protagonismo, sua responsabilidade e seu compromisso”, destacou dom Walmor no vídeo.

O Pacto pela Vida e pelo Brasil é assinado pela CNBB, juntamente com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Comissão Arns, a Academia Brasileira de Ciências, a Associação Brasileira de Imprensa e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Em seguida, o bispo Oeiras (PI) e membro da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da CNBB, Dom Edilson Nobre conduziu o momento de espiritualidade diretamente do Centro de Espiritualidade da PUC Minas.

Em seguida, o jornalista e doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Moisés Sbardelotto, deu início a primeira conferência do dia. O tema de sua apresentação foi ‘Era do onlife: real e virtual se (com)fundem. Também na Igreja?’.

Moisés Sbardelotto falou do impacto ecológico do digital, das relações sociais e do conhecimento. Ele afirmou que o digital é uma realidade humana encarnada no planeta, na vida, nas existências porque é uma realidade sociocultural: “A conectividade se tornou uma dimensão existencial, vivemos conectados, praticamente nunca deixamos de estar conectados, mesmo quando a gente está longe das telas. Mesmo com o celular tá desligado a nossa vida online continua lá ativa. As pessoas continuam dialogando conosco, embora, a gente não esteja na frente da tela”.

Para Sbardelotto os aspectos socioculturais também vão dando novos significados pra essa realidade humana encarnada. “Sendo uma realidade humana encarnada, o digital também pode ser pensado como logos teológico, um lugar teológico, um ambiente de experiência do sagrado, do religioso e, do ponto de vista cristão, também da presença de Deus, um ambiente de encontro com o Senhor. A gente sabe que o nosso trabalho como comunicador e comunicadora cristãos, como Pascom, esse também representa a nossa comunicação como um caminho, como uma forma de encontro das pessoas com a pessoa de Jesus. Isso também pode ocorrer, portanto, no ambiente digital, desde que nós pensemos esse ambiente digital por parte da realidade humana, então ambiente paralelo, uma realidade a parte”, disse.

O conferencista conceituou também que a realidade manifesta virtualidade e que toda virtualidade é real. “Quando a gente fala do digital, isso não significa que é sinônimo de virtual. Nem tudo que está no ambiente digital é virtual e mesmo estar no ambiente digital sendo virtual, continua sendo real. Então, aquela dicotomia entre real e virtual, por favor, abandona de vez. Não faz sentido nenhum sob nenhum ponto de vista e, de preferência, evitem falar de virtual como específico do ambiente digital”, apontou.

De acordo com Sbardelotto, a humanidade está cada vez mais conectada na era digital e portanto essa é a condição do “onlife”- de perceber a relação da vida biológica, social com o virtual.

“É levar em conta quem está do outro lado da tela, dialogar com essas pessoas, entender quem elas são, quais suas necessidades, quais são seus sofrimentos, quais sãos as suas alegrias. E com isso, promovendo uma comunicação interpessoal, pessoa a pessoa na presença da Pessoa com maiúsculo, que é Jesus, a gente pode viver então essa comunicação integral, complementar que fortalece as nossas próprias comunidades presenciais, portanto. Então, como síntese, é isso: a gente tem que abandonar essa lógica do ‘ou’. ‘Ou é digital ou é real’, ‘ou é online ou é offline’, esses dualismos, isso não nos ajuda no ponto de vista pastoral. Como a própria tradição católica sempre fez, ao longo da história, é preciso trabalhar com a lógica do ‘e’. É como promover uma boa comunicação, no ambiente digital e também no ambiente presencial, pensar justamente essa integralidade nos processos”.

‘Retomar as rédeas do mundo: o humano-cristão nos novos ecossistemas à luz da Fratelli Tutti’.

A segunda conferência da manhã deste sábado foi conduzida pelo doutor em Ciências da Comunicação e professor da PUC de São Paulo, Norval Baitello Júnior. O tema foi ‘Retomar as rédeas do mundo: o humano-cristão nos novos ecossistemas à luz da Fratelli Tutti’.

O professor fez uma análise de questões elementares da comunicação. Desde a comunicação primária, que é a comunicação dos corpos presentes no mesmo espaço, no mesmo tempo, até a comunicação terciária que é aquela que veio por meios técnicos, eletrônicos. “Todos esses recursos que vieram enriquecer repentinamente as nossas possibilidades de comunicação”, destacou.

Baitello Júnior falou sobre amor, no seu mais amplo sentido, vínculo, interação, contato físico, fraternidade, amizade, cuidado para explicar a relação com o outro, da inclusão de todos e de retomar as rédeas.

Segundo o professor, não se pode perder a esperança de construir um mundo melhor para a inclusão e não da exclusão absoluta das maiorias.

“Tomar consciência é retomar as rédeas do mundo, significa tomar consciência. Amor é vínculo, irmão é o outro, cuidar é a prevenção, é obrigação, todos e ó oikos, é nosso urgente. Um mundo são pedras fundamentais, alicerces para um mundo inclusivo igual. Somos todos irmãos. Este mundo não está dado, ele está aí para ser construído, está em nossas mãos do mercado, não está nas mãos das conexões. Está nas mãos dos humanos de todos os credos. Retomar as rédeas, construir a nossa casa, o nosso oikos. Um verdadeiro ecossistema que abrigue todos com amor. O planeta pertence a todos e não 1% que o explora e nos explora. Retomar as rédeas é criar, de fato, um mundo de amor, de vínculos, de alteridade com o outro, que inclui outro, de prevenção, que implica em obrigação e compromisso para todos, a casa de todos. Isto significa retomar as rédeas”, disse.

Mesa redonda

A primeira parte deste segundo dia de Muticom 2021 foi encerrada com a mesa Redonda – Ecologia das mídias e nas mídias católicas comandada pelos professores doutores, Adriana Braga da PUC Rio e Jorge Miklos da UNIP.

Adriana Braga explicitou um pouco do conceito de Ecologia das mídias e apresentou o pensador Marshall McLuhan, que primeiro uniu as palavras mídia e ecologias e falou também da ecologia das mídias e os fundamentos religiosos. Já o professor Jorge Miklos falou da ecologia da comunicação na agenda midiática do Papa Francisco.

O professor Jorge trouxe o conceito de Ecologia da Comunicação a partir dos estudos do comunicólogo Vicente Romano. “Ele falava que comunicação e cultura são conceitos que caminham indissoluvelmente unidos. Para conhecer uma cultura é preciso entender o que se desenvolve no processo de comunicação”.

O evento é promovido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com realização da Pascom Brasil, Signis Brasil e Rede Católica de Rádios e patrocínio da Agência Parábola, CiaTicket, Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos, Magnificat e apoio da Lumina Viagens e Turismo, PUC Minas e arquidiocese de Belo Horizonte.


Fonte: CNBB