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Frei César indica o caminho aos professos solenes: “Deixar-se conduzir pela Graça de Deus”

05/12/2020

Notícias

Frei Roger Strapazzon e Moacir Beggo

 Petrópolis (RJ) – “Jamais caiam na tentação de imaginar que estão sozinhos neste caminho e que o bom êxito desta empreitada depende apenas do empenho de vocês. É claro que esforço pessoal é imprescindível. No entanto, mais radical e fundamental ainda é deixar-se conduzir pela Graça de Deus”. Esta mensagem, na bela homilia do Ministro Provincial, Frei César Külkamp, deve ser guardada como um bálsamo na vida dos cinco jovens – Frei Augusto Luiz Gabriel, Frei David Belinelli, Frei Heberti Senra Inácio, Frei Leandro Ferreira Silva e Frei Tiago Gomes Elias – que, neste sábado (5/12), confirmaram, para sempre, o seu compromisso a Deus junto à Ordem dos Frades Menores e à Igreja, através dos votos de pobreza, castidade e de obediência.

Para o religioso franciscano, a resposta definitiva e radical no seguimento de Jesus Cristo, chamada Profissão Solene, é um dos momentos mais significativos e festivos na Ordem Franciscana. Esse momento reuniu frades de toda a Província, entre eles o Vigário Provincial, Frei Gustavo Medella, familiares dos professandos e os fiéis paroquianos, tudo dentro das normas sanitárias, durante a Celebração Eucarística, às 9 horas, na Igreja do Sagrado Coração de Jesus de Petrópolis (RJ). Frei César teve como concelebrante o guardião e pároco Frei Jorge Paulo Schiavini. A celebração também foi transmitida pelas mídias sociais da Paróquia.

O MOMENTO CENTRAL DA PROFISSÃO SOLENE NAS MÃOS DO MINISTRO PROVINCIAL

O rito da profissão solene começou depois da leitura do Evangelho. O mestre Frei Marcos Antônio de Andrade chamou cada um dos professandos pelo nome. Em pé, diante do Ministro Provincial, eles responderam: “Aqui estou!”. Depois, juntos, eles fizeram o pedido para serem admitidos definitivamente na Ordem dos Frades Menores.

Frei César abriu sua homilia lembrando que a juventude do tempo de São Francisco atraía-se por vestir uma armadura e partir para o combate. Hoje, os esportes radicais atraem os jovens. “Recebem este nome porque exigem de quem os pratica uma entrega total, a partir da raiz, onde a pessoa se coloca inteiro naquilo que faz. Assim como um cavaleiro medieval distraído pode facilmente cair do cavalo ou receber um golpe de lança do oponente, um piloto de caça desatento pode derrubar a aeronave que conduz numa fração de segundo, da mesma que forma que o surfista negligente será tragado pela onda gigante que sempre sonhou pegar ou ainda o motoqueiro desavisado pode despencar com moto e tudo de uma altura que será fatal. Atividade radical exige radicalidade no empenho e na prática. Decisão radical exige radicalidade na resposta que se dá no dia a dia”, explicou.

Segundo o Ministro Provincial, na história de Francisco, o desejo da radicalidade cavaleiresca que o levaria ao suprassumo da nobreza, foi aos poucos se transformando num desejo de radicalidade evangélica. “Um processo de conversão intenso e composto de várias etapas, Francisco foi se dando conta de que, muito mais radical do que servir ao servo, por mais poderoso e sedutor que este servo pudesse ser, era servir ao Senhor, doando-se por inteiro, corpo, alma e coração, radicalmente à causa de Cristo, tornando-se um Evangelho vivo”.

“Com coragem e sabendo que para tal empenho contaria com a graça de Deus, Francisco assumiu cada uma das consequências desta escolha radical: rompeu com o sonho de tornar-se nobre, rompeu com o poderio dos bens e da riqueza do pai e abraçou uma vida que não lhe traria nenhuma garantia de sucesso, mas que lhe tomara o coração por inteiro: ‘É isso que eu quero, é isso que eu procuro, é isso que eu desejo fazer de todo coração'”, disse.

Para Frei César, na escolha decidida que fez, Francisco abandonou uma série de regalias, mas não permaneceu de mãos vazias. Abraçou para valer o despojamento de uma vida pobre, a disposição de se colocar a serviço dos últimos e a humildade corajosa e sincera de quem desejava ser o “último dos últimos”, verdadeiro irmão menor.

“Nós, frades menores, fomos apresentados a esta radicalidade franciscana. Tivemos e temos, em nossa Formação inicial e permanente, a base histórica, espiritual e teológica para darmos com certa segurança este passo radical proposto pelo Seráfico Pai. Muitos confrades nos ajudaram e continuam a ajudando a percorrermos este caminho de aprendizado contínuo, no qual nunca podemos nos considerar prontos ou acabados. Somos sempre frades a caminho, estamos percorrendo um itinerário. Este itinerário, não o fazemos a esmo, sem direção. Temos passos concretos e precisos para seguir. Escolhemos, com São Francisco e em fraternidade, percorrer o Caminho da Cruz, que é o caminho de Cristo ou o Caminho do Evangelho. ‘Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e me siga’, diz Jesus em clara e alta voz no texto bíblico de Mateus que acabamos de ouvir”, evidenciou.

Segundo o Ministro Provincial, além de mostrar a meta, da Cruz que nos leva a Ressurreição, Nosso Senhor também teve a delicadeza de colocar diversas marcas no caminho para não se correr o risco de perder a direção. “Tais marcas aparecem descritas na Leitura dos Atos dos Apóstolos proclamada nesta celebração. O programa completo está ali: Pobreza, obediência e castidade. Estas são, caros irmãos, as balizas que o próprio Cristo dispôs para que vocês não se percam no Caminho da Cruz. As palavras da fórmula de profissão, que vocês daqui a pouco vão pronunciar publicamente, são fortes, decisivas e radicais. Elas apresentam um projeto de vida desafiante e encantador no qual vocês entram impulsionados pela fé e pela caminhada formativa que empreenderam até aqui. Jamais caiam na tentação de imaginar que estão sozinhos neste caminho e que o bom êxito desta empreitada depende apenas do empenho de vocês. É claro que esforço pessoal é imprescindível. No entanto, mais radical e fundamental ainda é deixar-se conduzir pela Graça de Deus”.

“E vocês escolheram para esta celebração um tema bem sugestivo, do Cântico do Irmão Sol: “Louvai e bendizei a meu Senhor, e dai-lhe graças, e servi-o com grande humildade”. Este pensamento de nosso pai São Francisco certamente ficará guardado na alma de cada um de vocês por toda a vida. Pois um coração humilde e grato fará com que a nossa consagração seja testemunho da ação de Deus e do empenho do ser humano. Será o projeto que o mistério da encarnação de Jesus Cristo nos propõe”, exortou.

Já no final da homilia, Frei César deixou mensagens fortes para marcar esse dia dos cinco jovens frades:

“O Menino de Belém, depositado por Maria e José sobre uma caminha improvisada com um punhado de palha seca, também oferece para nós algumas pistas importantes para o Caminho da Cruz que estamos nos dispondo a percorrer. Aliás, Santa Clara nos recorda, na Carta que escreveu a Santa Inês de Praga, que a manjedoura e a cruz são duas molduras de um mesmo espelho, o Cristo Jesus, o Verbo de Deus encarnado em quem desejamos espelhar nossa caminhada de religiosos franciscanos. A simplicidade do menino sobre as palhas e a generosidade do jovem homem pregado sobre o madeiro sejam sempre para nós indicações preciosas que nos mantenham firmes no caminho. Sempre que a soberba, a vanglória, o orgulho ou a prepotência vierem nos assolar, olhemos para a ternura simples e desarmada da criança pobre de Belém. Toda vez que nos julgarmos injustiçados, quando nossos planos perecerem, quando o caminho parecer por demais difícil e cansativo, é hora de olharmos para as feridas doloridas e a humilhação dolorosa que nosso Senhor experimentou na injusta violência que sofreu sobre a cruz”.

“Referenciais não nos faltam, estimados irmãos, para percorrermos este fascinante caminho de radicalidade que hoje vocês assumem definitivamente. Para concluir trago o texto do quarto parágrafo da Encíclica Fratelli Tutti, último documento lançado pelo Papa Francisco e que tem como tema A fraternidade universal e a amizade social. Logo no início da Carta, o Papa deixa claro que sua inspiração nasceu do modo de ser e de se relacionar com as pessoas, assumido por São Francisco de Assis, homem que soube integrar a sua fé professada a um testemunho de vida provocante e transformador. Diz o Santo Padre:

“[Francisco] Não fazia guerra dialética impondo doutrinas, mas comunicava o amor de Deus; compreendera que «Deus é amor, e quem permanece no amor, permanece em Deus». Assim foi pai fecundo que suscitou o sonho de uma sociedade fraterna. Naquele mundo cheio de torres de vigia e muralhas defensivas, as cidades viviam guerras sangrentas entre famílias poderosas, ao mesmo tempo que cresciam as áreas miseráveis das periferias excluídas. Lá, Francisco recebeu no seu íntimo a verdadeira paz, libertou-se de todo o desejo de domínio sobre os outros, fez-se um dos últimos e procurou viver em harmonia com todos”.

“Que nós, frades menores, a exemplo de Francisco, sejamos seres humanos pacíficos, amorosos, livres, apaixonados pelos pobres e fragilizados, adeptos incansáveis do diálogo e construtores de pontes de esperança. Deus abençoe a vocês! Muito obrigado pelo seu “SIM” generoso em favor do Evangelho! Paz e Bem!”

LEIA A HOMILIA NA ÍNTEGRA

Terminada a homilia, os pais se aproximaram da pia batismal, onde está o Círio Pascal, acenderam uma vela e entregaram aos professandos para recordar a vocação batismal que, agora, com neles está se desabrochando como vocação religiosa franciscana. Depois, Frei César perguntou aos professandos pelas motivações que eles trouxeram ao pedir a admissão definitiva na Ordem dos Frades Menores. Em seguida, ele pediu a intercessão de todos os Santos da Ordem para os novos irmãos, quando eles se prostraram ao chão.

Com o término da Ladainha de todos os Santos, os professandos ficaram de joelhos diante do Ministro Provincial, colocaram as suas mãos nas mãos do Ministro, num gesto de entrega, de obediência, e leram a fórmula de profissão definitiva na Ordem dos Frades Menores. Normalmente, todos os confrades abraçam os neoprofessos, mas nesta celebração Frei César deu o abraço representando a todos.

A liturgia continuou solenemente até o final da comunhão. No momento dos agradecimento falou em nome do grupo, Frei Augusto Luiz Gabriel: “A gratidão é a memória do coração e é um sentimento que demonstra acima de tudo que nós sempre precisamos uns dos outros. Ninguém conquista nada sozinho! Por isso, o nosso primeiro agradecimento é para Aquele que é a razão de nossas caminhadas, nas alegrias e nas tristezas. Ele foi quem nos inspirou, nos inspira e nos inspirará a cantarmos o cântico do serviço, da fraternidade e da vocação: Deus!”, disse.

Segundo o frade, “nosso cântico não é somente uma banda de cinco pessoas, mas um coral de cantores que ajudam a manter o ritmo e o louvor”, disse, agradecendo à Igreja, à Província, em nome do Ministro Provincial, aos formadores, à Fraternidade, aos familiares, amigos e colaboradores. “A canção continua a ser entoada nos corações que mais precisam ouvir as notas do carisma franciscano”, concluiu.

Frei César agradeceu as palavras de Frei Augusto em nome de todos. “Mais uma vez quero dizer obrigado a vocês e estender essa gratidão também à Fraternidade do Sagrado Coração de Jesus, um berço de vida franciscana e cristã para todos nós frades e aqueles que vêm aqui celebrar a sua fé, à Fraternidade São Francisco junto com o Instituto Teológico Franciscano e todos os confrades.  Eu também queria dizer uma palavra de muita gratidão aos familiares desses nossos irmãos. Nem todos puderam vir aqui nesse instante de pandemia, mas alguns acompanham através das transmissões e alguns estão aqui presente representam as famílias de nossos irmãos. Vocês são também nossas famílias, uma vez que eles são incorporados a esta Fraternidade. E obrigado à Igreja, povo de Deus, e por ser família conosco”, concluiu, dando a bênção aos neoprofessos.


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