A noite do ‘Paz e Bem’ na Festa da Penha
27/04/2019
Moacir Beggo
Vila Velha – O sexto dia do Oitavário terminou como queria Frei Pedro Palácios quando criou a festa da Penha há 448 anos: franciscanamente. Na noite desta sexta-feira, o Campinho acolheu a “Noite Franciscana – Tributo Paz e Bem”, um evento na programação da Festa da Penha para marcar, neste ano, a grande mensagem do diálogo inter-religioso, quando a Ordem Franciscana celebra o Jubileu de 800 anos do encontro de São Francisco com o Sultão Al-Malik Al-Kamil. Este momento teve teatro, bateria da escola de samba (Mocidade Unida da Gloria), dança do ventre e o show de Frei Paulo Ferreira, o cantor de Nossa Senhora da Penha.
Para marcar essa reflexão temática do diálogo inter-religioso, nada mais apropriado do que a encenação teatral do encontro de São Francisco com o Sultão. Com danças, boa iluminação, música e quadros dinâmicos, os atores do Grupo Baobá Cultural fizeram uma adaptação desse episódio com leveza e clareza. Destaque para a dança do ventre da Companhia Natália Piassi que enriqueceu a apresentação.
Dentro desse clima e da reflexão franciscana do diálogo e da fraternidade, foram chamados vários líderes de religiões ao palco. “Da experiência que nós vivenciamos e rememoramos nesta noite, há um relato que diz o sultão recebeu São Francisco com humanidade. Então, nós não ressaltamos só o desejo de Francisco de levar a paz, mas a forma como ele foi recebido: com humanidade. Isso todos nós queremos, para que haja mais fraternidade e não deixemos morrer em nós aquilo que temos de mais sagrado, que é a nossa humanidade. Jesus Cristo é o Deus feito gente, e quanto mais gente formos, mais de Deus nós seremos. Essa é a grande mensagem que todos nós devemos levar a partir do Convento da Penha. A alegria de Nossa Senhora é a alegria que todos nós experimentamos em Jesus Cristo, humano como nós. Esta é a lição que todos nós partilhamos nesta noite”, explicou o guardião do Convento, Frei Paulo Pereira.
O Ministro Provincial da Província Franciscana da Imaculada Conceição, Frei César Külkamp, falou da alegria, em nome dos Franciscanos, que vivem e trabalham em Vila Velha como em outros lugares da Província Franciscana, de acolher a cada um dos presentes nesta noite. “No mesmo ideal de apostar a nossa vida na causa da paz, que possamos ser instrumento de Deus para a construção de um mundo melhor, fundado nesta paz”, disse Frei César.
O professor Hadi Calefa, natural da Líbia, residindo há 30 anos no Brasil, agradeceu pelo convite de participar desta Noite Franciscana. “Este é mais um passo para chegar perto da tolerância religiosa, chegar mais perto do amor e da amizade entre os religiosos. Que Deus abençoe a todos que estão presentes aqui!”, disse Hadi.
Mãe Eliane de Ogun, da Umbanda Caboclo Sete Flechas e Pai Joaquim de Aruanda, também fez seus agradecimentos e disse que neste momento tão bonito não existe espaço para a intolerância. “Somos todos filhos de um só Deus. Para nós, Deus é Zambi (o Pai), Oxalá é Cristo (o filho). O pai e o filho unidos”, explicou. Também esteve presente a Associação Islâmica de Vitória e o pastor José Ernesto Conti, da Igreja Presbiteriana Água Viva e presidente do Conselho Estadual de Igrejas Evangélicas do Espírito Santo, aceitou o convite mas acabou não podendo participar.
O SHOW DA NOITE
Frei Paulo César fez um show musical mesclando clássicos nacionais, rock, samba e MPB para promover os valores do amor, da compaixão e do respeito mútuo pregados por São Francisco de Assis. Natural de Caxambu, em Minas Gerais, Frei Paulo César ingressou na Ordem Franciscana, em 1977, e há cinco anos integra a Fraternidade do Convento da Penha.
Frei Paulo estava feliz com o resultado da primeira Noite Franciscana e do seu primeiro show. “Essa era a proposta: cantar essas músicas no sentido de despertar essa consciência de congraçamento, diálogo, união e respeito entre as religiões. A solução para nossos problemas, nossas tristezas, é o amor. E mostramos que podemos trabalhar nesse sentido”, comemorou o frade. Momento emocionante do show foi quando Frei Paulo chamou as lideranças das religiões e cantou a capela a música “Iguais”.
Frei Paulo herdou da mãe o dom de cantar. Teve bons mestres de canto, como Frei Leto Bienias e Frei José Luiz Prim, do Coral Meninos Cantores de Petrópolis (Canarinhos). Integrou o grupo por três anos. Participou da gravação de CDs de canto litúrgico, entre eles, do CD Um Canto Novo – Volume I, com Frei Fabreti; do CD da Missa de Frei Galvão, junto com um grupo de frades; e do CD Hinos e Cantos a Nossa Senhora da Penha, gravado pelo Coral Palestrina, da regente Irmã Custódia Cardoso.
O show contou com a participação da cantora da Banda da Polícia Militar do Espírito Santo, Tatiani Celeste; da cantora mirim, integrante do Coral Curumins da Faculdade de Música do Espírito Santo (Fames), Luma Frisso; da vocalista da Banda Hangblues, Dani Regiani; e da harpista, educadora musical e musicista do quadro de Oficiais do Corpo Musical da Polícia Militar do Estado do Espírito Santo, Glaucia Castilhos. E para finalizar apoteoticamente, Frei Paulo iniciou o hino “Virgem da Penha” só com alguns instrumentos e terminou no ritmo da bateria da Escola de Samba Mocidade Unida da Glória (MUG), que acompanhou a procissão que trouxe a imagem até o palco. Frei Paulo Pereira agradeceu carinhosamente os componentes da MUG pela parceria, especialmente Patrick Rocha, diretor administrativo; e Carlos Magno Airam, mestre de bateria.
Frei Paulo Ferreira teve a companhia da banda formada por Flávio Salvador, bateria; Vinicius Gigante, Guitarra, violão e flauta; Rômulo Madureira, violão; Carlos Magno, teclado; Alessandro, baixo; e Reinaldo Uliana, acordeão.
“Achei uma noite muito rica em vivência de fraternidade, desde a primeira apresentação do teatro, da dança envolvendo a cultura oriental e do encontro de Francisco e do sultão, ali categorizado pelos artistas. Depois houve a presença de líderes de religiões. Tudo isso contribuiu para um congraçamento neste espírito de fraternidade, da vivência que nos une, que é muito mais daquilo que pode parecer diferença ou separação”, avaliou Frei César.
Para ele, o show de Frei Paulo foi perfeito. “A voz de Frei Paulo é uma coisa ímpar. E ele também teve os convidados. Tudo isso contribuiu para que nesta noite franciscana, de diálogo com outros credos, e em meio à música, ao teatro, a dança , houvesse espaço para reflexão”, completou o Ministro Provincial.
A Companhia Natália Piassi trouxe as bailarinas Larissa Criste, Dayane Santos, Nathália Rayssa, Pâmela Vieira, Amínia e a bailarina e coreógrafa Natália Piassi.
O Grupo Teatro Baobá Cultural participou com os atores: Bárbara Depianti, Brunela Negreiros, Deivid Leite, Eldon Gramlich, Luiz Carlos Cardoso e o ator e diretor Vinicius Duarte; tendo como direção de arte, Thila Paixão e Bárbara Depianti; operação de som: Thila Paixão; e iluminação, André Stefson.
A direção artística da Noite Franciscana ficou a cargo de Simony Leite Siqueira. A produção é da mineira Poliana Pedrini. A coordenação do evento esteve a cargo de José Maria Leite.
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