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Débora Pupo questiona: “Família, primeira catequista?”

29/08/2021

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O sexto dia (28/8) da Super Semana de Catequese da Editora Vozes teve como convidada a coordenadora regional da Animação Bíblico-Catequética do Regional Sul 2, da CNBB, Débora Pupo, autora do livro “Catequese… Sobre o que estamos falando?”. Este evento, sempre às 19 horas no canal do YouTube da Editora, termina neste domingo.

Nesta live, que teve a condução de Natália França, a palestrante abordou o tema “Iniciação à Vida Cristã em suas dimensões celebrativas e doutrinais”, e fez alguns questionamentos ao situar a família nesse contexto.

Segundo Débora Pupo, como em todas as atividades, é comum a existência de alguns clichês e na catequese não é diferente: “Família, primeira catequista; os pais, primeiros catequistas; família, Igreja doméstica; catequese doméstica”. “Eu não estou menosprezando isso, por favor. Só que nesse processo, a minha pergunta é: que suporte a família tem para ser uma Igreja doméstica? Que suporte a família tem para ser a primeira catequista dos filhos? No processo de Iniciação à Vida Cristã (IVC), no pensamento de uma catequese mais voltada para o existencial, para a dimensão de toda a formação cristã, precisamos olhar para as famílias com carinho porque muitas delas não fazem isso e não sabem como fazer. Eu ouso dizer assim: as crianças vêm obrigadas, mas pelo menos ainda vêm! Os pais colocam os filhos na catequese e depois esquecem, mas colocam! Será que não seria, então, o momento de começarmos a pensar estratégias, possibilidades, de ajudar esses pais, essas famílias, esses responsáveis a se conscientizarem da missão que eles têm? Porque muitos não têm tempo nesse mundo corrido. A família é indispensável na Iniciação da Vida Cristã? Eu digo sim, mas precisamos olhar para ela como um espaço de catequese. A família precisa ser catequizada, a família precisa ser ajudada. Então, não é só dizer aos pais que têm que assumir o seu papel, porque alguns pais podem olhar e dizer assim: ‘tá, mas qual é o papel que me cabe? Como eu vou assumir isso?’ Eu tenho um pouco de receio do ‘8 ou 80’ ou dos que ‘fazem nada ou que fazem tudo’. Tem pais que se envolvem e tem pais que não se envolvem. Tem famílias que deixam a desejar, mas nós catequistas, nós catequese, nós comunidade, como estamos olhando para as famílias? O papel delas é importantíssimo, mas elas precisam ser iniciadas também”, avaliou Débora.

Segundo ela, a catequese também ficou marcada pelos efeitos da pandemia, assim como em todas as realidades de nossa vida. Sem respostas prontas, as dioceses, as paróquias, as catequistas foram para a luta. “Tivemos uma criatividade sem tamanho, porque migramos para um espaço que não tínhamos experiência, não fazíamos ideia. Eu digo para vocês: tive de me reinventar nessa história de lives, de sentar na frente do computador e falar para uma luzinha que fica ali, e tentar o melhor ângulo, a melhor plataforma, entrar e sair de sala, tirar e pôr microfones. Eu fico imaginando os catequistas, pois muitas e muitos não têm esse preparo. Nós não preparamos os catequistas para, de uma hora para outra, fazerem um encontro de catequese virtual, até porque essa não é a realidade da catequese”, explicou.

Nesse período de pandemia, a catequese não ficou isenta de tudo o que significou esse momento na vida das pessoas e da sociedade. “Aos poucos, contudo, estamos retomando os encontros presenciais. Tem se percebido que, com os adolescentes, com os adultos, de repente você possa, como alternativa, utilizar as redes sociais. Não virtualizar 100%. Não existe catequese on-line. Podemos formar os catequistas, podemos até fazer momentos formativos com os pais, envolvendo as famílias, envolvendo os responsáveis pelos catequizandos. Mas não podemos virtualizar a catequese, achar que agora você migra e vai fazer catequese on-line, porque a catequese é feita na comunidade. Ela precisa desse contato, dessa convivência. Na pandemia, a catequese ficou abalada no primeiro momento, pois os catequistas não sabiam como agir. A catequese se reinventou durante a pandemia e agora, nesse pós-pandemia, precisa olhar para a realidade das suas dioceses, para a realidade de suas paróquias e traçar caminhos comuns, lembrando que muitos catequistas perderam a vida, muitos catequizandos perderam pessoas queridas – pais, mães, avós, tios, irmãos. Não é pouco o número de brasileiros que morreu em decorrência da pandemia e muitos que passaram pela doença, ficaram com sequelas. Como podemos cuidar dessas feridas também no contexto da catequese? Acredito que a palavra nesse momento é paciência. Estamos vivendo um momento conturbado. Não temos respostas prontas. Começa-se a refletir, a conjecturar o que pode ser feito. Ainda é um período que requer paciência, análises da realidade, conversas, escutas para que se possam traçar caminhos em comum”, ensinou Pupo.

Em outro questionamento veio de uma catequista, Gorete, lamenta ser um dos grandes desafios para pôr em prática a Iniciação da Vida Cristã na catequese é a resistência encontrada dentro da própria Igreja. “De fato, existe essa dificuldade, porque trata-se de um processo que necessita de conversão, de mudança de mentalidade. Inclusive conversava com um bispo que estava visitando a CNBB, em Curitiba, e ele falava sobre a intenção dele de iniciar esse processo de IVC na sua diocese. E ele disse que chegou num primeiro momento querendo mudar tudo. Agora, ele percebeu que é preciso dar passos, fazer um caminho. E a IVC exige uma mudança de mentalidade, formação dos catequistas, porque os catequistas precisam se compreender como facilitadores de um processo participativo. Ele não é um professor de religião, de catequese. Precisa compreender os catequizandos como interlocutores. Os pais precisam fazer um processo de conversão para reconhecerem a catequese não como um espaço só em vista de um sacramento. A comunidade precisa se compreender iniciadora. Então, toda ação é voltada para um movimento de iniciação, todo um contexto precisa ser modificado e isso gera resistência, porque mudar não é tão fácil. Mas a gente tem belas experiências, também não dá para dizer que não acontece, que não tem nenhuma experiência, que não tem os próprios escritos dos documentos. Tem-se avançado nessa compreensão. Mas é um processo lento, sim, que precisa dessa conversão, desse passo a passo, para o caminho ser feito”, avaliou.

Na interação com os participantes, Maria Elizabet Guardarine disse que é bem difícil iniciar a IVC na catequese porque hoje ela vista como preparação apenas sacramental pelos pais dos catequizandos. “Dizer que a IVC é renovação da catequese é dizer que estamos fazendo esse processo de retorno à verdadeira compreensão de catequese, que é esse, volto a dizer, processo de volta integral, orgânico de educação na fé”, explicou.

Para a palestrante, ao falarmos de Iniciação à Vida Cristã é importante que nós iniciemos por uma definição de IVC. O que se entende por IVC? Primeiro de tudo, o destaque de um “processo educativo”, que tem a ver com formação, com instrução, com aprendizagem e transmissão de conhecimentos.

“E esse processo educativo visa despertar, crescer e consolidar na fé. Tem um fim, um objetivo, embora possa parecer pretensioso. Onde queremos chegar? Um complemento desse objetivo é colocar a pessoa diante da proposta interpeladora de Deus. Mais ou menos como aquela passagem do eunuco etíope, nos Atos dos Apóstolos, que está lendo um texto do profeta Isaías e o evangelista Felipe pergunta: ‘Você entende o que está lendo?’ Ele responde: ‘Como vou entender se não tem quem explique!’ Essa passagem termina em batismo do etíope. Cito esse exemplo para dizer que, às vezes, a gente diz assim: ‘Ah, as pessoas não ligam para Deus, as pessoas não ligam para a religião’, mas muitas vezes não há quem as coloque diante dessa grandeza, diante dessa beleza. Então, o processo diante da IVC tem esse objetivo de explicar, de colocar a pessoa em contato com a proposta de Deus em sua vida”, situou Débora.

Ela se fundamentou numa definição documental do DOC 107 da CNBB, 61, publicado em 2017, que vai dizer: “O processo educativo por meio do qual busca-se despertar, crescer e consolidar a fé e na fé. Tem o objetivo de colocar a pessoa diante da proposta interpeladora de Deus que se realiza na história. É o processo de ser conduzido para dentro do mistério amoroso do Pai e de ser inserido na comunidade eclesial, para professar, celebrar, viver e testemunhar a fé em Jesus Cristo”.

“Então é um processo pessoal: sou inserido para dentro desse mistério, eu faço parte, eu aceito essa relação com o Pai e vou vivenciar isso com a comunidade. A fé não é algo somente pessoal, mas um dom comunitário”, comentou.

Débora destacou alguns pontos em relação à IVC:

– A catequese coloca-se a serviço da iniciação à vida cristã para ajudar nesse processo educativo, tornando-se um itinerário de formação ao discipulado missionário

– Pensar a I.V.C em suas dimensões doutrinal e celebrativa é pensar o processo educativo como um todo, no qual Catequese e liturgia se harmonizam.

– Importante: a I.V.C. “deve acolher e iluminar as questões existenciais da vida de cada um. Isso significa que ela precisa enraizar-se no complexo tecido da existência concreta dos interlocutores e de suas realidades sociais (CNBB, Documento 107, n. 90)

– Ao pensar as dimensões doutrinal e celebrativa da I.V.C é possível falar em: Catequese como educação da fé e Catequese como celebração da fé.

CATEQUESE COMO EDUCAÇÃO  DA FÉ

– A catequese é também instrução, ou seja, explicita a fé e orienta a conduta cristã dentro dos preceitos evangélicos, devidamente interpretados pela Igreja.

– O ensino da doutrina vai orientar no caminho a seguir. Podemos dizer que a dimensão doutrinal da I.V.C é o esforço da Igreja em ser mãe e mestra.

– É a preocupação da Igreja em interpretar a mensagem bíblica para que seus fiéis não fiquem desorientados neste mundo marcado por constantes mudanças.

Sobre o segundo, a dimensão doutrinal, Pupo lembra que é preciso ajudar os catequizandos a harmonizar fé e vida; e propiciar um processo participativo de acesso: às Sagradas Escrituras, à liturgia, à doutrina da Igreja, à inserção na vida da comunidade eclesial; e na experiência de intimidade com Deus.

“A dimensão doutrinal se volta para a pessoa como um todo”, esclarece.

CATEQUESE COMO CELEBRAÇÃO DA FÉ!

 – A celebração é a realização ritual da fé na qual se incentiva o diálogo.

– Dois movimentos importantes na celebração: o anúncio da Palavra de Deus e a resposta da assembleia.

– Celebração como ritual da fé: a celebração é o momento em que o divino irrompe no humano mediante um regime de linguagem e sinais.

“Consegue imaginar esse momento também em seu encontro de catequese?”, pergunta Débora

Três características importantes para esta compreensão, destaca Pupo:

  1. Celebração, no sentido cristão, se refere a um fato histórico que possui raízes antropológicas, pois tem a ver com a relação do ser humano consigo, com o próximo, com o mundo e com Deus.
  2. Celebrar não é uma ação folclórica ou externa à pessoa, antes a envolve de dentro para fora.
  3. Outra característica importante da celebração é o fato deque celebrar é sempre um ato, ou um fazer, público, ligado a uma comunidade.

Uma certeza! Um desafio!

Segundo a coordenadora da CNBB, diante da dimensão celebrativa da catequese, por conta da IVC, nós temos uma certeza e um desafio:

Certeza: a pessoa precisa ser educada para celebrar, para inserir-se nesse diálogo com Deus e responder de acordo com seu ser.

– Desafio: fazer com que a catequese ajude nessa educação para a celebração.

“Então, educamos a fé enquanto vivência, e educamos a fé enquanto celebração”, enfatizou.

“Dentro dessa compreensão nós não podemos pensar a catequese como itinerário que não contemple a celebração. Porque o momento celebrativo se insere no itinerário catequético como um marco para indicar o ritmo, para indicar o crescimento, para indicar o amadurecimento. Um exemplo, os ritos dentro do itinerário da iniciação á vida cristã: os ritos das entregas, de admissão ao catecumenato, o rito da eleição, o rito da passagem par o outro”, explicou.

“E se nós falamos de um itinerário que pensa ser completo, nós precisamos conjugar o momento de aprofundamento e de celebração. É nessa interação que acontece o educar para o momento mais importante que é o ápice do diálogo com Deus, que acontecerá na celebração eucarística”, acrescentou.

Pupo, então, tomou uma passagem do Diretório Nacional de Catequese (DNC, 118), que destaca a liturgia como fonte inesgotável da catequese: “A proclamação da Palavra, a homilia, as orações, os ritos sacramentais, a vivência do ano litúrgico e as festas são verdadeiros momentos de educação e crescimento na fé. A liturgia é fonte inesgotável da catequese, não só pela riqueza de seu conteúdo, mas pela sua natureza de síntese e cume da vida cristã: enquanto celebração ela é ao mesmo tempo anúncio e vivência dos mistérios salvíficos; contém, em forma expressiva e unitária, a globalidade da mensagem cristã. Por isso é considerada lugar privilegiado de educação da fé”.

“A Celebração e a festa contribuem para uma catequese prazerosa, motivadora e eficaz que nos acompanha ao longo da vida, porque compreende o momento celebrativo como componente essencial da experiência religiosa cristã. Nós precisamos pensar uma catequese que seja também celebrativa, festiva, que ajude o catequizando a se inserir nesse diálogo com o Pai”, comentou.

Segundo Débora, dito isso pode-se perguntar o que é uma Catequese litúrgica. O número 121 do DNC define a catequese litúrgica: “É um processo que visa enraizar uma união madura, consciente e responsável em Cristo, sobretudo através das celebrações e leva ao compromisso com o serviço de evangelização nas diversas realidades da vida. A catequese litúrgica prepara aos sacramentos e ajuda a vivenciá-los: leva a uma maior experiência do mistério cristão. Ela explica o conteúdo das orações, o sentido dos gestos e dos sinais, educa à participação ativa, à contemplação e ao silêncio”.

“Quanta dificuldades temos em silenciar, para contemplar o mistério, o colocar-se. Tem um momento de falar, tem um momento de ouvir. Essa gama de situações deve ser contemplada na catequese litúrgica”, comentou.

Na festa de Santo Agostinho neste dia 28 de agosto, a palestrante escolheu a seguinte definição deste grande doutor da Igreja para ilustrar sua fala: “Celebrar é tornar visível o invisível, é realçar o diálogo entre Deus e o ser humano que acontece por meio de uma ação significativa que traz em si passado e futuro”.

“Quando formos celebrar, nos imaginemos dentro dessa compreensão. Estamos participando de uma ação significativa que quer reforçar nosso diálogo com Deus”, comentou.

E O CATEQUISTA NA IVC?

Pupo também falou do catequista dentro da IVC.  Segundo ela, o catequista nesse processo é desafiado a:

Ser guia: tomar pelas mãos os catequizandos e, juntos, percorrer o caminho da descoberta e aprofundamento da fé.

Ser semeador que anuncia com entusiasmo e convicção.

Cultivar sua espiritualidade, seu conhecimento, sua intimidade com Jesus Cristo.

Apresentar a Jesus Cristo como uma Pessoa que traz uma proposta de vida nova.

Pupo concluiu com o documento “Exortação Apostólica sobre a Catequese em nosso tempo”, de São João Paulo II, no início do seu Pontificado em 1979. “O número 23 que cito é a harmonia, a síntese da dimensão doutrinal e celebrativa da IVC. E ele diz o seguinte: ‘A catequese conserva sempre uma referência aos Sacramentos e toda a catequese leva necessariamente aos Sacramentos da fé. Por outro lado, a autêntica prática dos Sacramentos tem forçosamente um aspecto catequético. Por outras palavras, a vida sacramental empobrece e bem depressa se torna ritualismo oco, se ela não estiver fundada num conhecimento sério do que significam os Sacramentos. E a catequese se intectualiza se não haurir vida na prática sacramental'”.

DIA DO CATEQUISTA

Na mensagem final, Débora deixou um agradecimento especial aos catequistas: “Um muito obrigado pelos esforços, por não desistir, por superar o medo em meio a dificuldades, por buscarem sempre caminhos para realizar esse serviço. Nesse dia que nosso olhar se volta para a vocação do catequista, que Maria, a grande mãe do Brasil, estenda seu manto sobre todos os catequistas para renovar suas forças. Que Maria acolha e interceda pelos catequistas nesse imenso Brasil! Que Maria console a tantos catequistas que perderam seus entes queridos neste tempo. Feliz e abençoado Dia do Catequista!”

CONHEÇA A CONVIDADA

Débora Pupo, Coordenadora Regional da Animação Bíblico-Catequética do Regional Sul 2, da CNBB. Bacharel em Teologia, pela Faculdade Missioneira do Paraná. Mestre na mesma área, formada pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Curitiba, tendo como título de sua dissertação: “Iniciação Cristã e Catequese com adultos: um caminho para o discipulado”. A palestrante é autora da Editora Vozes e reside em Curitiba – PR.