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Frei José Cambolo será ordenado diácono no domingo

24/06/2019

Entrevistas

Frei José Morais Cambolo nasceu em Luanda, Angola, em 26 de janeiro de 1989. É filho de José Mateus Cambolo e Josefa Antônio Morais, e tem seis irmãos: três meninos e três meninas. Ele é o quinto.  Com a conclusão do curso de Teologia, Frei José será ordenado diácono no dia 30 de junho, às 10 horas, na Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, em Petrópolis (RJ), onde reside atualmente, pelas mãos de Dom Leonardo Ulrich Steiner.

Frei José escolheu como lema de sua ordenação diaconal um versículo tirado do Evangelho de São João: “Dei-vos um exemplo, para que façais assim como eu fiz para vós” (João 13,15).
Frei José torna-se, assim, o sexto frade a ser ordenado diácono na Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola.  Acompanhe a entrevista concedida a  Frei Augusto Luiz Gabriel!

Site Franciscanos – Frei José, por favor, fale sobre a caminhada vocacional.

Frei José Morais Cambolo – O início da caminhada vocacional foi normal, sem fatos extraordinários. “Mas há algo que considero fundamental: a nossa casa era vizinha do Seminário dos Missionários Josefinos. Esses religiosos marcaram muito minha vida. Foram eles que me incentivaram a participar da vida da Igreja, da catequese, do grupo de coroinhas e, posteriormente, do grupo vocacional paroquial da Paróquia São José Operário, que era administrada pelos mesmos. Frequentava ordinariamente essa comunidade religiosa, que até então me questionava. E questionado sobre o porquê de ingressar na Ordem dos Frades Menores e não nos Missionários Josefinos. Por intermédio das Irmãs Catequistas Franciscanas, conheci um pouco da vida de São Francisco de Assis. Fiquei encantado pela determinação do santo ainda na sua juventude. Fui acolhido por Frei José Antônio dos Santos e Frei Alexandre Magno Cordeiro, comecei a frequentar os encontros vocacionais e, assim, dei os primeiros passos na vida franciscana. Sem medo de errar, afirmo que foi Deus quem me conduziu à família franciscana.

Site Franciscanos – Como você vê esse novo passo na sua vida religiosa?

Frei José – Estou vivendo mais um momento importante de minha caminhada vocacional pelo fato de me colocar à disposição para servir à Igreja como diácono. Penso que, ao dar esse passo, reafirma-se sacramentalmente a vocação franciscana, a vivência do Evangelho com tudo o que ele implica. Considero o Frade Menor como o homem do lava-pés por essência, que se esvaziando a si mesmo, se abaixa, assume a realidade de seus irmãos e irmãs, sobretudo os mais pobres e os serve. Portanto, embora o ministério ordenado não esteja relacionado à essência da vida franciscana, vejo que seguir a Cristo, que se fez servo de seus irmãos e irmãs, ao assumir o ministério diaconal, me faço servo como o Cristo, servindo o Povo de Deus.

Site Franciscanos – Você é uma das primeiras vocações da Missão de Angola. Como vê o futuro da Fundação?

Frei José – A FIMDA está passando por momentos importantes, digo até momentos de graça, um sonho desde o início da missão, que é a implantação da Ordem dos Frades Menores em Angola. O futuro da FIMDA está aí: dos frades ao povo em geral que têm assumido o nosso carisma. Graças à entrega e dedicação da Fraternidade Provincial é que o futuro está, aos poucos, se concretizando. Por isso, considero como momento de graça, não somente pelo número de candidatos, mas pelos frutos que confirmam que o carisma franciscano, apesar das limitações humanas, está ‘“entrando capilarmente” no solo angolano. Nas Frentes de Evangelização – Paróquias e Centros de Acolhimento, educação, formação, comunicação, solidariedade e missão -, nota-se o vigor da vivência do Evangelho como quis nosso Pai São Francisco.

Site Franciscanos – Quais as perspectivas e os desafios para o trabalho evangelizador em Angola?

Frei José – Quando falamos em evangelização, há sempre algo que nos desafia. O campo de evangelização é imenso e requer sólidas perspectivas. A Igreja de Angola apresenta um terreno fértil onde as sementes do Evangelho necessitam ser lançadas: levar as pessoas a fazer a experiência com Cristo, formação das comunidades eclesiais, formação das lideranças e do povo em geral, inculturação da mensagem evangélica, em que fé e cultura possam dialogar abertamente, e a atuação nos diversos âmbitos da sociedade. Mas sabemos que “a seara é grande, mas os trabalhadores são poucos” (Lc 10,2). Como frade, a perspectiva fundamental é a de evangelizar em fraternidade. E o desafio é o de ser presença constante nas imensas regiões onde atuamos. Mais do que fazer trabalhos, o ser presença afetiva e efetiva, participando das alegrias e tristezas do povo angolano consiste num desafio para o frade menor em Angola.

Site Franciscanos – Como você vê o Pontificado do Papa Francisco?

Frei José – O Papa Francisco tem surpreendido a todos, sobretudo nós, franciscanos. Seu Pontificado tem mostrado atitudes quenóticas, atitudes de Jesus, tão amadas e vividas por nosso pai São Francisco. Na verdade, ele é mesmo o Francisco! Quando vejo os gestos e pronunciamentos do Francisco de Roma, percebo uma volta às fontes da vida cristã e do carisma franciscano, como o olhar preferencial aos mais empobrecidos, o resgate da fraternidade universal e a promoção da unidade e da paz. Como frade menor e filho da África, concretamente das terras de N´Gola Kilwanji Kya Samba (Angola), me vejo incluso neste Pontificado do Papa Francisco. Ele resgata muitos elementos eclesiológicos do Vaticano II e elementos essenciais da vida franciscana. Sempre que ouço o Papa Francisco vem à tona o adágio angolano na língua Kimbundu: “Mu kanu dya mwadyakime mubhola maju: Ki mubholo maka” (Na boca do mais velho há dentes podres: Mas nunca palavras, ou questões, podres). Ele é o nosso mais velho, que nos orienta, nutre na fé por suas palavras e gestos.

Site Franciscanos – Vale a pena ser religioso franciscano? Deixe uma mensagem para os jovens que querem conhecer o carisma franciscano.

Frei José – Penso que ser franciscano não foi somente minha escolha. Poderia talvez ser missionário josefino, mas foi Deus quem me conduziu à Ordem dos Frades Menores e, com toda a liberdade, experimentei, amei, e assumo conscientemente o carisma franciscano. Considero ser franciscano a página mais bela de minha vida! Como o Cristo, o franciscano é aquele que vive autenticamente a sua vida de fé. Como discípulo de Cristo, serve os irmãos e irmãs, lava os pés dos outros, se faz irmão e menor de todos! Aos jovens que pretendem conhecer o carisma franciscano, digo não tenham medo, venham e façam a experiência do seguimento de Cristo conosco. A partir do “vinde e vede”, da vida em fraternidade, nas pequenas coisas, muitas vezes insignificantes aos olhos dos demais, como o santo de Assis, posso afirmar: “É isso que eu quero, é isso que eu procuro, é isso que eu desejo de todo o coração!”