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Um ano depois de sua morte, Frei Márcio Terra ganha biografia

30/05/2018

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Vila Velha (ES) – Um ano depois do seu falecimento, Frei Márcio de Araújo Terra ganhou na noite de ontem, 29 de maio, o seu livro biográfico, escrito por Alexsandra Tomazelli Sartório. Além de paroquianos, amigos, estiveram presente jovens resgatados no Projeto Nosso Guri (Pastoral do Menor), onde trabalharam Frei Márcio e a autora.

A Província da Imaculada, juntamente com os familiares e amigos, fizeram memória de um ano de falecimento de Frei Márcio. Em 2016, aos 67 anos, depois de retornar da Missão de Angola, onde foi missionário por 15 anos, o frade foi transferido para a comunidade da Rocinha (RJ) como vigário paroquial. Ali sofreu uma queda e veio a falecer no dia 29 de maio do ano passado.

“Frei Márcio de Araújo Terra, o outro Francisco no meio dos prediletos de Deus” é o título dado pela autora para esta biografia, testemunha da autêntica e profética vida do frade.

O lançamento foi na área externa do Santuário do Divino Espírito Santo, em Vila Velha (ES), onde foram expostas cartas, escritos, livros e objetos pessoais do frade. Todos os objetos expressavam, de algum maneira, a trajetória do religioso, sua busca, sua preferência e missão. O que mais chamou a atenção das pessoas, dentro de um pacote transparente, foi uma velha e simples bolsa, ainda suja, usada por Frei Márcio no Projeto Nosso Guri.

“Frei Márcio não andou longe de Jesus e de Francisco. Amava a todos. Servia a todos. Mas viveu a radicalidade da pobreza no meio das crianças e adolescentes de rua. Desposou esta causa e a ela foi fiel a vida inteira. Viveu a alegria do serviço aos pequenos mais necessitados. Saltou estruturas para viver a vida desestruturada das crianças forçadas a aceitar a rua como casa e a droga como mata-fome. Sabia que a pobreza maior era o desamor. Por isso amava com paixão os maltrapilhos da fome e da violência e do desprezo”, escreve Frei Clarêncio Neotti na apresentação.

Frei Clarêncio, o vigário paroquial do Santuário e incansável escritor, deu sua colaboração no projeto editorial de Alexsandra, revisando a obra e assessorando a autora. “Frei Márcio foi um homem coerente e sincero. Podemos até discordar das muitas atividades audaciosas dele. Mas uma coisa temos que declarar: Frei Márcio era coerente e sincero no pensar, no falar e no fazer”, disse Frei Clarêncio, agradecendou pela vida do confrade e a autora pela rapidez e zelo na elaboração do livro. “Um livro que nasceu com rapidez, mas foi ‘encharcado’ de respeito”, acrescentou. Frei Clarêncio ainda agradeceu a mãe de Frei Márcio e as irmãs “por nos terem entregue tão grande homem e nos possibilitar tamanho convívio”.

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Tomando a palavra, e muito emocionada, Alexsandra disse que “uma noite é pouco para dizer do mestre e pai”. “Frei Márcio é a concretude do pedido de Cristo aos seus para que cuidassem e acolhessem os que sofrem injustiças e marginalização. Frei Márcio amava os prediletos de Cristo… Frei Márcio salvou vidas por onde passou”, disse Alexsandra.

Segundo Alexsandra, era ainda jovem quando recebeu  fez o convite de Frei Márcio para acompanhá-lo no trabalho com meninos de rua. “Eu estava sentada na igreja da minha comunidade São Francisco de Assis em Boa Vista, Soteco, e meus olhos se encheram de entusiasmo. Lá fui eu cheia de expectativas, mas sem imaginar que dali surgiria a mais bela e significativa amizade entre nós dois e que aquele chamado para atuar com meninos de rua me levaria a definir meus rumos profissionais e acadêmicos”, revela a autora, capixaba de Vila Velha (nasceu no dia 31/10/74). Formada em Serviço Social na UFES, Alexsandra também fez pós-graduação em Família e mestrado em Política Social. Como assistente social, já foi concursada do Poder Judiciário do Estado, trabalhou nove anos no Tribunal de Justiça e, desde 2010, atua como assistente social na 1ª Vara da Infância e Juventude de Cariacica.

“Lembro-me bem que após a missa de inauguração do Projeto Nosso Guri (maio de 1993) na Comunidade Cristo Rei (a casa do Projeto ficava ao lado da igreja, no Bairro Divino Espírito Santo e, fora cedida pelos Vicentinos), aproximei-me de Frei Mário e disse que eu tinha acabado de me formar em magistério e queria dar aulas aos meninos. Ele disse: ‘pode vir amanhã mesmo!’ Fui, cheia de livros e joguinhos para dar aulas aos meninos. E claro que a atuação tomou uma proporção enorme para além das aulas, para uma vivência próxima e afetiva de compromisso com os meninos, até do banho e dos piolhos nós cuidávamos e, para uma participação na defesa dos direitos da criança e do adolescente”, recordou Alexsandra.

A autora revelou também o sonho que tinha, assim como Frei Márcio, em escrever sobre a realidade das crianças no Brasil. Mas este sonho permaneceu no coração de ambos. Alexsandra chamou todas as crianças e disse: “Esse era o grande amor de Frei Márcio”, disse. Na Missão em Angola, vendo o drama das crianças órfãs de guerra, Frei Márcio criou o Projeto Nossos Miúdos”, em atividade até hoje. A noite terminou com autógrafos e fotos.

Dentre tantos jovens que foram acolhidos e restaurados em sua dignidade, no ano de 1990, pelas mãos e ministério de Frei Márcio, fez-se presente Emerson Pereira dos Santos, hoje com 34 anos. Casado, deu seu testemunho sobre o frade:
“Frei Márcio, com o seu olhar humano e com jeito brincalhão, foi um verdadeiro pai, educando-me para a vida. Frei Márcio é a ‘melhor coisa’ que me aconteceu na vida”, disse Emerson, falando também em nome de seu irmão, outro resgatado.

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