Mauro Lopes

Cristãos católicos ouvem hoje na Primeira Leitura (28) das missas um trecho do profeta Jeremias com uma breve história sobre o oleiro e Deus (leia no final). Muito já se escreveu sobre essa imagem de Deus como oleiro, que remete sempre ao Gênesis (o ser humano moldado do barro). Não foi sobre isso que me detive hoje.

Estou parado até agora sobre os dois verbos que abrem o texto: “Levanta-te e desce”. São o resumo, a essência da vida para os cristãos e para todos aqueles que buscam sentido em sua jornada pessoal.

Levantar e descer. Levantar para descer. O ser humano só levanta-se, isto é, ergue-se sobre seus pés, toma o rumo da vida para si, se está disposto a descer. Fazer o caminho da descida aos vazios e interrogações de si próprio, ao sofrimento dos outros, à miserabilidade que os sistemas econômicos e políticos espalham como praga desde os primeiros tempos.

O capitalismo tenta nos convencer que o caminho da vida é uma subida. Quem acredita nisso faz seu caminho rastejando, servil ao dinheiro e ao desejo de sucesso.

O Papa Francisco decretou este 2016 como Ano da Misericórdia. Em quase todos os domingos rezamos o Evangelho de Lucas nas missas -este ano litúrgico já seria dedicado à leituras deste evangelista mas o fato foi muito realçado pelo papa, por ser Lucas o Evangelho dos pobres. O centro do texto lucano é a descrição da subida de Jesus da Galileia até Jerusalém. Ele caminhou para o alto -Jerusalém está num monte. Mas foi um caminho de descida, até a cruz. Jesus indicou a seus amigos e amigas que para chegar ao céu, ao cume do autoconhecimento, eles e elas deveriam acompanhá-lo no constante despojar-se, solidarizar-se, empobrecer-se, descentrar-se.

A vida de Jesus pode ser resumida a este movimento, em dois atos: levantou-se e desceu. Jeremias e os profetas já sabiam.

Jeremias 18,1-6.
Palavra que o Senhor dirigiu ao profeta Jeremias:
«Levanta-te e desce à casa do oleiro; ali te farei ouvir as minhas palavras».
Eu desci à casa do oleiro e encontrei-o a trabalhar na roda. Quando o vaso que ele estava a moldar não saía bem, como acontece com o barro nas mãos do oleiro, ele começava de novo e fazia outro vaso, como lhe parecia melhor.
Então o Senhor dirigiu-me a palavra, dizendo: «Não poderei Eu tratar-vos como este oleiro, ó casa de Israel? – diz o Senhor –. Como o barro nas mãos do oleiro, assim estais vós na minha mão, ó casa de Israel».