Dividir para multiplicar: experiências nos pequenos grupos
22/01/2017
Frei Augusto Luiz Gabriel e Érika Augusto (texto e fotos)
Curitiba (PR) – Neste sábado, 21, terceiro dia das Missões Franciscanas da Juventude em Curitiba, os jovens já pernoitaram nas casas das famílias próximas aos seus locais de missão. A ideia é que, em pequenos grupos, eles façam uma experiência mais rica, de partilha, amizade e colaboração.
Os missionários da reconciliação visitaram os comércios da cidade, um local de prostituição conhecido como Casa Azul, a Santa Casa de Misericórdia, marcaram presença no Jardim Botânico, levaram a Alegria do Evangelho junto a uma APAE do município, e prepararam um delicioso almoço para os moradores em situação de rua. Em todos os cantos da cidade de Curitiba era bonito de ser ver que a presença dos jovens franciscanos, acompanhados dos frades, causava bastante impacto nas ruas da capital paranaense.
Uma das experiências aconteceu em Piraquara, no Hospital San Julian e na Comunidade São Roque, o antigo leprosário. Pela manhã, o grupo, que ficou hospedado nas famílias da Paróquia Bom Jesus dos Perdões saiu em direção a Piraquara. O hospital São Julian foi fundado em 1968, e acolhe até 400 homens que desejam largar a dependência do álcool e das drogas. Os missionários chegaram durante o horário de visita para alguns atendidos. Numa pequena lanchonete, os grupinhos se formavam. Pais, mães, esposas, amigos, filhos e filhas, todos visitando os parentes internados.
Os jovens foram acolhidos pela assistente social Eliane Aparecida Cruz e por uma equipe de funcionários e professores. Em seguida, eles apresentaram uma versão moderna para a parábola do Filho Pródigo, uma maneira simples de dizer àqueles homens internados que é sempre possível uma nova chance.
Enquanto a equipe cuidava da apresentação, outro grupo se dirigiu para a ala psiquiátrica, onde ficam internados os casos considerados mais graves. Eles apresentaram uma releitura do primeiro capítulo do Livro do Gênesis, que aborda a criação, através da arte. “Foi um momento intenso que prendeu a atenção e os missionários traçaram o sinal da cruz na testa dos internos com a argila, gesto que causou comoção. Podemos dizer que saímos agraciados pela oportunidade de poder interagir e conhecer a realidade e o mundo em que vivem nossos irmãos com transtornos que muitas vezes excluímos. Deus nos envia e capacita para proclamar o seu amor. Impossível não se emocionar ao perceber o rosto misericordioso nos olhos desses irmãos”, afirmou Elisa Lima, de Lages (SC).
Depois do encontro com as famílias, foi momento de visitar os outros pacientes. Os missionários encontraram homens de diversas idades e lugares. Eles reapresentaram a parábola do Filho Pródigo e, em seguida, ouviram dois testemunhos, do Carlos Henrique e do Jeferson Santos. O Carlos Henrique é paciente do San Julian, mas está de malas prontas: deixa o hospital na próxima terça-feira, após 4 meses de tratamento. Ele aproveitou a oportunidade para agradecer aos companheiros do hospital pelas partilhas e pela força que lhe deram. “Em 4 meses eu fui me conhecendo, soube da minha doença, transtorno bipolar, e aprendi a escutar os outros. Escutando eu vou estar me curando”, afirmou.
O outro testemunho foi do Jeferson, vindo de Forquilhinha (SC). Ele, mais que missionário, é um dependente químico em tratamento, e foi liberado pelos médicos para participar da experiência em Curitiba. Sua fala trouxe esperança para aqueles homens, e um novo olhar para os jovens missionários. “Não tenham vergonha da realidade de vocês”, pediu Jeferson. E falou sobre os problemas que a dependência química gera, não somente para o usuário, mas para as pessoas que o cercam. O mais importante é desejar algo melhor. “Não desista dos sonhos de vocês. Após a tempestade tem algo melhor que se possa imaginar”, concluiu.
CONFIRA A ENTREVISTA COM JEFERSON:
ALMOÇO E VISITA AO ANTIGO LEPROSÁRIO
Após as visitas, os jovens foram conhecer outro local muito especial, a antiga Colônia São Roque, que hoje é o Hospital de Dermatologia Sanitária do Paraná. No local vive Frei Rui Depiné, de cativantes olhos azuis e fala mansa, e algumas Irmãs Franciscanas de São José, que auxiliam nos trabalhos da comunidade e no cuidado de Frei Rui.
Os jovens foram recebidos com muita alegria e entusiasmo e uma deliciosa feijoada. Após o almoço, Frei Rui contou um pouco sobre a história da Colônia São Roque e das dificuldades que eles enfrentaram. “Os doentes eram despejados no último vagão do trem, as irmãs chegavam a buscá-los em carrinho de mão para trazer até aqui”, partilhou.
Josy Ferraz, que ajudou na articulação do grupo e é, com as irmãs, braço direito de Frei Rui, também falou aos jovens sobre sua relação com a comunidade. Ela participa da Igreja Batista, mas afirma que o trabalho feito no São Roque é muito importante para ela, independente da confissão religiosa, e que brinca com o pastor de sua Igreja, quando questionada sobre sua ausência: “eu não venho ao culto, mas participo todo sábado e domingo na missa no São Roque”.
Os missionários seguiram então para a segunda parte da experiência, onde puderam entregar os materiais escolares doados pelos jovens para as crianças carentes de Piraquara. Quando chegaram, viram uma fila de mães e crianças, ansiosos pela chegada dos visitantes. Eles desembarcaram do ônibus com perucas, óculos coloridos, cantando e interagindo com as crianças que, aos poucos, foram perdendo a timidez e entrando na brincadeira. Com tintas, tiveram os rostos e mãos pintados, ganharam chocolate e ganharam, sobretudo, muito carinho e amor dos jovens. Depois formou-se duas filas: para as crianças menores cadernos brochura com lápis de cor, para os mais velhos, cadernos universitários com caneta, lápis e borracha.
Certamente, o desejo dos missionários era ficar mais tempo com aquelas crianças e seus pais, mas eles tiveram que voltar para São Roque, onde celebraram a Eucaristia com a comunidade às 18h. A missa foi presidida por Frei Ângelo Vanazzi, que acompanhou o grupo dos missionários.
Na hora da despedida, Frei Gabriel Dellandrea agradeceu a calorosa acolhida e, emocionado, falou a respeito do trabalho realizado no São Roque. “Há pessoas que não fazem a Missão Franciscana da Juventude, mas que vivem a Missão, fazem das suas vidas uma Missão Franciscana”, afirmou. E concluiu: “O paraíso é aqui”, relatando da sua experiência pastoral no local enquanto era frade estudante de Filosofia em Rondinha.
Frei Rui dirigiu algumas palavras aos jovens missionários, afirmando que aquela presença era inexplicável e agradeceu, dizendo: “por aqui ficam as marcas, não as do sapato, mas as de Deus”, concluiu.
INDO AO ENCONTRO DAS FAMÍLIAS NA PARÓQUIA DA FERRARIA
Também, um grupo de aproximadamente 50 jovens realizou durante todo o dia, na Paróquia Senhor Bom Jesus, de Campo Largo (PR), atividades voltadas à manutenção das igrejas, e especialmente visitas às famílias. Três comunidades do bairro Ferraria foram presenteadas com a juventude missionária. No final do dia, as comunidades em procissão, acompanhadas com as imagens dos padroeiros das capelas, se encontraram em frente à Igreja Matriz, para juntos encerrarem as atividades com a Celebração Eucarística. Presidida por Frei Mário Stein, de Colatina (ES), e concelebrada por Frei Marcos Prado, de Ituporanga (SC), e pelo diácono Osni Jasper, da Paróquia de Santo Amaro da Imperatriz (SC). Após a homilia, o celebrante convidou alguns jovens a darem seus testemunhos. Foram unânimes ao afirmarem que a boa acolhida e a simplicidade das pessoas impactaram de forma ímpar a vida de cada um. Após a celebração, já no salão paroquial, os jovens da comunidade local conduziram um momento artístico muito bonito, por sinal. Em seguida, teve início uma confraternização com todos os presentes.