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Frei Marx será ordenado presbítero neste sábado

11/05/2019

Entrevistas

Moacir Beggo

O fluminense Frei Marx Rodrigues dos Reis será ordenado presbítero no dia 11 de maio, às 17 horas, pelas mãos de Dom Luciano Bergamin, CRL, bispo emérito de Nova Iguaçu, na Igreja Nossa Senhora Aparecida, em Nilópolis. Sua Primeira Missa será celebrada na Igreja Santíssima Trindade,em Nilópolis, no dia seguinte, às 8h30.

Filho de Heloíza e Marco Aurélio Ribeiro dos Reis, Frei Marx nasceu em São João de Meriti (RJ) no dia 28 de setembro de 1989. Tem duas irmãs: Amanda Rodrigues dos Reis (34 anos) e Yolanda Rodrigues dos Reis (32 anos).

Frei Marx ingressou no Aspirantado de Ituporanga em 2008 e vestiu o hábito franciscano em 2010. Cursou Filosofia na Fae Centro Universitário e Teologia no ITF, em Petrópolis. Em 2014 e 2015 morou no Convento do Sagrado Coração de Jesus e depois foi transferido para Imbariê – Duque de Caxias, onde morou por dois anos. Em 2018, foi transferido para o Convento São Francisco de Assis (SP) para trabalhar no Serviço de Animação Vocacional da Província e, nesse ano, foi transferido para o Convento Santo Antônio do Pari, onde está a serviço do Sefras – Serviço Franciscano de Solidariedade.

Site Franciscanos – Como se deu o seu discernimento vocacional?

Frei Marx – Enquanto estive no trabalho do Serviço de Animação Vocacional me questionei sobre isso. Nesse período, pude voltar ao meu ponto de partida, como nos ensina Santa Clara, e vi a misericórdia de Deus para comigo e os meus conterrâneos. Não nasci em uma família católica, mas, como em nosso país o sincretismo religioso é bem acentuado, fiz um longo período de catequese e, próximo da minha primeira comunhão, fui convidado a fazer um retiro no mosteiro das Irmãs Clarissas de Nova Iguaçu. No caminho, o ônibus passava por alguns lugares de pobreza visível e vi algumas crianças que brincavam descalças no chão, na terra batida e escurecida pelo lixo que estava à volta. Lembro-me de ter me visto pobre pela primeira vez e de ter me interrogado sobre o motivo que as Irmãs se propuseram viver naquele lugar.

Após essa oportunidade de ver uma realidade sofrida, tivemos a graça de conversar com as Irmãs, que nos explicaram a permanência delas a partir da vida de um Santo que deixou tudo o que tinha para servir a Deus entre os mais pobres de sua época. A história da vida de Francisco me impressionou. Como um homem foi capaz de deixar toda a sua riqueza para viver entre os leprosos, comendo migalhas, enquanto parecia ter encontrado o amor de sua vida?

Interroguei a irmã de onde vinha esse amor de Francisco. Ela, então me apresentou um Deus que, na sua divindade, não media esforços pela humanidade, principalmente pelos mais sofridos: Acolhia as crianças; sentava-se à mesa com os pecadores; falava de um Reino para os pequeninos. Nunca mais me esqueci desse Deus e nunca mais pude deixar de pensar num Reino no qual tem lugar para todos, que abre espaço para a humanidade ver o sagrado.

Primeiro, entendi que precisava ser franciscano. Fiz cinco anos de acompanhamento vocacional na Paróquia Nossa Senhora Aparecida e, a cada dia, entendia que a experiência de Deus se dava como proposta de uma nova realidade para mim. Entrei no Seminário em 2008 e lá entendi, com muita facilidade, que o ministério do presbítero tem total relação com a missão de ir aos mais sofridos e necessitados, apresentando a proposta do Reino de Deus. Essa minha leitura se perpetuou por muito tempo, até que tive uma crise. Pensei que talvez esse não seria o caminho que tinha desejado. Achei que talvez não quisesse viver em uma paróquia ou santuário, até que fui transferido para a Paróquia Santa Clara de Assis, em Imbariê, Duque de Caxias. Lá vi que ser um presbítero é algo mais do que estar em um espaço físico. Entendi que existe uma estreita relação entre celebrar o pão partido e enxugar as lágrimas dos que buscam o nosso convento. Vi que existe algo de sagrado na vida do povo e que esse povo deseja se apresentar a Deus, que o cálice não é apenas um vaso de metal, mas é o sagrado reunido em uma fé que provém do Evangelho. Naquela terra, quando se prega o Evangelho, o povo nos pede para rezarmos um pouco e, quando nos abraçamos, eles nos dizem: “Reze por mim, frei, reze por mim!”. Lá vi nos olhos do povo o sagrado e desejei servi-lo em preces constantes até o final de minha vida.

Site Franciscanos – O que é para você o ministério presbiteral?

Frei Marx – É algo que não seria capaz de definir. Sou capaz de refletir. Tenho certeza que não sou uma pessoa tão diferente do restante do povo de Deus e que por isso fui escolhido. Tenho a certeza que sou uma pessoa que Deus amou de tal forma que hoje sinto a necessidade de amar ao próximo, pois o amor de Deus transborda na vida humana. E é justamente porque o amor é algo tão próprio que nos colocamos no serviço presbiteral, porque é preciso amar os pobres e sofredores, anunciar o Evangelho que nos traz a vida, rezar por nós e por todos para que esse ministério tenha sentido.

Tem um fato que me aconteceu e que muito fala sobre o sentido do ministério. No final do curso de Teologia, tive a graça de fazer uma missão na Amazônia Peruana no período de um mês. Em um dos lugares que visitei, encontrei uma senhora que tinha perdido seu filho de treze anos naquela semana, e ela me pediu que rezasse pela alma de seu filho. Aceitei, e como naquela aldeia não tinha capela, fizemos a celebração na sua casa de pau-a-pique. Tinha apenas uma parede levantada e uma mesa que utilizamos para celebrar a Palavra de Deus. Quando chegou a hora de apresentarmos as nossas intenções, solicitei àquela senhora que fizesse algum pedido. Ela, com os olhos cheios de lágrimas, disse: “Frei, não tenho nada para pedir, quero apenas agradecer. Sabe como meu filho morreu? Então, ele me pediu um doce (que seria por volta de um real) e eu disse para ele que se lhe desse também precisaria dar para os seus dois irmãos. Como não tinha condições de comprar para todos, propus comprar primeiro para os menores e, da outra vez, compraria dois para ele. Ele aceitou e, quando voltei da quermesse, ele tinha subido nessa mesa, que você está rezando, para se enforcar. Ele deixou um bilhete que dizia não ser amado. Mas hoje, vejo que ele sabe que eu o amo, porque na mesa que ele morreu, celebro a sua vida”.

Acho que ser presbítero é ser capaz de celebrar o mistério de Deus que escorre do altar até o chão da existência dos homens. Ser presbítero é ser o menor, servo, para que o amor de Deus apareça. Ser presbítero não tem nada de mágico, tem tudo de mistério e o mistério nos foi revelado na vida de Jesus Cristo, que a entregou no dia a dia até que O entregamos numa cruz. Nela, Ele fez o canal da vida eterna, para que aquela mulher fosse capaz de viver sem ter os 3 reais que tiraram a vida de seu filho, mas que também fosse capaz de entender que o plano de Deus é que todos tenham vida em abundância.

Site Franciscanos – Como você apresentaria Francisco e Clara aos jovens. Que mensagem deixaria para eles?

Frei Marx – Acredito que Francisco e Clara são dois exemplos de quem buscou viver o Evangelho. Tenho plena certeza que o maior encantamento está em Jesus de Nazaré, um homem que nos apresentou o rosto humano de Deus. Esse Homem nos fez e ainda faz sentir que Deus realmente existe e isso nós vemos em suas atitudes que descortinam um novo amanhã.

Francisco e Clara viveram na carne aquilo que seus corações professavam: se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá aos pobres e depois me siga.

Eu perguntaria aos jovens: Vocês querem seguir a Jesus? Então, cumpram o que ele mandou. Tenho certeza que muitos jovens são apaixonados por Deus e buscam respostas audaciosas para esse amor que não cabe mais no peito. Sei que isso era o que sentiu Francisco e Clara quando deixaram a casa paterna sem saber muito bem o que haveriam de viver. Mas tinham uma certeza: não podiam dizer não ao mistério que eles viviam.

Site Franciscanos – Fale um pouco de sua família?

Frei Marx – Bem, somos três irmãos, eu e mais duas meninas, que são mais velhas que eu. Os meus pais moram em Nilópolis desde que se casaram e acho que nunca sairão de lá. Existe uma raiz profunda naquela terra. Eu cresci em uma casa bem pequena e tinha condição financeira bem simples. Naquela casa tínhamos uma relação muito saudável e diversa. Meu pai sempre sonhou com um mundo novo, sem desigualdades e misérias. Empenhou-se naquilo que lhe era possível e até hoje tem grandes sonhos. Minha mãe sempre foi muito lutadora. Lembro que cresci escutando MPB por influência dos meus pais. Nunca me esqueci da “Aquarela do Brasil”, que minha mãe cantava e nós tínhamos que desenhar no tempo da música. Também me recordo que, quando ficou muito claro para minha mãe que iria entrar no seminário, ela começou a participar das Missas comigo e, muitas vezes, me esperava na porta da Igreja até que concluísse tudo que era necessário. Acho que esse tempo gasto na porta da Igreja me fez entender um pouco do que é amar, do que é esperar pelo mais simples e satisfatório no mundo: a felicidade dos seus.

Acho que não serei capaz de grandes coisas, mas espero, ao menos, ser capaz de dedicar o tempo necessário para que os pequeninos do Reino sejam felizes.