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Frei Fidêncio aponta dois sinais na Festa dos Estigmas de São Francisco: amor e compaixão

17/09/2021

Notícias

 

São Paulo (SP) – O Ministro Provincial, Frei Fidêncio Vanboemmel, celebrou a Festa das Chagas de São Francisco nesta sexta-feira (17/9), na Igreja das Chagas do Seráfico Pai São Francisco no Largo São Francisco, no centro de São Paulo. Na Celebração Eucarística, às 15 horas, Frei Fidêncio teve como concelebrantes o guardião do Convento São Francisco e Definidor, Frei Mário Tagliari, o diácono Frei Jhones Lucas Martins, Frei Guido Scheidt e Frei Marcos Hollmann.

Essa igreja está construída ao lado do Santuário São Francisco, pertence e é mantida pela Ordem Franciscana Secular (OFS). Originalmente, uma capela construída em 1676, a Igreja das Chagas foi terminada apenas em 1787. Tombada pelo patrimônio histórico em 1982, contém bustos de terracota do século XVII, estátuas de santos e documentos do século XVIII, castiçais banhados em ouro e pinturas em tela e nos forros. Com características barrocas que seguem a linha do rococó, tem altares e imagens que exibem três fases do barroco: a clássica, a primitiva e a posterior.

O belo altar central exibe o momento da impressão das Chagas de São Francisco de Assis no Monte Alverne. A Ministra da Fraternidade da Ordem Franciscana Secular da Chagas, Maria Aparecida Creipaldi, leu o relato da “paixão” de Francisco: “O Seráfico Pai Francisco, desde o início de sua conversão, dedicou-se de uma maneira toda especial à devoção e veneração do Cristo crucificado, devoção que até a morte ele inculcava a todos por palavras e exemplo. Quando, em 1224, Francisco se abismava em profunda contemplação no Monte Alverne, por um admirável e estupendo prodígio, o Senhor Jesus imprimiu-lhe no corpo as chagas de sua paixão”.

“Nós, aqui, estamos reunidos diante desta imagem tão expressiva de Francisco ajoelhado diante do mistério da Cruz do Senhor. Este santuário no coração de São Paulo também nos eleva ao Monte Alverne, onde Francisco, no ano de 1224, pela quarta ou quita vez, subiu àquela montanha para lá exatamente buscar aquilo que nós ouvimos nas considerações sobre os sagrados estigmas que nossa irmã Maria Aparecida lembrava antes da proclamação da Palavra. Francisco pede ao Senhor duas graças: a primeira é sentir no corpo a dor que o dulcíssimo Jesus sofreu por nós na paixão da Cruz; e a segunda graça é sentir aquele profundo amor que o dulcíssimo Jesus viveu para nos amar, para nos elevar exatamente para junto e perto de Deus”, explicou Frei Fidêncio.

O Ministro Provincial convidou a celebrar exatamente esses dois sinais rezados e pedidos por São Francisco de Assis. “E sinais que estão presentes no mistério da cruz. Nós conhecemos pela história da vida de São Francisco que a cruz o acompanhou desde o início da conversão, quando ele ainda estava cheio de ideais, cheio de sonhos”, disse Frei Fidêncio, citando o sonho de Francisco que, em Spoleto, quando ia para a guerra, teve a visão de um castelo onde todas as armas estavam assinaladas com o sinal da cruz. “Diante desta visão sublime, ouve uma voz: ‘Francisco, o que é melhor: servir ao Senhor ou servir ao servo?’. Ele responde: ‘Servir ao Senhor’. E ouve a resposta: ‘Então, volta para a Assis, lá te será dito o que deves fazer’. E chegando na cidade de Assis, Francisco se depara com o Crucifixo de São Damião e, novamente ouve a mesma voz: ‘Vai, Francisco, restaura a minha Igreja, porque está em ruínas’. Um pouco mais para frente, Francisco compreendeu realmente o que a cruz do Senhor queria dele. O que significava abraçar a cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo”, ressaltou Frei Fidêncio.

Segundo ele, abraçar a cruz de Jesus nada mais é do que viver na radicalidade do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. “Diante deste Evangelho, que ouviu, ele diz: ‘É isso que eu procuro, é isso que eu quero, é isso que eu desejo fazer de todo o coração’, porque ele entendeu que cada discípulo, que cada discípula, para viver a fidelidade de Nosso Senhor Jesus Cristo precisa também, a cada dia de novo, abraçar a sua cruz. E foi o que Francisco fez. Ao longo de sua vida, a cruz foi um referencial. Cruz não enquanto um pedaço de lenha, de madeira, mas cruz enquanto Evangelho vivo, que o interpelava a amar o amor que muito nos amou, mas também a cruz que, de um lado recorda a paixão, recorda a dor da humanidade, e está presente nos crucificados em todos os tempos da história, principalmente os crucificados no tempo de São Francisco”, emendou.

“O grande biógrafo de São Francisco, o teólogo São Boaventura, chega a dizer no Capítulo 13 da Legenda Maior que o angélico Francisco – compara ele a um anjo – não se cansava enquanto estava na busca do bem. Abraçar a cruz do Senhor é ser incansável na busca do bem, do bem que emerge do próprio Evangelho, do bem que emerge do próprio apelo do Nosso Senhor Jesus Cristo”, citou.

Frei Fidêncio mostra isso através de duas maneiras: “Primeiro, na busca do bem, não cessava de subir até Deus, ou seja, Francisco acima de tudo foi um homem orante. Um homem que buscava Deus e, sempre de novo, perguntava: ‘Senhor, que queres que eu faça?’ Nas diferentes situações da vida repetia: ‘Senhor, que queres que eu faça?’ Mas Boaventura diz que se, de um lado, ele subia a Deus, através da vida de oração, por outro esse incansável angélico Francisco também não se cansava em descer junto aos homens. Era incansável na busca dos bens às pessoas. Por isso, ele soube abraçar o leproso, teve compaixão com os pobres, teve compaixão de seus confrades, seus irmãos e suas irmãs, compreendeu o mistério da vida de Clara, compreendeu também o mistério da vida dos leigos e leigas e propôs a eles a um projeto de vida, que na verdade nada mais é do que viver bem o Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo”, detalhou.

Frei Fidêncio frisou que Francisco não era só oração, mas também o homem da ação, o homem que se multiplicava, o homem que caminhava, o homem que subia a montanha e descia para os vales e dialogava com todas as pessoas e, nesse peregrinar, era o homem que contemplava a criação, contemplava a natureza. “E nada medida que ia se aprofundando nesse mistério de Deus, ele via Deus presente em toda a criação e aí nós temos essa síntese espiritual de São Francisco que chamamos de ‘Cântico das Criaturas’. Não é só um elogio a cada elemento da criação, mas é a convocação da criação para que essa criação, essa criatura de Deus se unisse às criaturas por excelência, os homens e mulheres, para, juntos, formarem um coro uníssono: ‘Louvai e bendizei ao meu Senhor. Dai graças, servi-O com grande humildade’. Cada criatura deveria servir o seu Criador da melhor forma possível. A pedra do jeito de ser pedra, o irmão fogo do jeito de ser irmão, o vento com sua brisa suave, o sol com o brilho de Deus, a lua com o brilho noturno. E Francisco lembra: ‘E tu homem, tu mulher, mais ainda cabe esse louvor porque somos criados à imagem e semelhança de Deus”, explicou.

Segundo o Ministro Provincial, ali no Monte Alverne, Francisco compreende então que deve se assemelhar com o Nosso Senhor Jesus Cristo, na dor e no amor. “Mas não foi só naquele momento. Foi uma vida buscada, foi uma vida vivida. Uma dor buscada, um amor vivido. E lá, no Monte Alverne, ele chega exatamente a esta identificação quando, na dor e no amor, ele se deixa estigmatizar pela dor e paixão do Senhor e pelo amor de Cristo”, destacou.

Esses sinais, dor e amor, talvez faltam ao nosso tempo, à nossa história, lamentou o celebrante. “Esse homem estigmatizado nos interpela a sermos nós mesmos sinais de compaixão com todas as pessoas que sofrem e assumirmos a partir da cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo a dor de tantos irmãos e irmãs nos seus diferentes sofrimentos. Quem de nós não viu de perto a dor dos irmãos nesse tempo de pandemia, mas também experimentamos e vimos com os nossos próprios olhos como essa dor criou também nas pessoas solidariedade, criou nas pessoas o amor. É isso que o mundo precisa: compaixão com os que sofrem e amar verdadeiramente do jeito que Francisco amou. Amou as pessoas, a criação, para ser um sinal vivo, visível do amor de Deus”, frisou.

“Então, nesta tarde, meus irmãos e irmãs, peçamos de Deus a graça que São Francisco teve de nos deixarmos estigmatizar. Isso significa deixarmo-nos marcar por esse mistério tão profundo presente na cruz: amor e dor se conjugam juntos. Que possamos sair daqui como Francisco quando desceu do Monte Alverne, estigmatizados, cheios de amor, como cantamos no canto inicial”, completou Frei Fidêncio.

A Ministra Maria Aparecida Crepaldi demonstrou sua alegria por ver a igreja das Chagas cheia depois de tanto tempo de pandemia. Agradeceu a participação de todos e especialmente aos frades pela celebração.


Moacir Beggo