Ordem dos Frades Menores divulga mensagem para o mês do Ramadã
08/05/2019
A Ordem dos Frades Menores, através da Comissão para o diálogo com o Islã, divulgou uma mensagem dirigida aos muçulmanos por ocasião do Ramadã, que neste ano acontece entre 5 de maio e 4 de junho.
O Ramadã é o período do ano mais importante para o mundo islâmico, quando faz-se o jejum de dia e a celebração da purificação à noite. O Ramadã é um mês de festividades e alegrias e as relações com a família são estreitadas, as orações se tornam mais intensas, assim como a caridade.
O jejum faz parte de um dos cinco pilares da religião islâmica. Os outros atos de adoração são a shahadah, que é a declaração de fé; salah, as cinco orações diárias; zakah, ou esmola; e o hajj, a peregrinação à Meca.
Leia abaixo a mensagem:
A nossos irmãos e irmãs muçulmanos em todo o mundo,
As-salaamu ‘alaykum! A paz esteja com vocês!
Em nome da Comissão Especial para o Diálogo com o Islã da Ordem dos Frades Menores, uma vez mais, alegra-me muito cumprimentá-los pelo início do Ramadã. Este é um tempo sagrado para vocês, que comemoram e celebram a revelação que Deus fez, colocando o Alcorão como caminho para todos os homens (Al-Bácara 2,185).
É um tempo de grandes contrastes: o rigoroso jejum do dia e o generoso iftar, refeição noturna, em que os pratos e sobremesas contrastam com a simplicidade da ocasião e a pureza da água com a qual se quebra o jejum diário, quando milhares de devotos se reúnem para orar nas mesquitas, e cada indivíduo reza no silêncio de seu coração. “Ó fiéis, está-vos prescrito o jejum, tal como foi prescrito a vossos antepassados, para que temais a Deus” (Al-Bácara 2, 183). Este é um tempo especial, que é vivido com a família e os amigos, e um tempo que inclusive os desconhecidos são bem-vindos à mesa. É particularmente durante este mês de jejum islâmico que os muçulmanos dão as boas-vindas a pessoas de todos os credos para compartilhar a refeição ao final do dia.
Este ano, nos meses que antecederam o Ramadã, os muçulmanos mostraram uma hospitalidade extraordinária e generosa a Sua Santidade, o Papa Francisco, durante visita aos Emirados Árabes Unidos, no mês de fevereiro, e ao Reino de Marrocos, no mês de março; também em suas visitas anteriores à Terra Santa, Turquia, República Centro-Africana e Egito, entre outros países. Nestas visitas, o Papa Francisco falou insistentemente do seu desejo de seguir o exemplo de São Francisco de Assis, que com uma “mensagem de paz e fraternidade” viajou ao Egito em 1219, onde foi recebido calorosamente pelo sultão Al-Malik Al-Kamil. Assim como aconteceu com São Francisco e o Sultão, estas visitas deram ao Papa e aos líderes muçulmanos a oportunidade de demonstrar indistintamente a fraternidade que Deus deseja para os cristãos e muçulmanos como “descendentes do mesmo pai, Abraão” (Audiência Geral, 3 de abril de 2019).
De fato, como nos recordou Sua Majestade, Muhammad VI, rei de Marrocos, durante a recente visita do Papa, a fraternidade compartilhada por cristãos e muçulmanos remonta à Era Islâmica. Vários anos antes da Hégira, quando os muçulmanos enfrentavam perseguições na Meca, o Profeta Muhammad (PBUH, A paz esteja com ele) enviou-os a buscar refúgio com Negus, o rei cristão de Abissínia, o qual lhes deu sua proteção.
Tragicamente, no mundo de hoje, tanto muçulmanos como cristãos se veem obrigados a fugir de seus lugares devido a perseguições, guerras e injustiças. Inclusive aqueles que saíram dos campos de guerra não estão totalmente seguros, como vimos de maneira dramática nos eventos recentes em Christchurch, na Nova Zelândia e no Sri Lanka. Em sua visita recente aos Emirados Árabes e Marrocos, o Papa Francisco falou em nome dos imigrantes e dos mais vulneráveis do mundo. Em Marrocos, exortou a comunidade cristã a “seguir de perto as crianças e os pobres, os que são excluídos, abandonados e ignorados, os prisioneiros e os migrantes”, citando as obras de caridade como “um caminho de diálogo e cooperação com nossos irmãos e irmãs muçulmanos, e com todos os homens e mulheres de boa vontade” (Rabat, 31 de março de 2019). A preocupação com os pobres, os necessitados e os migrantes é fundamental para o Islã, como se expressa enfaticamente o Alcorão:
“A virtude não consiste só em que orientais vossos rostos até ao levante ou ao poente. A verdadeira virtude é a de quem crê em Deus, no Dia do Juízo Final, nos anjos, no Livro e nos profetas; de quem distribuiu seus bens em caridade por amor a Deus, entre parentes, órfãos, necessitados, viajantes, mendigos e em resgate de cativos” (Al-Bácara 2, 177).
São os mesmos valores que os muçulmanos e os cristãos compartilham, assim como suas preocupações comuns, no significativo documento assinado pelo grande imã de Al Azhar, Ahmad al-Tayyeb e o Papa Francisco em Abu Dhabi, no mês de fevereiro.
Neste texto histórico, intitulado Documento sobre a “Fraternidade humana pela paz mundial e a convivência comum”, os fiéis, tanto muçulmanos como cristãos, são tratados como “crentes” e são exortados por igual a proteger a criação e apoiar todas as pessoas, especialmente os pobres, indigentes, marginalizados e mais necessitados, incluindo os órfãos, viúvas, refugiados, exilados e vítimas de guerras e torturas, sem distinção. Ainda que reconhecendo os problemas e desafios que enfrentam os muçulmanos e cristãos no mundo, seja na política, economia, tecnologia e meio-ambiente, este documento, resultado da fraternidade muçulmana-cristã, pode ajudar a fazer avançar significativamente o diálogo “entre crentes e não crentes, e entre todas as pessoas de boa vontade”.
Uma das imagens mais marcantes que tenho do Ramadã é o iftar, a refeição tão esperada ao final do dia de jejum. Recordo com carinho os convites para o desjejum, não somente de amigos, mas também de desconhecidos, policiais e comerciantes do Cairo. Em todo o mundo, frades, religiosas, religiosos e leigos franciscanos são alimentados generosamente na mesa das mesquitas e lugares muçulmanos. A mesa do iftar converte-se assim num símbolo de reunião dos crentes.
A cidade de Jerusalém também serve como um lugar onde se reúnem os crentes, filhos de Abraão, muçulmanos, cristãos e judeus, cada um com sua devoção e fervor. Com esta finalidade, enquanto estava no Marrocos, o Papa Francisco assinou um pedido a Sua Majestade, Muhammad IV, para proteger e promover a cidade de Jerusalém (al-Quds) como patrimônio comum da humanidade e, sobretudo, para os fiéis das três religiões monoteístas, seja lugar de encontro e símbolo de convivência pacífica, na qual se cultivam o respeito mútuo e o diálogo (Rabat, 30 de março de 2019).
Os encontros entre os diferentes representantes das comunidades e os países muçulmanos com o Papa Francisco exemplificam o modelo de fraternidade que muçulmanos e cristãos podem experimentar, apesar das diferenças que nos definiram por muito tempo. Durante este Ramadã, oremos pela segurança das comunidades e para que haja oportunidade de um encontro muito abençoado com Deus (swt) e um encontro pacífico com todos os que puderem se beneficiar de sua fé e fraternidade. Como o santo Alcorão nos recorda:
“Cada qual tem um objetivo traçado por Ele. Empenhai-vos na prática das boas ações, porquanto, onde quer que vos acheis, Deus vos fará comparecer, a todos, perante Ele, porque Deus é Onipotente” (Al-Bácara 2, 148)
Desejamos um abençoado Ramadã!
Ramadan Mubarak! Ramadan Kareem!
Fr. Michael D. Calabria, OFM
Assistente Especial da Ordem dos Frades Menores para o diálogo com o Islã
Fr. Manuel Corullón, OFM
Fr. Ferdinand Mercado, OFM
Fr. Jamil Albert, OFM
Membros da Comissão para o diálogo com o Islã
Fonte: OFM.org | Tradução: franciscanos.org.br