Frei Pedro Engel celebra 70 anos de vida religiosa
06/03/2025
“Celebrar o jubileu de 70 anos de vida religiosa consagrada é ‘um momento de graça, um momento especial na caminhada da gente’. A celebração de hoje recorda sete décadas de doação e tem relação com a vida e a missão de Jesus. Nos faz lembrar do desafio de sermos ‘discípulos e missionários’. Portanto, hoje é dia de gratidão, dia de agradecer… Frei Pedro Engel, estamos aqui porque respeitamos sua história e queremos celebrá-la”.
Com essas palavras, Frei Robson de Castro Guimarães exortou a comunidade de fé na Missa Solene pelos 70 anos de vida religiosa do confrade, Frei Pedro Engel, na tarde do dia 1º de março, no Campinho do Convento da Penha, em Vila Velha (ES).
A celebração contou com a presença do Guardião do Convento, Frei Gabriel Dellandrea; do Frei Jorge Lázaro de Souza e Frei Claudino Dal’Mago; além dos irmãos e irmãs da Ordem Franciscana Secular e dos fiéis, devotos de Nossa Senhora da Penha.
Ao iniciar a Eucaristia, Frei Gabriel acolheu a todos e ressaltou a importância de renovar a esperança. “Para renovar a esperança, não precisa ser tudo novo. Também renova a esperança um outro dom, não só a novidade, mas a perseverança. Mais do que nos animarmos com a novidade, devemos nos animar com a perseverança no ‘sim’, e é por isso que nos reunimos para celebrar o dom dos 70 anos de vida religiosa do nosso Frei Pedro. É costume que ele faça esse comentário, mas eu disse para ele: ‘Hoje o senhor é o noivo, fica lá, é bom estar do outro lado’”.
Na homilia, ao refletir sobre o Evangelho de Lucas 4,14-21, Frei Robson destacou a missão franciscana pautada no caminho de Cristo. “O Evangelho que ouvimos é também conhecido como discurso da missão. Jesus faz a leitura de um texto do profeta Isaías. Nesse texto está inserida a missão de Jesus, seu projeto. Jesus inicia sua missão na cidade de Nazaré, onde foi concebido, educado e se tornou adulto. A ação de Jesus se dá sob a força do Espírito Santo. Para fazer parte do projeto de Jesus, precisamos estar abertos ao Espírito do Deus da Vida, do Deus Criador e Libertador. Somos povo do Espírito e não recebemos um espírito de medo, mas um espírito de força, de amor e de sabedoria”, refletiu.
“Eucaristia é ação de graças. O Salmista assim se expressa: ‘Como poderei retribuir a Javé por todo o bem que ele me fez? Erguerei o cálice da salvação, invocando o nome do Senhor. Cumprirei meus votos a Javé, na presença de todo o seu povo’. Para nós, celebrar um jubileu de um confrade é uma motivação a mais em nossa caminhada. É olhar e dizer: preciso continuar firme, aprofundando minha vocação. Eu também chego lá”, disse Frei Robson.
Na sequência, o presidente da celebração falou diretamente ao confrade jubilando. “Frei Pedro, às vezes somos alvo de críticas amargas e nada construtivas, que acabam colocando um véu sobre tantas coisas bonitas e positivas que fazemos. ‘Jesus não julga e salva, nós não salvamos e muitas vezes julgamos’. Um outro confrade nosso que conviveu com você certa vez disse: ‘Se eu tenho que pedir alguma coisa emprestado, eu vou pedir para o Frei Pedro, pois além de emprestar, vai ficar feliz por ter feito isso. Tem um grande espírito de despojamento’”, afirmou.
Por fim, ainda durante a homilia, o frade fez um convite para Frei Pedro e para os fiéis. “Júbilo, verdadeiro júbilo, requer alegria e esperança – e estamos no ano jubilar da esperança. Requer a justiça e a paz, requer a esperança que gera a certeza de que Deus tem a palavra final diante de todos os acontecimentos da história humana. Celebrar o jubileu de Frei Pedro Engel é assumir o desafio de proclamarmos que Jesus é o caminho, a verdade e a vida; é o Senhor da História”, concluiu.
Após a homilia, houve a renovação dos votos da vida religiosa franciscana, na qual Frei Pedro rezou: “Com a força do Espírito Santo, renovo hoje a Vós, com todo ardor do meu coração, o voto de viver em obediência, sem nada de próprio e em castidade. Ao mesmo tempo, confirmo a promessa de professar a vida e a regra dos Frades Menores, confirmada pelo Papa Honório, segundo as constituições da nossa Ordem”.
Antes da bênção final, o jubilando agradeceu a presença dos fiéis e compartilhou o ‘segredo’ para uma longevidade. “Para chegar aos 70, é preciso caminhar muito, mas não há preocupação. Você vai vivendo dia a dia, quando percebe… chegou o dia! Para conseguir ser feliz e chegar até a meta, é preciso manter equilíbrio. Eu sempre falo que andar em cima de uma prancha remando, se não tiver equilíbrio, cai na água. Na vida também é assim. Se não tivermos equilíbrio, caímos. Faça todas as coisas com equilíbrio, até a oração. Faça pouco, mas faça bem. Esse é nosso lema. Obrigado pela presença de todos!”.
Frei Gabriel Dellandrea destacou a perseverança na vida religiosa:
“Há um grupo de ‘profetas da desesperança’ que anda dizendo por aí que ‘a coisa tá perdida’, que está tudo errado, tudo acabado. Não! Se o Frei Pedro celebra 70 anos de vida religiosa, nos mostrando que perseverar ainda é um verbo que se conjuga, com certeza não está tudo perdido. Há muita coisa boa acontecendo, e talvez precisemos apurar nosso olhar para enxergar o bem que nos cerca. Esta celebração pode ser, para nós, jovens, um momento de revigoramento. Não basta apenas dizer o ‘sim’. Isso é uma parte; a outra, tão importante quanto, é perseverar, é continuar no ‘sim’. Frei Pedro é um testemunho vivo de que dizer ‘sim’ é também uma forma de louvar a Deus. Deus, que é perseverante no seu amor, é a nossa inspiração. E Frei Pedro se inspira nisso para continuar dizendo o seu ‘sim’ todos os dias. Que alegria podermos celebrar este dia de júbilo e ação de graças! Que ele se repita muitas vezes e que possamos também celebrar o Jubileu de outros frades e, se Deus quiser, até o meu. Que juntos possamos rezar pelas vocações, para que mais frades franciscanos alcancem a graça do ‘sim’ e a graça da perseverança”, concluíu.
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Entrevista com Frei Pedro Engel
Site Convento da Penha – Frei Pedro, como surgiu a sua vocação religiosa?
Frei Pedro Engel – Minha vocação surgiu aos 3 anos de idade. Meu tio foi ordenado presbítero e, quando chegou em casa, me perguntou se eu também queria ser padre, queria ser franciscano como ele. Olhei para ele de alto a baixo e respondi: ‘Quero sim!’. E, daí para frente, brotou minha vocação, que, aos poucos, foi se aperfeiçoando, e eu fui seguindo esse chamado.
Muitas coisas me marcaram na vida. Passamos por dificuldades, desafios, mas também por momentos muito bons. O trabalho que realizamos, o início quando entrei na Ordem, as surpresas que enfrentamos… É difícil? Sim, é difícil. O começo não era fácil, especialmente para viver a penitência, mas depois a gente ‘pega no tranco’ e a vida vai se tornando mais leve.
Site Convento da Penha – O senhor gosta de praticar esportes. Por que se encantou com o stand up paddle?
Frei Pedro – Pratico esportes aqui desde que cheguei ao Convento. Meu esporte predileto, ainda que não tenha muitas condições para praticá-lo, é justamente o stand up paddle. Um dia, vi alguém sobre a prancha, remando tranquilamente, flutuando sobre a água. Achei o máximo e pensei: ‘Vou pedir ao rapaz para me emprestar um pouco, para eu tentar’.
Tentei e consegui, e pronto! Me apaixonei por esse esporte e incentivei outras pessoas a praticá-lo também. O stand up traz equilíbrio para a vida. Em tudo o que fazemos, precisamos de equilíbrio. Por isso, aprendi a me equilibrar na prancha sobre a água para também ter equilíbrio na vida.
Site Convento da Penha – Há quanto tempo o senhor está no Convento? O que mais viu nesse período?
Frei Pedro – Já estou no Convento da Penha há 16 anos, segundo a contagem (risos). Mas prefiro continuar aqui. Já me perguntaram se eu gostaria de ir para outro lugar, mas respondi que, enquanto puder subir as escadas, quero ficar, porque não há lugar mais bonito do que este.
Estando aqui, acompanho o público, vejo os devotos que chegam… Muitas pessoas vêm me procurar para dizer: ‘Consegui uma graça!’. Outras testemunham curas – de câncer, de outras doenças –, sucesso em cirurgias. Muitos devotos vêm antes de uma cirurgia, pedem uma bênção, uma oração para que tudo corra bem. Eu sempre dou palavras de otimismo e confiança em Deus. Depois, eles voltam para agradecer.
Site Convento da Penha – O senhor é conhecido como o “frei da água benta”. Frei Gabriel o chama de “guardião da água benta”. O que isso representa para o senhor?
Frei Pedro – Ser o guardião da água benta… Isso foi acontecendo aos poucos. Participando das missas, especialmente aquelas com maior público, sempre gostei de ter esse contato com as pessoas, de ser um ‘canal de bênção’. Então, os fiéis já ficam esperando aquele momento da aspersão com a água benta.
É bonito ver como as pessoas recebem essa bênção com fé e carinho. Isso também me dá ânimo para continuar esse gesto, sabendo que estou levando uma graça às pessoas. Sinto o carinho, o amor e a gratidão delas.
Site Convento da Penha – E para o futuro, o que o senhor espera?
Frei Pedro – Espero viver com equilíbrio. Para a Festa da Penha, estou preparado para ajudar no que for possível, sempre à disposição. Quando fico muito cansado, descanso um pouco e aguardo, depois recomeço o trabalho. Já estou me preparando para receber os navegantes, os romeiros que participarão da remaria e da festa como um todo.
Cristian Oliveira- Assessoria de Comunicação Convento da Penha