Fórum da Formação indica caminho de várias mudanças e muito trabalho
11/09/2023
Realizou-se no Seminário Santo Antônio, em Agudos, SP, entre os dias 7 e 10 de setembro, o Fórum Provincial da Formação e dos Estudos, encontro solicitado pelo Capítulo Provincial de 2021 e preparado por quase dois anos. O convite do Evangelho proclamado na liturgia do dia 7 de setembro, abertura do encontro, já trazia o núcleo da proposta lançada aos participantes da reunião, cerca de 60 frades, contando com a assessoria de dois professores e uma professora da USF que vinham acompanhando o processo de preparação há mais tempo: “Avancem para águas mais profundas…” (Lc 5,4).
ABERTURA E INÍCIO DOS TRABALHOS
A Celebração Eucarística, realizada na Capela do Seminário, foi presidida pelo Secretário para a Formação e os Estudos, Frei Marcos Antonio de Andrade. Na homilia, Frei Marcos lembrou o convite de Jesus para que seus discípulos fossem mar a dentro na “pescaria”, solicitação atendida por eles em atenção às palavras do “Verbo”. Enfatizou também que a memória do chamado do Senhor deveria ser realizada a fim de que todos os trabalhos do Fórum fossem frutuosos. Frei Marcos também aconselhou os participantes a partir da admoestação de São Paulo presente na Liturgia da Palavra: “Deveis produzir frutos em toda boa obra e crescer no conhecimento de Deus, animados de muita força, pelo poder de sua glória, de muita paciência e constância” (Cl 1,10).
Já na Sala São Francisco, lugar das apresentações e discussões, o Ministro provincial, Frei Paulo Roberto Pereira, animou os participantes: “Que nos deixemos tocar pelas questões da formação. Isso não apenas por causa da diminuição numérica, da problemática econômica, do tamanho das nossas grandes estruturas. Este não é o nosso principal foco, apesar de também ajudar nos critérios, porém o principal é que temos que perceber como queremos viver daqui por diante, tendo coragem de olhar especialmente para as nossas estruturas mentais”, exortou.
Em mensagem de vídeo enviada de Roma especialmente ao Fórum, o Ministro geral, Frei Massimo Fusarelli, também manifestou sua comunhão com o momento importante e fez algumas recomendações: “O Papa Francisco tem insistido que a Igreja toda deve superar o clericalismo (…). A divisão entre clérigos e leigos não ajuda a reconhecer a natureza teológica interna da Igreja (…). Um remédio que ele propõe é a sinodalidade (…). Para formar em fraternidade devemos rever o lugar onde formamos, não mais em seminários como laboratórios, mas numa fraternidade real. Para formar na minoridade devemos abandonar esquemas de autossuficiência e que levam a autorreferencialidade, quebrando fronteiras para construir relações”.
Os professores Renata Bernardo e Allan Coelho, da Universidade São Francisco (USF), que ajudaram a pensar a metodologia do Fórum, fizeram uma apresentação sobre o momento atual a partir de uma análise de conjuntura da juventude contemporânea, apontando alguns aspectos centrais:
– Existem diferentes categorias juvenis;
– Não há uniformidade;
– Há situações complexas com questões pessoais e externas;
– As “fronteiras” etárias dos jovens mudaram: os períodos da adolescência, juventude e idade adulta são voláteis;
– Os projetos de formação são oportunos, mesmo quebrando a estabilidade, na esperança de que é preciso repensar caminhos; o egocentrismo e a autorreferencialidade não são problemas da sociedade num todo;
– Vive-se uma crise das instituições;
– A finalidade lucrativa tem dito a última palavra em diversas esferas: religião, educação, política, meio ambiente etc.
PANORAMA HISTÓRICO-CRÍTICO DA FORMAÇÃO NA PROVÍNCIA
Frei Marcos Andrade apresentou a constituição das casas de formação, encontros e documentos sobre a Formação Inicial depois da restauração da Província, apresentando as realidades do Brasil e Angola. Foi percebido que na história muitas casas de formação e colégios foram construídos, fechados ou remanejados, por diversas situações, passando por diversos modelos formativos. Em 1968, um marco vale ser destacado: todos os frades passaram a estudar juntos Filosofia e Teologia. Até então, eram separados os frades que seriam presbíteros.
MÉTODO E PREPARAÇÃO DO FÓRUM
Frei Jeâ Paulo Andrade, do Serviço de Animação Vocacional, apresentou a metodologia do Fórum trazendo o caminho percorrido, lembrando que o mesmo foi um pedido do Capítulo Provincial de 2021. Afirmou que para preparar o encontro foi realizada uma análise de conjuntura, uma pesquisa quantitativa e qualitativa, discussões em grupos focais, envio de propostas, criação de um instrumento de trabalho. Apresentou, por fim, as funções durante o encontro (relatores, moderadores, secretários…) e o método de como seriam as discussões.
AVALIAÇÃO E DEBATE DAS PROPOSTAS PARA AS DIFERENTES ETAPAS
SAV e Aspirantado
Frei Gabriel Dellandrea apresentou as propostas para o período do Serviço de Animação Vocacional (SAV), que compreende a aproximação realizada com os jovens desde o primeiro contato com a fraternidade em vista de um acompanhamento vocacional até o ingresso no Postulantado. Antes disso, o relator recordou como está a etapa hoje no Brasil e em Angola e quais são os meios de atuação propostos pela Ratio Formationis para esse período.
Nas observações recolhidas, foram destacados alguns pontos:
– Deve-se evitar uma compreensão “seminarística” do processo, buscando favorecer uma experiência onde todas as fraternidades se sintam comprometidas a acolher os irmãos no seu itinerário de discernimento vocacional e no acompanhamento deste caminho. Nesse sentido, os termos “seminário” e “aspirantado” foram vistos como inadequados para o que se quer propor, sendo purificada a ideia onde todas as fraternidades são Fraternidades de Acolhimento Vocacional (FAV’s).
– Além disso, ficou latente a necessidade de personalizar o acompanhamento a fim de garantir uma especificidade para cada caso, mas com princípios gerais que são a base do discernimento neste período, já propostos pelos documentos da Animação Vocacional da Ordem quando foram lançados há 20 anos.
Em relação às especificidades da Fundação Imaculada Mãe de Deus (FIMDA), em Angola, o tema principal foi em relação à proposta da mudança da modalidade de acolhimento do Seminário Monte Alverne, a fim de adequar o modelo de acolhida e acompanhamento às demandas e ao perfil dos candidatos que têm se apresentado.
Postulantado e Noviciado
Frei Josemberg Cardozo Aranha fez a apresentação de documentos da Província e da Ordem sobre essas etapas, a fim de iluminar as propostas que foram apresentadas. Em ambos os casos, considerou-se que as experiências têm sido produtivas, mas sempre se pode aprimorar os elementos essenciais. Também foi apontado como positivo o fato de as fraternidades destinadas a estas etapas serem dedicadas a outras atividades evangelizadoras para além da formação inicial. Junto ao Postulantado Frei Galvão, em Guaratinguetá (SP), existe o trabalho de atendimento aos romeiros e outras atividades que fazem parte da missão da casa. O Noviciado, em Rodeio (SC) está sediado junto à Matriz da Paróquia São Francisco, promovendo o envolvimento fraterno junto à animação daquela porção do Povo de Deus.
Para o Postulantado, sugeriu-se que fossem ampliadas as assessorias que trabalhassem os aspectos da maturidade humana. Sobre o Noviciado de Rodeio, também se apontou para a possibilidade de adaptação das dependências da casa de acordo com o número menor de candidatos que a etapa tem acolhido em relação ao passado. De acordo com a projeção numérica apresentada pela equipe preparatória do fórum, estima-se que o noviciado, a cada ano, acolha em torno de 7 noviços da Província para a realização da etapa formativa.
Tempo da profissão temporária, pós-noviciado, estudos de Filosofia e Teologia, Centro de Estudos
O professor Allan Coelho foi o relator dessa etapa apresentando o bloco que é justamente o que mais pediu atenção na pesquisa realizada antes do Fórum. Ele iniciou apresentando uma introdução do que veio dos grupos de trabalho, chamando a atenção para as expectativas e as análises de conjuntura vindas dos grupos focais, tais como: diminuição numérica, alto custo das estruturas grandes, casas de formação que não ajudam os frades a conhecer mais as frentes de evangelização da Província etc. Depois da leitura das propostas, a discussão foi moderada por Frei Gilberto da Silva. Discutiu-se sobre a perspectiva numérica de frades formandos para o pós-noviciado, percebendo que é preciso dividir a reflexão em dois momentos: um para refletir o pós-noviciado como etapa de formação que contempla o tempo da Profissão Temporária e outro sobre como ficariam os Institutos de Filosofia e Teologia.
Sobre o primeiro bloco, foram discutidas as ideias a partir das propostas e se percebeu a importância de fazer uma mudança, não só de lugares, mas de estruturas mentais, num primeiro momento, para depois se discutir sobre para onde ir. Diversos participantes pontuaram que é preciso que o tempo de profissão temporária esteja mais integrado na vida das fraternidades da Província. Também houve debate sobre a relevância dos estudos para a formação do Frade Menor e a importância de se manter Centros Acadêmicos que promovam a reflexão e o estudo em relação ao Franciscanismo. A realidade atual da FIMDA neste contexto também ocupou a atenção do grupo.
Formação permanente
Reconheceu-se que existe um bom empenho e boas iniciativas neste particular, no entanto, é necessário sempre promover entre frades uma consciência da amplitude e da importância que a Formação Permanente tem para a trajetória de cada irmão e da fraternidade. Nesta direção, algumas indicações foram levantadas, entre elas:
– que haja um plano mais efetivo de acompanhamento e correção nos casos necessários;
– a necessidade permanente de formação humana dos frades, com apoio terapêutico nos casos de comprometimento e de abalo da saúde mental;
– o trabalho contínuo de valorização e aprofundamento das dimensões próprias da vida franciscana.
ENCAMINHAMENTOS FINAIS E CELEBRAÇÃO DE ENCERRAMENTO
Na Celebração Eucarística de encerramento, o Ministro provincial, Frei Paulo Roberto Pereira lembrou que o convite do primeiro dia do encontro foi o de avançar para águas mais profundas, mas que agora era preciso ouvir outro pedido de Jesus: “Voltar para a margem”. Segundo o Ministro, tal proposta simboliza um reencontro com o Senhor, que terá sentido entre os frades se se concretizar nesta experiência de um constante caminho pessoal de volta, pois temos saudade de Deus. Para ele, o Fórum não chegou ao fim e é fruto de um processo marcado pela sinodalidade. “O Papa Francisco convocou um sínodo sobre sínodo justamente porque para ele o sínodo é importante. O que se decide é uma parte do encontro, pois o que se discute, a partilha de ideias, o estudo, a reflexão, a esperança, a frustração, a dialética é o concreto e essencial. Decisões vão sendo sempre tomadas, mas decidir estar em discussão constante facilita a fortalecer novas ideias e continuar adiante”, reforçou o Ministro.
Concluídos os trabalhos, com os encaminhamentos e indicações do Fórum elaborados, ficou a certeza de que muito trabalho virá pela frente. O “pós-fórum”, como já vem sendo chamado todo o movimento que segue, exigirá grande empenho de todos os agentes envolvidos no processo. O caminho é de certa insegurança, pois deixar o conhecido em busca do novo é sempre desafiador, mas também é uma estrada pavimentada das melhores esperanças.