Mensagem da Ordem Franciscana para os irmãos muçulmanos no mês do Ramadã
26/04/2020
Aos nossos irmãos e irmãs muçulmanos em todo o mundo.
As-salaamu ‘alaykum!’
O Senhor vos dê a Paz!
Em nome da Comissão Especial de Diálogo com o Islã da Ordem dos Frades Menores, é muito gratificante reiterar a vós nossas saudações em comemoração ao mês sagrado do Ramadã.
Este ano, nossa carta chega a você em um momento em que, juntos, experimentamos uma grande tristeza e luta no mundo, pois lembramos de muitas pessoas de todas as religiões que perderam a vida pelo vírus Covid-19 nos últimos meses, e muitos mais estão sofrendo enfermidades até agora. Oramos convosco por aqueles que morreram – que Alá tenha piedade deles -, pelos que lamentam sua morte, pela saúde e bem-estar de todos.
Além de ceifar a vida de tantas pessoas paralisar nossa vida diária de trabalho, estudo e cuidado com a família, também afetou dramaticamente a maneira como oramos e louvamos a Deus. Em todo o mundo, lugares sagrados estão vazios. Em Jerusalém, sinagogas, igrejas e mesquitas – nas quais o nome de Alá (al-Hajj 22.40) é frequentemente invocado, permanecem em silêncio. Nos dois santuários de Meca e Medina, o adhân apenas chama os moradores locais para orarem em vez dos peregrinos de todo o mundo. Em Roma, a Praça de São Pedro e a Basílica estão fechadas para peregrinos católicos e fiéis cristãos. Nas cidades, vilas e aldeias ao redor do mundo, os fiéis são incapazes de orar como uma comunidade em seus locais de culto devido ao distanciamento social e bloqueios impostos por governos e líderes religiosos para impedir a propagação do vírus.
Essa situação é ainda mais difícil porque os dias e os meses sagrados devem ser observados a portas fechadas, contrariamente ao espírito dessas celebrações. A comunidade cristã em todo o mundo celebrou a Semana Santa e a Páscoa sem as liturgias tão ricas em símbolos que normalmente são esperados com desejo, sem as celebrações comunitárias que nos lembram como caminhar no caminho do Messias Jesus (que a paz esteja com Ele!)
Agora se observa o mês do Ramadã de uma maneira igualmente simples e crua. É, de muitas maneiras, a antítese do Ramadã que tradicionalmente reúne pessoas em grande número para romper o jejum diário com o iftar. Lembro-me novamente da celebração do Ramadã no Cairo, Egito, há muitos anos, quando bairros inteiros da cidade se preparavam com mesas para alimentar os fiéis e visitar as casas de amigos, um após o outro, durante toda a noite. Este ano, essas práticas são impossíveis e proibidas por motivos de saúde pública.
Nós, da família franciscana, irmãos e irmãs, que celebramos esses momentos convosco e com as comunidades muçulmanas de todo o mundo, também sentiremos o vazio este ano. Compartilhar o iftar convosco em suas casas e mesquitas nos permitiu conhecê-los, não apenas como vizinhos e companheiros na construção da paz, mas como irmãos e irmãs, como filhos de Ibrahim (que a paz esteja com Ele!). Essas experiências enriqueceram nossa vida de fé e oração.
Embora estejamos fisicamente separados de nossas respectivas comunidades religiosas e uns dos outros, devemos nos encorajar mutuamente a passar esse tempo em constante e profunda oração, lembrando-nos que nosso Deus chama cada um de nós a nos relacionarmos com Ele através da oração, porque essa é a essência de nossas celebrações religiosas. Recordo a tradição cristã de que Jesus (que a paz esteja com Ele!) passou quarenta dias sozinho no deserto antes de começar a proclamar publicamente o Evangelho. Da mesma forma, sabemos que o profeta Maomé (que a paz esteja com Ele!) costumava andar sozinho nas montanhas e cavernas fora de Meca, e que recebeu sua primeira revelação de Deus em uma dessas ocasiões. Homens e mulheres santos, cristãos e muçulmanos, se retiraram, ao longo dos séculos, para ficarem a sós com Deus, para que pudessem ouvir a Palavra de Deus mais claramente.
Durante esses tempos sagrados, Alá também nos chama a nos relacionarmos. Tanto a Bíblia Sagrada quanto o Alcorão Glorioso nos dizem que essas relações devem ser expressas em ações justas, particularmente no cuidado com os pobres e com os que têm fome. Embora fisicamente distantes um do outro agora, podemos permanecer unidos um ao outro em um espírito de paz, justiça e amor, cuidando um do outro em um mundo que, muitas vezes, parece descuidado e até cruel. Mesmo no meio dessa pandemia, continuamos dolorosamente conscientes das dificuldades que muçulmanos e cristãos estão enfrentando em muitas partes do mundo, simplesmente porque são muçulmanos ou cristãos. A pandemia só exacerbou esses males em países onde muçulmanos e cristãos são minorias que sofrem discriminação e perseguição.
Durante este período da Páscoa e no mês do Ramadã, vamos nos unir em nossa fé em Deus que não nos abandona às trevas e à morte, mas nos envia seus santos profetas e revela suas Sagradas Escrituras para iluminar nossos corações e nossas mentes, e nos assegura que Ele trará a vida da morte. Nossas respectivas celebrações da Páscoa e do Ramadã usam o símbolo da luz para expressar essa fé. O fogo e a vela usados na Vigília Pascal e a lanterna do Ramadã (árabe, fanous) nos lembram a luz da fé e da esperança no meio das trevas.
Desejamos-lhes um abençoado Ramadã. Ramadán Mubarak! Ramadán Kareem!
Frei Michael D. Calabria, OFM
Assistente Especial de Diálogo com o Islã
Comissão de Diálogo com o Islã
Frei Manuel Corullón, OFM
Frei Ferdinand Mercado, OFM
Frei Jamil Albert, OFM