Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Entrevista: Frei Douglas Machado

26/09/2015

Entrevistas

Moacir Beggo

Natural de Florianópolis, onde nasceu no dia 4 de abril de 1987, Frei Douglas Paulo Machado será ordenado presbítero por Dom Jaime Spengler, OFM, Arcebispo Metropolitano de Porto Alegre, no dia 26 de setembro, às 18 horas, na Paróquia Santa Cruz, em São José (SC). Filho de Milton e Dilma Machado, Frei Douglas tem dois irmãos e ingressou na Ordem Franciscana em 2007, onde professou solenemente no dia 10 de agosto de 2013. Frei Douglas celebrará a Primeira Missa no dia seguinte, 27 de setembro, na Capela São Miguel e Santa Rita, em São José (SC). Conheça um pouco mais o futuro presbítero nesta entrevista!

Site Franciscanos – Frei Douglas, como se deu seu discernimento vocacional?

Frei Douglas – Aos 13 anos de idade, manifestei o desejo de ingressar no seminário. Fui encaminhado pelo pároco de minha paróquia ao Seminário Menor da Arquidiocese de Florianópolis, em Brusque, onde permaneci por um ano. Durante esse tempo, comecei a ter contato com a literatura franciscana na biblioteca do seminário. Em casa, meu avô paterno contava histórias dos franciscanos de Coronel Freitas, onde ele morou por muitos anos, antes de se mudar para São José, e com quem teve muito contato. Aos poucos, surgiu em mim um interesse, que crescia alimentado pela curiosidade, em conhecer a vida religiosa franciscana. Decidi, então, deixar o seminário diocesano para ingressar no franciscano. Para isso, contei com a ajuda e colaboração da Paróquia Santo Antônio, em Florianópolis, quando era pároco Frei Dalvino Munaretto. Ingressei, pois, no Seminário Santo Antônio, em Agudos, e daí em diante percorri todas as etapas formativas na Província até completar a Teologia ano passado em Petrópolis.

Site Franciscanos –  Depois de tantos anos de estudos e formação, você está prestes a ser ordenado presbítero. Fale-nos sobre sua expectativa.

Frei Douglas – A expectativa – e não poderia ser diferente – é muito grande. Junto com ela, vem também a preocupação em viver bem o ministério que ora assumo. Bem diz São João Crisóstomo quando afirma que “embora seja exercido na terra, o sacerdócio possui contudo o caráter de instituição celeste”. E ainda: “Conheço minha alma, sei como ela é fraca e pusilânime. Conheço a dignidade do sacerdócio e as dificuldades de exercê-lo. Pois mais numerosos do que os ventos que revoltam o mar, são as ondas que inquietam a alma do sacerdote”. Se o Boca de Ouro disse isso, que direi eu? Que não terei dificuldades? Que não cometerei erros? Sei que a ordenação sacerdotal não é só um ponto de chegada, mas sobretudo, um ponto de partida. Ao longo do ministério sacerdotal que irei exercer, vou me tornar, com ajuda dos irmãos, sempre mais “padre”. Pois sei que não é um favor que faço a Deus, mas uma resposta ao imenso favor que Deus me fez, chamando-me para o seu serviço, o arriscado e nobre serviço da Verdade e do Amor. Como a São João Crisóstomo, também a mim o infinito amor de Deus causa vertigens, quando olho para o abismo da minha pequenez humana. Rezo a Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote, que, configurado a Ele, eu O ajude “na missão de morrer na cruz e dar seu sangue para a redenção da humanidade” (Frei Neylor – Comunicações de Fevereiro/2015, p. 95).

Site Franciscanos –  Que desafios você espera como presbítero?

Frei Douglas – No discurso de formatura do ano passado, no ITF, apresentei alguns desafios que esperavam os novos teólogos. Acredito que os desafios que terei que enfrentar como sacerdote não serão distintos daqueles. Por isso, repito aqui as palavras que disse outrora: “Cada vez mais se torna uma tarefa complexa testemunhar a fé. Vivemos em uma época marcada pela mudança, cujo nível mais profundo é o cultural. Vimos nas últimas décadas a ascensão de questões delicadíssimas sobre engenharia genética, bioética, revolução sexual, novas relações de trabalho, mudança na estrutura familiar, informática, nomadismo religioso, dentre tantas outras. A concepção do ser humano é quase por completa diluída. Imperando absoluta, a subjetividade, aliada à busca pragmática e imediatista, sem preocupação com critérios éticos, solapa os valores e ideais cristãos. A afirmação dos valores puramente subjetivos e pessoais, sem um esforço semelhante para garantir os direitos sociais e solidários, resulta em prejuízo da dignidade de todos, especialmente daqueles que são mais vulneráveis, os preferidos de Deus”. Os teólogos, digo, os presbíteros são responsáveis por suscitar a esperança nesse mundo multifacetado. Não se pode trair essa confiança, buscando a vesguice da Verdade.

Site Franciscanos – Como é ser presbítero na Igreja do Papa Francisco?

Frei Douglas – Ser presbítero na Igreja do Papa Francisco é ser presbítero na Igreja! O ministério sacerdotal – e isso não é novidade para ninguém – pertence à Igreja e somente a ela. Também por isso escolhi como lema de ordenação: “… como Cristo amou sua Igreja e se entregou por ela” (Ef 5,25). Ou seja, é na e para a Igreja que se assume esse ministério. O Santo Padre enumerou três pontos (Comunicações de Dezembro/2014, p. 611) para ser presbítero, nos quais ressalta que ser presbítero é viver para os outros. Ei-los: 1) Fraternidade: o Papa afirma que “o ministério sacerdotal não pode, de modo algum, ser individual e tampouco individualista”; 2) Oração: o Pontífice aconselha que “tenham todos os dias longas horas de oração” e “deixem que a oração de vocês sejam um convite ao Espírito”, do qual depende a construção da Igreja; e 3) Missão: O Santo Padre diz que “a missão é inseparável da oração, porque a oração abre ao Espírito e o Espírito os guiará na missão”.

Site Franciscanos –  Deixe uma mensagem aos jovens que gostariam de seguir Francisco de Assis.

Frei Douglas – A pergunta de Frei Masseo a São Francisco é a mesma que se faz ainda hoje: “Por que a ti? Por que a ti? Por que a ti? (…). Por que todo mundo anda atrás de ti e toda gente parece que deseja ver-te e ouvir-te e obedecer-te?” (I Fior. 10). Além da resposta do próprio Francisco, há uma de um escritor capuchinho: “Os motivos pelos quais a pessoa de Francisco atrai e suscita em nossos dias crescente interesse não devem sem dúvida ser procurados em seu empenho pela paz, no seu amor pela natureza e na sua liberdade diante do poder e do sucesso. O segredo de sua vida é mais profundo e se fundamenta na fé totalmente pessoal e na confiança imperturbável em Deus, naquele que é o bem sumo, vivo, verdadeiro e amável” (L. Lehmann). Ora, se Francisco atrai a muitos, é antes atraído por Deus, é seduzido pelo “Amor que não é amado”, como o profeta: “Tu me seduziste, Senhor, e eu me deixei seduzir; tu me agarraste e me dominaste” (Jr 20,7). E ainda: “Quando pensava: ‘Não me lembrarei mais dele, já não falarei em seu nome’, então sentia em meu coração como um fogo devorador, encerrado em meus ossos” (Jr 20,9). Quem se dispõe a seguir São Francisco deve desejar o martírio, ou seja, morrer para si e viver unicamente para Deus, pois se ele atrai, é para o Cristo que ele atrai.

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