Frei Alisson: “São Francisco é nosso ‘aplicativo’ que leva a Jesus”
13/02/2020
Moacir Beggo
Xaxim (SC) – Nem bem terminaram as Missões Franciscanas da Juventude em Xaxim, e a Paróquia São Luiz Gonzaga está no centro de grandes momentos celebrativos desde esta quinta-feira, 13 de fevereiro, até o próximo domingo, 16. Com a animação litúrgica das Comunidades Anita Garibaldi e Marema, começaram hoje (13), às 19 horas, as comemorações da 8ª Festa em louvor a Frei Bruno, o frade franciscano desta Província que está em processo de beatificação no Vaticano, e a preparação para a ordenação presbiteral de Frei Evaldo Ludwig. Dois momentos fortes do Ano Jubilar para celebrar 80 anos da criação da Paróquia.
A equipe vocacional do Serviço de Animação Vocacional presidiu a Celebração Eucarística desta noite e mostrou todo o simbolismo da vocação cristã e da vocação religiosa. Frei Diego Melo foi o presidente, tendo como concelebrantes os frades que já chegaram para a ordenação presbiteral de Frei Evaldo. Esta Missa tomou Frei Bruno como modelo – “homem de oração e caridade” e São Francisco como inspiração, um “aplicativo que leva a Jesus”. O pároco Frei Gilson Kammer fez acolhida dos paroquianos e dos frades.
O Hino de Frei Bruno abriu a celebração – Na igreja, na rua ou lá no interior, / um amigo sempre pronto a servir seu semelhante/ pelos morros do vale deixou marcas de amor/ e por isso sua luz continua tão brilhante” – deu o tom para as celebrações que virão nos próximos dias.
Na sua homilia, Frei Alisson Zanetti, a serviço do SAV, explicou que cada forma de vida religiosa, na Igreja, se volta para Jesus e para o Evangelho. “Este é o ponto de partida. Não se descobre de imediato. Jesus não foi monge, não deixou nenhuma regra para uma congregação instituída, nem propôs votos aos 11 discípulos; mas tornou-se Mestre e Modelo Divino de toda perfeição. Ele não emitiu votos em nenhuma congregação e nem fundou, mas, a partir Dele, todas são fundamentadas. Ele mesmo sendo Deus, foi batizado e o Espírito Santo, que o tinha fecundado, desceu sobre Ele”, explicou o frade.
Segundo o frade, São Tomás de Aquino diz que não era próprio de Jesus fazer votos porque era Deus, mesmo tendo se encarnado como homem, seus olhos estavam fixos só no bem. “Para vivermos a dimensão essencial da vida religiosa consagrada temos que ter bem claro quais são os mais fundamentais motivos religiosos que levaram a escolher esta vida. É mais um modo de ser do que um modo de fazer. Deus nos fez religiosos para sermos religiosos e não exercermos o cargo de religiosos”, destacou Frei Alisson.
Para o pregador (na foto acima), a vida religiosa tem estrutura de governo, sistema de formação, sistema de vida comum, disciplina, linhas comuns que trabalham valores em conjunto. “Isto é um valor, não pode somente ser visto como peso estrutural; mas a união de forças para um testemunho, serviço, pastoral e formação humana”, acrescentou.
Segundo ele, a vida religiosa consagrada é gratuita, é garantida por Deus e não pelo Código de Direito Canônico, por Regras, Constituições ou Estatutos. “A ação do Espírito insuflando carismas vem antes da reflexão teológica, e mesmo antes do Direito Canônico”, destacou.
Para o frade, só existe uma consagração: o Batismo. A Vida Religiosa Consagrada, ou a vida religiosa, não comporta teologicamente uma nova consagração, mas sim uma reafirmação da vocação batismal. “O batismo é o nascimento. Como a criança que nasce depende dos pais para viver, também nós dependemos da vida que Deus nos oferece. No batismo, a Igreja reunida celebra a experiência de sermos dependentes, filhos de Deus. Por meio desse sacramento, participamos da vida de Cristo. Jesus Cristo é o grande sinal de que Deus cuida de nós. Tornar o sacramento sacramental. Viver todos os dias como homens e mulheres de Deus. A cada dia nós renovamos essa nossa consagração batismal, a nossa vocação de cristãos e cristãs”, explicou.
Segundo frade, a Vida Consagrada é o ápice da vocação batismal e o franciscano Frei Bruno é para nós esse modelo de vida e de santidade. “A Igreja ainda não o aclamou santo, mas o povo, no seu coração, na sua fé, já tem ele como um homem de Deus, como santo. Frei Bruno não nasceu santo, mas se tornou santo a partir justamente dessa ação do Espírito Santo, a partir de quando tornou o seu batismo sacramental todos os dias de sua vida. Seus passos, sua história e sua vida continuam vivos no chão desta terra sagrada e por onde mais ele passou e no coração e na mente daqueles que se sentem tocados pela sua intercessão. Sem o batismo não se constrói um cristão e menos ainda um santo”, decretou.
Frei Alisson ponderou que a Vida Religiosa Franciscana não é melhor do que as outras, mas ela é inspirada por Francisco de Assis, que primeiramente nos leva a Deus. “Para nós, seus filhos espirituais, ele é uma placa indicativa, ele é o nosso aplicativo, o nosso Waze, se é que podemos dizer assim. Ele nos leva a Jesus, pobre e crucificado. E tem também os traços e expressões de uma espiritualidade própria. A vida religiosa, segundo Francisco, deve ser comunitária. Ele parte da solidão para a comunhão. E logo no seu Testamento, Francisco vai dizer: ‘O Senhor revelou a mim…’. Não foi ninguém que mandou SMS, ou uma mensagem no Instagram. Foi o próprio Deus que revelou a ele o que deveria fazer ou qual seria o santo modo de operar de Deus na vida daquele homem”, ressaltou.
Para ele, não existe vida religiosa consagrada abstrata, mas existe o religioso, a religiosa, concretos! “Por isso que ela não é perfeita. Quem acha que vai entrar na vida religiosa para ser santo porque lá é o lugar, está absolutamente enganado! Nós nos santificamos, como religiosos, a partir de Deus, a partir do Espírito Santo e principalmente a partir do testemunho de vida do povo cristão, que na sua fé nos ensina a sermos melhores e mais realizados como religiosos (as)”, ensinou.
Hoje esse cuidado – continuou o frade – deve ser ainda maior: É um instrumento de serviço à vida a partir de um carisma próprio. Confunde-se muito atividade religiosa com vida religiosa. O religioso (a) cai num vazio espiritual que é difícil sair dele depois.
As sandálias lembrando as caminhadas de Frei Bruno e representando nossa caminhada cristã e batismal.
“Francisco é para nós um modelo porque nos ensina a termos uma visão muito positiva do ser humano. Para ele, cada pessoa tem que ser vista com muita reverência porque ela traz em si o mistério de Deus expresso em todos os seus dons particulares. Cada pessoa reflete a imagem de Deus. Do leproso à dama nobre, sua amiga Jacoba de Settesoli, cada pessoa é grandiosa em si mesma. Trabalhar com os pobres, entre os pobres e para os pobres não é apenas um estilo de vida, é a própria Forma de Vida franciscana”, evidenciou Frei Alisson, mostrando também o exemplo do Papa Francisco para nós hoje: “O nosso bispo de Roma, Francisco, se reconhece pecador e pede orações; lembra que a Igreja precisa de uma conversão e uma contínua reforma evangélica, uma reforma no estilo de Francisco de Assis”.
Segundo o frade, os dois Franciscos pedem uma Vida religiosa acolhedora, hospitaleira, capaz de iniciar na fé aos que buscam um Deus desconhecido, uma vida religiosa nazarena, não davídica, cheia de pompas. “É olhando para Jesus, para Francisco, para o nosso Frei Bruno que hoje nós queremos agradecer a Deus pelo dom de sermos batizados (as), pelo dom da vida religiosa dentro da Igreja”, disse.
“Também queremos olhar para a vida do nosso irmão Frei Evaldo e desejar a ele um feliz e fecundo sacerdócio. Que o sacerdócio e a vida religiosa de Frei Evaldo sejam como foi a vida de Jesus de Nazaré, como foi a vida de São Francisco de Assis, como foi a vida de Frei Bruno, homem de oração e de caridade. E não como foi justamente a vida do Rei Davi dentro dos palácios e dentro das pompas. Que Deus seja louvado pela vida de nossos irmãos, um que já está galgando para comunhão celestial dos santos, o nosso Frei Bruno, e o nosso Frei Evaldo, que está nessa Igreja peregrina, humana, também buscando a santidade como o Frei Bruno encontrou”, completou.
Logo depois da homilia, Frei Diego chamou Frei Evaldo para se juntar a ele no presbitério. “Conforme Frei Alisson nos ajudou na reflexão, hoje estamos celebrando esse grande sacramento do batismo, que é a porta de entrada de todos os sacramentos e Frei Evaldo não foi sozinho à igreja para ser batizado. Ele teve duas pessoas muito importantes na vida dele, que o ensinaram o caminho de fé e essas duas pessoas estão aqui. Os seus pais, D. Doralina e o sr. Arno”, explicou.
Frei Diego convidou Frei Evaldo para acender sua vela no Círio Pascal e depois acender as velas dos pais. “Essa chama da esperança, que Frei Evaldo cultivou com carinho e cuidado, um dia aprendeu que deveria compartilhar. Vocês três vão espalhar essa chama para a igreja”, pediu Frei Diego, enquanto a assembleia cantou “A nós descei divina luz”.
Sob as luzes das velas, Frei Evaldo fez a sua profissão de fé. Depois, na profissão de castidade, Frei Diego chamou a turma do ordenando, porque professaram com ele.
Na procissão do ofertório teve um terço simbolizando a nossa fé; a água, símbolo do nosso batismo; frutas, representando o nosso trabalho; as sandálias lembrando as caminhadas de Frei Bruno nesta terra e representando nossa caminhada cristã e batismal; e o pão e o vinho que agora se tornam Corpo e Sangue de Cristo. “Vamos ofertar nossa vida junto com Frei Evaldo que irá consagrar sua vida a Cristo Jesus”, disse o comentarista.
Nesta sexta-feira, no segundo dia do Tríduo, o tema da festa é “Frei Bruno, pregador do Evangelho”, tendo a animação das Comunidades da Linha Limeira e Vila Tigre. Frei Vanderlei da Silva fez os agradecimentos.
Frei Bruno morreu com fama de santidade no dia 25 de fevereiro de 1960. Até o dia 25, para marcar esta data, a Paróquia terá a Novena de Frei Bruno na Igreja Matriz, todos os dias, às 19 horas, com exceção no dia 20, às 8h30. Frei Bruno também é lembrado na Missa das 19 horas, toda quarta-feira, quando a animação litúrgica é feita por uma das 60 Comunidades da Paróquia.
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