Na manhã de sexta-feira, 11 de abril, o coração da cidade de São Paulo foi cenário de uma comovente manifestação de fé e compromisso social: a Via-Sacra do Menor e da Criança. A atividade reuniu centenas de participantes — entre crianças, adolescentes, educadores e religiosos — em uma jornada simbólica pelas ruas do centro, marcada por orações, encenações e reflexões sobre os desafios enfrentados pela infância e juventude em situação de vulnerabilidade.

Esse tradicional ato ocorre há mais de quarenta anos e é uma iniciativa promovida pela Pastoral do Menor da Arquidiocese, idealizada em seus primórdios por Dom Luciano Mendes, SJ, então bispo auxiliar de São Paulo e responsável por essa pastoral. Todos os anos, ao final do período quaresmal, organizações que lutam pelos direitos de crianças, adolescentes e jovens percorrem as ruas do centro da maior cidade do país rezando a Paixão de Nosso Senhor. De modo especial, a Via-Sacra deste ano refletiu sobre o tema da Campanha da Fraternidade.

A caminhada teve início às 9h30, nas escadarias da Catedral da Sé, com a animação de Frei Marx Rodrigues dos Reis, pároco da Paróquia Santa Cruz, do Jardim Peri Alto. Também esteve presente crianças do serviço Perfeita Alegria, do SEFRAS, da mesma localidade. Esse serviço, voltado ao atendimento de crianças e adolescentes, animou uma das estações em frente ao histórico Convento São Francisco. Os jovens do projeto retrataram a devoção de São Francisco ao Crucificado e os 800 anos do “Cântico das Criaturas”. Irmã Joselma Anjos, da Congregação das Franciscanas Seráficas e responsável pelo setor de espiritualidade do SEFRAS, acompanhou todo o percurso da Via-Sacra. Na parada diante do Convento São Francisco, o novo pároco, Frei Laerte Farias dos Santos, dirigiu algumas palavras aos participantes desse ato, recordando que não estamos sós em nossas caminhadas — por vezes difíceis e árduas — e que, com fé e esperança, seguimos firmes nos passos de Nosso Senhor.

As centenas de participantes seguiram em procissão por pontos simbólicos do centro da cidade, encenando passagens bíblicas ligadas à Paixão de Cristo, entremeadas por denúncias sociais contemporâneas. Entre os temas retratados estavam tragédias como os desastres ambientais em Mariana e Brumadinho, a chacina na escola de Suzano, além da ainda deficitária atuação do poder público em áreas como moradia, saneamento, saúde, educação e segurança para a população infanto-juvenil.

Durante o percurso, Frei Marx ressaltou a importância de escutar e cuidar das crianças e adolescentes em situação de exclusão: “Sempre dizem que as crianças são o futuro do país, mas para que isso se concretize, é preciso investir hoje em políticas de cuidado e dignidade para a vida no presente”, afirmou.

Ao retornarem à Catedral da Sé, os participantes encerraram a caminhada recordando, na Ressurreição do Senhor, o sonho de um mundo transformado pelo cuidado e pelo respeito à criação e a todos os seres. Jovens e crianças reafirmaram seu compromisso com a dignidade da vida e com a luta por um mundo mais justo e fraterno, no qual cada menor possa ter assegurado o horizonte dos sonhos e da esperança. Frei Marx, em sua fala final, lembrou que o Mistério Pascal do Senhor é um convite a todos nós para sermos anunciadores do desejo da criação, expresso pelo Pai: e “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31).

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Texto e fotos: Frei João Manoel Zechinatto