Dona Sandra: Uma devoção que se transforma no bolo de Santo Antônio
13/06/2022
São Paulo (SP) – Com a reforma do Convento Santo Antônio do Pari, o refeitório e a cozinha, que eram usados para as refeições da Fraternidade, agora se tornou um espaço reservado para as atividades da Paróquia. Um grupo de quinze fiéis voluntários trabalharam nos últimos dias para preparar o tradicional bolo de Santo Antônio, sempre muito procurado na Festa do Padroeiro. Segundo o pároco Frei Wilson Simão, foram montadas 6 mil embalagens de bolos. Por causa da pandemia, o bolo não pode mais ser cortado nos tabuleiros. Agora, o trabalho é mais cuidadoso para oferecer o bolo de Santo Antônio.
Há mais de 35 anos, a Paróquia contou com a voluntária Wanda de Freitas Lavia, que coordenou este trabalho de confeitaria com muita dedicação e entrega. Devido a problemas de saúde, ela passou o bastão para a paroquiana Sandra Fátima Teixeira Picorello, que, com um grupo de 15 pessoas, garante que o bolo chegue até os fiéis devotos.
Foi por causa de uma graça alcançada que Sandra, aos 74 anos, não mede esforços durante a preparação da Festa. Mas antes de falar desta graça, ela lembra que tem uma ligação muito forte com o bairro e a Paróquia. “Nasci aqui e morei durante 70 anos. Estudei no Colégio Santa Terezinha e no Colégio Santo Antônio. A minha mãe era Filha de Maria. Então, essa tradição já vem desde criança e não tem como se desligar. E eu não consigo também. E agora consegui trazer meu filho (trabalha com o dízimo e encontro de casais) e minha nora é ministra da Eucaristia. Estou muito feliz”, conta Dona Sandra, que é filha de portugueses. Seu marido faleceu em 2011.
Segundo ela, antigamente, o bairro só tinha famílias portuguesas, na sua maioria, e italianas. “Dá muita saudade daquele tempo porque só tinha residências. Havia uma comunidade. Acabou quase tudo, embora ainda tem uma parte do bairro com residências”, conta. Assim como ela, os paroquianos já não residem no bairro, mas não desistiram de frequentar, mesmo que não seja assiduamente, a Paróquia, especialmente na Festa do Padroeiro. “Eu conheço muita gente que se mudou, mas não deixa de voltar aqui. Não é muito constante, mas sempre vem”, reforça.
“Sempre, desde pequena, eu frequento aqui, com os avós, com os pais. Vinha à Missa, primeira comunhão, catequese. Eu quero ficar até aguentar”, espera.
A devoção a Santo Antônio, que já existia com os laços familiares, só aumentou para Sandra quando conseguiu uma graça. “Tive um problema na coluna que me deixou dois meses sem andar. Fiz um tratamento e nada melhorava. Os médicos diziam que não ia andar mais. E quando chegou o Dia de Santo Antônio, meu marido perguntou: ‘Você quer ir no Santo Antônio?’ Perguntei: ‘Como eu vou?’ Ele disse: ‘Você consegue’. E eu vim. Então, eu chorava de um lado da imagem, e meu marido do outro. Meu marido era assim: se eu ficava doente, ele também ficava. Ele dizia vamos pedir juntos uma graça, mas você pede o que acha que pode te ajudar. Eu conversei com Santo Antônio e pedi para que voltasse a andar e nunca parasse mais. Naquele ano, em 2002, eu ainda não andava bem, mas, no ano seguinte, o que eu podia fazer, fazia por dois. Não tinha mais dores. Tenho a hérnia de disco, não pude fazer a cirurgia porque o médico disse que ficaria uma sequela e eu estava mesmo arriscada a ficar na cama para sempre. Ele falou: ‘Tem dor, toma o remédio e toca a vida em frente’. Eu fiz isso até hoje”, conta agradecida ao santo franciscano.
Para se ter uma ideia, Sandra não economizou tempo para terminar o trabalho. “Na sexta-feira, começamos às 6 e fomos até meia-noite e meia. Eu cheguei em casa 1 hora da manhã e fui dormir 13h45 e, às 6 da manhã, estava em pé. É uma coisa que não cansa. Eu falo: ‘Meu Deus, será que eu mereço? Porque tudo o que eu peço para ele eu consigo. Ele e Nossa Senhora Aparecida. Eu me sinto muito feliz”, confessa.
Para ela, Santo Antônio é muito próximo de nós. “Parece que ele está sempre na vida da gente. Ele não é distante”, diz. “As vezes não tem explicação. A fé não explica, mas acredita e sente”, avalia.
“Quando eu morava na Coronel, eu vinha aqui todo dia de manhã. Antes de ir ao mercado, eu rezava para Santo Antônio. Depois ia para o altar do Senhor dos Passos e Nossa Senhora Aparecida. Foi uma época difícil, porque estávamos numa situação muito boa e perdemos tudo. Então, rezar aqui me confortava e me deixava muito bem durante o dia e aquele peso que sentia se tornava leve. Então, tudo isso eu devo a Santo Antônio. Tudo eu devo a ele. Propriamente a minha vida”, emociona-se.
Aos 74 anos, Sandra preza muito no seu vocabulário a palavra doação. “Eu gosto de ajudar”, completa.
Comunicação da Província da Imaculada Conceição