Memória da Arte franciscana na cidade do Rio de Janeiro
15/12/2011
Foi lançado no dia 8 de dezembro, no Convento Santo Antônio do Rio de Janeiro, o livro “Memória da Arte Franciscana na Cidade do Rio de Janeiro: convento e Igreja de Santo Antônio e Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência”, dos autores Anna Maria Fausto Monteiro de Carvalho, Rosa Maria Costa Ribeiro e Cesar Augusto Tovar Silva, professores do Curso de Especialização em História da Arte e Arquitetura no Brasil, da PUC-Rio, que dedicaram cinco anos ao projeto. A obra contou com a participação do pesquisador e museólogo Frei Roger Brunório, da Província da Imaculada Conceição, e tem edição bilíngue, oferecendo ainda com 250 imagens, entre fotos atuais, reproduções de obras de viajantes, mapas de época e plantas de arquitetura.
O livro descreve em minúcias os espaços das construções, o contexto e as mudanças de suas muitas reformas e mesmo episódios mais recentes, como as escavações da década de 1980, que trouxeram à tona um acervo de quatro mil peças. São capítulos inteiros também dedicados à talha, à imaginária, à pintura e à azulejaria, artes por excelência da decoração dos interiores das igrejas e capelas do Brasil colonial. Além, claro, da história da própria Ordem Franciscana.
O livro registra ainda todo o processo de revitalização do complexo arquitetônico e seu entorno. A publicação marca a estreia da editora Artway, dedicada à memória da arte no Rio de Janeiro.
Segundo Antônio Edmilson Martins Rodrigues, professor da PUC-Rio, a importância histórica e artística do objeto tratado nesta obra fez com que a equipe de pesquisadores definisse como referências temporais o período que compreende o século XVII até a segunda década do século XIX. Ele é justificado porque abrange a doação aos franciscanos do morro Santo Antônio, com a construção de sua casa-ermida e da capela inicial dos Irmãos Terceiros e o momento de maior prestígio da Ordem Franciscana, quando foram modificados o convento e sua igreja e construídos a igreja e o cemitério da Penitência. Este último marco coincide com a presença da Família Real portuguesa na cidade e no papel que a Ordem e as construções desempenharam no espaço político e cultural do Rio de Janeiro.
Para o guardião do Convento Santo Antônio, Frei Ivo Müller, este “belíssimo livro, além de resgatar elementos da história franciscana, da vida conventual e social, abre o universo do conhecimento para entender todo o complexo arquitetônico com a sua mais variada expressão histórica e artística. É, sem dúvida, a partir desse estudo que o leitor poderá entender uma gama de significados simbólicos, espaciais e artísticos expressos nas capelas do claustro, na igreja conventual e nos demais espaços ora reserva os aos religiosos”, explica Frei Ivo, acrescentando que “nós, franciscanos, temos o compromisso de conservar e preservar este patrimônio que é ao mesmo tempo religioso e cultural”.
Frei Clarêncio Neotti, que foi o guardião anterior do Convento, conta como nasceu o projeto antes de o Convento celebrar 400 anos em 2008. “Sabíamos que não podíamos ficar apenas numa celebração interna nem apenas prolongá-la numa festa local. O Convento Santo Antônio é o maior e mais valoroso monumento franciscano da cidade do Rio de Janeiro, com uma vantagem excepcional: ter sido sempre habitado pela mesma família franciscana. Algumas decisões estávamos, então, tomando: o inventário e a catalogação oficial dos bens artísticos, um projeto de restauro e de revitalização de todo o Morro de Santo Antônio, onde, além do Convento, se situava e se situa a mais velha igreja do Rio de Janeiro (a de Santo Antônio) e a mais completa igreja barroca do Brasil (a da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência). Foi nesse momento de elaboração de planos que algum anjo seráfico iluminou e trouxe ao Convento a professora e historiadora de arte Anna Maria Monteiro de Carvalho. Trazia a proposta de um aprofundado estudo sobre o Convento, que seria feito por especialistas da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro nos campos da espiritualidade, história, cultura e arte. Anna me garantia a seriedade das pesquisas. Eu abriria as portas do monumento aos pesquisadores. Juntos sairíamos à procura de parceiros financiadores do trabalho”, conta Frei Clarêncio. O livro tem o patrocínio do BNDES, Piraquê e Ministério da Cultura.
Segundo Frei Clarêncio, não foi possível concluir o livro em 2008. “Artistas, cientistas e místicos não podem ser pressionados pelo tempo. Suas obras, porém, costumam perdurar e marcar os tempos”.
Frei Clarêncio tem razão. O livro resgata a memória do Rio de Janeiro: o papel que teve, na sua cultura e sociedade, o complexo arquitetônico do Convento de Santo Antônio e da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, situados no atual Largo da Carioca. Trata-se de um registro à altura de sua grandiosidade.