Francisco de Assis não morreu, ele vive entre nós!
04/10/2021
Petrópolis (RJ) – As festividades e celebrações de São Francisco na Fraternidade do Sagrado Coração de Jesus de Petrópolis (RJ) foram ricas em significado, espiritualidade e devoção. Desde o dia 27 de setembro, o Convento e a Paróquia promoveram a Semana Franciscana com uma programação que contemplou lives formativas, reflexões diárias sobre o franciscanismo, Tríduo e Trânsito de São Francisco. Dias intensos de orações, reflexões e celebrações que terminaram nesta segunda, dia 4 de outubro, com a Celebração Eucarística das 10 horas, onde os frades celebraram com solenidade a liturgia de fazer memória da vida do Santo de Assis.
DIA DE SÃO FRANCISCO: FRATERNIDADE E MINORIDADE
O guardião e pároco Frei Jorge Paulo Schiavini presidiu a Santa Missa, contando com a participação dos frades, religiosas franciscanas, membros da Ordem Franciscana Secular (OFS), fiéis, devotos e simpatizantes do Santo de Assis. O atendente conventual, Frei Abílio Antunes do Amaral foi o concelebrante. O coral dos Frades do Tempo da Teologia, sob regência do mestre, Frei Marcos Antonio de Andrade, animou toda a solene celebração com a Igreja lotada, cumprindo as ordens de segurança e distanciamento. Como de costume, a Santa Missa foi transmitida ao vivo pelas plataformas digitais da Paróquia do Sagrado.
Frei Jorge iniciou sua reflexão, louvando a Deus pelos grandes feitos na vida do humilde servo de Deus, Francisco de Assis. Fez memória da visita do Papa Francisco a Assis, no ano que foi eleito e repetiu a mesma pergunta que o Sumo Pontífice fez na ocasião: “O que São Francisco testemunha para nós hoje?”. Para Frei Jorge, a primeira coisa que Francisco lhe diz é a de ser um bom cristão, mantendo uma relação vital com a Pessoa de Jesus, revestindo-se Dele e assimilando-se a Ele.
Segundo Frei Jorge, o caminho de Francisco rumo a Cristo parte do olhar de Jesus na cruz. “Deixar-se olhar por Ele no momento em que doa a vida por nós e nos atrai para Ele. Francisco fez esta experiência de modo particular na pequena Igreja de São Damião, rezando diante do crucifixo. Naquele crucifixo, Jesus não aparece morto, mas vivo! O sangue escorre das feridas das mãos, dos pés e dos lados, mas aquele sangue exprime vida. Jesus não tem os olhos fechados, mas abertos, grandes: um olhar que fala ao coração. E o crucifixo não nos fala de derrota, de fracasso; paradoxalmente nos fala de uma morte que é vida, que gera vida, porque fala de amor, porque é Amor de Deus encarnado, e o Amor não morre, antes, vence o mal e a morte. Quem se deixa olhar por Jesus crucificado é recriado, transforma-se uma nova criatura”, ressaltou, fazendo referência ao texto do Papa Francisco.
O pároco, destacou um segundo testemunho, a partir da vivência franciscana. Para ele, quem segue Jesus, recebe a verdadeira paz, aquela que só Ele, e não o mundo, pode nos dar. “São Francisco é associado por muitos à paz, e é justo, mas poucos seguem em profundidade”, lamentou. “A paz franciscana não é um sentimento ‘piegas’. Este São Francisco não existe! E nem é uma espécie de harmonia panteísta com as energias do cosmo. Também isto não é franciscano! A paz de São Francisco é aquela de Cristo”, frisou, lembrando que só se anuncia a paz com humildade de coração.
Por fim, Frei Jorge fez menção a Carta do novo Ministro Geral, Frei Massimo Fusarelli, por ocasião da Festa de São Francisco, e ressaltou aspectos da atitude de fraternidade e minoridade que os franciscanos precisam assumir. Segundo ele, a fraternidade e a minoridade certamente devem ser vividas entre nós, em nossas comunidades, mas precisam também caracterizar o nosso modo de aproximação das pessoas que encontramos, a fim de sermos irmãos e menores para todos.
“Louvemos a Deus nesta Eucaristia pelo testemunho de São Francisco e peçamos que Deus nos fortaleça no seguimento de Jesus Cristo e na prática da paz, no fortalecimento da fraternidade e na minoridade”, concluiu Frei Jorge.
TRÂNSITO DE SÃO FRANCISCO
“Aquele que durante a vida viveu a fraternidade com todas as criaturas, especialmente as mais pobres, no final de sua vida acolheu a própria morte como uma companheira amigável que o conduziria à plenitude de tudo o que experimentara nesta terra. Assim como cantou o amor de Deus pelos caminhos do mundo, se entrega a Deus, entoando o louvor ao Senhor”. Foi com essa motivação que o guardião, Frei Jorge, presidiu a tradicional Celebração do Trânsito de São Francisco, no dia 3 de outubro, às 19h30. Ao seu lado, estiveram presentes o mestre, Frei Marcos, e o vigário paroquial, Frei Ivo Müller.
O Coral dos Canarinhos de Petrópolis, uniu sua voz com o coro dos Frades do Tempo da Teologia para em “alta voz”, celebrar com alegria e devoção os últimos momentos da vida de São Francisco, sob a regência do maestro Marco Aurélio Lischt. Através da oração das Vésperas, do cântico dos salmos e da meditação da Palavra de Deus, a Páscoa de Francisco foi celebrada com a certeza de que Francisco continua vivo!
Na reflexão, Frei Jorge afirmou que nos dias que antecederam o derradeiro momento, Francisco pediu que os irmãos cantassem várias vezes o Cântico das Criaturas. “Nos últimos momentos da vida de São Francisco estão presentes Frei Leão, Frei Ângelo, Fra Jacoba, Frei Masseo… Trazem as lágrimas, o pranto, uns doces e o canto. Francisco é só alegria, prece e entrega ao misericordioso Deus. Nos irmãos e na sua amiga dói a separação; em Francisco, vibra o gosto pelo encontro com o sonhado Reino do Céu. Francisco pede para sair do Palácio Episcopal para ir ao aconchego da Porciúncula. Da cama dos bordados lençóis quer o chão tecido pela terra mãe. Ali expira mansamente no leito nupcial no colo da sua Amada Senhora Dama Pobreza”, destacou.
Frei Jorge lembrou que a Celebração do Trânsito de São Francisco acontece em um período da história onde muitos perderam seus entes queridos, por conta da pandemia. “Que a experiência de São Francisco diante da morte, da Irmã Morte, possa trazer o conforto da fé àqueles que passaram por essa experiência dolorosa. Que Francisco interceda a Deus para que nós também sejamos libertados de todo medo e conduzidos por Cristo no caminho da Vida”, disse, acrescentando: “Que o exemplo luminoso de São Francisco de Assis nos incentive a nos entregarmos ao Evangelho com amor e generosidade, para que tenhamos a graça ver a morte como essa transformação final para o encontro definitivo com Deus”, encerrou.
FORMAÇÃO FRANCISCANA: FRANCISCO EUCARÍSTICO E ECOLÓGICO
No dia 28 de setembro, Frei José Ariovaldo da Silva conduziu a primeira formação franciscana ao vivo, pelo Facebook e YouTube da Paróquia, sobre São Francisco e a Eucaristia. Para ele, o Verbo eterno e criador do universo rebaixa-se à condição de matéria do pão e do vinho, para ser consumido, assimilado por nós. “Corpo que se entrega, gratuitamente se doa. Sangue derramado! Sangue que gratuitamente se esparge. Totalmente obediente a nós: Como um Cordeirinho, não reclama de nada! Se pisado ou esmagado por algum louco qualquer, ele não reclama, fica em silêncio! É muita humildade! Espantosa humildade! E aqui vemos então o que Francisco sente e diz sobre a Eucaristia”, explicou o palestrante.
Frei Ariovaldo usou dos textos das Admoestações de São Francisco, bem como da Carta à toda Ordem, que é dirigida aos clérigos, para ressaltar a importância da Eucaristia na vida do Santo de Assis. “Francisco liga o mistério do corpo eucarístico do Senhor com mistério da Encarnação, apresentando as consequências para as nossas atitudes em relação a este santo corpo”, disse.
Para ele, a Eucaristia é uma escola de aperfeiçoamento na fé cristã. “A Eucaristia é de fato a melhor escola de vida cristã, pois Nela o que fala não são apenas palavras, mas a Palavra, um exemplo consumado de vida a ser seguido por todos nós. Fazei isto em memória de mim. Sejam assim também”!
CONVERSÃO ECOLÓGICA
Já no dia 29 de setembro, Frei Fábio César Gomes, recentemente transferido para a Cúria Geral da Ordem dos Frades Menores, refletiu sobre a proposta ecológica de São Francisco, a partir das Fontes Franciscanas. O evento novamente foi ao vivo com transmissão pelo Facebook e YouTube da Paróquia.
Segundo Frei Fábio, os textos das Fontes Franciscanas apresentam um Francisco cuja experiência espiritual abarca todas as dimensões da existência humana: a pessoal, a social e a cósmico-universal. “Tal experiência foi determinada sobretudo por uma série de encontros que aconteceram nos primeiros quatro ou cinco anos do seu processo de conversão e que, consequentemente, marcaram espiritualidade que dele derivou”, disse.
Brevemente Frei Fábio discorreu sobre estes encontros de Francisco, destacando alguns. O 1º encontro foi ainda em Espoleto, em 1204, onde Francisco se questiona a quem deveria seguir, ao Senhor ou ao servo. O 2º encontro foi com os leprosos e os pobres. O 3º encontro deu-se com Jesus Cristo, com o crucifixo de São Damião. Por fim, o 4º encontro foi com os irmãos e as irmãs, os seus companheiros, Clara e suas irmãs, com os casados e com toda a humanidade.
“Desses encontros mais significativos do início do percurso espiritual de Francisco, derivam as dimensões mais marcantes da Espiritualidade Franciscana: A pobreza, a fraternidade, a minoridade e a evangelização”, explicou.
“Podemos dizer que a evangelização franciscana acontece em primeiro lugar pelo nosso exemplo. Portanto, nossa fala sobre a ecologia deve estar sustentada num estilo de vida ecológico, em gestos concretos de cuidado e de preservação dos recursos naturais”, frisou. “A evangelização franciscana deve levar as pessoas ao louvor a Deus pelas maravilhas da sua criação, o que, por conseguinte, suscita atitudes de admiração e de cuidado para com todos os seres. Por outro lado, também deve alertar para as consequências da falta dessa admiração e desse cuidado, expressa na degradação e exploração predatória dos recursos naturais, diante do que, torna-se necessário uma mudança radical de mentalidade e de comportamentos, ou seja, uma grande conversão por parte da humanidade que o Papa Francisco chama de conversão ecológica (cf. LS 216-220)”, destacou.
TRÍDUO DE SÃO FRANCISCO
Entre os dias 30 de setembro a 2 de outubro, a programação da Semana Franciscana também contemplou celebrações do Tríduo de São Francisco. No 1º dia, o frade conventual, Frei Paulo Roberto Gomes, pároco da Paróquia Nossa Senhora Aparecida do Quitandinha, foi o presidente da Santa Missa e falou sobre “São Francisco e o Evangelho”. No 2º dia do Tríduo, com o tema: “São Francisco e a Humildade”, a presidência ficou a cargo de Frei Luis Henrique Nascimento Lima, tendo como concelebrante Frei Willian Gomes, conventuais. Por fim, no 3º dia, o vigário paroquial, Frei Volney José Berkenbrock, foi o celebrante e ressaltou aspectos de “São Francisco e a Simplicidade”.
Francisco de Assis não morreu, ele vive entre nós!
Frei Augusto Luiz Gabriel