Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

História, futuro e os novos tempos da missão Angola sob o olhar do Ministro provincial

15/10/2025

Notícias

“Se alguém quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz, cada dia, e siga-me.” (Lc 9, 23)

Uma história construída pela força missionária da fé é capaz de gerar sementes que se perpetuarão ao longo do tempo, pois produzem árvores frondosas e frutos que alimentam o corpo e a alma daqueles que creem.

Na história da presença franciscana em Angola, as sementes lançadas há 35 anos foram plantadas no solo fértil dos corações do povo. Regadas pelo Evangelho, pelo carisma e pela espiritualidade características dos frades franciscanos, nasceu a Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola (FIMDA), assim como germinaram novas vocações franciscanas.

Em três décadas e meia, muitas foram as conquistas e desafios para que a Fundação, integrante da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, chegasse ao ponto de se tornar a Custódia Imaculada Mãe de Deus de Angola. Naquele território, a missão franciscana cresceu, assim como o fruto de uma árvore bem adubada ou como um filho bem cuidado e criado.

A cerimônia que irá oficializar esse importante passo na história da Província e da Ordem dos Frades Menores será nesta quinta-feira, 16 de outubro, no Kimbo São Francisco, localizado no bairro Palanca, em Luanda.

Segundo o Ministro provincial, Frei Paulo Roberto Pereira, há 35 anos a fraternidade provincial ouviu o apelo que a Ordem apresentava como convite ‘A África nos chama’. “Devo lembrar que, embora tivéssemos um número maior de irmãos, quando a Província escolheu fazer fraternidade em Angola não havia ‘frades sobrando’ em nossas casas. Ao apresentar esta afirmação, ressalto que tal escolha foi uma opção movida pelo espírito missionário que cobra de nós generosidade, desprendimento e partilha da própria pequenez. Além disso, a configuração das primeiras fraternidades em solo angolano foi um gesto de retribuição, afinal, no início da década de 1990, estávamos celebrando o centenário da chegada dos frades alemães que vieram em socorro da Província que, à época, contava com um único frade”.

Retomando a história e os momentos iniciais vividos pelos frades, Frei Paulo ressaltou a força missionária dos confrades. “O primeiro grupo de irmãos enviados a Angola deixou-se mover pelo Espírito do Senhor, partiu com generosidade e alegria e manifestou disposição de servir e oferecer da sua pobreza; estas atitudes, marcadamente franciscanas, foram o bom começo da obra missionária. O bom começo garantiu o vigor dos primeiros passos. A continuidade desta marcha proporcionou uma experiência frutuosa. Devemos recordar que os pioneiros chegaram a Angola num período bastante conturbado por conta da guerra civil que o país enfrentava. A presença solidária junto ao povo, sempre a maior vítima desses conflitos, marcou, com profundidade, a identidade dos franciscanos em Angola”.

Mesmo diante dos desafios, a caminhada prosseguiu e as obras começaram a ganhar forma, banhadas pelo jeito franciscano de ser. “Na medida em que foram sendo enviados novos irmãos, novas fraternidades foram criadas e houve a expansão da presença franciscana em Angola. Não tardou para que alguns jovens manifestassem o desejo de fazer parte da Ordem. O acolhimento dos vocacionados exigiu atenção e cuidado. Assim, além da tarefa missionária específica, com destaque ao atendimento das centenas de comunidades espalhadas pelos extensos territórios de missão, alguns irmãos assumiram também a tarefa formativa”.

Segundo ele, ao longo desses 35 anos, a dedicação, o esforço, a criatividade e a generosidade de tantos proporcionaram condições para um saudável crescimento e o estabelecimento de uma instituição sólida. “Inicialmente, o conjunto das Fraternidades em Angola foi reconhecido como Fundação e, agora, a Ordem acolheu o pedido de constituição de uma Custódia”.

Nesse ambiente, repleto de filhos e filhas de Deus que caminham determinados pela fé e pela esperança, a presença franciscana chegou como um alento e, ao mesmo tempo, como uma ponte para a transformação de realidades. O Ministro provincial ressaltou que a dedicação dos irmãos angolanos envolvidos na missão justificou o fortalecimento da presença franciscana e o nascimento da entidade.

“A constatação, por parte da Ordem, de que em Angola o carisma e a missão franciscana são conhecidos, cultivados e propagados com assertividade e criatividade fez nascer a Custódia. O reconhecimento de que a presença da Ordem em Angola é sustentada pela boa vontade e dedicação dos irmãos e que a presença franciscana tem a garantia de um fértil futuro nos enche de gratidão; ao mesmo tempo, nos convoca a um maior compromisso com a fidelidade ao ideal de Clara e Francisco de Assis. A criação da Custódia insere os irmãos, com maior legitimidade, nas atividades e programas da Ordem e da Conferência Africana. Além disso, a confirmação da identidade institucional pode qualificar o diálogo com outros organismos, tanto eclesiásticos como civis”.

No entanto, a vida em fraternidade é como uma família que age coletivamente em benefício de todos. Especialmente na Ordem dos Frades Menores, a minoridade e a humildade também se manifestam no amor e nos atos de igualdade, exigindo atenção e atendendo às novas demandas dos tempos, que exigem uma reconfiguração do rosto institucional, como explicou Frei Paulo.

“Ao mesmo tempo em que reflete sobre sua identidade carismática, a Ordem Franciscana tem discutido acerca da oportuna e necessária reconfiguração do seu rosto institucional. A diminuição numérica nalguns continentes, o notável crescimento da presença dos irmãos em outras partes do mundo, têm apontado elementos novos que movimentam tal discussão. A união de Províncias, o estabelecimento de novas instituições e presenças são caminhos apontados para que a Ordem se redefina. A redefinição não supõe, necessariamente, a criação de algo inaudito. Certamente, a redefinição se dará na medida em que a identidade carismática original se apresentar mais clara. O Movimento Franciscano, nascido há 800 anos, tem a marca da fraternidade; carrega a pretensão da fraternidade universal. Assim, as diferentes entidades, as múltiplas instituições franciscanas bebem de uma mesma fonte e apontam a mesma direção”.

Ele ainda indagou: “Diante desse argumento, não seria contraditório celebrar a criação de uma nova entidade da Ordem, o que, aparentemente, sugere separação?” E a resposta foi contundente: “Não; exatamente porque a entidade que nasce em Angola nasce com o espírito de convergência, de comunhão, de sinodalidade que tem sido buscado pela Ordem. Podemos ser institucionalmente distintos, mas antes de tudo, somos uma mesma Ordem, somos a mesma Fraternidade. Em uma Ordem sem fronteiras, uma Ordem universal, a mútua ajuda, a integração das entidades, o intercâmbio e a partilha da missão são sinais eloquentes da forma escolhida para viver a inspiração franciscana”.

Olhando para o futuro, o Ministro provincial falou sobre os desafios e esperanças que vislumbra para a futura Custódia Imaculada Mãe de Deus de Angola, especialmente no que diz respeito à consolidação da nova estrutura e à continuidade da missão evangelizadora franciscana. Para isso, ele destacou o processo de nascimento da nova entidade, que será consumado com a cerimônia desta quinta-feira, 16 de outubro, que irá proclamar a nova entidade jurídica e fraterna dentro da Ordem.

“O processo de criação da Custódia teve a indicação de um delegado do Definitório Geral que foi Frei César Külkamp. Tendo sido Ministro da nossa Província, ele conhece bem a caminhada e a realidade da Ordem em Angola. No desempenho da sua missão delegada, Frei César devia reunir elementos para constatar se a presença da Ordem em solo angolano poderia vislumbrar um futuro promissor. A composição das sete atuais Fraternidades revela o rosto jovem da futura Custódia. Além da faixa etária, a jovialidade se evidencia ainda na liberdade de adesão aos novos projetos e na consolidação criativa das presenças mais longevas”.

Frei Paulo também lembrou que, no início do triênio passado, logo após o Capítulo Provincial de 2021, os irmãos em Angola foram convidados a construir propostas para efetivar o amadurecimento institucional da Fundação em vista da criação da Custódia. O amadurecimento a ser buscado exigiu envolvimento dos irmãos e das Fraternidades. “Os frutos começaram a surgir, tais como o recolhimento de documentação que garantia o reconhecimento do Estado; a legalização dos terrenos e das edificações; a formalização dos processos administrativos, contábeis e trabalhistas, entre outros. Além do amadurecimento institucional, os irmãos se deixaram envolver na elaboração de um projeto de evangelização que pudesse considerar a importância da definição do lugar da Ordem na Igreja e na sociedade angolana. Outra dimensão trabalhada pelas instâncias da Fundação foi a Formação. A definição de um itinerário de Formação Permanente, além de diretrizes para o acolhimento dos vocacionados e acompanhamento dos jovens frades, foram sendo construídos e implementados de modo a proporcionar segurança nos processos formativos ”.

Em seu relato, marcado pelo compromisso e pela sabedoria franciscana de unidade e fraternidade, o frade deixou claro o cuidado com os irmãos angolanos. “As bases de uma nova entidade da Ordem em Angola, desde a chegada dos primeiros frades brasileiros até hoje, estão sendo cuidadosamente construídas. A convicção de que a graça de Deus sustenta nossos passos, planos e projetos; a fidelidade às propostas do Movimento Franciscano; o olhar atento aos apelos que a realidade nos apresenta servirão de estímulo e sustento da missão em Angola”.

Inspirado pelos exemplos de São Francisco de Assis, Frei Paulo compartilhou sua leitura fraterna sobre a missão franciscana, encerrando com palavras que ecoam como convite à esperança e à entrega. “O povo angolano vive um momento de reencontro com sua identidade e com sua história. Nesta hora, a Graça do Senhor nos convoca a oferecer nosso quinhão para que a alegria do Evangelho seja anunciada e experimentada por todos os que colocam sua esperança no Senhor’”.


Adriana Rabelo Rodrigues Marcelo