Frei Paulo apresenta o itinerário aos professos: identificar-se com Jesus Cristo Crucificado
18/09/2022
Petrópolis (RJ) – A Igreja do Sagrado Coração de Jesus transformou-se em um novo Monte Alverne neste dia 17 de setembro, data em que a Família Franciscana do mundo todo celebra a Festa da Impressão das Chagas de São Francisco de Assis. Inspirados pelo modo apaixonado da vida de São Francisco de Assis, por suas palavras e exemplo, os freis Danilo Santos Oliveira e João Manoel Zechinatto, deixaram-se marcar profunda e intensamente por Cristo e afirmaram o seu sim definitivo na Ordem dos Frades Menores, em celebração presidida pelo Ministro Provincial, Frei Paulo Roberto Pereira.
“A celebração de hoje, na Festa das Chagas de São Francisco, é também a celebração agradecida pelo itinerário vocacional percorrido pelo Danilo e pelo João. É a festa da nossa fraternidade. É importante para eles e é importante para a nossa fraternidade”, disse Frei Paulo no início da homilia.
Esse momento reuniu frades de toda a Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, entre eles o Vigário Provincial, Frei Gustavo Medella, familiares e amigos dos professandos e os fiéis paroquianos da comunidade local, durante a Celebração Eucarística, às 16h15, na Igreja do Sagrado Coração de Jesus de Petrópolis (RJ). Frei Paulo teve como concelebrantes o guardião e pároco Frei Jorge Paulo Schiavini e Frei Gustavo. A celebração também foi transmitida pelas plataformas digitais da Paróquia do Sagrado e pela TvFranciscanos e contou com a participação especial do Coral dos Canarinhos de Petrópolis – que neste ano completou 80 anos-, sob regência do maestro Marco Aurélio Lischt.
Os paroquianos e familiares lotaram a centenária igreja do Sagrado Coração de Jesus para participar desta celebração franciscana que se repete em Petrópolis há décadas.
Após a liturgia da Palavra, deu-se início ao rito da profissão religiosa com a chamada nominal dos candidatos feita pelo mestre do Tempo da Teologia, Frei Marcos Antonio de Andrade. Eles se aproximaram do altar e responderam: “Aqui estou”. Seguidamente Frei Marcos leu um breve relato sobre o itinerário vocacional de cada professo. Na sequência eles manifestaram o pedido de admissão à Ordem dos Frades Menores, dizendo: “Com o auxílio de Deus, pude conhecer na vossa fraternidade o valor da vida consagrada. Agora, humildemente peço a ti Frei Paulo Roberto Pereira e aos teus irmãos ser admitido na Ordem dos Frades Menores, para o louvor de Deus e o serviço da Igreja”.
PROFESSAR SIGNIFICA: IDENTIFICAR-SE COM A VIDA DE JESUS CRISTO
A partir do lema escolhido pelos professandos, “Grandes coisas prometemos a Deus, mas, muito maiores Deus nos prometeu”, um texto dos “Fioretti” de São Francisco de Assis, o Ministro Provincial desenvolveu a sua reflexão manifestando a importância da celebração para a vida pessoal dos frades, bem como para toda a fraternidade provincial.
Antes, porém, Frei Paulo saudou o guardião Frei Jorge, o mestre Frei Marcos “e ao saudá-lo saúdo todos os mestres, professores e confrades que colaboram e muito para a formação inicial na nossa fraternidade provincial”. Na pessoa do coordenador do Regional do Rio de Janeiro, Frei Gilberto da Silva, acolheu também os frades das fraternidades da Baixada Fluminense, Petrópolis e do Rio de Janeiro.
“Quero saudar também os seus familiares consanguíneos, nós somos a família do Danilo e do João. Somos uma família ampliada da qual definitivamente eles fazem parte. “Todos os que frequentam essa igreja de alguma maneira bebem do desejo de espalhar ao mundo a Paz e o Bem. Somos franciscanos, a família franciscana, e a nossa família da Província Franciscana quer se unir a vocês”.
Para Frei Paulo, com a celebração das Chagas de São Francisco, motivos não faltam para agradecer a Deus que continua a chamar jovens para o seguimento de Cristo na vida religiosa. “O vigor vocacional do João e do Danilo e de tantos frades jovens aqui nos estimula. É verdade, se estamos atravessando o inverno vocacional, porém, depois dele virão novas estações. Que o nosso coração esteja pronto a agradecer ao Deus da vida, que continua, insistentemente, a nos apontar o caminho da salvação, o caminho de Clara e de Francisco de Assis”, disse o presidente da liturgia.
Segundo o Ministro Provincial, a Festa das Chagas é a festa, onde nós celebramos a intimidade operosa, criativa e transformadora. “É a identificação de Francisco com a vida de Jesus Cristo”, frisou, e lembrou que Francisco recebeu e quis sentir no seu próprio corpo as dores da Paixão de Jesus Cristo.
Frei Paulo explicou ainda que São Francisco não recebeu este dom “de uma hora para outra”. “Ele recebeu este dom vivenciando com muita intensidade o desejo de assemelhar-se a Jesus Cristo. Experimentar a dor e o amor de Jesus. Ele buscou fazer isso durante muito tempo”, destacou.
Citou a devoção da Quaresma de São Miguel, bastante popularizada hoje pelos canais digitais e que era praticada também por São Francisco. “São 40 dias em que nós podemos então entender o desejo de Deus para cada um de nós. Como nós vamos entender? Cultivando a intimidade com o Senhor. Através do jejum, da oração, do silêncio, da caridade. Nós abrimos a moção do Senhor para saber o que o Senhor quer de mim”, evidenciou.
O ministro lembrou que o Santo de Assis tinha em sua devoção muitas quaresmas, como a da Páscoa, do Natal e a de São Miguel. “Foi numa dessas quaresmas de São Miguel, logo depois da Festa da Exaltação da Santa Cruz, que ele viveu um profundo momento de dor e de angústia por causa do “silêncio de Deus”. São Francisco dedicado à oração, buscando conhecer a Deus, querendo experimentar o seu amor, querendo sentir no seu próprio corpo as dores do Senhor, pedia um sinal. E qual foi esse sinal? Ele foi agraciado pela aparição do serafim alado. Um anjo de seis asas apareceu e imprimiu no corpo de São Francisco a marca da cruz de nosso Senhor”, explicou.
(clique nas imagens para ampliá-las)
Segundo Frei Paulo, a estigmatização de São Francisco é fruto de um intenso caminho. “Antes, ele já procurou cultivar em sua vida uma mansidão admirável, vida austera, humildade profunda, obediência pronta, pobreza sem igual, castidade ilibada, piedade entranhada, ardor da contemplação, desejo do martírio, caridade perfeita. A vida de São Francisco inteira, toda, plena, ela foi uma busca de identificação com o Senhor, por isso, hoje nós celebramos o prêmio que ele conseguiu alcançar”, enfatizou.
“O Senhor que desce do céu, vem ser um de nós, assume nossa fragilidade, sofre perseguição e injustiça e se entrega no sacrifício da cruz. Cruz, signo da perfeita obediência; cruz do esvaziamento de todas as paixões, cruz do despojamento e da pobreza total. Cruz, síntese do desejo e do itinerário franciscano. Síntese da vida cristã de todos os tempos”, sublinhou.
Frei Paulo lembrou então que os franciscanos, na busca de viver com maior intensidade e fidelidade, vestem o hábito em forma de cruz. “O hábito era para Francisco uma veste adequada uma vez que ela correspondia à sua sede de pobreza; e o santo nos dá desta forma uma certeza de que o mistério da cruz encontra nele sua plena realização: assim como a sua alma tinha revestido o Senhor Crucificado, da mesma forma seu corpo revestia a cruz…”, disse e acrescentou que: “Francisco de Assis escolheu uma roupa de uma única cor pois é uma identificação com os pobres que usavam roupa rústica”. Identificação também com Jesus Cristo Crucificado, homem das chagas e identificação com a fidelidade que conduz à glória dos céus. “Francisco chega rico nos céus, pleno, completo”, ensinou.
Para Frei Paulo, esse é o itinerário de São Francisco. “Mas também, esse é o itinerário que vocês querem assumir definitivamente hoje, João e Danilo, querem assumir dizendo o seu sim, para incentivar a todos nós, que já dissemos o nosso sim um dia, para que permaneçamos fiéis em nosso caminho. Muito obrigado pelo sim de vocês”, agradeceu.
GRANDES COISAS PROMETEMOS A DEUS
Ao falar sobre o lema da profissão, extraído do livro de Fioretti das Fontes Franciscanas, “Grandes coisas prometemos a Deus, mas muito maiores, Deus nos prometeu”, Frei Paulo explicou que essa frase foi extraída de um sermão que São Francisco fez em uma ocasião especial e interessante. “Logo no início da vida franciscana, São Francisco conseguiu encantar muita gente por sua criatividade, por sua fidelidade, por sua dedicação”, disse, lembrando que neste tempo muitas pessoas quiseram conhecer a sua vida e trilhar com ele o mesmo caminho. “No início da Ordem Franciscana tínhamos muitos frades e houve um capítulo (encontro de frades) e como não havia habitação para todos, o povo fez pequenas cabanas para acolher os frades que vinham de todos os lugares. Essa ocasião ficou conhecida como Capítulo das Esteiras”, explicou.
“Neste capítulo foi que São Francisco falou essa frase que o Frei Danilo e Frei João escolheram para iluminar a vida deles. “Muitas coisas prometemos a Deus, mas muito maiores Deus nos prometeu” e é nesse contexto que São Francisco usa essas palavras. E aqui quero trazer algumas provocações para mostrar, para ser a medida se de fato nós estamos correspondendo aquilo que nós prometemos.
“No texto, exortando os frades a obediência, Francisco quer saber se nossa vida corresponde aquilo que nós prometemos, por isso, então é necessário que nós vivamos a obediência. Vivamos à reverência da santa mãe Igreja, à caridade fraterna, a paciência nas adversidades do mundo, temperança na prosperidade, limpeza e castidade angélica, concórdia e paz com Deus e com os homens e com a própria consciência e amor e observância da santíssima pobreza”, exortou.
“Grandes coisas prometemos a Deus mas muito maiores Deus nos prometeu e se vivermos estas virtudes todas, esses compromissos todos, teremos uma caminhada frutuosa. Vocês, Danilo e João, nós todos que fizemos a nossa profissão e o povo de Deus, que se identifica com a proposta da cruz de Nosso Senhor, trazemos em nosso corpo a marca da cruz de Nosso Senhor”, afirmou.
Concluiu sua homilia lembrando que daqui 15 dias o Brasil viverá um momento importante, referindo-se às eleições presidenciais. “Quando a gente emite votos a gente deseja, emite, apresenta junto um componente de desejo e de compromisso. Hoje, vocês fazem votos de pobreza, de obediência e de castidade. É um grande desejo que vocês nutrem. É um grande desejo que move o dia a dia de vocês. É o grande desejo que faz vocês se juntarem a outros frades. É o desejo e o compromisso. A poucos dias dessa eleição, todos nós manifestamos um grande desejo de vida, de vida plena, de verdade, de compromisso com uma vida digna para todos. Estamos vivendo desejos tortos, tempos difíceis, mas, nós que cremos e temos o sinal da cruz, nós que somos impulsionados no seguimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, nós todos devemos ter o desejo e o compromisso de tempos melhores, de tempos cheios de Paz e de Bem. Assim seja!”
FRANCISCANOS POR TODA A VIDA
Terminada a homilia, os familiares se aproximaram do Círio Pascal, acenderam uma vela e entregaram aos professandos, lembrando a primeira consagração no Batismo e a chama da fé que foi sempre alimentada no coração destes jovens. Na sequência, Frei Paulo dialogou com eles sobre os propósitos dos candidatos.
Em seguida, ele pediu a intercessão de todos os Santos da Ordem para os novos irmãos, esse foi o momento quando eles se prostraram ao chão, enquanto isso se entoava a Ladainha de Todos os Santos.
Terminada a prece litânica, Frei Paulo surpreendeu a todos ao chamar para perto de si dois confrades que foram importantes no percurso vocacional dos professandos: Frei Lauro Formigoni e Frei Sérgio Pagan. “Eles vão representar todos os frades. Frei Lauro representa todos os formadores. E Frei Sérgio é conterrâneo da família do João e o batizou. Então os convido para que ao nosso lado acompanhem a fórmula da profissão”, convidou o ministro.
Frei Danilo e Frei João aproximaram-se então de Frei Paulo e colocando as mãos entre as do Ministro, leram a fórmula da profissão, agora como membros definitivos da Ordem dos Frades Menores. Este gesto manifesta obediência e doação completa de si a Deus e aos irmãos.
Na sequência, os neoprofessos, ajoelhados, recebem a bênção de Deus. Toda a assembleia, em pé, acompanhou atentamente esta solene bênção. Depois, todos os frades presentes os acolheram na fraternidade provincial com um abraço fraterno. Neste momento, o Coral dos Canarinhos entoou a conhecida música: “Salve, ó São Francisco”.
AÇÃO DE GRAÇAS
A celebração teve continuidade com a liturgia Eucarística. Após a comunhão, Frei Danilo proferiu os agradecimentos.
“Quero, em meu nome e de Frei João, externar a nossa imensa gratidão por este momento em nossas vidas. Primeiramente, nosso agradecimento ao Deus de bondade que nos sustentou sempre, com suas bênçãos e graças e também a todos e todas que nos conduziram até este dia, dia do nosso sim definitivo na Ordem dos Frades Menores. Este dia, faz-nos lembrar do início de nossa caminhada vocacional, quando deixávamos nossas famílias, amigos e trabalho. Mas, na verdade, o muito, não é o que ficou para trás, mas sim, o tudo dessa vida que abraçamos! E como esse caminho foi nos moldando e nos transformando. E com a graça e a força de Deus, aqui estamos nessa entrega de toda a nossa vida, por desbravar a vocação dada pelo Altíssimo no seguimento dos caminhos do Seráfico Pai, São Francisco. Para o bom êxito dessa caminhada, Deus sempre coloca pessoas capacitadas para nos formar e nos guiar ao reto modo de vida evangélica, conforme prometemos na nossa regra de vida. […] Muito obrigado a todos, que partilharam conosco, hoje, dessa grande festa em que dissemos o nosso sim definitivo a Deus. E contamos sempre com vossas orações, pela nossa fidelidade e perseverança, nessa caminhada tão bonita que é a vida religiosa Franciscana”, agradeceu.
No final da celebração, Frei Paulo convidou todos os frades e postulantes para se dirigirem até o presbítero para a solene bênção. Após a missa todos os convidados foram recepcionados no antigo colégio dos Canarinhos para um coquetel.
Frei Augusto Luiz Gabriel