Frei Fidêncio ensina como Francisco fez o grande encontro com Deus
04/10/2021
São Paulo (SP) – O dia nublado e chuvoso em São Paulo não segurou os devotos de São Francisco de Assis em casa, especialmente nas duas paróquias da Província da Imaculada Conceição em que o Santo de Assis é o Padroeiro: Convento São Francisco, no centro de São Paulo; e Paróquia São Francisco de Assis, na Vila Clementino. Nas Missas e bênçãos, o Padroeiro e fundador da Ordem Franciscana levou um grande número de fiéis, apesar das normas sanitárias ainda em vigor.
No tradicional Convento São Francisco, no Centro de São Paulo, que neste ano completou 374 anos, a Festa do Padroeiro começou com uma novena no dia 25 e, neste dia 4, as Missas começaram às 7h30 e a última foi celebrada às 18h30. O Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer celebrou na Igreja das Chagas às 9 horas, enquanto o Ministro Provincial Frei Fidêncio Vanboemmel presidiu a Missa das 10 horas no Convento. O reitor Frei Mário Tagliari presidiu a Missa do meio-dia, que foi transmitida ao vivo pela rede de TV Canção Nova.
Frei Fidêncio fez sua reflexão a partir do tema da Novena e Festa de São Francisco: “Francisco, o homem do encontro”. Segundo ele, nesses dias foram rezados, meditados e partilhados diferentes encontros. “Ontem celebramos o encontro de São Francisco com a irmã morte, vivido intensamente no entardecer nesta igreja, às 18 horas, com a celebração do Trânsito. E hoje creio que podemos dizer que nós celebramos esses encontros com aquele encontro definitivo de São Francisco na glória. O Francisco glorificado, Francisco canonizado, aquele que em vida incansavelmente buscou se encontrar com Deus”, disse o Ministro Provincial.
Para o celebrante, podemos dizer hoje: “São Francisco, que estais ao lado da Virgem Maria junto ao Filho Dileto do céu, rogai por nós! Rogai pela nossa vida, rogai pela nossa história, para que nós, nos diferentes encontros, possamos preparar o nosso encontro definitivo com Deus e um dia nos encontrarmos com Francisco, gloriosos na pátria eterna”, acrescentou
Frei Fidêncio, então, perguntou como Francisco chegou a esse grande encontro com Deus? O que Francisco fez para chegar onde ele chegou? Segundo o Ministro Provincial, a própria Palavra de Deus dá a indicação, como na leitura do Livro do Eclesiástico: “‘Eis quem durante sua vida restaurou a Casa, e em seus dias consolidou os fundamentos da altura do pórtico’. Francisco, ao longo de sua vida, restaurou a casa de Deus, a começar pela sua própria casa, quando ele diz: o Senhor usou de misericórdia para comigo. E porque Deus usou de misericórdia para Francisco, Francisco também usou de misericórdia, a começar pelo leproso, pelos pobres, por todas as pessoas que ele encontrava. E ele usou da mesma misericórdia com a criação inteira, por isso ele chama cada criatura de irmão e de irmã”, explicou.
Então, segundo Frei Fidêncio, se quisermos como São Francisco chegar à glória do céu, também temos que restaurar, como diz a leitura, a casa enquanto Deus nos dá a graça de viver neste mundo. “Infelizmente, a criatura humana é a criatura mais destruidora da terra. Não é o leopardo, não é o leão. Esses são animais inocentes. Mas é a criatura humana, a que menos cuida da casa, a que menos restaura a casa. Nós precisamos restaurar a casa, a grande casa comum, se quisermos um dia participar da comunhão dos santos”, explicou Frei Fidêncio, lembrando que foi esse o pedido do Papa Francisco quando nos presenteou com a encíclica Fratelli tutti e um pouco antes a Laudato Si’. “É dever nosso. Cada dia nós vemos mais poluição, mais queimadas, mais agressões, mais separações. Nós precisamos restaurar a casa”, enfatizou, lembrando que essas destruições ficaram mais evidentes nesta pandemia. “Essa restauração começa exatamente a partir de cada um de nós, mas também daqueles que possuem uma responsabilidade social: os nossos poderes públicos têm essa grande tarefa, esse dever”, ressaltou.
A segunda indicação para esse encontro com Deus, Frei Fidêncio tira do Evangelho: “Eu te louvo, Pai e Senhor da terra, porque ocultastes essas coisas aos sábios e entendidos e as revelastes aos pequeninos! Que bonita esta expressão, irmãos e irmãs! Não somos diferentes de São Francisco de Assis. Somos tão humanos quanto humano foi Francisco. Nós somos tão pequenos como pequeno foi o Poverello de Assis. Mas também somos tão santos, tão grandiosos de alma e de espírito como foi Francisco de Assis. Se Jesus diz no Evangelho, olhando para as pessoas simples e pequenas, se Jesus louva o Pai do céu por essas pessoas, oxalá, Jesus possa olhar também – como olhou para Francisco -, para cada um de nós e dizer: ‘Eu te louvo, Senhor Pai do Céu, porque ocultastes essas coisas dos sábios e entendidos e as revelastes aos pequeninos’. Que nós possamos ser pessoas que estejam sempre no agrado de Deus. Não o agrado pessoal. Isso é vaidade e não leva a lugar nenhum. Mas que Deus nos encontre sempre fazendo a sua vontade, como Francisco fez. Quando ele tinha dúvida, ele recorria à Cruz do Senhor ou abria a páginas do Evangelho e se perguntava: ‘Senhor, que queres que eu faça?’, para exatamente viver em conformidade com o agrado de Deus. Que Deus possa nos encontrar todos os dias no seu agrado para um dia dizer: ‘Vinde, benditos do meu Pai! Participai desse reino preparado para todos desde a criação do mundo”, disse, mesmo fatigados, sobrecarregados, oprimidos, com dor, chorando e vivendo os nossos lutos.
“E foi o que Francisco de Assis fez. Quantas vezes, ele teve de se recolher quando estava com dificuldades. Acharei descanso para vossas almas porque o meu julgo é suave e o meu peso é leve. Foi o itinerário de Francisco para chegar à glória nesse grande encontro com Deus”, destacou Frei Fidêncio.
A terceira e última indicação da Palavra de Deus é forte e marcante na vida de São Francisco para chegar na glória de Deus: É preciso, diz Frei Fidêncio, deixar-se assinalar pelo mistério da cruz do Senhor. “Por isso essa carta de São Paulo aos Gálatas: ‘Irmãos, quanto a mim, não pretendo jamais gloriar a não ser na cruz do Senhor. Porque o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo’. Foi esse o itinerário de Francisco de Assis. A cruz do sonho, lá do castelo de Spoleto, passa pela cruz de São Damião e pela cruz do Monte Alverne quando Francisco se deixa assinalar, de verdade, sentindo nas próprias mãos, nos pés e peito as marcas da Cruz. E as marcas da cruz estão repletas de dor. As marcas da cruz estão também repletas de amor. Dor e amor se entrecruzam. Dor e amor se complementam. É assim a nossa história; é assim a nossa vida. É o nosso itinerário para chegar a esse grande encontro com o Senhor. Itinerário de toda a Igreja para chegar à glorificação”, explicou o celebrante.
“Vamos pedir hoje a intercessão do nosso Seráfico Pai São Francisco, a partir deste centro histórico de São Paulo, para que olhe por toda a Igreja de Deus, por essa humanidade ferida, essa humanidade que está a caminho da felicidade. Não existe felicidade maior do que a prometida por Deus. Que ele nos interceda por nós, nos ajude e nos dê coragem. Não desanimemos. Se a cruz é pesada, vinde a mim. Tomai sobre vós o meu jugo. Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração, diz Nosso Senhor Jesus Cristo”, exortou Frei Fidêncio.
No final da Missa, Frei Fidêncio deu a bênção com a relíquia de São Francisco e os devotos puderam seguir em fila até a histórica imagem do altar principal da igreja. O reitor e pároco Frei Mário Tagliari deu os avisos e lembrou que a macarronada de São Francisco, presencial e em sistema de drive-thru, está fazendo sucesso na festa, assim como o bolo de São Francisco e o Pão do Convento.
IGREJA ABERTA PARA TODO MUNDO
A Paróquia São Francisco de Assis lotou de fiéis e, com eles, como já é tradição na Vila Clementino, uma turma de pets e outros animais. O pároco Frei Valdecir Schwambach, na Missa do meio-dia, brincou dizendo que esta é a “Missa em Latim”, por causa dos latidos. Grandes filas se formaram durante todo o dia para a bênção dos animais.
“Temos a alegria de celebrar o nosso Padroeiro. Fazemos na Paróquia uma festa em que cabe todo mundo, uma festa em que ninguém pode ficar de fora”, celebrou Frei Valdecir, destacando que esse acolhimento é próprio da Paróquia nos 365 dias do ano, como pede o Papa Francisco ao dizer que a Igreja não deve fazer acepção de pessoas, seja por classe social, por qualquer tipo de preferência, por qualquer tipo de opção. “O Papa Francisco diz que a Igreja deve ser como um hospital de campanha, para acolher quem se julga necessitado de Deus”, disse.
“E hoje, acolhendo aqui os pets, os mais variados – hoje de manhã abençoei um furão, nunca tinha visto -, acredito que de uma forma simbólica, mas muito concreta, nós estamos dizendo que a Igreja é lugar para todo mundo. Igreja é a casa do pai, a casa da mãe onde sempre tem espaço para mais um filho entrar. Igreja é uma mesa onde não deve faltar lugar para nenhum de nós sentarmos, para nenhum de nós buscarmos alimento. Nós alimentamos pelos ouvidos. Ouvimos a Palavra de Deus pelos ouvidos, mas ela deve chegar ao coração, deve aquecer o coração. Mas é uma mesa também onde alimentamos o nosso espírito, o sentido da nossa fé, o sentimento de pertença, porque na mesa todos nos sentimos irmãos e irmãs”, exortou o pároco.
Segundo o frade, São Francisco é amado por todas religiões e não só o catolicismo. “Porque ele simboliza o ser humano na sua plenitude, o ser humano integrado, o ser humano que, dia após dia, tem o desafio de se restaurar, de tornar-se inteiro, de integrar os negativos e os positivos da vida, juntar os fragmentos da vida e seguir em frente”, observou. “E nós encontramos no Evangelho um Jesus que louva porque Deus não se manifesta àqueles que se consideram grandes, que se consideram poderosos e por trás disso a arrogância, as pessoas que sobem na vida às custas das outras pessoas, mas aqueles que se fazem pequenos para que Deus possa parecer em cada ser humano”, ensinou.
Frei Valdecir destacou vários trechos da Fratelli tutti (Todos somos irmãos), em que o Papa Francisco fez uma convocação a vivermos unidos em uma grande comunidade global. “O cristianismo é a religião da comunidade. Cuidar do mundo que nos rodeia significa cuidar de nós mesmos. Precisamos nos constituir de um ‘nós’ que habita a casa comum”, disse. “Eu desejo que o espírito franciscano da leveza, da pobreza, da pureza, limpidez esteja no nosso coração”, completou.
Moacir Beggo