Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

D. Odilo abre o Ano Jubilar: “As esperanças de D. Paulo continuam a valer em nossos tempos”

14/09/2021

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São Paulo (SP) – A Catedral da Sé, tão próxima de Dom Paulo Evaristo Arns enquanto esteve à frente no pastoreio da maior cidade brasileira, registrou mais um momento histórico para a biografia deste grande profeta, pastor e irmão dos pobres. Nesta terça-feira, 14 de setembro, dia em que a Igreja celebra na liturgia a festa da Exaltação da Santa Cruz, a Arquidiocese de São Paulo abriu o Ano Jubilar do Centenário de Nascimento de Dom Paulo Evaristo Arns, durante a Celebração Eucarística às 10 horas, presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo.

Presentes na Celebração Dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, bispos de todo o país, sacerdotes, religiosos e religiosas, seminaristas, autoridades civis e militares, familiares de Dom Paulo e o povo que ocupou todos os espaços reservados dentro dos limites das normas sanitárias.

O Ministro Provincial, Frei Fidêncio Vanboemmel, representou a Província Franciscana da Imaculada Conceição, onde Dom Paulo ingressou para ser um fiel seguidor de São Francisco de Assis.  “A celebração de abertura do Centenário do nascimento de Dom Paulo Evaristo Arns, na Catedral da Sé, em São Paulo, foi uma manifestação justa a este frade, sacerdote, pastor e profeta que, por graça de Deus, nasceu no dia da Festa da Exaltação da Santa Cruz. A Cruz, como sabemos, faz parte do tripé da espiritualidade franciscana, ao lado de Encarnação e da Eucaristia. Dom Paulo, assim como o Apóstolo Paulo, pregou corajosamente a doutrina franciscana do mistério da Cruz do Senhor, fazendo da Cruz o caminho da ESPERANÇA, lema do seu pastoreio. E qual Francisco, pela via esperançosa da cruz do Senhor, chegou ao cume da perfeição do Evangelho”, disse Frei Fidêncio.

“Comemoramos o centenário do cardeal Dom Paulo Evaristo Arns e estamos aqui para recordá-lo como um dom que Deus concedeu à humanidade e, particularmente, à Igreja e à comunidade de São Paulo. Entre os muitos aspectos da pessoa e da ação de Dom Paulo, desejo lembrar que ele foi um homem de esperança e seu serviço à Igreja e à comunidade humana teve sempre a marca da esperança, ainda que a cruz fosse pesada para ele e para o povo”, explicou Dom Odilo.

Segundo o Cardeal, o lema episcopal de Dom Paulo – “de esperança em esperança” –, é inspirado na palavra de Deus e serviu de orientação para sua vida e ação episcopal. “Sua nomeação episcopal deu-se em maio de 1966, menos de um ano após o encerramento do Concílio Vaticano II (1962-1965). O Concílio havia despertado grandes esperanças e trazido a promessa de uma nova primavera para a Igreja, que necessitava muito de renovação na sua vida interna, ainda marcada pelas circunstâncias vividas por ela no século anterior”, recordou D. Odilo.

Para o arcebispo de São Paulo, o magistério da Igreja havia feito severas desaprovações ao modernismo e ao racionalismo, avessos à dimensão religiosa da vida humana e da cultura, e condenou com firmeza as ideologias materialistas, não apenas pelo cerceamento à liberdade religiosa, mas também por causa da violação sistemática de outros direitos humanos fundamentais. “Superados os dramas da 2ª. Guerra Mundial, a humanidade queria paz e os povos do ‘terceiro mundo’ aspiravam à independência e a condições de vida dignas. Com o esforço internacional para tecer novas relações entre os povos, também a Igreja passou a rever suas relações com o mundo”, contextualizou D. Odilo.

Segundo ele, o papa São João XXIII, ao convocar o Concílio, queria deixar entrar ares frescos na Igreja, fazendo-a passar de uma postura fechada e defensiva para uma atitude mais acolhedora e dialogante em relação à cultura, à ciência, à política e às religiões. “Ela não abdicou de suas convicções, mas dispunha-se a encontrar e ouvir mais, para perceber melhor as razões das outras partes. Propunha-se a somar com todos aqueles que buscassem sinceramente o bem da humanidade, ainda que as convicções fossem diferentes das suas. O início da Constituição Pastoral ‘Gaudium et Spes’, sobre a Igreja no mundo contemporâneo, expressou bem essa nova postura da Igreja: ‘as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje são também as alegrias e as esperanças, aas tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo’ (GS 1)”, destacou D. Odilo.

“Foi no contexto desse tempo novo, marcado por otimismo e esperança, que Dom Paulo foi consagrado Bispo Auxiliar de São Paulo. Seu lema ‘ex spe in spem’ – é inspirado na Carta aos Romanos (1,17) – ‘ex fide in fidem’ – ‘da fé para a fé’ (Rm 1,7) e na Carta aos Hebreus, onde o autor exorta a perseverar na esperança, sem esmorecer, ‘pois é fiel aquele que fez a promessa’ (cf Hb 10,22-25)”, descreveu D. Odilo, complementando: “As virtudes teologais da fé, esperança e caridade devem ser a marca distintiva do cristão. A esperança, como virtude humana, leva a uma atitude positiva diante da vida, desencadeando energias aptas à superação de dificuldades e a alcançar as metas, com dedicação e paciência. A esperança cristã nos projeta ainda para além daquilo que, humanamente, seríamos capazes de alcançar e sua base é a fidelidade de Deus, que se faz o “fiador” da nossa esperança (cf Hb 6,13). O objeto maior da esperança cristã são as promessas divinas, como a misericórdia, o perdão, a vida e a felicidade eterna. Esses bens, no entanto, não estão desvinculados das justas esperanças para esta vida: pelo contrário, tornam-se fonte de dinamismo e de paciente busca dos bens que expressam a dignidade, o valor e a beleza da vida neste mundo”.

Para D. Odilo, com o passar dos anos, o lema de Dom Paulo mostrou-se cada vez mais inspirador e confortador para ele. “Em 1970, com apenas 4 anos de episcopado, ele foi nomeado arcebispo de São Paulo pelo papa Paulo VI, que lhe conferiu o pastoreio de toda a metrópole paulistana. Na mesma época, São Paulo e o Brasil viveram anos difíceis, durante os quais Dom Paulo, com destemor e paciência, indicou caminhos de esperança e superação. Diante das situações aviltantes para a dignidade humana, ele empenhou-se na realização de pequenas e grandes esperanças das comunidades da periferia urbana e do povo empobrecido. Dom Paulo também se empenhou e encorajou muitos outros a se empenharem na normalização da vida democrática no Brasil”, ressaltou o arcebispo de São Paulo.

“As esperanças de Dom Paulo para o povo e para a Igreja continuam a valer em nossos tempos. Ele queria uma Igreja, povo de Deus, onde todos tivessem seu lugar e participassem da missão do testemunho de Jesus Cristo e do Evangelho. Hoje o Papa Francisco nos chama a sermos uma Igreja ‘sinodal e participativa’. Dom Paulo queria uma Igreja ao lado dos pobres e dos que sofrem, testemunhando o amor misericordioso de Deus e a dignidade de cada pessoa, amada por Deus e pela qual Jesus morreu na cruz. O Papa Francisco nos chama a sermos uma ‘Igreja em saída missionária’, qual ‘hospital em campo de batalha’ ao lado dos feridos e caídos, e também comprometidos no cuidado da casa comum e na fraternidade da grande família humana”, pontuou.

“Queria Dom Paulo, a superação das grandes desigualdades e injustiças sociais e econômicas do Brasil e do mundo. Sonhava com a cidade sem ninguém abandonado nas periferias e pelas ruas e praças. Esperava que todos pudessem ter trabalho digno, moradia, educação e saúde. Esperava que o convívio urbano fosse sem violência e que todos pudessem viver em paz e harmonia nesta casa comum”, reforçou.

“Seria demais esperar que também nós renovemos nossa disposição para lutar, a fim de que essas esperanças ‘normais’ da humanidade, um dia, se tornem realidade? Animados pela grande esperança, que não desilude (cf Rm 5,5), continuemos a nos empenhar no dia a dia, com coragem e paciência, na edificação de um mundo melhor para todos. ‘Coragem’, repetia Dom Paulo sempre! Deus sustente nossa fé, esperança e caridade. Jesus na cruz nos dê coragem e perseverança!”, pediu D. Odilo.

Na ação de graças após a comunhão, Frei Florival Mariano de Toledo leu o Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis e o coro cantou a “Oração de São Francisco”, tão querida por D. Paulo Evaristo Arns.

SÃO PAULO EVARISTO ARNS!

 

Conhecido como defensor de presos políticos na ditadura militar, além de ter presidido a Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, José Carlos Dias arrancou aplausos quando “canonizou” Dom Paulo Evaristo Arns. “Eu quero dizer uma coisa muito simples: eu quero proferir uma oração por este Brasil que está sofrendo, que está humilhado (palmas), este país em que cujas calçadas estão apilhadas de gente miserável. É neste momento que eu evoco o nome do nosso padroeiro: São Paulo Evaristo Arns! Padroeiro dos direitos humanos, provedor da justiça, da liberdade, da democracia! Não tenho mais nada a dizer: São Paulo Evaristo Arns nos proteja! Nos dê a sua bênção”, pediu debaixo de aplausos.

O presidente da CNBB, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, agradeceu pela oportunidade de participar desta celebração e disse que Dom Paulo Evaristo Arns, na Igreja no Brasil e na CNBB, é uma grande herança. “Uma herança da maior relevância na história de quase de 70 anos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Uma coluna. Uma alavanca. Uma herança que nos inspira”, enfatizou.

Ele destacou dois aspectos importantes no contexto em que estamos vivendo em que a Igreja é chamada ‘a ser em saída’ e quando a sociedade brasileira precisa ser toda reconstruída. “Ressalto a coragem da sua profecia, uma profecia corajosa abrindo caminhos, defendendo direitos e anunciando o Evangelho para que a vida tenha o sabor do Evangelho. Ressalto também a sua capacidade de diálogo com a sociedade, e sociedade pluralista. Que essas duas referências da grande herança inspirem a nossa Igreja, de modo muito especial nesse tempo para construirmos um novo tempo em nome do Evangelho. Tenho a ousadia de imaginar, embora não tenha conhecido Dom Paulo tão de perto, que sua herança se constituiu, sobretudo, com a sabedoria corajosa de sua profecia e a lucidez de seus diálogos com a sociedade, naquilo que a Palavra de Deus hoje nos diz, no diálogo de Jesus: ‘Deus amou tanto o mundo que enviou o seu Filho para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna’. Seja esta a inspiração, como certamente foi de Dom Paulo, a inspiração nossa, de nossa Igreja, para que possamos ter a lucidez de sua profecia e a sabedoria dos seus diálogos, ajudando o mundo a ser um mundo melhor”, exortou D. Walmor.

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, destacou algumas palavras que vêm à sua mente quando fala de D. Paulo: pobre, necessitado, justiça, compaixão, democracia, amor aos mais necessitados. “Como representante do povo de São Paulo, para mim é motivo de muito orgulho estar aqui na Catedral da Sé, aqui onde ele mais viveu sua missão”, completou.


Moacir Beggo