Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Juventude Maravilhosa

21/07/2019

Notícias

Rio de Janeiro (RJ) – Não existe adjetivo para usar neste título que melhor defina a 6ª edição das Missões Franciscanas da Juventude, que terminou no Rio de Janeiro. A Cidade Maravilhosa viu uma juventude maravilhosa deixar a sua marca franciscana neste domingo, 21 de julho, na Missa de Ação de Graças no altar montado na praia de São Conrado, em meio ao belíssimo cenário natural. Para completar ainda, Deus deu de presente um dia lindo, que ficou mais belo com as cores das camisetas confeccionadas para o evento, a alegria estampada nos rostos juvenis e a certeza de que esses jovens, como disse o Vigário Provincial, Frei Gustavo Medella, “levam no coração um grande tesouro”.

A Celebração Eucarística, prevista para ter início às 8 horas, começou às 8h30 e só terminou às 11 horas. Não faltaram emoções. Frei Medella deu o tom quando iniciou com o sinal trinitário a Missa. “Voltem-se para trás. Olhem esta pedra da Gávea. Olha que beleza, de ternura e de vigor. Esta pedra é Deus, sobre qual queremos edificar a nossa vida. Agora, vou contar até três, esquerda volver: Olhem esse marzão de Deus, Oceano Atlântico, praia de São Conrado. O mar é Deus e o barco sou eu e somos nós. Naveguemos sem medo neste oceano. E agora conto até três, esquerda volver: O Altar do Senhor, onde Ele se entrega para nós em Palavra e Pão”.

Durante a oração pelos falecidos, Frei Gustavo Medella surpreendeu os jovens ao pedir que estes deitassem na areia para simbolizar um protesto contra a violência que ceifas vidas no Brasil e especialmente no Rio de Janeiro.

E não parou aí. Emoção para Frei Diego e Frei Vítor Amâncio, que trabalharam incansavelmente pela animação da juventude, para equipe organizadora e demais equipes das Missões. A emoção final ficou por conta dos jovens que vieram do Oeste Catarinense, quando Frei Diego anunciou a cidade de Xaxim como a sede das próximas Missões Franciscanas, de 29 de janeiro a 2 de fevereiro de 2020.

Junto com as Missões, Xaxim vai sediar um evento internacional da Ordem dos Frades Menores, que é a Serata Laudato Si’, que terá a terceira edição. A primeira foi em Roma e a Segunda no Panamá. Este evento é do Serviço de Justiça, Paz e Integridade da Criação. Frei Diego já adiantou e pediu para os jovens que comecem a ler a Encíclica Laudato Si’ do Papa Francisco, pois será a base das reflexões e ações destas Missões e da Serata Internacional.

Toda essa festa na praia, com direito a um flash mob franciscano, terminou na Comunidade da Rocinha. Os jovens não esquecerem as lições que aprenderam nos cinco dias que passaram em diferentes realidades nas 9 paróquias franciscanas no Rio de Janeiro. Com bandeiras brancas, subiram em passeata até a Paróquia de Nossa Senhora da Boa Viagem, de onde partiram para suas casas depois de um almoço fraterno.

Antes de fazer sua reflexão, Frei Medella transmitiu um recado muito especial do Ministro Provincial, Frei César Külkamp, para os jovens: “A todos, o meu abraço apertado. Estou unido em oração, em vibração e entusiasmo com vocês. Também quero aprender com vocês a ser um profeta do diálogo e do respeito”. Frei Medella disse que não conseguiria abraçar a todos e pediu que cada um abraçasse apertadamente quem estava do lado.

Na sua homilia, deixou para os jovens três lições que tirou da Palavra de Deus deste domingo:

1ª) O seguimento de Jesus é uma escola de diálogo

Frei Medella disse que a casa de Betânia, onde Jesus estava com Marta e Maria, é uma escola de diálogo. “O verdadeiro discípulo, o verdadeiro missionário, o verdadeiro profeta tem que aprender a dialogar”, disse o Vigário Provincial, explicando que para haver o diálogo são importantes duas posturas: A primeira, a humildade. “O Papa Francisco diz: ‘Para dialogar, não preciso abrir mão das verdades as quais eu acredito, mas preciso ter a humildade de pensar que não sou o único dono da verdade e que essas verdades são absolutas e inflexíveis’. Humildade para perceber que o outro tem as suas verdades e nós podemos nos encontrar num ponto comum. A segunda é a disposição para ouvir. Ouvir de coração, ouvir atentamente, percebendo que outro pode e tem algo a me ensinar. Não dá para ser discípulo missionário e profeta sem soube dialogar. E tenho certeza que nas experiências que viveram esses dias muitos diálogos ocorreram e diversos deles sem palavras. Eu tenho certeza que muita gente, sem dizer uma palavra, ensinou demais a você nesses dias de missão”, explicou.

2ª) Dialogar é abrir o coração para o outro

“Quem foi bem acolhido pelas famílias nesses dias? Não foi bom?”, perguntou o celebrante, acrescentando que essa família abriu o coração, abriu as portas, até as portas da geladeira. “Eu ouvi dizer que teve gente que deu até prejuízo (risos) ao esvaziar a geladeira”, brincou. “Se fomos bem acolhidos, por que não podemos acolher o outro no nosso coração? Deixar o outro ali morar, recebê-lo como hóspede ilustre como Abraão, que recebeu aqueles três homens que eram a presença de Deus na vida dele e de Sara e trouxe para eles a fecundidade do filho Isaac. O outro, quem quer que seja, é meu irmão”, disse.

O frade partilhou com os jovens uma iniciativa na Paróquia São Francisco de Assis da Vila Clementino (SP), que é de classe média alta, onde um grupo, semanalmente, visita a Cracolândia para levar sanduíches e chocolate quente. “Não resolve o problema daqueles que lá estão, mas é um gesto de carinho e de diálogo. Eu ouvi de um senhor o seguinte: ‘Depois que comecei a fazer esse trabalho, nunca mais olhei da mesma forma aqueles que vêm limpar o vidro do meu carro no semáforo’. Quem vê no outro um irmão, nunca vai fazer violência, nunca vai dar um tiro, nunca vai dar um tapa, nunca vai dirigir um insulto. E quem quer que seja. O pobre é meu irmão, o migrante é meu irmão. Por que o estrangeiro tem que ser considerado um adversário, um invasor? Por que os Estados Unidos estão com essa política que segrega, que trata mal quem chega, que separa os pais dos filhos, e deixa crianças morrerem naquelas instalações? A Igreja foi protestar e mais de 70 religiosos, inclusive franciscanos, foram presos porque disseram: ‘O migrante é meu irmão. O diferente é meu irmão. Todos somos irmãos’. Então, que nós tenhamos essa disponibilidade, essa disposição de escancarar a porta do nosso coração para acolher o outro. E quando mais escancaradas estão as portas do nosso coração, mais Deus tem ali espaço para habitar, mais Jesus vem morar conosco e dar sentido à nossa vida.

3ª) Em nosso dia a dia somos Jesus, Marta e Maria

“Nós somos os três. Juntos e misturados. Cada hora um, às vezes ao mesmo tempo mais de um. Quando somos Maria ou nos colocamos como ouvintes atentos e interessados da Palavra? Quais foram os momentos de Maria que vivemos nesta missão? Em cada celebração, cada vigília, cada formação em que tivemos ouvidos atentos para aprender, para crescer, para compreender mais a profundidade do mistério de Deus. Para estarmos atentos aos diferentes modos pelos quais Deus nos fala. Vida de oração e intimidade com Deus. É o exercício que Maria fez aos pés de Deus ouvindo a sua Palavra. É o combustível para a nossa vida espiritual e para a nossa ação amorosa da caridade. Todos nós temos e precisamos ter os nossos momentos de Maria”, ensinou Frei Medella.

“E quando nós somos Marta?”, perguntou.  “Quando o amor se encarna em gestos. Você foi Marta cada vez que ofereceu seu abraço sincero ao seu irmão que veio ao seu encontro. Quando deu um sorriso largo, botou a mão na massa. Aí eu lembro daquele que trabalhou com pintura, aquele que trabalhou com foice e enxada, que pegou criança no colo – é um bom exercício de ternura e vigor, pois quando pega com ternura não ‘amassa’ a criança; e com vigor para não deixar cair -, cantou e dançou com idosos, em família, jogou futebol, fez comida, visitou presos, doentes, ajudou seu irmão”, detalhou, lembrando ainda das Martas nas equipes de coordenação, nas equipes de liderança que planejaram a missão, das famílias acolhedoras, dos trabalhadores que montaram a estrutura. Frei Medella pediu uma salva de palmas para as Martas das nossas Missões Franciscanas.

“Nós dizemos que no nosso dia a dia somos Jesus, Marta e Maria. E quando somos Jesus? Quando cada gesto que você realizou aproximou a pessoa que recebeu esse gesto de Deus. É um gesto de salvação. É o sorriso que muda a vida de uma pessoa, é a oportunidade, às vezes uma das únicas, que ele tem de se sentir amado. Cada palavra, cada gesto, cada momento, você foi Jesus na vida do outro. Isso é espetacular, isso é maravilhoso. É retomar a promessa que a serpente fez a Adão e Eva no Antigo Testamento, mas de um modo novo. No Gênesis, a serpente diz: ‘Vocês serão como deuses e terão orgulho, prepotência e o poder de pisar sobre os outros’. Agora, com Jesus, ser como Deus, significa colocar o avental, lavar a louça, limpar o banheiro, limpar o doente, colocar-se a serviço de quem precisa no momento em que ele precisa. Aí estamos sendo deuses uns para os outros. Presença real e viva de Jesus na vida dos outros. Essa vontade, esse entusiasmo, esse desejo de sermos presença de Deus uns para outros é o maior presente que vocês recebem nessa missão. Levem-no no coração como tesouro de grande valor, agregado a esta beleza natural e à beleza deste povo abençoado do Rio de Janeiro, que tão bem recebeu vocês em suas casas. Não tiveram distinção quando vocês entraram na casa deles. Era tudo de todos. Era nosso. Uma salva de palmas para o povo do Rio de Janeiro, sofrido mas valente; sofrido, mas alegre; sofrido, mas de braços abertos para acolher quem chega como o Cristo Redentor”, completou Frei Gustavo.

A Santa Missa foi concelebrada por frades de todas as Paróquias Franciscanas onde os 600 jovens franciscanos foram acolhidos em dois dias de Missões: Porciúncula de Sant’Ana, em Niterói; Nossa Senhora da Boa Viagem, na Rocinha; São João Batista, em São João de Meriti; Nossa Senhora Aparecida, em Nilópolis; São Francisco e Santa Clara, em Duque de Caxias; Sagrado Coração de Jesus e Santa Clara, em Petrópolis; e Nossa Senhora da Conceição, em Nilópolis, que era paróquia franciscana até recentemente e hoje é diocesana. Estavam presentes os frades estudantes de Teologia e Filosofia, seminaristas e povo de Deus, principalmente muitas famílias que acolheram os missionários.

 Frei Augusto Luiz Gabriel e Moacir Beggo



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