Uma justa homenagem a Frei Ludovico Garmus pelos 80 anos de vida
22/08/2019
Petrópolis (RJ) – Na noite do dia 21 de agosto, a comunidade acadêmica do Instituto Teológico Franciscano (ITF), de Petrópolis (RJ), reuniu-se para celebrar os oitenta anos de vida do frade e professor Ludovico Garmus. Frei Gabriel Dellandrea abriu a homenagem recordando que a vida do aniversariante já era prometida a Deus desde o seu nascimento.
“Era uma tarde, dia 24 de agosto de 1939. Na Europa já havia começado a Segunda Guerra Mundial, ceifando vidas humanas. Mas, no Alto Irani, um pequeno lugarejo do município de Concórdia, as preocupações eram outras… Naquela tarde de agosto as vizinhas e comadres e a parteira acorreram à casa do Sr. Alexandre Garmus. É que sua esposa, Francisca estava para ter mais um filho… As sombras se avolumavam e o sol já estava para se por atrás do morro. As crianças que brincavam no pátio começaram a olhar para a estrada que passava logo acima. Uma figura, ao mesmo tempo estranha e bem conhecida, estava passando, montada num cavalo: Era o Padre que vinha de Seara, a uns 30 Km de distância. No dia seguinte iria celebrar a missa na capela de São José. Enquanto as crianças silenciavam no pátio, ouviu-se um choro de criança, que vinha do quarto de Dona Francisca. Acabara de nascer mais um filho. Desta vez era menino. O Sr. Alexandre foi logo chamado para o quarto da esposa. Ao saber que era um menino, envolveu-o em seus vigorosos braços e depois, num gesto profético, o levantou para o céu e disse: “Esse menino fica para Deus”! (O que ficou… Balanço aos 50 – Editora Vozes 1989).
“Fica para Deus agora a nossa gratidão pela sua vida, Frei Ludovico Garmus. Nesta noite celebramos o seu aniversário com um tom especial, um balanço, e dizemos que o que realmente ficou foi o cumprimento dessa promessa de você ser de Deus. Louvamos pelos seus dons e talentos, e temos certeza que eles ainda frutificarão sempre mais entre nós. Apesar de as coisas terem mudado muito desde aquele dia no Alto Irani, a promessa do seu pai, que deu você para o Pai, se cumpre diariamente”, completou Frei Gabriel.
O professor Carlos Frederico Schlaepfer mediou a celebração, lembrando que, desde os primórdios da Igreja, os discípulos de Jesus se reuniam para celebrar e transmitir oralmente os feitos e prodígios do Mestre. Dessa maneira, compôs-se uma mesa com Frei Ludovico, Frei Almir Ribeiro Guimarães e Frei Ivo Müller. Um diálogo descontraído entre os confrades de turma, Ludovico e Almir, sobre os tempos de seminário e formação inicial, deu o tom do evento.
“Oitenta anos. Não acredito que, nos primeiros anos de nossa vida franciscana imaginávamos chegar onde chegamos. E, de quando em vez, andamos dizendo ao Senhor que não temos pressa de fechar as cortinas desse estonteante espetáculo da vida do qual fomos convidados a participar. Podemos aguardar ainda um bom tempo”, disse Frei Almir. “Não estamos de acordo com o Coelet quando afirmava: ‘Lembra-te de teu Criador nos dias da juventude, antes que cheguem os dias nefastos e se aproximem os anos dos quais dirás: Não gosto deles’. (12,1). Uma suave satisfação de viver sem muita preocupação, ser o que somos, acolher o diferente sem irritação. Não se trata mais tanto de ter ou fazer. As mãos vazias, mas o coração ainda cheio de esperas. E esse Mistério que anda nos cochichando que é proibido envelhecer. Participamos da eterna juventude de Deus. Claudel: ‘A paz de um coração instruído por Deus e que se experimenta ao envelhecer é inflamada e profunda’. Sem mágoas e apegos vamos fazendo a último e belo percurso do êxodo. Mãos vazias…”, acrescentou Frei Almir, detalhando experiências e vivências partilhadas nos anos de seminário em Agudos; no Noviciado, em Rodeio; na Filosofia, em Curitiba; e na Teologia, em Petrópolis.
No final de suas recordações, Frei Almir citou Marie-Thérèse Abgrall: “A graça da idade é a do tempo reencontrado, de uma disponibilidade maior, que nos permite sentir o frescor do real, seu sabor e sua profundeza, num acercamento mais imediato e mais límpido. Posso ouvir e ver, quanto me for possível, com todos os meus olhos e meus ouvidos o canto do mundo que até mim chega e que me leva ao Criador. O perfume das tílias mais forte ao entardecer, a crianças rindo na rua, o canto do melro tão perto de nós: não precisamos ir até as extremidades da terra com gastos abusivos para degustar coisas tão simples que estão ao alcance de nossas mãos”.
O aniversariante contou como começou sua vocação, sua história, a origem da família e seus trabalhos como frade, destacando a coordenação da tradução da Bíblia Vozes e a revisão exegética. Afirmou que hoje em dia se sente feliz e realizado, buscando sempre novos desafios. “Sempre gostei de desafios! Hoje o meu desafio é dar aula com alegria”, declarou.
Encerrando a celebração, o aniversariante lembrou que sempre teve o desejo de ser missionário de modo que escolheu para a sua ordenação presbiteral a frase: “Doravante tu serás pescador de homens”. Mas, sem nunca conseguir concretizar este sonho, afirmou: “Sem frustração, eu continuo ajudando a preparar as varas para os pescadores”. Assim, cumpre sua missão de docente ajudando a formar pessoas a irem em missão.
Frei Marcos Schwengber e Frei Augusto Luiz Gabriel (Fotos)