Erundina: “D. Paulo nos deixou rastros de luz”
13/09/2021
A Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados realizou audiência pública nesta segunda-feira (13) para celebrar a vida e o testemunho de Dom Paulo Evaristo Arns, em homenagem ao centenário de seu nascimento. Essa presente audiência foi um pedido da deputada Luiza Erundina, que, segundo ela, Dom Paulo Evaristo Arns (1921–2016) teve sua trajetória marcada, principalmente depois que foi designado arcebispo metropolitano de São Paulo, em outubro de 1970, por aproximar a Igreja da sociedade, trabalhando principalmente pelas populações mais vulneráveis.
“Dom Paulo deixou uma marca indelével nas nossas vidas, na Igreja e no país”, disse a deputada Luiza.
“Nos dias terríveis que vivemos hoje, a celebração do centenário de Dom Paulo é uma oportunidade para mirarmos o seu exemplo, a sua capacidade de resistência, o uso do poder que Igreja lhe conferiu como Cardeal e Arcebispo de São Paulo, colocando esse poder a serviço da resistência e da defesa da democracia em nosso país. Onde ele estiver, certamente, está muito próximo de Deus pelo que ele fez e viveu nos deixando rastros indeléveis, brilhantes feito um cometa que atravessou os céus de nosso país e deixou rastros de luz que ainda hoje brilham e nos inspiram pelos seus exemplos de fidelidade aos valores humanos, aos direitos humanos, à dignidade humana, à liberdade humana, portanto, à democracia no nosso país. Obrigado D. Paulo pelo que nos ensinou!”, agradeceu Erundina.
Participaram do debate Dom Joel Portella Amado, secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); Belisário dos Santos Júnior, ex-secretário de Justiça do Estado de São Paulo e membro da Comissão Arns; Anita Wright, a presbítera e ex-moderadora nacional da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil (IPU); Paulo César Pedrini, educador, historiador e militante dos direitos humanos.
Dom Joel Portella, secretário geral da CNBB, disse que a primeira palavra dele era de agradecimento à Câmara dos Deputados por esta homenagem a Dom Paulo.
“Mesmo nos momentos mais difíceis, Dom Paulo nunca deixou de dialogar, tratando todas as pessoas com respeito, particularmente com quem pensava diferente dele. Para além das nossas diferenças, somos seres de esperança”, destacou Dom Joel.
Ao lado de Jaime Wright, pastor presbiteriano, Dom Paulo coordenou o projeto “Brasil: Nunca Mais”, até hoje um dos mais importantes registros das violações de direitos humanos cometidas pelo governo militar. Anita Sue Wright participou deste debate recordando esta importante parceria entre Dom Paulo e o reverendo Jaime. Ela é a filha-caçula do reverendo e hoje vice-presidente do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil.
E foi a defesa da vida e dos direitos humanos que uniu D. Paulo e o Reverendo Jaime Wright. “A amizade cresceu e se transformou em parceria de trabalho. E o pastor presbiteriano ganhou uma sala de trabalho ao lado de Dom Paulo na Arquidiocese de S. Paulo. Ele era carinhosamente chamado de bispo auxiliar”, recorda a filha.
Belisário dos Santos Júnior lembrou que a fama de Dom Paulo ultrapassava as fronteiras da América Latina. Segundo ele, numa visita ao Paraguai foi perguntado pelo vice-presidente: “Em que poderemos atendê-lo?”. “E ele solta aquela frase fantástica: ‘Soltem os presos políticos!’”. Segundo Belisário, esta história foi contada pelos advogados paraguaios que o veneram como o grande marco na história dos direitos humanos.
Paulo César Pedrini também partilhou um pouco da convivência com D. Paulo. “Alguns momentos foram muito marcantes para a Pastoral Operária com a presença de Dom Paulo. Em 74, a prisão e a tortura do nosso querido Waldemar Rossi, o qual não se cansava de dizer que se sobreviveu ao regime militar foi graças a Dom Paulo. Em 79, o bárbaro assassinato de Santos Dias da Silva, na greve dos metalúrgicos de São Paulo. Além disso, eu lembro que nos Primeiros de maio essa data coincidia com assembleia da CNBB. Dom Paulo saía de Itaici para celebrar na Sé e voltava correndo para retomar os trabalhos”.
“Neste dia 14 celebramos o centenário de Dom Paulo e dia 19 celebramos o centenário de Paulo Freire. Dois Paulos que deram a sua vida por um outro mundo que não é só possível, mas é fundamentalmente necessário. Dom Paulo com seu lema ‘de esperança em esperança’ e Paulo Freire nos ensinando a conjugar o verbo esperançar”, lembrou Pedrini, informando que o documentário “Dois Paulos na Pauliceia” será lançado dia 19.