Missões lembram vítimas de Mariana e Brumadinho
30/01/2020
Frei Augusto Luiz Gabriel e Moacir Beggo
Xaxim (SC) – O primeiro dia das Missões Franciscanas da Juventude, que começou com oração, terminou com um dos momentos mais fortes e questionadores deste início. A mística que começou às 20 horas e que seria feita em procissão pelas ruas de Xaxim, acabou sendo feita dentro do ginásio de esportes onde estão as principais atividades das Missões nos dois primeiros dias.
Mariana e BrumadinhoMariana, Brumadinho Uu, uu, uu… Em busca de minerais O profeta falou e o meu povo alertou Acidente não foi Mariana, Brumadinho Mas os grandes não ligaram! Cientista falou Acidente não foi Mariana, Brumadinho |
Mas os grandes não ligaram!”A gente faz um plano, Deus faz outro. Mas isso não vai diminuir em nada a nossa experiência aqui dentro”, disse Frei Diego Melo, que animou esta oração dos jovens. Ela começou recordando as vítimas das tragédias de Mariana e Brumadinho, que foram representadas por um grande recipiente com terra vermelha simbolizando a lama dessas barragens. Três jovens deitaram na lama e, com gestos, mostraram as pessoas desesperadas buscando salvamento. “Essa tragédia que vitimou tantas famílias é sinônimo de assassinato; é sinônimo de ganância, que gerou tantas mortes; é sinônimo de corpos que não foram encontrados para serem sepultados”, denunciou Frei Diego.
“Num gesto muito simples, nós queremos, como franciscanos e franciscanas, nos solidarizar com todas as vítimas, com todas as famílias, com todas aqueles que passaram por isso. Nós queremos romper com a cultura da indiferença, nós queremos romper com frieza dos números, porque por trás desses números existem vidas”, explicou Frei Diego. Enquanto o telão mostrou o vídeo de Pe. Zezinho, “Mariana e Brumadinho”, foi feita uma procissão dentro do ginásio. “Enquanto esses jovens representam aquele drama vivido por tantas pessoas, vocês vão fazer um círculo e passar pela lama, tocá-la com a mão. Irão sentir o gelo, a densidade e pedirão a Deus que esta sensação os ajude a serem solidários com todos aqueles que são vítimas de crimes ambientais”, explicou Frei Diego.Terminado este ritual de tocar a lama, Frei Diego pediu que esses três jovens fossem abraçados, para representar o último abraço dos seus entes queridos. “Tantos pais e mães que saíram de casa para trabalhar e nunca mais voltaram”, disse.
“Falar de mineradores, de Mariana, de Brumadinho, é falar de vida que está sendo exterminada pela ganância, pelo desejo de explorar a natureza como nós fossemos os donos dela. As consequências estamos vendo e experimentando. Queria que aplaudissem não esses jovens, mas todas as pessoas, as famílias que perderam seus entes queridos. Que nosso aplauso seja de indignação e de profecia!”, pediu, sendo atendido demoradamente.
Dando sequência à celebração, pediu para os jovens acenderem as velas, simbolizando o desejo de ser guardiões da Casa Comum. “E nós fazemos parte dessa Casa.Nós queremos ser guardiões com os próximos, e queremos ser guardiões com as relações com Deus”, explicou.
A celebração terminou com a Adoração do Santíssimo. “Sabe gente, quem faz uma profunda experiência de Deus se torna esse Jesus que vamos adorar agora. É Ele quem amolece nosso coração para que, quando a gente vê uma tragédia como Mariana e Brumadinho, possamos chorar e não ver como uma simples notícia. E nós vamos adorar porque nos torna sensíveis, porque Ele está lá naquele pai, naquela mãe, que foi soterrada lá pela ganância de poucos. É esse Jesus que morre naquele jovem na periferia. É esse Jesus que nós vamos adorar agora, que é muitas vezes exterminado, que é muitas vezes excluído. É esse Jesus que nós encontramos na Eucaristia e que está aí dentro de você. É esse Cristo que está vivo e verdadeiro dentro de você. Ele está presente em cada irmão e em cada irmã, de modo especial naqueles que são excluídos”, exortou.
No final, pediu: “Juventude, é hora de a gente cuidar bem do nosso coração! Se a gente é amada, cuidada, sabe amar e cuidar. Se a gente é egoísta, só sabe ferir e aproveitar do outro”, concluiu.
A mística terminou com uma mensagem de Frei Diego para que nunca deixem para amanhã o que podem fazer hoje, principalmente quando podem falar de seu amor aos pais, por exemplo. Citou como exemplo a morte repentina de seu pai e, segundo ele, o que o consolou sempre foi ter dito que o amava antes de sua morte.
Ao final da mística, Frei Diego chamou ao palco dois casais que receberam o sacramento do matrimônio recentemente – João e Emanuela, de Xaxim, e Vagner Luís e Daiane, de Nilópolis – falou aos jovens sobre a importância de firmar compromisso. Lembrou com tristeza que muitos jovens que participavam das Missões, depois de casados não têm a mesma fidelidade.
Nesta quinta-feira, o dia começa com o café da manhã às 6h45. Às 8 horas têm início a oração e às 9h05 tem início a terceira palestra das Missões, que terá como pregador o Coordenador do Justiça, Paz e Integridade da Criação da Ordem Frades Menores, Frei Jaime Campos, que veio de Roma para ajudar nossa juventude a entender a importância desse serviço para a nossa Igreja e para a sociedade. Às 10h30 horas tem início as oficinas.
À tarde, os jovens participam da Missa do Envio às 15h30 e, às 18h30, veem a peça “O Auto de Francisco de Assis”, do ator Ciro Barcelos. Às 20h30 os jovens serão enviados para as 38 comunidades onde ficarão até domingo de manhã, quando acontecerá a Missa de Encerramento.
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