Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Frei Fidêncio se emociona na Profissão Solene de Frei Douglas e Frei Valdeci em Petrópolis

11/08/2013

Notícias

Moacir Beggo

Petrópolis (RJ) – Depois de anos de formação na vida religiosa, é comum as profissões religiosas e ordenações se tornarem momentos carregados de emoção para os professandos e ordenandos. Mas neste sábado (10/8), na celebração da Profissão Solene de Frei Valdeci Bento de Moura e Frei Douglas Paulo Machado, na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Petrópolis (RJ),  às 10 horas, a emoção ficou por conta do presidente, o Ministro Provincial Frei Fidêncio Vanboemmel, que fez um desabafo no meio da homilia ao confessar o quanto dói, na função de Ministro Provincial, ter que ouvir de um confrade que perdeu o encanto para a vida religiosa e que “foi bom enquanto durou”!

Frei Fidêncio Vanboemmel, Ministro Provincial

Frei Fidêncio Vanboemmel, Ministro Provincial

A partir do lema escolhido por Frei Douglas e Frei Valdeci, “grandes coisas prometemos a Deus mas muito maiores Deus nos prometeu”, um texto do “Fioretti” de São Francisco de Assis, o Ministro Provincial desenvolveu a sua homilia com base nas pequenas e grandes promessas que fazemos permanentemente a Deus, à Igreja, à comunidade religiosa e à comunidade cristã.

Frei Fidêncio lembrou que, no início de julho, o Papa Francisco se encontrou em Roma com seminaristas, jovens religiosos (as) e sacerdotes, quando disse que somos vítimas da cultura do provisório. “E como podemos nos libertar dessa cultura, perguntou o Papa àquelas jovens vocações. Pois bem, hoje nós dizemos a Deus: prometo viver todo o tempo da minha vida… Tudo isso ressoa diante dessa cultura do provisório e, muitas vezes, na nossa vida religiosa prometida, assim como na vida conjugal, ouvimos por aí: ‘Foi bom enquanto durou!’. Isso dói muito quando a gente, que exerce a função de Ministro Provincial, ouve da boca de um confrade nosso: ‘Foi bom, mas não dá mais!'”, desabafou o Ministro Provincial, dando uma pausa para se recuperar da voz embargada.

Segundo o Ministro, é muito difícil ouvir frades que acabaram de professar, há um ano ou dois apenas, dizerem: “Foi bom enquanto durou, a alegria sumiu. O prazer de viver esse projeto de Nosso Senhor Jesus Cristo não está mais presente no meu coração!”, lamentou, afirmando: “Portanto, a primeira promessa que nós fazemos a Deus,  o ponto de partida – prometo viver o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo – não deve ficar esquecida”, disse.

Segundo Frei Fidêncio, quando não há interiorização do Evangelho, quando essa Palavra desaparece na  vida, perde-se o encanto para todos os demais valores da vida religiosa. “Frei Douglas e Frei Valdeci, é grande a responsabilidade que vocês estão assumindo nesta manhã diante de todos nós, sobretudo diante de Deus. Prometo, faço voto, grandes coisas prometemos! E como nós prometemos a Deus, diz o livro do Eclesiastes, não devemos jamais nos desvencilharmos daquilo que prometemos. Ou ainda como diz o Eclesiastes, é melhor não  prometer do que prometer e não cumprir”, admoestou.

Fotos Moacir Beggo

Profissão de Frei Valdeci

“Meus caros confrades, Frei Douglas e Frei Valdeci, eu creio que o pedido que vocês acabaram de fazer foi um pedido amadurecido no coração de vocês. Uma grande decisão vocês amadureceram no coração. É muito interessante que hoje, na Primeira Leitura, tirada da segunda Carta de São Paulo aos Coríntios, Paulo fala de uma coleta que ele organizou em favor dos cristãos pobres de Jerusalém e, a certa altura, ele diz: ‘Deem a cada um conforme o que estiver decidido em seu coração’. Sim, na Bíblia, coração é sempre o lugar das grandes decisões”, observou, frisando: “E vocês, caros irmãos, vão dizer hoje a partir do próprio coração, na fórmula da profissão: entrego-me, pois, de todo coração, a esta Fraternidade.  Vocês estão dando, como diz São Paulo, aquilo que vocês decidiram no seu coração. Uma entrega à Fraternidade que, mesmo com os seus limites, ajudou-os a amadurecerem esta decisão. Uma fraternidade que  será sempre o lugar concreto, o lugar visível, o lugar salvífico, onde vão viver por todo o tempo de sua vida esta vocação cristã, vocação franciscana, missão cristã e missão evangelizadora”.

Segundo Frei Fidêncio, a decisão do coração é sempre importante porque é o espaço para se cultivar a semente. “Nós ouvimos hoje no Evangelho Jesus dizendo: ‘Se essa semente não morre, ela não vai produzir frutos’. Eu creio que esta experiência de morte, nós, na vida religiosa, fazemos quando dizemos a Deus: quero viver na pobreza, quero viver na castidade (pureza de coração), quero viver na obediência, quero viver em fraternidade, quero viver no espírito de minoridade, quero viver a vida evangelizadora. E ali vamos fazer, dia após dia, esta experiência da morte da semente, para que a graça de Deus possa crescer,  florescer e frutificar em todos nós. Frei Valdeci e Frei Douglas, oxalá a promessa que vocês fazem hoje a Deus possa ser também uma promessa para louvor e a glória de Deus Pai. Amém!”

Fotos Moacir Beggo

Profissão de Frei Douglas

Na celebração, Frei Fidêncio  saudou Frei Giancarlo Lati, da Província de Assis e Ecônomo da Ordem dos Frades Menores, que participou de um encontro da Conferência dos Frades Menores do Brasil: “É uma alegria muito grande tê-lo presente também na celebração!”.

O Ministro Provincial também lembrou a ligação profunda na história vocacional da Província Franciscana da Imaculada Conceição com o Convento e Igreja do Sagrado. “Quantas profissões já se realizaram nesta igreja, nesta comunidade, nesta fraternidade?”, observou Frei Fidêncio, que presidiu a celebração do lado do Guardião Frei César Küllkamp e do Definidor Frei Evaristo Spengler.

Rito da Profissão

A família de Frei Valdeci, de Monte Alegre (MG), esteve presente na celebração e, representando os pais de Frei Douglas, veio de Santa Catarina o Pe. Kevin, que foi seu colega de turma no início da formação no Seminário de Nossa Senhora de Lourdes, em Brusque (SC).

Após a leitura do Evangelho, teve início o rito, quando o mestre de formação da Teologia, Frei Marcos Antônio Andrade, apresentou  os professandos ao Ministro Provincial. Eles foram chamados pelo nome e fizeram o pedido de admissão à Ordem dos Frades Menores.

Depois da homilia, os professandos se aproximaram do Ministro Provincial e foram interrogados sobre a preparação para se consagrarem a Deus segundo a forma de vida dos Frades Menores.  Então, eles se prostraram ao chão num gesto de entrega e despojamento enquanto foi cantada a Ladainha de Todos os Santos.

Terminada a prece litânica, cada um dos candidatos se aproximou do Ministro, colocando as mãos entre as mãos do Ministro Provincial para ler a fórmula da profissão.

Ajoelhados, os  neoprofessos receberam a bênção de Deus  e foram abraçados por seus confrades e familiares num gesto fraterno de acolhida à Fraternidade.

Depois da comunhão, Frei Douglas fez os agradecimentos finais e, em seguida, todos se confraternizaram no almoço, que teve a presença sempre fraterna do Bispo Diocesano de Petrópolis, D. Gregório Paixão, OSB.


Íntegra da homilia de Frei Fidêncio

 Hoje, na festa de São Lourenço Mártir, quero saudar a todos os confrades presentes, em particular Frei Giancarlo Lati, frade da Província de Assis e atualmente Ecônomo Geral da Ordem que se faz presente nesta celebração, Pe. Kelvin da Arquidiocese de Florianópolis, familiares de Frei Valdeci, religiosas e todas as pessoas que vieram participar desta celebração da Profissão Solene.  É uma alegria podermos estar neste Convento e nesta Igreja do Sagrado Coração de Jesus onde, historicamente, a nossa Província Franciscana da Imaculada Conceição já celebrou tantas profissões e ordenações. Sim, hoje nos reunimos com alegria para a Profissão Solene de vocês, caros Frei Douglas e Frei Valdeci.

Vocês escolheram como lema da Profissão Solene um versículo do livro “I Fioretti” de São Francisco de Assis: “Grandes coisas prometemos a Deus; mas muito maiores, Deus nos prometeu”.

Caríssimos irmãos e irmãs, a nossa vida cristã se move por pequenas e grandes promessas que fazemos permanentemente a Deus, à Igreja, à comunidade religiosa e à comunidade cristã. São promessas significativas que marcaram a nossa vida, como por exemplo, a promessa do batismo, a promessa no dia da crisma, a promessa sacramental que nós fizemos no dia da Primeira Comunhão, promessa de vida eucarística que nós reavivamos em todas as celebrações eucarísticas. Da mesma forma, na iniciação à vida religiosa, nos movemos através das promessas.

Quando vocês, Frei Valdeci e Frei Douglas, decidiram entrar na vida religiosa, vocês vieram com uma motivação muito grande que nasceu de um chamado divino. Este chamado de Deus foi aquecido no coração de vocês mediante promessas silenciosas de viver este sonho, este ideal de vida franciscana. Assim também pequenas ou grandes promessas vocês fizeram nas etapas de formação, particularmente no postulantado, no ano da provação do noviciado – fui o mestre dos dois! -, e no tempo da profissão temporária, seja em Rondinha ou aqui em Petrópolis.  Portanto, a promessa que vocês fizeram na Primeira Profissão religiosa, ao término do Noviciado, e as promessas que vocês renovaram ano após ano, os levam hoje a fazer a GRANDE promessa a Deus: “grandes coisas prometemos a Deus; mas muito maiores, Deus nos prometeu”.

Daqui a pouco vocês estarão ajoelhados, e com as mãos postas entre as minhas pobres mãos, irão proclamar: Prometo a Deus, prometo a esta fraternidade, prometo a esta Igreja de Deus, prometo observar “por todo tempo da minha vida” o Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. E esta é uma promessa extremamente grandiosa pela qual vocês se comprometem viver, por todo o tempo de suas vidas, a “observar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo”, do jeito como São Francisco de Assis viveu a sua radicalidade evangélica.

Vocês vão prometer viver por todo o tempo da vida os votos, isto é, viver os Conselhos Evangélicos da pobreza, da obediência e da castidade. É grande essa promessa, meus caros confrades!

Vocês vão prometer viver por todo o tempo da vida de vocês a Regra Franciscana e as Constituições Gerais da nossa Ordem. É grande o que vocês prometem, Frei Valdeci e Frei Douglas!

Vocês vão prometer, por todo o tempo da vida de vocês, viver a vida em fraternidade. A fraternidade é o lugar concreto onde nós nos santificamos, é o lugar onde nós nos purificamos, é o lugar onde nos fortalecemos mutuamente nesta promessa feita a Deus Pai Todo Poderoso.

Ao fazermos essas promessas, também temos consciência de que não apenas prometemos viver para nós mesmos. Vocês, ao término da fórmula da Profissão Solene, vão dizer ainda que prometem viver por todo o tempo de suas vidas a dimensão apostólica e a dimensão missionária, próprias da nossa vocação evangélica e evangelizadora.  Portanto, se nós prometemos viver o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, essa promessa também tem as suas consequências: vivermos sempre como frades menores em missão evangelizadora. Isso tudo nós prometemos a Deus! Logo, “grandes coisas prometemos a Deus”.

Frei Douglas e Frei Valdeci, é uma grande responsabilidade que vocês estão assumindo nesta manhã diante de todos nós, mas, sobretudo diante de Deus!  Prometo, faço voto, grandes coisas prometemos…  E como nós prometemos a Deus, jamais podemos nos desvencilhar do prometido. O livro do Eclesiastes diz: “Quando fizeres uma promessa a Deus, não tardes em cumpri-lo. Deus não se agrada de tolos. Cumpre o que prometeste. É melhor não prometer do que prometer e não cumprir” (Ecle 5,3).

No início do mês de julho, mais precisamente no dia 6, o Papa Francisco, em Roma, encontrou-se com um número muito grande de noviços e noviças, sacerdotes, seminaristas que estavam iniciando a vida de consagração a Deus. E, naquela ocasião, o Papa dizia que todos nós estamos vivendo sob a pressão da cultura do provisório. Somos vítimas desta cultura. E como podemos nos libertar da cultura do provisório é a pergunta que o Papa fez àqueles jovens, àquelas jovens vocações.

Pois bem, se vocês hoje afirmam “prometo viver todo o tempo da minha vida”, como isso ressoa diante dessa cultura do provisório? Muitas vezes, tanto na nossa vida religiosa como na vida conjugal, ouvimos esta expressão: “Foi bom enquanto durou”. Isso acontece na vida conjugal, acontece na vocação sacerdotal e, infelizmente, também na nossa vocação para a vida religiosa.

Quando um religioso ou um sacerdote promete a Deus e à Igreja viver “por todo o tempo de sua vida”, dói muito na vida da gente, principalmente no ministério que a gente exerce como Ministro Provincial, ouvir da boca desse recém-professo: “Foi bom, mas não dá mais”.  Dói ouvir de um irmão que acabou de professar solenemente e, um ou dois anos depois, afirma: foi bom enquanto durou…, a alegria sumiu… o prazer em viver o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo já não está mais presente no meu coração… etc.

Portanto, a promessa que nós fazemos a Deus, a primeira promessa, esta não deve ficar esquecida na nossa vida: é o ponto de partida!!! “Prometo viver o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo”. E quando esta promessa da interiorização do Evangelho, quando essa Palavra do Evangelho desaparece na minha vida, eu perco o encanto de todos os demais valores da vida religiosa.

Meus caros confrades, Frei Douglas e Frei Valdeci, eu creio que o pedido que vocês acabaram de fazer foi um pedido amadurecido com o coração de vocês. Sim, grandes coisas vocês amadureceram no seu coração! É muito interessante que hoje, na Primeira Leitura, São Paulo recorde o fato concreto de uma coleta que ele organizou em favor dos cristãos pobres de Jerusalém. E a certa altura ele diz: “Dê cada um conforme tiver decidido em seu coração”. Sim, na Bíblia o ‘coração’ é sempre o lugar das grandes decisões! Jesus também nos diz que no coração podem brotar tantas coisas bonitas, como também no coração humano podem ser maquinadas tantas coisas más ou perversidades.

E vocês, caros irmãos, hoje vão dizer que é do próprio coração (na fórmula da profissão) que se entregam a esta Fraternidade. Vocês estão oferecendo, como diz São Paulo, aquilo que decidiram no seu coração: entrego-me de todo coração a esta Fraternidade! Uma fraternidade que, mesmo com os seus limites humanos, ajudou vocês a amadurecer nesta decisão. Uma fraternidade que terá sempre um lugar concreto, um lugar visível… Uma fraternidade que será sempre o lugar salvífico onde vocês vão viver, por todo o tempo de sua vida, esta vocação cristã na vida religiosa franciscana e na missão evangelizadora da fraternidade.

A decisão do coração é importante! É no coração que vocês vão cultivar a semente. Nós ouvimos hoje no Evangelho Jesus dizendo: “Se a semente não morre, ela fica só. Mas se morrer, ela produzirá frutos”. Eu creio que esta experiência de morte, nós, na vida religiosa, a fazemos quando dizemos a Deus, quero viver na pobreza, quero viver na castidade (pureza de coração), quero viver na obediência, quero viver em fraternidade, quero viver no espírito de minoridade. E ali vamos fazer, dia após dia, esta experiência da morte da semente para que, com a graça de Deus, ela possa florescer e frutificar em todos nós.

O Evangelho termina dizendo: “Se alguém me serve, meu Pai o honrará”… Frei Valdeci e Frei Douglas, “grandes coisas prometemos a Deus; mas muito maiores, Deus nos prometeu”. Oxalá a promessa que vocês fazem hoje a Deus possa ser uma promessa para a glória e o louvor do “Pai Santo e Todo Poderoso”. Amém!