Mensagem da Província para a Solenidade da Imaculada Conceição de Nossa Senhora
06/12/2020
Estimados confrades de nossa Província e das outras entidades da Ordem dos Frades Menores no Brasil.
Queridas Irmãs Clarissas e nossas Irmãs Concepcionistas,
Irmãos e irmãs da Ordem Franciscana Secular e da Juventude Franciscana,
Colaboradores, voluntários, lideranças e todas as pessoas envolvidas conosco no dia a dia de nossa Missão Evangelizadora nas Paróquias e Santuários, na Comunicação, na Educação, na Solidariedade com os Pobres, nas Missões em Angola e em outras partes do Brasil e do mundo.
Querido povo de Deus!
Paz e Bem!
Esta saudação, também a ofereço em nome de nosso Ministro Provincial, Frei César Külkamp.
Maria, predestinada a ser a Mãe do Salvador, desde a sua concepção foi preservada da mancha do pecado original. Privilégio único e exclusivo daquela que fora escolhida para gerar o Verbo Encarnado em favor da humanidade e do mundo.
A verdade que o Povo de Deus sempre carregou no coração desde as origens do Cristianismo foi tema de estudo para muitas gerações de teólogos. Estes estudiosos, atentos à sabedoria divina cultivada a partir da piedade simples do povo, fizeram grande esforço para discernir e acolher esta verdade de fé que, em 1854, foi proclamada solenemente como dogma pelo Papa Pio IX.
Um dos principais personagens deste percurso teológico foi o Bem-aventurado Frei João Duns Scotus, frade franciscano, filósofo e teólogo que viveu no final do século XIII. Ele está sepultado na cidade de Colônia, na Alemanha e, sobre seu túmulo, uma inscrição descreve as coordenadas geográficas de sua vida e missão: “A Inglaterra o acolheu; a França o instruiu; Colônia, na Alemanha, conserva os seus despojos mortais; na Escócia, ele nasceu”.
Ao defender e explicitar a Concepção Imaculada de Maria, um dos principais argumentos que Duns Scotus apresentou foi o da “Redenção Preventiva”, obra salvífica realizada pelo próprio Cristo preservando sua Mãe da mancha do pecado original já antes da concepção. Mistério de um amor que se antecipa e transcende os limites do tempo e do espaço. E é justamente sobre o tema desta prevenção amorosa que gostaria de tratar por ocasião desta Solenidade tão importante na vida da Igreja e de modo especial na história de nossa Província, da qual Maria Imaculada é Mãe e protetora.
Deus se antecipa no amor. Aí está a chave para compreendermos o mistério da Imaculada Conceição. Maria, ao perceber esta ousadia amorosa de Deus, também escolheu antecipar-se no amor e no serviço a todos que d’Ela pudessem precisar. Assim foi quando tomou a iniciativa de andar quilômetros a fio, subindo e descendo morros sob o sol, para fazer companhia e ajudar sua prima grávida Isabel nas tarefas domésticas. Certamente, nem esperou receber o convite ou o pedido. Assim que soube da novidade, ela, também grávida, partiu para ser presença amorosa e disponível na vida de sua prima anciã.
Nas bodas de Caná, uma história parecida. Ela mesmo percebeu o constrangimento pela falta de vinho na festa e se antecipou, mais uma vez sem ninguém solicitar, em pedir a intercessão divina de seu Filho para que a Festa não viesse a terminar antes da hora. “Eles não têm mais vinho”, disse Nossa Senhora a Jesus mostrando a Ele, que já era um adulto, o caminho da antecipação amorosa de quem aprende a não esperar para fazer a graça da Salvação acontecer.
Muitos cristãos e cristãs assimilaram a lição da “Redenção Preventiva” ensinada por Deus na Imaculada Conceição de Maria. São Francisco de Assis, por exemplo, tinha clareza de que a primeira e decisiva iniciativa de amor nasce de Deus. Ao ser humano, infinitamente amado, resta viver os seus dias num profundo espírito de reconhecimento e gratidão, sempre buscando antecipar-se na prática e na construção do bem. É a partir desta compreensão que Francisco faz as suas escolhas, organiza sua vida e instrui os seus irmãos. Pede a seus confrades que eles se cuidem mutuamente com zelo de mãe, que jamais deixem um pobre abandonado à deriva, que sejam capazes de renunciar às próprias vontades em favor do bem do próximo e da fraternidade.
Santa Clara também viveu profundamente esta dinâmica da antecipação. As fontes históricas dão testemunho de sua disposição em assumir os serviços mais simples do mosteiro e o cuidado atencioso das irmãs idosas e doentes lavando, inclusive, os recipientes onde tais irmãs depositavam suas fezes e urina. Mais uma vez, Clara não esperava que ninguém pedisse a realização de tais tarefas, mas, diante da necessidade, era a primeira a se colocar à disposição.
Diante de tantos exemplos de generosidade e entrega, cada um de nós podemos nos perguntar se a nossa disposição de seguir Jesus Cristo tem produzido ações concretas deste amor preventivo. Nossa mente e nosso coração devem estar sempre prontos para percebermos as reais necessidades daqueles que nos circundam a fim de podermos, de forma assertiva e dinâmica, nos antecipar no serviço e na generosidade. Esta habilidade, nós a adquirimos à medida em que buscamos cultivar uma verdadeira proximidade das pessoas e de suas necessidades onde quer que se encontrem. Como cristãos, o ideal seria que nosso modo de ser e agir transmitisse a todos que conosco convivem e se encontram, ainda que sem palavras, a mesma disposição que Jesus apresentou diante do cego em Jericó, quando lhe perguntou: “O que queres que eu faça por ti?”.
Inspirados pelo mistério da “Redenção Preventiva” expresso na Imaculada Conceição de Maria, aprendamos a caminhar nesta dinâmica da antecipação, fazendo o bem sem olhar a quem e antes mesmo deste “quem” pedir. Que a antecipação cuidadosa seja nossa companheira de jornada sempre, especialmente neste desafiante tempo de pandemia que estamos vivendo, quando antecipar-se no amor também se encarna em gestos bem concretos de cuidado e atenção para consigo e para com os outros: distanciamento, higiene, máscara, respeito, carinho, atenção e todos os outros ingredientes de cuidado que tornam a vida mais bonita e saborosa.
Que Maria, Mãe Imaculada, interceda pela Igreja, pela nossa Província, por todos nós e por nossas famílias. Paz e Bem!
FREI GUSTAVO MEDELLA, OFM
VIGÁRIO PROVINCIAL