Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Frei Carlos de Deus Murias: novo beato franciscano

24/04/2019

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São Paulo (SP) – No próximo sábado, 27 de abril, no estado de La Rioja, Argentina, será beatificado Frei Carlos de Deus Murias, frade menor conventual. Junto com ele, a Igreja ganha três outros beatos: Monsenhor Enrico Angelo Angelelli Carletti, bispo da diocese de La Rioja; Gabriel Longueville, sacerdote francês; e o leigo Wenceslao Pedernera. Todos sofreram o martírio na chamada “Guerra Suja” da Argentina, durante o período da ditadura militar, de 1976 a 1983. O grupo é conhecido como “Mártires de La Rioja”.

O Ministro Geral dos Frades Menores Conventuais, Frei Marco Tasca, em carta destinada aos frades, afirma que a beatificação é também um momento de reflexão sobre a vida em fraternidade e o testemunho cristão oferecido à comunidade.  “Elevando nosso irmão Carlos à glória dos altares, o bom Deus nos oferece uma nova ocasião para refletir sobre nossa identidade como frades menores conventuais, sobre nossa seriedade na vivência de nosso chamado no tempo e nos lugares onde a obediência nos destina, mas sobretudo como encarnamos a Boa Nova em nossa vida e em nossas fraternidades, mas também em meio ao povo de Deus que nos acompanha”.

Frei Carlos Murias: “É melhor morrer jovem tendo feito algo, que morrer velho sem ter feito nada”.

O venerável Carlos de Deus Murias nasceu em Córdoba, Argentina, em 10 de outubro de 1945. Desde criança, demonstrou uma atenção especial para as pessoas necessitadas. Foi um jovem idealista, generoso, sensível e apaixonado pela música.

O Monsenhor Angelelli, que será beatificado no mesmo dia que o franciscano, teve um papel fundamental em sua formação religiosa. O bispo desempenhava uma pastoral profética e audaz com os jovens estudantes de Córdoba, através da opção preferencial pelos pobres, fato que contagiava muitos jovens.

Aos 21 anos, Frei Carlos iniciou o postulantado no Convento São José, em Montevidéu. Em 17 de dezembro de 1972, foi ordenado sacerdote pelas mãos de Monsenhor Angelelli.

O frade era vigário em Chamical, na diocese de La Rioja, tendo como pároco o Venerável Gabriel Longueville. Frei Carlos se comprometeu com o anúncio do Evangelho no meio do povo, denunciando as injustiças segundo os parâmetros da Doutrina Social da Igreja, atraindo para si o ódio dos poderosos. Na noite de 18 de julho de 1976, enquanto jantavam na companhia das Irmãs de São José, Frei Carlos Murias e Pe. Gabriel Longueville foram raptados por desconhecidos, que se apresentaram em nome das autoridades. Os dois foram torturados e brutalmente assassinados naquela mesma noite.

Em 25 de julho do mesmo ano, o leigo Wenceslao Pedernera foi atacado em sua casa por um grupo de homens diante de sua mulher e filhos. Ele morreu à noite no hospital em Chilecito. Ele pertencia ao Movimento Rural Diocesano e lutava pelo direito dos trabalhadores do campo. O movimento foi considerado subversivo pela ditadura militar. Por isso, Wenceslao passou a receber muitas ameaças de morte.

Beatificação de Dom Angelelli: uma causa promovida pelo Cardeal Bergoglio

O Papa Francisco, quando era Arcebispo em Buenos Aires, foi um dos grandes promotores da causa de Dom Angelelli. “Esse sangue hoje clama por vida e a lembrança de Angelelli não é memória encapsulada. É um desafio”, afirmou o então Cardeal em 2006.

Dom Angelelli morreu em 4 de agosto de 1976 em Punta de los Llanos, La Rioja, em um acontecimento que apresentado inicialmente como um acidente. Seu veiculo foi fechado por outro carro, ele ficou inconsciente e foi atingido na cabeça. Angelelli estava retornando à capital após participar de uma homenagem ao Frei Murias e Pe. Longueville, carregando três pastas com informações que comprometiam os líderes militares com a repressão ilegal. Após o acidente, as pastas não foram encontradas no local.

“O martírio é um dom de Deus”, afirma Frei Martín Bitzer

O frade menor conventual e vice-postulador da causa, Frei Martín Bitzer, destaca o exemplo dos quatro mártires aos jovens de hoje. “Eles não foram covardes, mas viveram o Evangelho de maneira decidida, evitando ambiguidades, batendo de frente, com transparência, não de maneira tímida. Esta coragem dos quatro mártires foi transmitida às gerações seguintes, até o dia de hoje, aos jovens. O martírio não é um fruto do voluntarismo, mas um dom de Deus”, assinalou.